Olhos de fogo

Por alexandre scarpa | 24/08/2010 | Contos

Tenho uma ressalva para o leitor: esse conto é um fato real. Se vai acreditar ou não somente no final poderá tirar sua conclusão.

Mais uma noite fria e Márcia segurava sua filha junto a seus braços para entrar no caminho escuro e perigoso que levava à sua casa.
Isso acontecia todas às vezes em que voltava da igreja e o culto cismava em terminar tarde.

-Vamos filhinha, cuidado onde pisa.

As duas imaginavam que se juntando estariam mais protegidas. Era o que pensavam até aquele fato ocorrer.

Denise tinha 13 anos e já não suportava mais aquele lugar. Isolado de todos, ninguém se sujeitava a nem mesmo dar carona pra elas.

Uma densa névoa mergulhou na frente delas.

-Vamos rápido, disse Márcia.

Era comum ouvirem algumas vozes ao fundo do matagal pois havia uma rua logo depois. Mas as vozes que ouviram perturbaram a mãe. Eram próximas demais

-Ei, ei...

Eram dois homens, com certeza, pensou, e apertou o passo, puxando sua filha em desespero.

-Calma mãe.
-Não, filha, precisamos correr, querida. Tem alguém atrás da gente

A essa altura já estavam na metade do caminho. O desespero aumentou quando Márcia percebeu os homens gritarem.

-Parem suas vagabundas.

No mesmo momento sentiram seus pé pularem e parecia que um gigante pisava no local. Não viram nada. Não ouviram nada. O que estava acontecendo?

De súbito tudo silenciou.
Os homens haviam sumido.
Não estavam mais em seus encalços.

-Meu Deus, disse Márcia com pavor.
-Mamãe, o que foi isso?
-Não sei filha, mas continue correndo.


Continuaram a corrida.
Chegaram a casa, finalmente. Bateram o portão de alumínio trancando-o com o cadeado. Ligaram para a polícia. Ouviram a policial do outro lado da linha com voz acalmadora com a velha mania conhecida de não querer alarmar.

-Fique tranqüila senhora está tudo bem. Só me diga o que aconteceu.

Márcia não agüentava mais e disse logo o endereço e que tinha homens escondidos no mato, suspeitos. A conversa ainda seguiu por alguns segundos até a mãe desligar.
Elas ficaram sem ir para a igreja nas noites seguintes.

Um ano se passou e Denise estava no ensaio do coral até que fora interrompida por um colega.

-Denise, pode vir até aqui, por favor? - A voz de Rafael era preocupada. Ele era um típico visionário. Mas era uma pessoa calma e naquele momento não estivera mais. Pessoas como ele eram respeitadas na igreja das duas por terem dons espirituais como, naquele caso, o de visões.
-Sim, estou indo, respondeu Denise, intrigada.

Desceram a escada. Passaram pelo corredor lateral da igreja até entrarem na sala de recepção do pastor da igreja. Lá dentro havia mais dois pastores.

-Olá irmãzinha, tudo bem? ? disse o pastor presidente da igreja - pode sentar.

A moça sentou-se no sofá para discípulos. A sala tinha uma luz fria e amarelada que saía de dois pequenos abajures sobre a mesa do pastor e penetrava o olhar de Denise. Ela temeu o que ouviria. Seria uma repreensão?
Rafael se aproximou. Percebera o rosto apreensivo. Colocou a mão sobre o rosto dela.

-Tudo bem querida. Estamos aqui para te acalmar. Feche os olhos.
-Sim.
-Sabe aquele dia em que você estava com sua mãe e entravam no caminho de sua casa?
-Sei, claro eu me lembro.
-Então, querida, naquele dia havia dois homens que iriam fazer mal para vocês. A intenção deles era muito má ? Rafael não revelara tudo, talvez para não traumatizar a moça com as intenções de um estupro ou algo assim que passavam na mente das duas figuras do mal naquele lugar. A reunião com o pastor também pode ter ajudado nesse sentido. Tudo era falado e comentado antes, sobre o que diriam. O que era mais seguro dizer era decidido pelo grupo que estivera presente, com em uma votação ? Eles foram interrompidos com uma aparição.
-Como assim? O que eles viram?
-Havia um anjo que apareceu em forma humana. Apenas eles o viram. A sua altura era de um gigante e quando pisou o chão estremeceu e pulou como se houvesse um terremoto no lugar. Havia uma luz azul e fortíssima que quase cegou os dois homens. Eles correram de medo.
-Meu Deus, eu realmente senti pular. Senti o chão se mover em baixo de meus pés.
-Foi a visão que tive, querida.

Denise abriu os olhos. Estava chorando muito. A emoção tomou conta, ao lembrar do que aconteceu. Enfim tudo o que ocorreu naquele dia tinha explicação.

O Pastor se levantou e a ungiu com as mãos. Colocou as duas mãos sobre a garota.

-Feche os olhos, querida.
-Você é uma protegida. Um anjo foi enviado dos céus para protegê-la. Nada de ruim acontece aos que servem a Deus. Obrigado, Senhor, Amém.

Eles decidiram, naquele momento, que o melhor era revelar a todos da igreja o que ocorrera. A moça concordou e todos souberam no culto. As maravilhas e realizações precisavam ser mostradas a todos.
O conforto foi geral. Sua mãe também chorou. Era outra protegida.
Os mistérios são inexplicáveis, depois ouvira Denise de uma amiga sua. Muitas coisas parecem estranhas nos céus, mas, algumas são reveladas e vistas no momento certo.
Depois de algum tempo, aos dezoito anos, Denise concluíra que aquilo aconteceu para mostrar o poder além do material. O sobrenatural interferindo no material para provar que o bem sempre vence.