Ofereçam a outra face
Por Ivani de Araujo Medina | 10/02/2010 | HistóriaTodas as vezes que uma dessas revistas mensais chegou-me às mãos, com matérias a respeito de questões sobre a religião, quem eram os entrevistados a opinar? Teólogos e (ou) historiadores ligados a universidades religiosas, quando não a universidades públicas, porém com tendência religiosa. Parece coerente que estes intelectuais dedicados ao assunto estejam mais qualificados a opinar por força da especialização. Mas, não é bem o caso.
Existem historiadores preparadíssimos que discordam desse tipo de abordagem, isto é, como se a religião fosse indispensável ao bom sucedimento da espécie humana. Pelo contrário, alguns destes historiadores defendem o ateísmo como militância social, com a mesma competência com que aqueles outros defendem a existência do Jesus histórico e a historicidade dos evangelhos. Historiadores de direita e de esquerda? Claro que não é tão simples assim. Essa é a outra face da mesma medalha da história, da sociologia, da antropologia e da psicologia. Interessa a todo mundo. São muitas as “verdades” criadas pela cultura dominante carentes de pública contestação.
Sendo assim, era de se esperar, tanto de historiadores quanto de jornalistas do século XXI, que oferecessem alternativas ao entendimento comum, como uma forma de combate a praga da ideologia e do sectarismo. Para mim, a responsabilidade do historiador supera, em valor cronológico, a do jornalista. Aquele teve mais tempo para pesquisar e penetrar nos acontecimentos passados. Já a responsabilidade deste recai na qualidade da informação que oferece no presente. No caso da específica escolha dos entrevistados, a lógica usual não se aplica, ou seja, um jornalista não tem a obrigação de ser também historiador. Qualquer profissional pode falhar por falta de uma boa orientação.
Tanto a história quanto o jornalismo seguiram por sistemas de idéias conflitantes, cada um do seu lado. No desempenho da sua profissão como atividade-meio (de vida), cada indivíduo passa a conhecer melhor as dificuldades da sua titulação como atividade-fim (finalidade social). Vento que venta lá, venta cá. A pesar dos protestos persistentes, a tecnologia veio favorecendo sobremaneira a troca de informações na área do conhecimento. Hoje, a roupa suja das ciências humanas já pode e deve ser lavada nesse rio de águas claras. Que exibam suas partes! É até bom. Fraudes duravam séculos, hoje já não duram horas. A exposição das mazelas da história pelo jornalismo, além de patrocinar um bom debate vai vender revistas demais.
Uma revista mensal pode e deve ter a ambição de oferecer matérias mais interessantes que ajudem o leitor brasileiro, já tarimbado nos escândalos políticos e financeiros, a pensar além das miudezas nacionais. Saber que as miudezas sempre vieram de cima não lhe causará crescido espanto. Contribuir para a formação de uma geração menos falso-moralista, mais adequada ao Brasil que queremos hoje, é um acerto. Portanto, senhores (as) jornalistas, editores (as) e empresários (as) dessas revistas semanais, ofereçam também a outra face aos seus leitores, quando forem entrevistar os homens da história.