Ode a Pomba-gira

Por Pablo Araujo de Carvalho | 10/11/2016 | Religião

Pombagira, Bombo-gira, Pambu Njila...chame-a como for
Do seu ventre brota a vida
Do seu seio desejo e amor.

Qualidade divina
estimula a criação,
Sem tua presença não há vida
e nossos dias são em vão.

O arquétipo feminino
simboliza a força da mulher,
Traz a sutileza da brisa
E a fúria da maré

Traz no seu ventre a vida
Enquanto estímulo da criação
Seu perfume tem encanto
Traz a fé e a redenção

Pomba-gira encantada
beleza natural
Nem recato nem escracho
Estimula o bem combatendo o mal

Pomba-gira mulambo
Tu não és vaiodosa!
quem lhe julga pelo nome?
Mas esgota a vaidade
Que aos homens lhe consome

Pomba-gira é tudo isso 
Pomba-gira é muito mais
Só não é sua covardia
Que não assumiu sua autoria
E no púlpito da hipocrisia
A chamou de satanás

Pomba-gira é o fim
Do misógino dominador
É o início da liberdade
Da costela em castidade
Do patriarca que a calou.

Da costela lhe deram origem
Que Imaginação tão parca
Ou não é fonte de vida?
O ventre que gera e o seio que farta!

Pomba-gira é rainha
Seu arquétipo é libertador
Da mulher sufocada
da classe marginalizada
dos direitos reprimidos
injustos e desvalidados
de um mundo sem amor.

Pomba gira é grito
É fornalha e é calor
sufocada na história
Traz na mente a memória
Santa inquisição que a condenou.

Pomba-gira é a ausência do estímulo do Criador,
De pedra tão insana e violenta que lhes atiraram os cinquenta,
Há quem na terra santa não pecou?

Mulher adulterada
condenada a pedrada
A quem você traiu
Que pedra te condenou?

Foi religioso seu adultério?
Ah seu pecado não foi tão sério
Pois Deus é um Mistério
tanto está na tabua da lei
Quanto no encanto da flor

Qual foi o seu pecado
adultério sem presunção
foi trocar de divindade
ou trocar de religião?

Mulher adulterada
continua a tomar pedrada
Na encruzilhada abaixada
Em ato de adultério
Ativando seu mistério
Com Exu seu salvador.

Julgada e imolada
Sem piedade ou redenção
Por cultuar seus Orixás
Divindade revelada
No seu culto de nação.

Quem lhe revelou, foi o dorso branco que você usou?
Quem lhe castigará pelo uso do seu fila?
Quem não quer lhe vê pelo uso do seu quele?
Quem lhe chamará de criada pelo uso da sua saia rodada?
Quem lhe julgará como inferior pela sua raça e pela sua cor?

A hipocrisia humana que a muito já lhe julgou,
a pedrada na Maria que na Madalena não cessou.

Quem lhe julgará pelo adultério que já se consumou?
Por não cultuar a divindade deles e
sim a da matriz que a gerou

Paciência, o próprio mestre falou:
Eles não sabem o que fazem
E não sabem por quem pecou

A pedra que lhe atira
Arranca lágrimas do redentor
Que descarrega o ódio humano
Usando o nome do nosso Senhor.

Aí que saudade da região lá onde a Gelede aquece o meu coração,
Onde a mulher é exaltada sublime e admirada
E pedras não me alcançam não!

Pomba-gira é esperança
Do Pai a compreensão
Daquele Deus tão generoso
De tão sublime e tão honroso
Se dividiu nos seus filhos
Para enxergar-se como irmãos.