OCUPAÇÃO ESPACIAL DESORDENADA

Por LUCAS NASCIMENTO AZEVEDO | 07/05/2011 | Geografia


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE GEOGRAFIA


LUCAS NASCIMENTO AZEVEDO













ANÁLISE DA DINÂMICA OCUPACIONAL DA FEIRA DA
CIDADE OPERÁRIA








São Luís
2005

LUCAS NASCIMENTO AZEVEDO




















ANÁLISE DA DINÂMICA OCUPACIONAL DA FEIRA DA
CIDADE OPERÁRIA

Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão para obtenção parcial do grau de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Ms. Juarez Soares Diniz.






São Luís
2005

























LUCAS NASCIMENTO AZEVEDO




ANÁLISE DA DINÂMICA OCUPACIONAL DA FEIRA DA CIDADE OPERÁRIA


Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão para obtenção parcial do grau de Bacharel em Geografia.




Aprovada em: / /2005.




BANCA EXAMINADORA





_____________________________________________
Prof. Ms. Juarez Soares Diniz
(Orientador)





________________________________________
Prof. Luiz Jorge Bezerra da Silva Dias
(1º Examinador)




________________________________________
Prof. José de Ribamar Carvalho dos Santos
(2º Examinador)





















A Deus, por nos ter concedido sabedoria e inteligência para superarmos todas as dificuldades.














































"O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, através da ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade"

Milton Santos.














AGRADECIMENTOS




Ao nosso Deus criador, que nos tornou dignos da maravilhosa existência, e pela oportunidade de obter cada vez mais conhecimento em todas as áreas de ensino.
Aos meus pais, Jessé França Azevedo e Maria da Luz Nascimento Azevedo por não ter medido esforços para proporcionarem as condições, para que chegasse a formação superior.
A minha amada esposa Graciane e meu filho Arthur Felipe, pela paciência e confiança de que todo sacrifício é válido.
A minha adorada irmã, Jeude Nascimento Azevedo que me auxiliou nesta jornada de trabalho, sacrificando muitos de seus finais de semana, e;
Aos professores do Departamento de Geociências, a Nana do NDPEG, aos colegas da UFMA e especialmente ao Prof. Juarez Soares Diniz, orientador deste trabalho.











RESUMO


Análise da feira da Cidade Operária em São Luis, Maranhão. Faz-se unia análise do conjunto habitacional no qual a feira está localizada, abordando aspectos geo-ambientais e históricos. Caracteriza-se setor terciário destacando feiras e mercados como vertentes do comércio informal. Configura-se a feira da Cidade Operária sob o contexto da informalidade percebendo a dinâmica ocupacional desse espaço.
Apresenta-se a existência de duas feiras contíguas a diurna e a noturna como resultado da intervenção humana na ordenação espacial.

Palavras-chave: Setor terciário. Comércio informal. Feiras. Mercados. Dinâmica Ocupacional. Cidade Operária.











ABSTRACT


Analysis of the fair of Cidade Operária in São Luis, Maranhão. The fair becomes joined analysis of the habitation set in which is located, approaching geo-ambient and historical aspects. Tertiary sector is characterized detaching fairs and markets as flowing of the informal commerce. It is configured fair of the Cidade Operária under the context of the informality perceiving the occupational dynamics of this space.
It is presented existence of two contiguous fairs diurnal and the nocturnal one as resulted of the intervention human being in the space ordinance.

Keywords: Tertiary sector. Informal commerce. Fairs. Markets. Occupational dynamics. Cidade Operária.











LISTA DE GRÁFICOS


Gráfico 1 ? Local de origem 35
Gráfico 2 ? Recorte de gênero 36
Gráfico 3 - Estado civil 36
Gráfico 4 ? Bairro onde reside 37
Gráfico 5 ? Tipo de moradia 38
Gráfico 6 ? Nível de escolaridade 39
Gráfico 7 ? Tempo exercendo a função 39
Gráfico 8 ? Renda média mensal dos feirantes 40
Gráfico 9 ? Tipo de estabelecimento 41
Gráfico 10 ? Possui funcionário 41
Gráfico 11 ? Execução de outra atividade 42
Gráfico 12 ? Paga imposto à Prefeitura 42
Gráfico 13 ? Paga taxa a COOFECO 43
Gráfico 14 ? Situação sindical 44










LISTA DE FIGURAS




Figura 1 ? Mapa de localização da área de estudo 18
Figura 2 ? Localização da feira noturna 31
Figura 3 ? Mapa de configuração da feira da Cidade Operária 44
Figura 4 ? Galpão coberto 47
Figura 5 ? Disposição das mercadorias na feira noturna 49
Figura 6 ? Calçada do PAM ocupada pelos feirantes 50









LISTA DE SIGLAS


APACO - Associação de Produtores Agrícolas da Cidade Operária
BNH - Banco Nacional da Habitação
CAEMA - Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão
COBAL - Companhia Brasileira de Abastecimento
COHAB - Companhia Habitacional do Maranhão
COOFECO - Cooperativa dos Feirantes da Cidade Operária
FUNASA - Fundação Nacional de Saúde
IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
SEMTHURB - Secretaria Municipal de Terras Habitação e Urbanismo
UEMA - Universidade Estadual do Maranhão
UFMA - Universidade Federal do Maranhão







SUMARIO


LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE SIGLAS
1 INTRODUÇÃO 13
2 METODOLOGIA 16
3 CARACTERIZAÇÃO DO CONJUNTO CIDADE OPERARIA 17
3.1 Características Geo-ambientais 17
3.2 Histórico 19
3.3 Infra-estrutura e serviços urbanos 20
3.3.1 Transporte 20
3.3.2 Água 21
3.3.3 Esgoto 21
3.3.4 Iluminação pública 22
3.3.5 Saúde 22
3.3.6 Educação 22
3.3.7 Coleta de lixo 23
4 CONFIGURAÇÃO DO SETOR TERCIÁRIO: FEIRAS E MERCADOS COMO
VERTENTES DO COMÉRCIO INFORMAL 24
4.1 O Contexto da Informalidade do Setor Terciário 25
4.2 Feiras e Mercados 27
4.2.1 Conceituação 27
4.2.2 Configuração 28
5 A DINÂMICA OCUPACIONAL DA FEIRA DA CIDADE OPERARIA 30
5.1.1 Perfil sócio-econômico dos feirantes 32
5.1.2 População e amostragem 32
5.1.3 Instrumento e coleta de dados 32
5.1.4 Resultados 33
5.2 A feira diurna 44
5.3 A feira noturna 48
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 51
REFERÊNCIAS 54
APÊNDICE 56
ANEXOS 58





1 INTRODUÇAO

A Geografia é uma das ciências que se dedica á análise da cidade e da vida urbana. Essa análise se dá sob a perspectiva do espaço. "A Geografia é uma leitura. uma determinada leitura da realidade. É uma leitura do ponto de vista da espacialidade" (CAVALCANTI, 2001, p.12).
No contexto urbano alguns elementos remetem a dinâmica interna da cidade: a produção, a circulação e a moradia. Este último elemento ganha nas cidades contornos complexos e orienta impositivamente seu arranjo espacial. A circulação também é um elemento essencial principalmente porque, para que a vida nas cidades ocorra é necessário que as pessoas por ela circulem. Porém, é sobre o aspecto da produção que se pretende observar a dinâmica do espaço urbano mais amiúde.
A produção refere-se às atividades na vida cotidiana das pessoas que vivem na cidade e nela atuam, e o arranjo espacial delas decorrentes. Dentre as muitas atividades produzidas pelo homem observa-se as de lazer, de educação, de trabalho e de descanso.
As atividades de trabalho porque atreladas a objetivos econômicos conferem à produção papel de destaque na configuração da dinâmica espacial urbana. Espaço e atividade econômica estão intimamente relacionados e como atividades típicas da economia urbana, convém citar às ligadas a indústria e ao comércio.
O comércio detém no nordeste do Brasil, particularmente no Maranhão, uma função relevante. Considerando-se que a região "foi colonizada em função de uma economia de exportação, voltada para o mercado europeu, é natural que nele se tenha desenvolvido, desde os primeiros tempos, intensa atividade comercial." (ANDRADE, 1987, p. 134)

"O sistema econômico responsável pela ocupação regional, estando voltado para o mercado externo e posteriormente também para o mercado de outras regiões do país, fez com que os grandes pólos regionais, os centros urbanos de maior dinamicidade, fossem os portos - São Luis, Fortaleza, Recife, Salvador." (ANDRADE, 1987, p. 134)

Percebe-se então, na capital do Maranhão uma vocação histórica para atividades voltadas ao setor terciário. A preferência por tais atividades é responsável pela hipertrofia do setor e conseqüente expansão da informalidade.
Um espaço que no contexto citadino é, sem dúvida, destinado ao desenvolvimento do comércio informal é o das feiras e dos mercados. A feira agrega além do exercício da informalidade, a necessidade de abastecimento do aglomerado urbano que via de regra encontra-se em constante crescimento. Isso torna premente e necessário a realização de qualquer estudo mais aprofundado sobre o tema.
A feira da Cidade Operária situa-se dentro dessa realidade porque nela se pode observar uma ocupação e distribuição espacial sui generis e as conseqüências advindas desses movimentos. Para tal observação, partiu-se da caracterização do conjunto habitacional no qual a feira está localizada. Em seguida, procede-se a configuração de feiras e mercados como vertentes da informalidade no setor terciário da economia. O terceiro momento consiste na análise da dinâmica ocupacional da feira da Cidade Operária, a partir do levantamento do perfil sócio-econômico dos feirantes e da observação do funcionamento das feiras diurna e noturna.
Conclui-se a exposição do estudo com as considerações finais, onde se destacam os aspectos centrais construídos na trajetória da análise, e são sugeridas medidas mitigadoras para os problemas detectados no decorrer do estudo.


2 METODOLOGIA

Na realização desse estudo foram desenvolvidos alguns procedimentos metodológicos. No percurso da investigação, utilizou-se o método crítico-dialético na observação dos fenômenos que envolvem a dinâmica ocupacional da Feira da Cidade Operária. Na fase inicial, procedeu-se o levantamento e a análise de material bibliográfico e de documentação cartográfica da área objeto de estudo, seguido de contatos efetuados com representantes dos órgãos: FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), CAEMA (Companhia de águas e esgotos do Maranhão), SEMTHURB (Secretaria Municipal de Terras Habitação e Urbanismo) e COOFECO (Cooperativa dos Feirantes da Cidade Operária) para obtenção de dados relacionados à pesquisa. A atividade posterior consistiu em mapeamento e em registro fotográfico da área de estudo com vistas ao reconhecimento da localização e da distribuição de vias circulares e de estabelecimentos comerciais.
A elaboração e aplicação de questionários com objetivo de delinear o perfil sócio-econômico dos comerciantes cadastrados na cooperativa, constituem-se na segunda etapa desse trabalho monográfico. Foram aplicados diretamente, e por amostra probabilística, 100 (cem) questionários individuais comportando uma amostra de 15% dos estabelecimentos comerciais, os informantes da amostra foram selecionados através do processo aleatório sistemático de escolha, sendo o informante, o feirante de boxes e de bancas.
A etapa final constitui-se de ordenamento e representações de dados obtidos em forma de gráficos e na análise e interpretação desses dados e das informações, o que possibilitou a elaboração final do texto monográfico.
3 CARACTERIZAÇÃO DO CONJUNTO CIDADE OPERÁRIA

A área na qual está localizado o conjunto Cidade Operária é parte integrante do município de São Luís e possui características comuns ao território da Ilha do Maranhão ou "Ilha de Upaon-Açu".

3.1 Características Geo-ambientais

Localizado aproximadamente no centro da Ilha do Maranhão, o conjunto possui "altitudes (do sitio) máxima de 63 (sessenta e três) metros e mínima de 35 (trinta e cinco) metros relativos ao nível médio do mar" (DIAS, 2004, p. 195), compreendendo um divisor de águas entre a bacia do Rio Santo Antônio e a do Rio Paciência e delimitado pelas seguintes coordenadas geográficas: latitudes de 02º33?46"S e 02ºG35?33"S e longitudes 44º11?13"W e 44º12?55"W com caracterização geomorfológica de Terraço de Tabuleiros Centrais com Colinas Dissecadas.
O conjunto Cidade Operária dista cerca de 20 (vinte) quilômetros do centro histórico de São Luis e possui urna área de entorno que inclui os conjuntos Jardim América I, Jardim América II. Conjunto Habitar Nice Lobão; vilas Janaína, Riod, Santa Clara, Pavão Filho, Cidade Olímpica, Recanto dos Pássaros, Residencial Alexandra Taxares, Geniparana, Santa Efigênia, Vila Operária, Jardim São Cristóvão II, APACO, Campus Paulo VI da UEMA e Horto-Florestal do IBAMA.


Figura 1 ? Mapa de localização da área de estudo


3.2 Histórico


Fisicamente a área de estudo apresenta características similares ao restante do território da Ilha do Maranhão, historicamente apresenta algumas particularidades.
DIAS (2004), em estudo recente sobre os problemas ambientais da Cidade Operária e área de entorno, estabelece cinco períodos distintos na história da constituição do conjunto.
A fase inicial compreendida entre os anos de 1976 e 1981, corresponde aos primeiros assentamentos e interesse da COHAB-MA, Companhia Habitacional do Maranhão, pela área. Verificou-se que pertencera a Senhora Ana Jansen e passara para o poder do Estado do Maranhão. Em 1980, foi feita a indenização aos posseiros e abriu-se concorrência pública para a execução do projeto de construção do conjunto.
Em março de 1981, inicia-se o segundo período apontado por Dias, que se estende até 1986. Nessa fase processou-se a devastação de 860 (oitocentos e sessenta) hectares de terra que cedeu espaço para terraplanagem, aterro e construção do empreendimento habitacional "a área foi dividida em quinze glebas cada uma abrigando quinhentas unidades residenciais (06 tipos) obedecendo aos padrões de construção do BNH" (SILVA, 1996, p.23). O conjunto era, a priori, destinado a operários de fábricas já existentes e que porventura viessem a se instalar no Distrito Industrial, disso advém o seu nome.
Em 1986, a Cidade Operária foi entregue aos moradores. A ocupação deu-se por duas vias: contemplação por sorteio e invasão. Os contemplados nem sempre ficavam satisfeitos com o padrão das casas e deixavam de tomar posse dos imóveis, o que proporcionou ocasião para um movimento de invasão nunca visto antes na história de São Luís. "Os invasores ganharam o direito de permanecer nas casas graças a um pronunciamento do governador da época". (SILVA, 1996, p.24) que legitimou como proprietário quem estivesse ocupando o imóvel.
A partir de 1988, nota-se o processo de ocupação do em torno da Cidade Operária. O Governo do Estado do Maranhão previra uma expansão do conjunto original que visava a construção de mais 7500 (sete mil e quinhentas) casas, tendo feito algumas desapropriações com esse intuito. Essas áreas, se tornaram alvo de ocupações desordenadas que receberam a denominação popular de "invasão".
A última etapa na formação do conjunto Cidade Operária inicia-se em 1997 e estende-se até os dias atuais, período na qual observa-se a luta dos moradores, principalmente da área de entorno, na tentativa de urbanizar o espaço e garantir a execução de políticas públicas básicas tais como, implantação de rede de esgoto, água potável, coleta de lixo, iluminação pública, etc.

3.3 Infra-estrutura e serviços urbanos
3.3.1 Transporte

O conjunto é servido por 12 empresas de transporte coletivo que reunidas em consórcio (Consórcio São Cristóvão), convergem para o terminal de passageiros do São Cristóvão, localizado no Jardim São Cristóvão II e inaugurado em meados de 2004. Exceto o serviço de moto-táxi, não se observa a utilização de nenhum tipo de transporte alternativo.

3.3.2 Água

O sistema de abastecimento de água da Cidade Operária é realizado através de uma bateria de poços localizado no Sistema São Cristóvão (R14) que após receber água do sistema Italuís distribui para o Sistema elevado Cidade Operária (R15) que por sua vez distribui para as áreas de entorno.
Da água consumida no conjunto 90% provem do Sistema (R14) e apenas 10% do Sistema (R15).
Segundo CAMPELO (2004) o abastecimento ocorre em dias alternados com efeito de manobras. Informa ainda, que é muito alto o índice de inadimplência das contas de consumo de água na área.

3.3.3 Esgoto

O conjunto possui um sistema de esgoto bem planejado, porém antiquado. O tipo de material utilizado é obsoleto. Como exemplo disso, constata-se o uso de canos de manilha na rede de escoamento, tal material, por não ser impermeável, possibilita a entrada de materiais orgânicos e o entupimento da rede. Outro problema observado é a sobrecarga ocasionada pela construção de novos conjuntos, comprometendo a eficácia do sistema. A CAEMA tenta solucionar o problema agindo sobre o efeito e não sobre a causa e atende prontamente qualquer solicitação feita pelos moradores para desobstrução da rede.

3.3.4 Iluminação pública

A iluminação pública da área reflete os mesmos problemas do restante da capital. Na avenida que dá acesso ao conjunto (avenida 203) a rede de iluminação foi substituída por uma nova, porém nas ruas e ciclovias uma quantidade considerável de postes continua com suas lâmpadas queimadas e/ou quebradas.

3.3.5 Saúde

O conjunto possui um Pronto Atendimento Médico (PAM), localizado na Avenida 203, no qual são realizados atendimentos ambulatoriais e pequenos atendimentos emergenciais. A feira noturna realiza-se defronte dessa unidade de saúde. Na área de entorno Jardim Tropical, localiza-se o Pronto-socorro do Município, Socorrão II, segunda maior unidade de atendimento de urgências da capital, especializada em traumatologia cuja clientela não se restringe aos moradores da área, atendendo também pacientes oriundos do interior do Estado.

3.3.6 Educação

O número de escolas públicas estaduais, municipais bem como de escolas comunitárias e de particulares é expressivo, 13 escolas públicas e 08 escolas privadas, que atendem não só a comunidade local como também a circunvizinhança.
3.3.7 Coleta de lixo

A coleta de lixo residencial dentro do conjunto ocorre de forma regular, três vezes por semana. Na área de entorno, alguns locais são beneficiados com esse serviço e outros não. Nota-se que a coleta acontece em ocupações que estão dentro da jurisdição do município de São Luis e que não ocorre nas demais. A limpeza das áreas públicas de lazer tem se dado de maneira eficiente.












4 CONFIGURAÇÃO DO SETOR TERCIÁRIO: FEIRAS E MERCADOS COMO VERTENTES DO COMÉRCIO INFORMAL.

A necessidade de definir setor terciário é advinda da exigência em configurar um setor que apresenta características distintas daquele atrelada a "atividades provenientes da evolução tecnológica da sociedade industrial" (GEORGE, 1979, p. 82).
Delimitar o grau de relação entre um tipo específico de ocupação e a produção direta de bens seria, a priori, o elemento que determinaria a filiação de qualquer tipo de atividade econômica ao setor secundário ou ao terciário.

"A noção de atividade terciária é uma herança direta da divisão tripartite da economia proposta por Colin Clark (1957), quando apresentou a existência de três setores da economia: primária, secundária e terciária e os delimitou formalmente. Essa formulação tornou-se clássica e foi praticamente oficializada" (SANTOS. 1979, p.157).

Porém, tal categorização apresenta um elevado nível de complexidade se for levada em consideração a evolução da sociedade moderna no que tange a divisão da força de trabalho. A interconexão entre pessoas, processos, equipamentos e idéias é a marca incontestável do tempo atual e restringe qualquer pretensão em instituir taxionomias absolutas à atividade humana, seja esta de caráter econômico ou não.
Todavia para o alcance dos objetivos desta pesquisa é importante estabelecer uma definição de setor terciário, e este se aplica, segundo COIMBRA (1993, p.120) a "atividades ligadas ao comércio e a prestação de serviços: educação, transportes. Comunicações, saúde, bancos, etc.". Como essa estrutura configura-se bem ampla, recorre-se a esquema dual proposto por Milton Santos (1979) que reconhece a existência de circuitos da economia urbana. O circuito sintetiza o fluxo interno das atividades econômicas de uma cidade sendo que, o conjunto dessas atividades forma um todo ou sistema que, por sua vez, é formado por dois subsistemas, o circuito superior e o circuito inferior.

"Pode-se apresentar o circuito superior como constituído pelos bancos, comércio e indústria de exportação, industria urbana moderna, serviços modernos, atacadistas e transportadores. O circuito inferior é constituído essencialmente por formas de fabricação não-?capital intensivo?, pelos serviços não-modernos fornecidos a varejo e pelo comércio não-moderno e de pequena dimensão" (SANTOS, 1979, p. 31).




4.1 O contexto da informalidade no setor terciário

Apreender o significado de circuito inferior significa reconhecer que esse recobre uma realidade muito mais extensa do que a expressa em setor terciário. Significa ainda, dizer que nesse setor existem atividades que excedem o limite da formalidade, "o circuito inferior é resultado de uma situação dinâmica e engloba atividades de serviços como a doméstica e os transportes, assim como as atividades de transformação como artesanato e formas pré-modernas de fabricação" (SANTOS, 1979. p.158).
A amplitude de atividades que dificulta a definição e delimitação do que é terciário, também é responsável pelo aparecimento nesse setor de um grau elevado de informalidade. A hipertrofia gerada pelo crescimento desordenado do comércio é observada principalmente nos países desenvolvidos como resultado do inchaço dos centros urbanos que exercem forte atração sobre a população periférica e não conseguem absorver a mão de obra que atraem.

"A experiência da formalidade e da informalidade do trabalho se associa fazendo com que a informalidade não se constitua propriamente num setor social, mas numa dimensão de ser trabalhador nas condições peculiares de como funciona o capitalismo na periferia" (PALMA, 1987, p. 64 apud SEMTHURB, 1997, P.6).

O mercado informal acaba se constituindo em refúgio típico das áreas urbanas e desempenhando o papel de abrigo para uma população pobre e que não apresenta as habilitações necessárias para ingresso no circuito superior da economia, daí que o circuito inferior passa também a receber as denominações de economia informal, invisível ou submersa.
Segundo PALMA (1987) o mercado informal apresenta os seguintes elementos conceituais:
? Surge no contexto do capitalismo, mas desenvolve-se na periferia do sistema;
? Não se trata da economia paralela, mas articulada ao funcionamento do capital por decorrência da sobre-oferta de força de trabalho;
? Os trabalhadores informais não se situam numa divisão de trabalho que se fundamenta na propriedade dos meios de produção não se verificando, portanto, apropriação direta de mais-valia;
? O trabalho se realiza através de unidade produtiva pequena ou do trabalho individual.

4.2 Feiras e mercados

O comércio informal também apresenta mais um elemento conceitual. Pode apresentar-se sob duas formas distintas: o comércio ambulante e os mercados informais que manifestam como característica comum o fato de desenvolver negócio sem registro e sem qualquer tipo de contribuição, tal como pagamento de imposto.

4.2.1 Conceituação

O objeto de interesse dessa pesquisa recai sobre a segunda modalidade de comércio informal, ou seja, os mercados informais.

"Chama-se mercado o loca] onde se efetuam um certo número de transações, onde se reúnem todos os que querem ceder, adquirir ou trocar produtos sob a forma de troca direta ou utilizando a moeda" (POVILLON, 1976 apud FERRETTI. 2000. P.36).

Aqui o sentido valorizado é o de mercado-local, praça de mercado ou feira tomados ainda como sinônimos.
Em nível conceitual é difícil perceber as diferenças entre os dois termos. Mercado é definido como "o lugar onde se comercializam gêneros alimentícios e outras mercadorias" e feira "lugar público, não raro descoberto onde se expõem e vendem mercadorias". Ambas as definições são do dicionário Aurélio.

Segundo MOTT (1970) apud FERRETTI (2000):

"O termo feira em Portugal designa uma grande reunião comercial regional realizada via de regra com grandes intervalos de tempo, enquanto mercado designa local destinado a abastecimento local realizado mais à miúde".

No Brasil, tanto as pequenas quanto as grandes reuniões comerciais realizadas ao ar livre são chamadas de feira.

4.2.2 Configuração

As feiras e mercados se configuram de forma diversa o que talvez corrobore na distinção entre essas duas modalidades do comércio informal.
O mercado no Brasil funciona em local coberto, diariamente e fica aberto durante todo o dia. Os comerciantes que ali trabalham, geralmente, têm somente essa atividade. E encontrado nos núcleos urbanos e tem como função o abastecimento da população.
Feiras são realizadas em local descoberto, freqüentemente próximas ao local onde funciona o mercado e caracterizam-se por uma periodicidade menor do que os mercados, geralmente ocorrem uma vez por semana. Costumam oferecer maior quantidade e mais variedade de produtos e os vendedores participam em geral, de mais de uma feira. As feiras podem ainda ser subdivididas em rurais e urbanas.

Segundo FERRETTI (2000, p.43):

"As feiras rurais são realizadas em pequenos núcleos, nas proximidades das zonas de produção primária, o que faz com que se encontre nelas certo número de moradores rurais, de periferia da cidade onde se realiza, fazendo a feira, e um percentual de produtores primários entre os feirantes. As urbanas, realizadas nas grandes cidades ou mesmo nas capitais dos Estados, freqüentemente chamadas ?feiras livres?, vendem, sobretudo, frutas e verduras. Oferecendo produtos mais frescos e de melhor qualidade e menor preço do que os supermercados".

As feiras urbanas podem ser encontradas por todo o país. As feiras rurais costumam ser um fenômeno típico da região Nordeste. Algumas delas transformaram-se em atração turística, como a de Caruaru em Pernambuco e a de São Cristóvão no Rio de Janeiro, esta, embora localizada na região Sudeste é uma feira nordestina.

5 A DINÂMICA OCUPACIONAL DA FEIRA DA CIDADE OPERÁRIA

A organização espacial expressa a produção material do homem, ou seja, e resultado de seu trabalho e do modo como se dá a divisão desse trabalho. De outro lado, observa-se que os processos de desenvolvimento histórico cultural e econômico interferem na forma como o homem relaciona-se com o espaço.

"O espaço é a matéria trabalhada por excelência. Nenhum dos objetos sociais tem tanto domínio sobre o homem, nem está presente de tal forma no cotidiano dos indivíduos. A casa, o lugar de trabalho, os pontos de encontro, os caminhos que unem entre si estes pontos, são elementos passivos que condicionam a atividade dos homens e comandam sua prática social". (SANTOS 1996, p. 137)

Constata-se então, uma relação dialética entre o homem e o espaço. Este último, "elemento passivo", abandona sua condição de inércia para impor "a cada coisa um conjunto de relações porque cada coisa ocupa um certo lugar no espaço" (CALLOIS, 1964. p.58 apud SANTOS. 1996. p.137), assumindo portanto um caráter interventor e dinâmico.
As feiras e mercados são instituições que apresentam um modelo de organização espacial. Quando se elege tais instituições como alvo de pesquisa e necessário que se investigue a morfologia da feira, a distribuição dos feirantes pelo espaço urbano e o que há por trás dessa ordenação espacial.
CAVALCANTI (2001) informa que a produção do espaço urbano é contraditória e que se dá, tanto em um nível racional, quanto contra-racional. A racionalidade define os lugares a partir de uma lógica capitalista de segregação sócio-espacial, segundo a qual o processo de produção, ou melhor, a importância e a abrangência desse processo definiria o direito a um lugar "melhor" no espaço urbano. A contra-racionalidade consiste então em um movimento, às avessas da racionalidade, cujo objetivo seria contestar a legitimidade da lógica capitalista na delimitação do espaço, revelando que este não é o desejado.
No caso específico da feira da Cidade Operária verifica-se uma tendência a mobilidade em nível contra-racional que resulta na existência de duas feiras a "diurna" e a "noturna". Os feirantes que vendem seus produtos na feira diurna, ao final da jornada de trabalho transferem as mercadorias para a feira noturna. Esta dista poucos metros daquela, porém está fincada no cruzamento de avenidas mais movimentado do conjunto Cidade Operária, apresentando uma localização privilegiada, o que a torna economicamente mais rentável.


Figura 2 - Localização da feira da noturna


A feira da Cidade Operária caracteriza-se, portanto, pelo fato de seus feirantes realizarem jornada dupla de trabalho em locais diferentes, porém contíguos. Para uma compreensão mais detalhada desse processo é necessário levantar o perfil sócio-econômico dos feirantes e configurar tanto a feira diurna quanto à noturna.

5.1 Perfil sócio-econômico dos feirantes

5.1.1 Natureza do trabalho


Para uma melhor compreensão da dinâmica ocupacional da feira da Cidade Operária levantou-se o perfil sócio-econômico dos feirantes. Para tanto foram empregados métodos de pesquisa de campo através de observação in loco, de entrevistas, de elaboração e aplicação de questionários que ofereceram dados mais consistentes a respeito da área de estudo.

5.1.2 População e amostragem

Foram aplicados 100 (cem) questionários abertos, o que representa uma amostra de quinze por cento do total de estabelecimentos comerciais da feira da Cidade Operária. Inclui-se na pesquisa tanto os feirantes que possuem boxes, quanto os que trabalham apenas em bancas.
A amostra foi aleatória sendo os questionários aplicados àqueles que tivessem tempo e disponibilidade para colaborar.

5.1.3 Instrumento e coleta de dados

Dentre os instrumentos de pesquisa optou-se pelo questionário aberto por entender-se que os objetivos desse estudo seriam melhores alcançados com este tipo de instrumento. (ver Apêndice 01).
A coleta de dados ocorreu no período de 20 de novembro a 20 de dezembro de 2004 somente na feira diurna porque os trabalhadores da feira noturna resistiram a aplicação do questionário por temer o administrador, vulgo "Pinininho", que não aceita qualquer tipo de abordagem ou entrevista. É importante revelar o que a pesquisa não esclareceu: a maioria dos feirantes que trabalha nas bancas da feira diurna vende seus produtos também na feira noturna.

5.1.4 Resultados

O homem que exerce sua atividade comercial na feira da Cidade Operária, aqui denominado "feirante", é a figura que representa um dos aspectos mais significativos na análise da dinâmica ocupacional da referida feira. A relação homem/espaço resulta, nesse caso, em características que conferem a essa feira traços peculiares.
O feirante da Cidade Operária é um cidadão e, portanto possui valor. "O valor do indivíduo depende em larga escala do lugar onde está" (DINIZ, 1999, p.107). A função que executa também é em grande parte, responsável pela sua valorização ou subestimação. Quando essa atividade é revestida de uma carga de preconceito porque considerada ocupação inferior, subemprego, faz-se necessário a elaboração de um perfil real do feirante construída sob as bases sólidas de uma análise mais amiúde de quem verdadeiramente é esse homem e do que ele é capaz de realizar quando interage com o espaço que ocupa.
No caso do espaço ocupado pela feira da Cidade Operária percebe-se seu desdobramento em dois: (feira diurna/feira noturna), resultante da tentativa em burlar a delimitação espacial que o Estado impôs ao feirante. Esse homem não detém o capital necessário ao livre exercício de sua atividade, o espaço que ocupa não possibilita o acesso a esse capital e não lhe é permitido ocupar outro. Em resposta a essa problemática, o feirante procura reorganizar o espaço, embora tal organização não consista exatamente em ocupação ordenada. Porém tal arranjo é primordial a sua sobrevivência e ele não vai deixar de fazê-lo por mais que tal atitude contrarie determinações do poder público instituído.

"E preciso que a organização social mude para que, em seus aspectos mais essenciais, a organização espacial possa também mudar. Mudar a partir da prática daquele que assumirá o papel de agente de seu próprio destino e modelador de seu espaço: o homem novo, de uma sociedade sem classes sociais". (CORREIA, 1986, p.84).


A partir da aplicação do formulário de pesquisa foi possível perceber qual é o perfil do feirante da Cidade Operária. Segue-se uma apresentação dos resultados e discussão destes.
No que se refere à procedência dos comerciantes da feira da Cidade Operária, percebe-se que 62% são oriundos do interior do Estado, 27% são de São Luis e 11% de outras unidades da federação (Piauí. Ceará e Pará). O contingente mais numeroso é proveniente dos municípios de Vitória do Mearim, São José de Ribamar, Matinha. Primeira Cruz e Bacabal. Caracteriza-se um quadro de êxodo rural, que apresenta, conforme DINIZ, (1999, p.114) como causas principais:

"A industrialização, a expansão do setor terciário e a mecanização da agricultura. No caso dos países subdesenvolvidos, além das causas mencionadas, as precárias condições no campo podem ser apontadas como causa principal do deslocamento do homem para as cidades".


Gráfico 1 ? Local de origem

De acordo com os resultados da pesquisa, em relação ao recorte de gênero percebe-se uma equiparação na distribuição dos feirantes. Há um número significativo de mulheres 47%, contra uma quantidade um pouco maior de homens 53%. Infere-se desses números que a presença da mulher no mercado informal amplia-se rapidamente e se por um lado representa emancipação também aponta para o problema de falta de acesso ao mercado formal de trabalho. Quanto a esse aspecto, percebe-se na feira da Cidade Operária um quadro diferente dos apresentados em estudos recentes de feiras e mercados da capital maranhense. Nestes embora tenha havido um aumento significativo do número de mulheres feirantes os homens constituem maioria absoluta.


Gráfico 2 ? Recorte de gênero

No que diz respeito ao estado civil, a grande maioria dos trabalhadores na feira da Cidade Operária tem encargo de família: 59% são casados, 31% solteiros e 10% estão arrolados na categoria de "outros", que inclui viúvos, divorciados e os que vivem em regime de concubinato.


Gráfico 3 ? Estado civil

No que concerne ao local de moradia, verifica-se que a maioria dos feirantes 51%, reside no próprio conjunto, 31% são da área de entorno e 18% são oriundos de outros bairros. É interessante observar que entre os feirantes é possível encontrar moradores de bairros localizados em áreas próximas do centro da cidade tais como, Monte Castelo, João Paulo, Alemanha, Ivar Saldanha, Angelim, Vinhais e Cohab, ocorrendo um fenômeno inverso ao observado em feiras tradicionais de São Luis, tipo o Mercado do João Paulo, que atraem moradores da área rural de São Luís.


Gráfico 4 ? Bairro onde reside

Quanto ao tipo de moradia, 82% dos feirantes tem casa própria, 13% moram em imóveis alugados, 3% em cedidos e 2% em invasões. A diferença enorme entre os imóveis ditos próprios e os de invasões está no fato de que embora 31% dos feirantes morem em área de entorno da Cidade Operária cuja característica principal é fato de ser área invadida, os moradores dessas áreas julgam ter casa própria, ou gostariam de não ser discriminados por morar em área invadida o que justificaria a ocultação ou mascaramento do fato. DINIZ. (1999, p.118), explica que: "a ocupação recebe de todos os outros moradores da cidade um estigma extremamente forte, forjador de uma imagem que condensa os males de uma pobreza, que por ser excessiva, é tida como viciosa".


Gráfico 5 ? Tipo de moradia

A população da amostragem possui um bom nível de escolaridade, 560% dizem possuir o ensino médio, 27% já cursaram o nível fundamental maior (5ª a 8ª série) e 16% o nível fundamental menor, 1% possui nível superior e não há nenhum analfabeto. Se por um lado, esse quadro é otimista, por outro, causa apreensão reconhecer que só o nível médio de instrução não é mais suficiente par ingresso no mercado formal que se torna cada vez mais hermético.

Gráfico 6 ? Nível de Escolaridade

Os dados coletados mostram que a maioria dos trabalhadores na feira da Cidade Operária, 57%, está desenvolvendo essa ocupação há mais de 05 anos o que demonstra não se tratar de uma atividade passageira para esses trabalhadores ou porque não quiseram deixá-la ou porque não conseguiram mais ingressar no mercado formal de trabalho. Estes dados também demonstram a resistência ao ingresso de novos comerciantes à feira.


Gráfico 7 ? Tempo exercendo a profissão
No tocante ao nível de rendimento dos feirantes, observou-se que 70%, a grande maioria tem níveis de renda variando entre 1 e 2 salários mínimos, 16% obtêm mais de três salários e 14% conseguem menos de 01 salário. Tais números confirmam que o comércio informal não oferece grandes oportunidades de rendimento e nem sempre possibilita o sustento dos que nele trabalham. Tais rendimentos referem-se à atividade comercial exercida na feira diurna.


Gráfico 8 ? Renda média mensal dos feirantes

Quanto ao tipo de estabelecimento os boxes cobertos apresentam 42%o, os boxes descobertos 2%, a banca cimentada representa 19%, o comércio coberto 29%, outros 8% entendendo-se por outras barracas desmontáveis, pequenas armações com rodas que se movimentam dentro da feira.


Gráfico 9 ? Tipo de estabelecimento

Uma das características do trabalho informal é não se verificar um ordenamento segundo a compra e venda da força de trabalho. Isso pode ser comprovado na feira da Cidade Operária, pois 75% dos feirantes entrevistados não possuem funcionários. Dos 25% restante, a maioria possui apenas um funcionário.


Gráfico 10 ? Possui funcionário

A atividade de feirante é exclusividade para a maioria, 75% dizem não executar qualquer outra atividade de cunho econômica e que possa gerar renda, 25% atuam em outras áreas ou ocupações.


Gráfico 11 ? Execução de outra atividade


Quanto ao pagamento de imposto à prefeitura de São Luís, 87% responderam que não pagam nada, 13% disseram que sim. Acredita-se que estes últimos estavam se referindo a taxa paga a COOFECO, já que a feira esta sob responsabilidade administrativa dessa cooperativa e não há taxação imposta pela prefeitura.

Gráfico 12 ? Paga imposto à Prefeitura
Com relação a situação perante a cooperativa 84% são adimplentes enquanto 16% alegam não contribuir para este órgão. Essas taxas são pagas para que as pessoas possam ocupar o local onde se encontram, servem também para manutenção da estrutura física da feira, limpeza, segurança, e outros.

Gráfico 13 ? Paga taxa a COOFECO

No que se refere à participação dos sindicatos, a grande maioria não é sindicalizado 80%. Apenas os açougueiros são filiados ao sindicato dos Trabalhadores de Carne Fresca de São Luís e os peixeiros ao Sindicato dos vendedores de pescados de São Luís, estes correspondem a 200% do universo de entrevistados. O nível de organização dos feirantes corno categoria é inexpressivo já que a Associação dos Feirantes da Cidade Operária foi extinta.





Gráfico 14 ? Situação sindical

5.2 A feira Diurna

É reconhecida oficialmente pelos órgãos de administração pública. Situa-se entre as avenidas 203 Oeste e 203 Leste. Possui uma estrutura física que consiste em um prédio administrativo, um galpão coberto, boxes paralelos e perpendiculares a essas instalações, conforme mapa:

Figura 3 ? Mapa da configuração da Feira da Cidade Operária
Fundada em 1989, a feira esteve sob administração da CEASA até 1986, ano em que o Estado fez contrato de concessão de 10 anos à cooperativa dos feirantes da Cidade Operária (COOFECO). O atual gerente, o Sr. Amilton Firmo Pereira quando entrevistado, prestou informações relativas à cooperativa e à configuração da feira.
A COOFECO possui um Conselho Administrativo do qual fazem parte quatro diretores: superintendente, administrativo, financeiro e comercial e um conselho fiscal. Possui onze funcionários, a saber, um gerente, urna secretária, cinco zeladores e quatro vigias. Disponibiliza um banheiro para uso coletivo (feirantes/comunidade) sob pagamento de taxa de dez centavos. É responsável pela limpeza, segurança e garantia de exclusividade do uso das instalações pelos associados, reprimindo a permanência de não associados na área da feira. Os cooperados pagam taxas que variam de dez a cinqüenta reais mensais, dependendo do tipo de instalação. Na feira da Cidade Operária existem 508 (quinhentos e oito) estabelecimentos comerciais dentre os quais 204 (duzentos e quatro) são bancas, responsáveis pela venda de gêneros alimentícios, produtos artesanais, artigos industrializados e manufaturados. De equipamento eletrônicos e produtos de medicina popular, uma variedade de produtos e de serviços são ali comercializados.

"A feira da Cidade Operária tem apenas duas lojas de artigos religiosos, uma serralharia, uma casa de jogo do bicho, várias lojas de confecção e calçados; mercearias; uma loja de vídeo-game; salões; armarinhos; lojas de material escolar, material para bicicletas, material para relógios, eletrodomésticos, lojas de artesanato (rede, gaiolas, jarros, etc.), lanchonetes, loja de ração de animais; várias lojas de consertos em geral (sapatos, sombrinha, eletrodomésticos); lojas de material plástico, material de acabamento (cano, fechaduras, etc.) material para automóveis; lojas de cereais como arroz, etc.". (MELO, 2000 apud FERRETTI 2000, p.104.)

A organização espacial da feira diurna apresenta algumas particularidades que para um melhor entendimento necessitam do resgate histórico do processo de formação da feira.
Em 1986, quando se deu a ocupação do conjunto, não havia uma feira que atendesse a população que se abastecia em urna pequena feira na Maiobinha.
Na instalação predial que hoje abriga a feira, funcionava um escritório da COHAB cuja única utilidade era recolher o pagamento das prestações do conjunto.
Nesse prédio estava previsto o funcionamento de uma COBAL, assim como ocorreu em outros conjuntos habitacionais da cidade tal como Vinhais que também foi entregue possuindo um edifício destinado a COBAL. Todavia tal órgão foi extinto, o prédio ficou reservado à instalação do mercado da Cidade Operária. Concomitantemente, foi surgindo no cruzamento entre as unidades 101, 203, 103 e 105, espaço onde hoje funciona a feira noturna, um comércio informal intenso de hortifrutigranjeiro a ponto de influenciar o aparecimento de uma Vila Residencial, a Vila do Gordo, nome dado em homenagem ao seu fundador, o feirante de apelido "Gordo".
Na tentativa de organizar a área de ocupação da feira que se alongava do cruzamento já citado até a avenida 203 Oeste, o governo do Sr. Epitácio Cafeteira resolveu delimitar o espaço desta. Reservou uma área entre as avenidas 203 Leste e 203 Oeste, na qual localizava-se o prédio que fora destinado a COBAL. Nessa área foram construídos um galpão coberto com bancas cimentadas e boxes cobertos.


Figura 4 ? Galpão coberto

Os feirantes, após alguma resistência, mudaram-se para as instalações recém-construídas. mas não permaneceram muito tempo no galpão, preferindo vender seus produtos nas proximidades da avenida 203 Oeste, que serve de divisa entre as unidades 203 e 101 e que possui um tráfico intenso de pessoas e veículos, fazendo parte do percurso da linha de ônibus SOCORRAO II, uma das mais utilizadas pela população do conjunto.
A principal alegação dos feirantes para a não utilização do galpão é a distancia do consumidor, "se os feirantes ocuparem o galpão coberto, vêm outros e ocupam a rua que é mais movimentada" (AZEVEDO, 2004).
Tal circunstância desencadeou a construção de outras bancas cimentadas no corredor que separa o edifício principal (local onde ocorre a venda de pescado, frango e carne) do galpão coberto, aproximando o feirante de hortaliças do consumidor habitual de carne.
Essas bancas ainda se localizam longe da avenida principal de acesso a feira (avenida 203 Oeste), o que justifica o aparecimento e consolidação da feira noturna.

5.3 A feira noturna

A feira noturna é resultado da insistência do feirante em não aceitar a delimitação pelo poder público de áreas "apropriadas" para o exercício de sua função. A recusa em permanecer somente no local fixado para sua atividade, mas que não lhe proporciona o lucro desejado é responsável pelo aparecimento no conjunto Cidade Operária de uma feira paralela à oficial.
Localizada nos cruzamentos de avenidas que ligam quatro das seis unidades que o conjunto apresenta, a feira não é reconhecida pela SEMTHURB, tendo esse órgão tentado por diversas vezes retirar os comerciantes do local, conforme exemplo publicado em artigo de jornal local, (ver Anexo 02). Tampouco, a feira noturna é administrada pela COOFECO, todavia a maioria dos comerciantes que nela atuam são provenientes da feira diurna. Essa informação foi omitida pelos feirantes, quando da aplicação dos questionários. A maioria, 86% deles disse não comercializar seus produtos na feira noturna. Tal postura se explica pelo caráter de não legitimidade dessa atividade, porém uma observação in loco desmistifica os dados coletados na entrevista.
Os feirantes encerram suas atividades na feira diurna por volta das treze horas e a partir das quinze já começam a movimentar-se em direção a feira noturna. Transportando seus produtos em carros de mão, deslocam-se para o local supracitado, onde comercializarão em bancas improvisadas. Sem um local apropriado para armazenamento, aspecto em que difere da outra feira cujas bancas possuem armários, os produtos da feira noturna chegam a ficar dispostos até mesmo no chão.


Figura 5 ? Disposição das mercadorias na feira noturna

São comercializadas principalmente frutas, verduras e hortaliças. Há um local designado para venda de vísceras e de pescados. A procura por este último produto é maior nessa feira porque chega na hora em que é comercializado, a noitinha, com aspecto bem fresco e saudável.
A venda de pescado ocorre em frente ao PAM-Cidade Operária, Serviço de Atendimento Médico. As calçadas do PAM também servem de ponto para bancas que vendem frutas e verduras. O que revela descuido com aspectos de higiene e de saúde pública, além da questão da poluição sonora próxima ao ambiente hospitalar.


Figura 6 ? Calçada do PAM ocupada pelos feirantes

O maior problema, porém, desencadeado pela feira noturna está relacionado ao trânsito. Como esta se situa num trecho bastante movimentado, acarreta transtorno aos condutores de veículos. As bancas localizam-se nas calçadas, ocupando o espaço destinado ao pedestre e há também a presença numerosa de ciclistas, o que contribui para a desorganização das vias de circulação. Por outro lado o feirante é seduzido por essa movimentação intensa, que se assim não fosse, não serviria de atrativo aos que ali trabalham e trafegam.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É imperioso levar em consideração a relevância funcional da feira como instituição necessária em economias excludentes como a brasileira. A dualidade que impõem dois circuitos econômicos, um superior, que exige da mão-de-obra que emprega um elevado nível de excelência, e um inferior, que recebe os não-aptos àquele circuito, enseja o crescimento do mercado informal em todas as suas instâncias. A feira é uma delas e caracteriza-se por ser urna atividade substitutiva à outra economicamente formal, porém, inacessível. Daí, essa atividade apresenta um caráter muito mais democrático do que outras desempenhadas no setor terciário, por não promover impedimentos à sua execução.
A feira é o espaço em que a atividade comercial é realizada de forma mais significativa na Cidade Operária. Um dos fatores responsáveis por tal expressividade é o vácuo deixado pelas grandes redes de supermercados. Não se observa a existência de nenhum grande centro comercial varejista de gêneros alimentícios naquela localidade. A feira desempenha então, um papel importante no abastecimento do bairro.
Uma análise do espaço na qual a feira da Cidade Operária está inserida, possibilitou a percepção de que esta se fixou por determinação oficial, em local economicamente inviável, porquanto, longe das principais vias de circulação do conjunto. Em resposta a esse embaraço, o feirante ali cadastrado, permaneceu executando sua atividade comercial no local que lhe fora determinado, cumprindo seus deveres com o órgão gestor da feira. Todavia, ao final da jornada diurna de trabalho, o feirante movimenta-se para um local mais propicio economicamente ao desenvolvimento de sua atividade e espalha-se de forma desordenada pelo espaço que considera favorável a obtenção de lucros. O resgate histórico da feira confere a esse feirante o status de primeiro ocupante do espaço que hoje não é reconhecido oficialmente como seu (feira noturna) e no qual ele persiste em ocupar, resistindo as tentativas de afastamento.
Análise da dinâmica ocupacional da área possibilitou também, a identificação dos problemas que a presença da feira noturna ocasiona. Os distúrbios decorrem principalmente pelo fato de que não há uma sistematização na distribuição das bancas uma vez que, o espaço disponível já não é o mesmo do início do processo, porque foi ocupado por edificações. A eliminação da feira noturna por sua vez, ocasionaria um agravamento dos problemas sócio-econômicos dos feirantes. A resposta a esse impasse passaria pela disponibilidade em estabelecer um diálogo entre as partes envolvidas, feirantes e SEMTHURB, em busca de um planejamento urbano que satisfizesse ambos, sem deixar de considerar o morador do conjunto, principal interessado em qualquer arranjo espacial promovido em seu habitat. Como medidas mitigadoras para os problemas detectados sugere-se:
? Fomentar uma ampla discussão sobre a localização inapropriada da feira noturna, na qual partes envolvidas no problema e interessadas na solução possam reconhecer a inconveniência do espaço hoje ocupado, e a necessidade de transferência para um ambiente mais adequado;
? Transferir a feira noturna para o local onde funciona a feira diurna, uma vez que já possui as instalações necessárias ao desempenho satisfatório da atividade de feirante;
? Promover ações educativas tais como, distribuição de folders ou outro tipo de material gráfico que contenham informações sobre a necessidade de organização e de limpeza da feira, ressaltando que tais necessidades não poderiam ser supridas no espaço em que hoje se realiza a feira noturna;
? Fiscalizar os comerciantes para que estes ocupem apenas a extensão delimitada para sua atividade e não permitir que outros feirantes venham a instalar-se na área-problema, uma vez que isso hoje, se constitui o maior empecilho ao desmonte da feira noturna: o medo dos feirantes de que com a saída deles, outros venham a ocupar a área e usufruir as benesses econômicas que proporcionam.


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