Observação e entrevista em Pesquisa qualitativa
Por Almir Oliveira | 23/07/2010 | EducaçãoObservação e entrevista em Pesquisa qualitativa
Almir Almeida de Oliveira
Resumo
A Pesquisa Qualitativa é analítica e interpretativa, busca refletir e explorar os dados, que podem apresentar regularidades para criar um profundo e rico entendimento do contexto pesquisado. Pesquisar requer profunda habilidade na coleta de dados e uma escolha metodológica que proporciona uma estrutura para o processo de pesquisa. A observação bem como a entrevista são dois dos instrumentos de pesquisa mais utilizados em pesquisa qualitativa, o primeiro possibilitando uma análise descritiva de determinado objeto de estudo e o segundo possibilitando uma visão subjetiva dos participantes da pesquisa, o que pode fornecer material, em ambos os instrumentos para variadas abordagens metodológicas.
Abstract
Qualitative research is analytical and interpretive, reflect and explore the data, which may submit regularity to create a deep and rich understanding of the context search. Search requires deep skill in data collection and methodological choice that provides a structure for the search process. Note as well as the interview are both two of the research tools used anymore in qualitative, the first enabling a descriptive analysis of particular object of study and the second enabling a subjective view of the participants of the survey, which can provide material, in both instruments for various methodological approaches
Palavras-chave: Pesquisa qualitativa; Linguística Aplicada; entrevista; observação.
Introdução
Fazer pesquisa qualitativa é analisar e interpretar os dados, refletir e explorar o que eles podem propiciar buscando regularidades para criar um profundo e rico entendimento do contexto pesquisado. Pesquisar requer profunda habilidade na coleta de dados e uma escolha metodológica que proporciona uma estrutura para o processo de pesquisa. "It should be driven by some kind of theory, and have a clear research purpose."(Croker, 04) Assim deve ser encaminhada uma pesquisa qualitativa.
Há dois sobrepostos comuns a todas as pesquisas, sejam elas quantitativas ou não: entrada em campo e presságio dos problemas. Na pesquisa qualitativa, a forma como o campo de estudo e os problemas são encarados é diferente, o que pode ser ratificado por Croker "In very broad terms, quantitative research involves collecting primarly numerical data and analyzing it using statistical methods, whereas qualitative research entails colleting primarily textual data and examining it interpretative analyses." (05) (grifos do autor)
A Linguística Aplicada, que se utiliza de um modelo qualitativo, é um vasto e excitante campo interdisciplinar de estudo. Ela foca o uso da linguagem em uso, conectando nosso conhecimento sobre línguas com o entendimento de como são usadas no mundo real. A Linguística Aplicada trabalha com diversas áreas de pesquisa incluindo aquisição de segunda língua, comunicação, língua polida e identidade linguística.
Em pesquisa qualitativa, o pesquisador faz parte da pesquisa, e é o primeiro instrumento da pesquisa. Quando o pesquisador entra em campo para pesquisar ele traz consigo toda uma bagagem intelectual e experiência de vida. Inevitavelmente, sua idade, etnia, cultura, orientação sexual, política e religiosa são lentes através das quais ele vê a pesquisa. Na verdade essa é uma das críticas que a pesquisa qualitativa recebe. Por outro lado, ela tem como vantagem, possibilitar essa aproximação do investigador com objeto investigado, o que não é possível nas pesquisas quantitativas.
Observação
A observação é o instrumento que mais fornece detalhes ao pesquisador, por basear-se na descrição e para tanto utilizar-se de todos os cinco sentidos humanos. Sendo observação e a entrevista os instrumentos mais utilizados em pesquisa qualitativa, bem como o questionário.
Segundo Gold, citado por Cowie, há quatro tipos de observador: participante completo, participante observador, observador participante e observador completo. (167) O participante observador é mais comum deles. É o caso do investigador que faz parte do grupo a ser estudado. Predomina na etnografia, por estudar a cultura de um povo, geralmente da qual o pesquisador está inserido.
The participant observation is perhaps of greatest importance because it is crucial to develop an understanding of the culture. Richards (2003) lists four main components that observers should make a conscious effort to note: setting (space and objects), systems (procedures), people and behavior. At first, it will probably be difficult to know what to focus on your observation. (Heigham e Sakui, 96)
Nessa citação fica clara a importância do observador quanto ao espaço, objetos, procedimentos, pessoas e comportamentos e as descrições e narrações que deverá fazer.
Por outro lado, o Estudo de caso e a Pesquisa ação são distinguidos. O primeiro mais usado em grupos (escolas e universidades). A etnografia também faz parte desse tipo. E o segundo, melhor utiliza a observação em casos individuais. Propondo interferência no problema. A observação é uma ferramenta utilizada por essas três abordagens de pesquisa.
Três razões para a observação:
1. Possibilitar-nos ver o comportamento dos participantes em uma nova luz e descobrir novos aspectos do contexto;
2. Utilização em conjunto com outros métodos de coleta de dados, providenciando evidencias adicionais para triangulação e estudo da pesquisa;
3. É um método particular apropriado para pesquisa em sala de aula.
Vários tipos de dados podem ser coletados: anotações, listas, vídeos, gravações de áudio, mapas, fotografias e carta organizacional.
Neil Cowie dá dicas a uma pessoa inexperiente de como se tornar um observador: sentar em um banco de parque e observar tudo que está em volta utilizando todos os sentidos, as pessoas, os barulhos, os cheiros, a temperatura, tudo que for possível o analista observar.
Duas grandes considerações ao observador: utilizar-se de uma densa descrição ? o leitor tem que imaginar perfeitamente o contexto pesquisado através dos detalhes fornecidos pelo pesquisador. E a segunda, o pesquisador deve tentar se comportar como um estranho para evitar (apesar de ser impossível em sua totalidade) às suas interferências pessoais. Como uma pessoa que viaja para um lugar estranho e observa tudo, pergunta a todos até conhecer o lugar. Um curioso que tem que observar e perguntar para então conhecer.
Em pesquisa qualitativa deve-se buscar ser esse estranho. Isso melhora a qualidade das descrições. "We always need to try to act as a stranger in a new situation would ? questioning what is going on in a context and trying to explain the unquestioned." (Cowie, 171) Não contradizendo o que já foi dito antes acerca do pesquisador como primeiro instrumento de pesquisa. O que se argumenta aqui é fuga dos preconceitos e verdades pré-concebidas que o pesquisador pode ter. Como geralmente este faz parte do grupo a ser pesquisado é necessário que ele tenta evitar que suas crenças interfiram (em excesso) no objeto e na análise da pesquisa.
A organização deve ser o lema chave para o pesquisador. Devido à grande quantidade de informações a que ele tem acesso, e a necessidade de triangular esses dados, a organização é crucial para o bom desempenho de seu trabalho. Na prática de anotações, sugere-se que se façam três colunas em uma folha. Na primeira, se coloque os detalhes descritivos, na segunda as observações individuais e na última os comentários analíticos sobre as observações.
A qualquer momento, novos dados podem ser acrescidos ao corpus. Em pesquisa qualitativa, a coleta de dados não é estanque, ela é construída em conjunto com a análise.
Para guiar os elementos a serem observados, Cowie (172) sugere um quadro chave que pode ser posto na borda do caderno de anotações para orientar no preenchimento das colunas.
O uso desse esquema facilitará na escolha da coleta de dados e na análise.
Organizar e analisar os dados da observação é um cansativo trabalho. Inclui gravar os detalhes das anotações, transferir as análises para um diário, e tudo isso começa em longo processo de sumarização, reflexão e teoricização.
O processo interpretativo passa por três estágios: o descrever, o dar sentido ao dado e argumentar. Isso faz com que complexas histórias emirjam sínteses de evidências, argumento e teoria. "Here reseachers must clearly lay out their commentary and demosntrate connections between the ideas that they ara proposing" (idem, 174)
Quanto à apresentação dos dados:
Etnografia ? levanta uma mais genérica e artificial explicação dos aspectos de identidade e experiência de seus participantes.
Pesquisa ação ? é um projeto que pode envolver a escrita e a resposta a um supervisor ou grupo de professores para ser considerado para mudanças.
Estudo de caso ? pode resultar em artigo de jornal ou seminários.
Em pesquisa qualitativa, dois passos devem ser seguidos: a separação entre a descrição e o processo de interpretação; e escolher momentos vívidos e pungentes da observação para explicar em detalhes. Seria um recorte nos corpus.
É importante também observar os aspectos éticos e a relação entre objeto e observador. Deve-se "dar voz" ao participante para que ele veja os dados e opine. O pesquisador não deve utilizar os sujeitos apenas como instrumentos de sua pesquisa, principalmente quando se fará interpretações de ações e reações. É aconselhável que o participante possa acompanhar o processo de interpretação dos dados, que possa saber o que e como está sendo feito. O próprio Cowie reclama sobre esse comportamento de alguns pesquisadores: "They continue teaching or studying, but the observer leaves with data to use a master?s thesis ou publication. You should always try to ensure that participants benefit from your involvement." (176)
Entrevista
A entrevista também é uma grande ferramenta de coleta de dados e geralmente acompanha a observação seja no estudo de caso, na pesquisa ação, ou mesmo na etnografia. "Perhaps the most commonly used method of data elicitation in qualitative educational research, interviews may yield a wealth of valuable data." (Hood, 77)
A entrevista é classificada em três tipos:
Entrevista estruturada ? coleta de dados mais controlada. São questões precisamente formuladas. São longas listas de questões exatas.
Entrevista aberta ? quando as questões não são pré-determinadas. Assemelha-se mais a uma conversa. Nem sempre reflete a realidade, mas uma visão dele. As vantagens é que permite coletar algo sem a devida intenção do entrevistado, seus deslizes. As dificuldades estão em não possuírem uma imagem fiel e dificultar a comparação com outros dados.
Entrevista semi-estruturada ? são apresentados tópicos, ao invés de questões fechadas e permitem respostas subjetivas, sem perder o quantitativo. É considerada a melhor forma por se utilizar das duas anteriores. O entrevistador segue um guia de questões, mas deve estar preparado para caso a entrevista mude de caminho.
Os três passos para a entrevista:
1. O primeiro é decidir-se sobre o modelo de entrevista, e estar claro dos objetivos da pesquisa para saber nortear-la. Para isso, deve-se levar em consideração o tempo, as relações e reações com e do participante e as questões que devem seguir a perspectiva de explicação ou explanação;
2. Realizando a entrevista ? e entrevista deve permitir planejamento e reflexão. Questões básicas devem orientar a entrevista: o que, quem, onde, quanto e em que condições;
3. Encontrar a interação correta ? aqui entra o desempenho do pesquisador. Ele precisa manter o controle e mostrar genuíno interesse no que faz. Para isso, deve estar sempre:
a) Checando e refletindo: o entrevistador deve ter certeza do que está falando ao entrevistado e questionar sempre que haja dúvida. Assim, o falante pode sempre expandir o que falou;
b) Continuando: a capacidade do entrevistador de pedir um pouco mais sobre o assunto ao entrevistado, para ele continuar a falar;
c) Provando: é uma forma de evitar os exageros do falante, convidando-o a dar mais detalhes. Como os relatos são de memória, pode-se utilizar um objeto ou fotografia, por exemplo, para ratificar ou não sua lembrança;
d) Depois da entrevista ? nessa etapa devem-se gravar os detalhes práticos da entrevista (quem, onde, quando, tópicos, etc.) e sumarizar os pontos importantes que forneçam questões para as próximas entrevistas.
Como toda pesquisa, os dados qualitativos exigem escolhas e interpretações. O sucesso da análise depende de como os códigos e temas são identificados e desenvolvidos. Na transcrição deve-se ficar atento a aspectos essenciais como sobreposições, ênfases, tom de voz, corte de palavras e pausas.
As entrevistas não são simples reflexos das crenças ou conhecimentos interiores, mas construções que dependem da identificação de categorias e processo de explicação. Ou seja "if a respondent is speaking on the topic of self-discipline as student to me as teacher, they will develop their accounts in a way that reflects their membership of the category ?student? and terms of the relationship between student and teacher" (idem, 192) O analista precisará, dessa forma, ver como a fala do entrevistado está desenhada e que impactos isto pode acarretar na natureza das respostas.
O caminho mais fácil de iniciar esse processo de análise é refletir sobre o que se quer investigar. Pode-se gravar e transcrever em ordem todos os dados para examiná-los em mais detalhes. Tentar identificar aspectos que são típicos da interação entre indivíduos e ver que efeitos estes tem no desenvolvimento da entrevista. Ou mesmo pedir a uma terceira pessoa que veja os dados e comente-os. Isto é necessário porque conforme já foi dito anteriormente, a análise e os resultados surgem simultaneamente com a coleta de dados. E a qualquer momento pode-se perceber através da reflexão a necessidade de mudar os objetivos, por exemplo, ou a abordagem, ou mesmo os instrumentos da pesquisa.
Todavia, isso não é um aspecto negativo da entrevista nem da pesquisa qualitativa. Conforme podemos ver mais uma vez em Cowie: "All data collection method have their drawbacks interviews are no exception. The most obvious challenge of becoming an effective interviewer demands considerable sensitivity, self-critical awareness, and openness to change." (195)
A entrevista pode ser considerada o coração da pesquisa qualitativa e vem geralmente acompanhada de outros instrumentos de pesquisa, como a observação ou questionários completando uma coleta de dados e possibilitando ao pesquisador uma diversidade de dados passíveis de triangulação, podendo resultar em uma satisfatória análise, seja no estudo de caso, na etnografia ou na pesquisa ação.
Conclusão
Buscou-se com este trabalho mostrar a utilização das estratégias de pesquisa, observação e entrevista, como ferramentas para diversas abordagens mitologias, como Estudo de Caso, Etnografia e Pesquisa ação, caracterizado a essência das pesquisas qualitativas, bem como mostrar alguns conceitos teóricos a respeito.
Referências Bibliográficas
COWIE, Neil. Observation. In: HEIGHAM, Juanita & CROKER, Robert A. Qualitative research in Applied Linguistics: a pratical introduction. Great Britain: Palgrave macmilian, 2009.
CROKER, Robert A. An Introdution to qualitative research. In: HEIGHAM, Juanita & CROKER, Robert A. Qualitative research in Applied Linguistics: a pratical introduction. Great Britain: Palgrave macmilian, 2009.
HEIGHAM, Juanita & SAKUI, Keiko. Ethnography. In: HEIGHAM, Juanita & CROKER, Robert A. Qualitative research in Applied Linguistics: a pratical introduction. Great Britain: Palgrave macmilian, 2009.
HOOD, Michael. Case Study. In: HEIGHAM, Juanita & CROKER, Robert A. Qualitative research in Applied Linguistics: a pratical introduction. Great Britain: Palgrave macmilian, 2009.
RICHARDS, Keith. Interviews. In: HEIGHAM, Juanita & CROKER, Robert A. Qualitative research in Applied Linguistics: a pratical introduction. Great Britain: Palgrave macmilian, 2009.