O Vento de Outono
Por Sandra Oliveira | 08/04/2010 | ContosPassava das quatro da tarde quando ela saiu do consultório médico.
O mundo,antes dela ter entrado ali,tinha uma cor,agora tinha outras tantas,com sons, cheiros e movimentos que não percebia antes de saber os resultados de seus exames.
Pensava em tudo que tinha deixado de viver,sentia saudade de lugares que não conheceu,de pessoas que nunca viu,emoções que nunca sentiu e dos amores que a vida lhe ofereceu e que também não viveu.
Filomena ,esse era seu nome,já tinha alcançado os cinqüenta anos,e algumas pessoas nesta fase da vida, costumam entrar em crise e com ela não foi diferente.
Se casou bem jovem por amor,apaixonada por aquele homem com quem dividiu a vida por mais de trinta anos.Com ele teve cinco filhos,e foi com ele também que aprendeu a arte da paciência,da doação incondicional,da disponibilidade total e da fidelidade compulsória.
Uma das características humanas que mais desenvolveu foi a da esperança,essa sempre foi a palavra mais pronunciada e ouvida por ela .
- Tudo vai melhorar,é uma questão de tempo!
- Nada se resolve de uma hora para outra!
- Procure ver o lado bom das coisas.
E foi com frases desse tipo que levou a vida até ali,mas e agora?Não havia mais tempo e a vida não ia melhorar,embora tudo fosse se resolver,de um jeito definitivo e inesperado.
Resolveu ir para casa á pé,precisava andar e adorava sentir o vento frio que soprava.
Sempre gostou da sensação que o vento de outono lhe causava,sentia como se ele trouxesse coisas boas,um sentimento de renovação levando emboraas coisas ruins e reascendendo de novo a tal esperança.
No inverno sua alma se recolhia,poupando as forças para encarar o calor do verão.
Nunca o vento de outono foi tão bem vindo,precisava de forças e sabedoria para decidir o que fazer agora.
Tinha pouco tempo para decidir,contava á família ou simplesmente sairia pelo mundo realizando assim um dos seus mais loucos devaneios,aqueles que costumava ter quando estava triste ou tinha brigado com alguém ou estava deprimida.
Preparava rapidamente uma mala enquanto pensava: - Para que mala, se vou sair e me aventurar pelo mundo? Deixou a mala em cima da cama e olhando para ela lembrou da ultima chance que teve de viver uma paixão,aquele homem que conheceu na fila interminável do banco,numa manhã em que parecia que todos os "sistemas"do mundo estavam conspirando á favor daquele encontro.
Enquanto funcionários organizavam filas e davam explicações á respeito da queda do sistema,pessoas reclamando e tinha até crianças chorando,o olhar dos dois se encontrou,numa onda de sentimentos sem explicação racional.Para ela foi como se tivesse reencontrado alguém que há muito não via,alguém próximo e querido e de alguma maneira sentia que para ele foi a mesma coisa,ou pelo menos queria que fosse.
Por sorte,talvez,os tipos de contas que iam pagar eram iguais e acabaram na mesma fila,um na frente do outro.Como sabiam que tudo seria lento,relaxaram e aí ficou fácil iniciar uma conversa,para passar o tempo e quem sabe descobrir mais sobre aquela sensação que dominou Filó desde que seus olhares se cruzaram.
Parecia que o tempo tinha parado,conversaram sobre tudo e não se surpreenderam com o fato de terem os gosto parecido em muitas coisas.
Quando chegou em casa não acreditou que trocaram telefone e ficaram de combinar um encontro,para um café,mesmo acreditando que ele jamais ligaria.Ela, por sua vez nem poderia pensar na hipótese de ligar para ele,afinal ela era casada e a sensação que teve ao conhece-lo era mais que suficiente para lhe pesar na consciência. e dizia á si mesma:
- Ah! O peso da fidelidade obrigatória!Gostaria tanto de me deixar levar.Viver essa estória,se é que vai existir uma estória.
Três dias depois ele ligou,Filó nem acreditava e mesmo com medo,de si, do marido e das conseqüências acertou o encontro.Foram á um café no shopping e conversaram a tarde toda, e aquela sensação de reencontro só aumentava,especialmente agora que ele,Ronaldo,confessava que teve a mesma impressão, quando a viu pela primeira vez naquela fila do banco.
Encontrara-se mais duas vezes, até que surgiu um clima mais romântico,quando perceberam,entre tantos cafés,que estavam apaixonados.
Por mais vontade que tivesse de se entregar aquela paixão,Filó sabia que não podia e não devia,afinal e o seu casamento,seus filhos,como se comportaria se fosse até o fim?Que conseqüências essa estória lhe traria?
Não queria um caso,e não iria se separar,desfazer a família,perder os amigos e ter a reprovação dos parentes!Se encontraram mais uma vez,ela lhe contou a decisão tomada e nem os argumentos, promessas e pedidos feitos por Ronaldo,conseguiram faze-la mudar de idéia.Filó voltou par casa andando,triste enquanto lutava consigo mesma para não se arrepender e voltar correndo para ele.E assim passaram os dias,as semanas e seis meses e doze dias, até aquele dia em que ouviu do médico, sua sentença de morte.
Agora procurava como louca o numero de Ronaldo na agenda de seu celular.Não é possível que tenha perdido,não se lembrava de te-lo apagado.
Já estava chorando quando finalmente encontrou, e ao ouvir a voz dele,sentiu como se a vida tivesse voltado ao seu rumo natural e percebendo a emoção e o interesse da parte dele,pediu que fosse ao seu encontro no lugar de sempre,pedido aceito imediatamente por ele.
Foi um reencontro repleto de emoção,de saudade e de cumplicidade.
Filó,entre lagrimas,contou á ele tudo sobre sua doença,que tinha os dias contados e sem nenhuma esperança de tratamento ou cura, assim como não sabia o que fazer em relação a família.
Ronaldo,que agora soluçava,lutando para se mostrar forte,pegou sua mão e a levou para seu apartamento onde preparou um chá para ambos.Depois mais calmos,perguntou á ela o que queria fazer,e ela calada não sabia o que responder,apenas se aninhou nos braços dele, e meio á lagrimas,dor e sofrimento aconteceu o beijo tão esperado e tão inutilmente adiado.Depois do primeiro beijo,aconteceu tudo que deveria ter acontecido há seis meses atrás,não havia mais motivos para evitar.
Mais calmos,conscientes e mais unidos que nunca,perceberam que tinham que tomar uma atitude,não era possível perder mais tempo,assim como não precisavam mais falar para saber o que o outro estava pensando,o amor realizado naquele instante tinha feito dos dois um só.
Sem dizerem nada um ao outro levantaram-se,saíram em direção á casa de Filó,ela já sabia o que tinha que fazer.Despediram-se com um beijo.
Já passava das nove horas quando entrou em casa e viu seu marido e seus três filhos solteiros com cara de poucos amigos,afinal ela nunca atrasou o jantar e sempre estava em casa quando eles chegavam.
Foi direto ao seu quarto,e percebeu que seu marido não havia notado aquela mala pronta esquecida sobre a cama., o que não foi surpresa,afinal raramente ele notava qualquer coisa que viesse de Filó,com exceção dos erros ou enganos cometidos por ela.Procurou a pequena pasta onde guardou a papelada médica e o resultado de seu exames,desceu e enquanto ligava para suas filhas pedindo que viessem até sua casa,foi preparando alguma coisa para que jantassem e se equilibrando para responder as perguntas de seu marido,sem antecipar nada enquanto as meninas não chegassem.
Suas filhas notaram algo errado e sem perguntas dirigiram-se á casa da mãe,enquanto os homens de casa começavam á se preocupar.Sim, havia alguma coisa errada,coisa grave,aquela mulher sempre foi previsível,clara,não era do tipo que fazia surpresas,fossem boas ou não.
Dez horas da noite,todos em casa na mesa de um jantar improvisado,de ultima hora.
Filomena,calma,começou á contar para a família os resultados dos exames que fizera,que aliás,todos tinham se esquecido e ficaram sem ação ao, saber do resultado.Não sabiam como agir ou o que falar diante de tamanha surpresa,pelo exame e pela calma que ela demonstrava.Percebendo a difícil situação em que eles se encontravam, parou de falar e de dar explicações,mas deixando bem claro que não havia nada que pudesse ser feito para reverter a situação ,esperou que se refizessem do susto.Aí as meninas,que já não eram tão meninas e os filhos,homens adultos já,sentiram o peso das palavras ditas pela mãe e quase ao mesmo tempo todos começaram á chorar enquanto corriam para abraça-la.Sómente seu marido permaneceu imóvel,parecia que ia morrer á qualquer instante,não conseguia tirar os olhos dela,mas de repente levantou-se,afastou os filhos com delicadeza e sentenciou: - Amanhã bem cedo partiremos para o Rio de Janeiro,conheço um médico especialista em cardiologia,e se ele não puder lhe curar com certeza conhece alguém que poderá faze-lo.
Passados alguns instantes,Filomena retomou a palavra pedindo para ninguem mais fizesse qualquer pergunta e que de maneira nenhuma iria ao Rio ou á qualquer outro lugar no mundo atrás de uma provável cura,pois havia tomado uma decisão que só á ela cabia.Dito isto,segurando as mãos do marido e olhando profundamente em seus olhos,sentou-se com ele no sofá, um tanto distante dos filhos e contou-lhe estava decidida á ir embora naquela noite mesmo.Ele estupefato,perguntou para onde iria naquela situação,e porque iria deixar a família sem nem ao menos tentar se curar,tentar achar um meio de viver mais um pouco.Nesse momento ela sentiu faltar-lhe as forças,entre lagrimas e com uma certa dose de culpa contou que tinha se apaixonado por outra pessoa.Ao ouvirem isso,os filhos se aproximaram e escutaram toda a verdade,desde o começo. Foi só nesse momento que seu marido chorou,as lagrimas que caiam de seus olhos abriram seu coração,mostrando como todos tinham sido egoístas com relação aquela mulher,como tinham sido cegos para não enxergarem as carências e necessidades que ela teve enquanto cuidava deles,em especial ele,mas não havia mais nada para fazerem ou dizerem,sabiam que tinha que ser assim.
Enquanto Filomena subia atéo quarto para apanhar a mala que estava pronta,lembrou que quando a tinha arrumado,o destino que tinha em mente era outro.
Lá em baixo, ninguém se movia nem sequer pensava,era muita coisa para ser digerida em tão pouco tempo.
Filomena desceu,abraçou á todos, declarando seu amor á cada um,como sempre fazia quando vinham almoçar em casa aos domingos,pediu perdão e compreensão,ao marido,a mesma coisa,agradecendo-lhe a paciência ,a dedicação e principalmente os filhos que ele lhe deu e a sua companhia para cria-los.
Ao se dirigir atéa porta ,ouviu o caçula se oferecer para leva-la de carro onde quer que fosse,mas ela disse –Não Precisava caminhar,e como sabiam desse seu prazer em andar quando estava inquieta,não insistiram.Ela saiu,fechou a porta com cuidado,deixando sua cópia da chave em cima da mesa do telefone,como um claro sinal de que não iria voltar,pois tinha agora que viver urgentemente o ultimo amor da sua vida.
Saiu sem olhar para trás,sem culpa e sem medo,respirou fundo como quem está se afogando e quando soltou o ar dos pulmões sentiu seu corpo e sua alma sendo varridos e renovados por aquele vento,que agora não era frio e sim refrescante vento de uma madrugada de outono.
Passava das quatro da tarde quando ela saiu do consultório médico.
O mundo,antes dela ter entrado ali,tinha uma cor,agora tinha outras tantas,com sons, cheiros e movimentos que não percebia antes de saber os resultados de seus exames.
Pensava em tudo que tinha deixado de viver,sentia saudade de lugares que não conheceu,de pessoas que nunca viu,emoções que nunca sentiu e dos amores que a vida lhe ofereceu e que também não viveu.
Filomena ,esse era seu nome,já tinha alcançado os cinqüenta anos,e algumas pessoas nesta fase da vida, costumam entrar em crise e com ela não foi diferente.
Se casou bem jovem por amor,apaixonada por aquele homem com quem dividiu a vida por mais de trinta anos.Com ele teve cinco filhos,e foi com ele também que aprendeu a arte da paciência,da doação incondicional,da disponibilidade total e da fidelidade compulsória.
Uma das características humanas que mais desenvolveu foi a da esperança,essa sempre foi a palavra mais pronunciada e ouvida por ela .
- Tudo vai melhorar,é uma questão de tempo!
- Nada se resolve de uma hora para outra!
- Procure ver o lado bom das coisas.
E foi com frases desse tipo que levou a vida até ali,mas e agora?Não havia mais tempo e a vida não ia melhorar,embora tudo fosse se resolver,de um jeito definitivo e inesperado.
Resolveu ir para casa á pé,precisava andar e adorava sentir o vento frio que soprava.
Sempre gostou da sensação que o vento de outono lhe causava,sentia como se ele trouxesse coisas boas,um sentimento de renovação levando emboraas coisas ruins e reascendendo de novo a tal esperança.
No inverno sua alma se recolhia,poupando as forças para encarar o calor do verão.
Nunca o vento de outono foi tão bem vindo,precisava de forças e sabedoria para decidir o que fazer agora.
Tinha pouco tempo para decidir,contava á família ou simplesmente sairia pelo mundo realizando assim um dos seus mais loucos devaneios,aqueles que costumava ter quando estava triste ou tinha brigado com alguém ou estava deprimida.
Preparava rapidamente uma mala enquanto pensava: - Para que mala, se vou sair e me aventurar pelo mundo? Deixou a mala em cima da cama e olhando para ela lembrou da ultima chance que teve de viver uma paixão,aquele homem que conheceu na fila interminável do banco,numa manhã em que parecia que todos os "sistemas"do mundo estavam conspirando á favor daquele encontro.
Enquanto funcionários organizavam filas e davam explicações á respeito da queda do sistema,pessoas reclamando e tinha até crianças chorando,o olhar dos dois se encontrou,numa onda de sentimentos sem explicação racional.Para ela foi como se tivesse reencontrado alguém que há muito não via,alguém próximo e querido e de alguma maneira sentia que para ele foi a mesma coisa,ou pelo menos queria que fosse.
Por sorte,talvez,os tipos de contas que iam pagar eram iguais e acabaram na mesma fila,um na frente do outro.Como sabiam que tudo seria lento,relaxaram e aí ficou fácil iniciar uma conversa,para passar o tempo e quem sabe descobrir mais sobre aquela sensação que dominou Filó desde que seus olhares se cruzaram.
Parecia que o tempo tinha parado,conversaram sobre tudo e não se surpreenderam com o fato de terem os gosto parecido em muitas coisas.
Quando chegou em casa não acreditou que trocaram telefone e ficaram de combinar um encontro,para um café,mesmo acreditando que ele jamais ligaria.Ela, por sua vez nem poderia pensar na hipótese de ligar para ele,afinal ela era casada e a sensação que teve ao conhece-lo era mais que suficiente para lhe pesar na consciência. e dizia á si mesma:
- Ah! O peso da fidelidade obrigatória!Gostaria tanto de me deixar levar.Viver essa estória,se é que vai existir uma estória.
Três dias depois ele ligou,Filó nem acreditava e mesmo com medo,de si, do marido e das conseqüências acertou o encontro.Foram á um café no shopping e conversaram a tarde toda, e aquela sensação de reencontro só aumentava,especialmente agora que ele,Ronaldo,confessava que teve a mesma impressão, quando a viu pela primeira vez naquela fila do banco.
Encontrara-se mais duas vezes, até que surgiu um clima mais romântico,quando perceberam,entre tantos cafés,que estavam apaixonados.
Por mais vontade que tivesse de se entregar aquela paixão,Filó sabia que não podia e não devia,afinal e o seu casamento,seus filhos,como se comportaria se fosse até o fim?Que conseqüências essa estória lhe traria?
Não queria um caso,e não iria se separar,desfazer a família,perder os amigos e ter a reprovação dos parentes!Se encontraram mais uma vez,ela lhe contou a decisão tomada e nem os argumentos, promessas e pedidos feitos por Ronaldo,conseguiram faze-la mudar de idéia.Filó voltou par casa andando,triste enquanto lutava consigo mesma para não se arrepender e voltar correndo para ele.E assim passaram os dias,as semanas e seis meses e doze dias, até aquele dia em que ouviu do médico, sua sentença de morte.
Agora procurava como louca o numero de Ronaldo na agenda de seu celular.Não é possível que tenha perdido,não se lembrava de te-lo apagado.
Já estava chorando quando finalmente encontrou, e ao ouvir a voz dele,sentiu como se a vida tivesse voltado ao seu rumo natural e percebendo a emoção e o interesse da parte dele,pediu que fosse ao seu encontro no lugar de sempre,pedido aceito imediatamente por ele.
Foi um reencontro repleto de emoção,de saudade e de cumplicidade.
Filó,entre lagrimas,contou á ele tudo sobre sua doença,que tinha os dias contados e sem nenhuma esperança de tratamento ou cura, assim como não sabia o que fazer em relação a família.
Ronaldo,que agora soluçava,lutando para se mostrar forte,pegou sua mão e a levou para seu apartamento onde preparou um chá para ambos.Depois mais calmos,perguntou á ela o que queria fazer,e ela calada não sabia o que responder,apenas se aninhou nos braços dele, e meio á lagrimas,dor e sofrimento aconteceu o beijo tão esperado e tão inutilmente adiado.Depois do primeiro beijo,aconteceu tudo que deveria ter acontecido há seis meses atrás,não havia mais motivos para evitar.
Mais calmos,conscientes e mais unidos que nunca,perceberam que tinham que tomar uma atitude,não era possível perder mais tempo,assim como não precisavam mais falar para saber o que o outro estava pensando,o amor realizado naquele instante tinha feito dos dois um só.
Sem dizerem nada um ao outro levantaram-se,saíram em direção á casa de Filó,ela já sabia o que tinha que fazer.Despediram-se com um beijo.
Já passava das nove horas quando entrou em casa e viu seu marido e seus três filhos solteiros com cara de poucos amigos,afinal ela nunca atrasou o jantar e sempre estava em casa quando eles chegavam.
Foi direto ao seu quarto,e percebeu que seu marido não havia notado aquela mala pronta esquecida sobre a cama., o que não foi surpresa,afinal raramente ele notava qualquer coisa que viesse de Filó,com exceção dos erros ou enganos cometidos por ela.Procurou a pequena pasta onde guardou a papelada médica e o resultado de seu exames,desceu e enquanto ligava para suas filhas pedindo que viessem até sua casa,foi preparando alguma coisa para que jantassem e se equilibrando para responder as perguntas de seu marido,sem antecipar nada enquanto as meninas não chegassem.
Suas filhas notaram algo errado e sem perguntas dirigiram-se á casa da mãe,enquanto os homens de casa começavam á se preocupar.Sim, havia alguma coisa errada,coisa grave,aquela mulher sempre foi previsível,clara,não era do tipo que fazia surpresas,fossem boas ou não.
Dez horas da noite,todos em casa na mesa de um jantar improvisado,de ultima hora.
Filomena,calma,começou á contar para a família os resultados dos exames que fizera,que aliás,todos tinham se esquecido e ficaram sem ação ao, saber do resultado.Não sabiam como agir ou o que falar diante de tamanha surpresa,pelo exame e pela calma que ela demonstrava.Percebendo a difícil situação em que eles se encontravam, parou de falar e de dar explicações,mas deixando bem claro que não havia nada que pudesse ser feito para reverter a situação ,esperou que se refizessem do susto.Aí as meninas,que já não eram tão meninas e os filhos,homens adultos já,sentiram o peso das palavras ditas pela mãe e quase ao mesmo tempo todos começaram á chorar enquanto corriam para abraça-la.Sómente seu marido permaneceu imóvel,parecia que ia morrer á qualquer instante,não conseguia tirar os olhos dela,mas de repente levantou-se,afastou os filhos com delicadeza e sentenciou: - Amanhã bem cedo partiremos para o Rio de Janeiro,conheço um médico especialista em cardiologia,e se ele não puder lhe curar com certeza conhece alguém que poderá faze-lo.
Passados alguns instantes,Filomena retomou a palavra pedindo para ninguem mais fizesse qualquer pergunta e que de maneira nenhuma iria ao Rio ou á qualquer outro lugar no mundo atrás de uma provável cura,pois havia tomado uma decisão que só á ela cabia.Dito isto,segurando as mãos do marido e olhando profundamente em seus olhos,sentou-se com ele no sofá, um tanto distante dos filhos e contou-lhe estava decidida á ir embora naquela noite mesmo.Ele estupefato,perguntou para onde iria naquela situação,e porque iria deixar a família sem nem ao menos tentar se curar,tentar achar um meio de viver mais um pouco.Nesse momento ela sentiu faltar-lhe as forças,entre lagrimas e com uma certa dose de culpa contou que tinha se apaixonado por outra pessoa.Ao ouvirem isso,os filhos se aproximaram e escutaram toda a verdade,desde o começo. Foi só nesse momento que seu marido chorou,as lagrimas que caiam de seus olhos abriram seu coração,mostrando como todos tinham sido egoístas com relação aquela mulher,como tinham sido cegos para não enxergarem as carências e necessidades que ela teve enquanto cuidava deles,em especial ele,mas não havia mais nada para fazerem ou dizerem,sabiam que tinha que ser assim.
Enquanto Filomena subia atéo quarto para apanhar a mala que estava pronta,lembrou que quando a tinha arrumado,o destino que tinha em mente era outro.
Lá em baixo, ninguém se movia nem sequer pensava,era muita coisa para ser digerida em tão pouco tempo.
Filomena desceu,abraçou á todos, declarando seu amor á cada um,como sempre fazia quando vinham almoçar em casa aos domingos,pediu perdão e compreensão,ao marido,a mesma coisa,agradecendo-lhe a paciência ,a dedicação e principalmente os filhos que ele lhe deu e a sua companhia para cria-los.
Ao se dirigir atéa porta ,ouviu o caçula se oferecer para leva-la de carro onde quer que fosse,mas ela disse –Não Precisava caminhar,e como sabiam desse seu prazer em andar quando estava inquieta,não insistiram.Ela saiu,fechou a porta com cuidado,deixando sua cópia da chave em cima da mesa do telefone,como um claro sinal de que não iria voltar,pois tinha agora que viver urgentemente o ultimo amor da sua vida.
Saiu sem olhar para trás,sem culpa e sem medo,respirou fundo como quem está se afogando e quando soltou o ar dos pulmões sentiu seu corpo e sua alma sendo varridos e renovados por aquele vento,que agora não era frio e sim refrescante vento de uma madrugada de outono.