O uso de fósforo na adubação de solos tropicais

Por Luiz Felippe Salemi | 30/11/2009 | Geografia

O uso de fósforo na adubação de solos tropicais

Qual fertilizante a base de fósforo deve-se usar? Solúvel ou parcialmente solúvel em água? A resposta é: depende do solo.

Nas condições tropicais, os solos apresentam como constituintes minerais óxidos de ferro, alumínio e caulinita. Os referidos óxidos têm como característica possuírem cargas elétricas que, dependendo do pH da solução do solo, podem apresentar balanços tanto positivos quanto negativos.

No solo, o fósforo está disponível as plantas na forma de ânions tais como o PO43-, HPO42-. H2PO42-. Em outras palavras, todas essas formas de fósforo possuem cargas negativas. Os solos típicos da região tropical, por conterem alta quantidade de óxidos de ferro e alumínio podem ter cargas positivas que atuam atraindo nelas os ânions fosforados. Dessa maneira, esses ânions ficam aderidos à superfície desses minerais muito fortemente passando a não estarem disponíveis para as plantas absorverem e assim o utilizarem para o seu desenvolvimento e crescimento. Diz-se então que o fósforo foi fixado no solo ou sofreu fixação no solo. Por essa razão, para aumentar a eficiência de absorção de fósforo pelas plantas, os agrônomos costumam realizar a calagem que visa corrigir (elevar) o pH do solo. Como foi exposto, as cargas dos óxidos dependem do pH da solução do solo e, por essa razão, quando eleva-se o pH dessa aumenta-se o número de cargas negativas nos referidos óxidos. Como cargas do mesmo sinal se repelem, o fósforo tende a ficar na solução do solo disponível para ser prontamente absorvido pelas plantas.

Solos ricos em óxidos de ferro e alumínio, como é o caso dos latossolos, são, pelo exposto, altamente fixadores de fósforo, ou seja, o fósforo adicionado ao mesmo pela adubação, não se torna disponível para as plantas. O que fazer então, se é necessário adicionar fósforo para as culturas crescerem nesses solos? Deve-se, além de realizar a calagem, adicionar fósforo parcialmente solúvel em água. Por ser parcialmente solúvel, o fósforo é lentamente liberado para o solo, de forma que, sendo liberado aos poucos, há uma maior chance da raiz das plantas absorvê-lo ao invés dele sofrer a fixação nos óxidos de ferro e alumínio. Além disso, deve-se aplicar o fertilizante fosfatado apenas no sulco de plantio ("aplicação localizada") e não na área total do plantio.

Figura 1. Latossolo: solo tropical muito rico em óxidos de ferro e alumínio responsáveis pela não disponibilização (fixação) de fósforo para as plantas.

Para atenuar o problema da fixação, às vezes, recomendava-se fazer uma primeira adubação fosfatada para que os óxidos pudessem saciar sua fome fixando boa quantidade do mesmo. Posteriormente, realizava-se novamente a adubação fosfatada esperando haver, nessa segunda adubação, uma menor fixação de fósforo. No entanto, essa prática não deve ser mais utilizada pelo alto custo de aplicação e a necessidade de se comprar altas quantidades de adubos para simplesmente não serem absorvidos pelas plantas.

Vale mencionar que nem todos os solos da região tropical são ricos em óxidos de ferro e alumínio, os responsáveis pela fixação do mesmo. Por exemplo, solos muito ricos em areia (quartzo) e esmectitas não possuem muitos problemas de fixação. Isso se deve ao fato do quartzo não possuir cargas e as esmectitas possuírem apenas cargas fixas, ou seja, cargas permanentes que, independentemente do pH, são, na maioria das vezes, negativas o que causa repulsão entre esses constituintes minerais e os ânions de fósforo. Por esse motivo, pode-se utilizar, nesses casos, fertilizantes que possuem fósforo solúvel em água ao invés do parcialmente solúvel em água. Todavia, o uso de fósforo parcialmente solúvel também pode ser feito uma vez que, geralmente, custa mais barato para o agricultor.

Assim, conhecendo-se o solo e seus constituintes minerais, pode-se decidir qual adubo fosfatado utilizar de modo a otimizar o uso desse fertilizante que está se tornando cada vez mais escasso.

Preparado a partir de:

MALAVOLTA, E. ABC da Adubação. 5a Edição. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 1989. 292p.

MAZZA, J.A. Notas de aula de Manejo e Conservação do Solo – módulo manejo. Piracicaba, [a.n.t.], ESALQ/USP, 2009.