O USO DA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE HOWARD GARDNER NA AVALIAÇÃO ESCOLAR

O USO DA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE HOWARD GARDNER NA AVALIAÇÃO ESCOLAR

 

Júlio Henrique Domingues de Freitas[1]

 

INTRODUÇÃO

 

A teoria das inteligências múltiplas, proposta por Howard Gardner em 1983, revolucionou a forma como entendemos a inteligência humana e sua aplicação no contexto educacional. Essa teoria argumenta que a inteligência não é uma habilidade única e geral, mas sim composta por diversas capacidades específicas. Neste artigo, exploraremos a teoria das inteligências múltiplas e como ela pode ser aplicada de maneira eficaz no processo avaliativo escolar.

 

DA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

 

A teoria das inteligências múltiplas destaca que cada indivíduo possui um conjunto único de inteligências, que se manifestam de maneiras distintas em diferentes áreas da vida. Howard Gardner identificou nove tipos de inteligências, cada uma representando uma forma específica de compreender o mundo e interagir com ele. Essas inteligências são:

 

1. Inteligência Linguística: Relacionada à habilidade de usar a linguagem de forma eficaz para expressar ideias, comunicar-se e compreender a linguagem escrita e falada.
2. Inteligência Lógico-Matemática: Refere-se à capacidade de raciocínio lógico, resolução de problemas matemáticos e compreensão de padrões numéricos.
3. Inteligência Espacial: Diz respeito à percepção visual e habilidade de criar e manipular imagens mentais, bem como compreender a organização espacial.
4. Inteligência Musical: Está relacionada à sensibilidade à música, capacidade de tocar instrumentos, discernir ritmos e melodias, e apreciar a musicalidade.
5. Inteligência Corporal-Cinestésica: Envolve a habilidade física, coordenação motora e destreza utilizadas em atividades como esportes, dança ou artes cênicas.
6. Inteligência Interpessoal: Está associada à capacidade de compreender e interagir de forma eficaz com outras pessoas, demonstrando empatia e sendo sensível às emoções e intenções dos outros.
7. Inteligência Intrapessoal: Diz respeito ao autoconhecimento, consciência emocional e capacidade de refletir sobre seus próprios pensamentos e sentimentos.
8. Inteligência Naturalista: Refere-se à sensibilidade para reconhecer, classificar e compreender o mundo natural, incluindo animais, plantas e fenômenos naturais.
9. Inteligência Existencial: Está relacionada à capacidade de questionar a existência, refletir sobre questões filosóficas e contemplar o significado da vida e a mortalidade.

 

Essa abordagem expande as possibilidades educacionais, valorizando habilidades além das tradicionalmente avaliadas em sistemas educacionais convencionais. A teoria das inteligências múltiplas não apenas reconhece a singularidade de cada aluno, mas também destaca a importância de cultivar e desenvolver diversas aptidões ao longo da vida.

Compreender a teoria das inteligências múltiplas é essencial para uma prática educacional mais inclusiva e personalizada. Ao implementar essa abordagem no ambiente escolar, os educadores podem oferecer um ensino mais abrangente e adaptado às necessidades individuais dos alunos. Assim, abre-se caminho para uma educação mais significativa, que valoriza a diversidade de talentos e habilidades dos estudantes, contribuindo para o crescimento intelectual e pessoal de cada indivíduo de maneira mais completa.

 

APLICAÇÃO DA TEORIA NO PROCESSO AVALIATIVO ESCOLAR

 

A teoria das inteligências múltiplas, ao ser aplicada no processo avaliativo escolar, oferece oportunidades para que os educadores avaliem os alunos de maneira mais abrangente e diversificada. Isso significa ir além das tradicionais provas e exames escritos, buscando identificar as habilidades individuais dos estudantes em diversas áreas de inteligência. A seguir, apresentamos exemplos práticos de como a teoria das inteligências múltiplas pode ser aplicada na avaliação escolar:

 

1. Projeto de pesquisa em grupo: Os alunos podem ser organizados em grupos para realizar um projeto de pesquisa que envolva a inteligência linguística na escrita e comunicação do trabalho, a inteligência lógico-matemática na coleta e análise de dados, e a inteligência interpessoal na colaboração e interação com os colegas.
2. Apresentação musical ou artística: Os estudantes podem demonstrar suas habilidades na inteligência musical ou na inteligência espacial, ao realizar apresentações musicais, peças de teatro, danças ou exposições artísticas, permitindo que suas aptidões artísticas sejam avaliadas.
3. Simulação de resolução de problemas: Propor atividades que exijam a aplicação da inteligência lógico-matemática e a inteligência espacial, como resolver quebra-cabeças, criar modelos ou elaborar estratégias para resolver problemas complexos.
4. Práticas esportivas: Avaliar a inteligência corporal-cinestésica por meio de atividades esportivas, como competições ou exercícios físicos que exijam coordenação motora, agilidade e destreza.
5. Diário de reflexão: Incentivar os alunos a manterem um diário de reflexão para desenvolver a inteligência intrapessoal. Nesse diário, os estudantes podem registrar seus pensamentos, emoções, experiências pessoais e objetivos, possibilitando a autoavaliação do seu desenvolvimento emocional e cognitivo.
6. Trabalho de campo na natureza: Promover uma atividade que explore a inteligência naturalista, levando os alunos para fora da sala de aula para observar e identificar plantas, animais e fenômenos naturais, e, posteriormente, produzirem relatórios sobre suas observações.

 

Esses são apenas alguns exemplos de como a teoria das inteligências múltiplas pode ser aplicada na avaliação escolar. Ao diversificar os métodos de avaliação, os educadores possibilitam que os alunos demonstrem suas habilidades em diferentes inteligências, permitindo uma compreensão mais completa do potencial e talentos individuais.

Essa abordagem também favorece a motivação dos estudantes, uma vez que são avaliados de acordo com suas aptidões e interesses, e não apenas em um único padrão de avaliação. A aplicação da teoria das inteligências múltiplas no processo avaliativo é uma forma valiosa de promover uma educação mais inclusiva e personalizada, contribuindo para o desenvolvimento integral de cada aluno.

 

CONCLUSÃO

 

A teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner trouxe uma nova perspectiva para a compreensão da inteligência humana e sua aplicação na educação. Ao reconhecer e valorizar a diversidade de habilidades de cada aluno, a abordagem das inteligências múltiplas permite uma avaliação mais inclusiva e personalizada.

A aplicação prática da teoria no processo avaliativo escolar envolve observar os alunos em diferentes situações de aprendizagem, utilizar projetos e atividades práticas, incentivar a autoavaliação e reflexão, e criar uma abordagem adaptada às necessidades individuais dos estudantes.

Ao adotar a teoria das inteligências múltiplas na avaliação dos alunos, os educadores podem obter uma compreensão mais holística das habilidades e potenciais de cada indivíduo, promovendo uma educação mais abrangente e eficaz. Essa abordagem valoriza as múltiplas formas de expressão e potencialidades de cada aluno, contribuindo para o desenvolvimento integral dos estudantes em suas diversas aptidões e áreas de interesse.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas: com uma nova introdução especialmente escrita para esta edição. Artes Médicas Sul, 2002.

GARDNER, Howard E. Multiple intelligences: New horizons in theory and practice. Basic books, 2008.

GARDNER, Howard. Mentes que mudam: a arte e a ciência de mudar as nossas ideias e as dos outros. Penso Editora, 2016.