O Último Espanto
Por Osorio de Vasconcellos | 16/03/2009 | CrônicasEscritos de Osorio de Vasconcellos
Série 2009
O último espanto
"Espantosa" foi o adjetivo que a revista Veja escolheu para qualificar a entrevista do Senador Jarbas Vasconcelos, publicada em 18 de fevereiro último, sob o título "O PMDB é corrupto".
Não podia ser mais fecundo o adjetivo.
Seu primeiro efeito foi sugerir ao povo um critério de avaliação. O povo não precisava inquietar-se, envergonhar-se, nem se revoltar. Não se tratava de nada inquietante, nada vergonhoso, nada revoltante. Tudo o que o povo devia fazer era espantar-se, vale dizer, emocionar-se, visto que, para o povo, espanto sempre equivale a emoção.
E como, via de regra, o povo obedece ao pé da letra aos comandos da imprensa, o povo, se tanto fez, espantou-se. Dito de outro modo, emocionou-se por alguns instantes - mecanicamente, é claro - para logo voltar aos níveis normais de alienação, que ninguém é de ferro.
Tanto isso é verdade, que, antes mesmo de completar um mês de publicação, a entrevista sumiu do noticiário sem deixar vestígios, nem abalar a conjuntura.
O segundo efeito da adjetivação reputa-se menos subjetivo. Nesse caso a sugestão de espanto aponta para um dado concreto, ou seja, aponta para a estratégica sustentação que o "PMDB corrupto" – a maior agremiação política do país - dá ao governo Lula. "Dá" , aliás, talvez não seja bem o termo, posto que,se o regime é corrupto, dar é uma noção inibida.
A terceira implicação do adjetivo "espantosa" ultrapassa os limites da entrevista e recai sobre a cabeça de Jarbas Vasconcelos.
Com efeito, espanta entenderque o experiente Senador não tenha adivinhado o pífio desfecho de seu depoimento.
Sonhador, o Senador aceitou o afago da utopia, sem dar-se conta de que a sua investida não tinha como prosperar na atual conjuntura, assim como a semente, por mais fértil que seja, não consegue germinar em solo árido.
Agora, portanto, só resta a Jarbas Vasconcelos aguardar o julgamento da história. O que fez até aqui já o credencia ao respeito da posteridade. Mas, para chegar a honras mais subidas, a honras de herói – se este for o seu desiderato – terá de passar por novas provas. Talvez o galardão do exílio, ou, para espanto final, o trágico repouso da insanidade precoce.
Caucaia (CE), 15 de março de 2009