O Último Alento
Por marcelo moreira grilo | 22/06/2010 | Poesiasrumo ao norte
sem medo da morte
jogando com a sorte
chegou minha hora
de ir embora
para o mundo lá fora
dormindo na rua
sob a luz da lua
da cidade nua
de frente com a fome
enfrentando o homem
imortalizando meu nome
na memória os olhares
na visita os lugares
na despedida os mares
conversas sem sentido
com mendigos mal vestido
é o mundo que foi esquecido
caminhar pela estrada
na paisagem desgastada
de uma vida fracassada
sem mais trabalhar
pelo país a viajar
vale a pena arriscar
os corações cheios de dor
as almas perderam o valor
minha vidência e o esplendor
o tempo acabou
a esperança passou
o que aprendi ninguém ensinou
uma carona para o futuro
enxergo melhor no escuro
tudo é tão prematuro
moldados em suas casas
como um anjo que perdeu suas asas
implorando por covas rasas
enquanto busco a cura
mergulhado na loucura
sem temer qualquer altura
sei que esse é o meu caminho
como sei que adoro vinho
ficando longe do remoinho
não acredito em solidão
não acredito em religião
só acredito na minha imaginação
como um cão na sarjeta
um ser de outro planeta
uma vida que ninguém aguenta
busco uma forma de liberdade
esgotando toda a maldade
que se acumula na cidade
sempre em frente
pois o sol é mesmo quente
me criei para se diferente
minha existência eu comando
o meu corpo eu mesmo sangro
continuo ainda respirando
serei o mais afastado
que por Deus e mundo foi abandonado
mas com o espírito purificado
serei o dono da rodovia
poeta da rebeldia
até o inferno me louvaria
como a sombra que alguém quer ver
como o livro que alguém quer ler
como todos querem ser
fui levado pelo motorista
o ônibus riscando a pista
nas palavras do imoralista
alguns vão para o céu
outros para o motel
mas a cruz de Cristo é de papel
eu não nasci
fui jogado e cresci
e agora querem saber como viverei aqui
vivo um dia de cada vez
minha fé se faz na lucidez
nas trilhas da embriaguez
mentiroso é quem diz não saber mentir
medroso é quem tem medo de partir
nada vivo me impede de prosseguir
a crença eu vejo nos espelhos
vocês que rezam de joelhos
não venham me dar conselhos
o caos proclamei
a vida traspassei
nesse reino sem rei
entre a alegria e a tristeza
a burguesia e a pobreza
cheguei pelo fundos da delicadeza
através do túnel mais profundo
percorrerei o imenso mundo
como o criador do absurdo.