O TÚMULO VAZIO E A HISTORICIDADE DAS APARIÇÕES DE JESUS RESSUSCITADO
Por Geraldo Barboza de Carvalho | 16/04/2009 | ReligiãoO túmulo vazio e a historicidade das aparições do
Ressuscitado
Geraldo Barboza de Carvalho
A partir da encarnação do Verbo,
passamos a olhar a realidade com olhar "kairológico", não
cronológico. A realidade espaço-temporal torna-se sinal, sacramento da
realidade kairológica, para a qual nosso olhar se dirige. A humanidade
pecadora, nosso corpo de pecado é o imenso túmulo em que o ser humano está
morto e sepultado. "A mão de Javé me conduziu a um vale cheio de ossos
secos. Ele me disse: Filho do homem, porventura voltarão a viver estes ossos?
Ao que respondi: Senhor Javé, tu o sabes. Então ele me disse: Profetiza a
respeito desses ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra de Javé. Eis que
vou fazer com que sejais penetrados pelo espírito e vivereis. Cobrir-vos-ei de
tendões e de carne e vos revestrei de pele. Porei em vós o meu espírito e
vivereis. Filho do homem, esses ossos representam toda a casa de Israel,
que está a dizer: nossos ossos estão secos, a nossa esperança está desfeita.
Para nós está tudo acabado. Assim diz o Senhor Javé: Eis que vou
abrir os vossos túmulos e vos farei subir dos vossos túmulos. Porei o meu
espírito dentro de vós e haveis de reviver". Jesus assumiu vicariamente
pela encarnação nosso corpo de pecado, túmulo da humanidade cheio de ossos
secos, sem carne, sem vida, mortos, fazendo-se pecado e maldição (morte)
por solidariedade conosco - em nosso lugar e a nosso favor, recriando-o pela
ressurreição e infusão do Espírito de santidade nele. De fato, desde que tomou
em Maria um corpo semelhante ao nosso corpo de pecado, Jesus está morto,
sepultado e ressuscitado por nós. Mas, sendo o Santo por antonomásia e, ao
mesmo tempo, o Goel (redentor) da humanidade pecadora, sua santidade implodiu
o mundo do pecadodesde a kênosis encarnatória, ratificada pela morte de cruz
e sepultamento, e o "abduziu" consigo para
dentro da SS Trindade pela ressurreição imediata da carne, que consiste na
elevação da criação da sua condição espaço-temporal à condição kairológica . A
encarnação já é a morte, o sepultamento, o túmulo vazio e a
ressurreição, vida nova da humanidade com Cristo à direita do Pai e à esquerda
de Deus Mãe. Jesus Cristo é uma figura corporativa. Tudo
que faz e diz concerne àqueles que ele incorporou no pecado e
na morte, no esvaziamento do túmulo e na ressurreição. "Se um
(se encarnou e) morreu por todos, todos (se encarnaram e) com ele
morreram". Se um ressuscitou por todos, todos ressuscitamos com ele.
Jesus mesmo o diz: "Quando eu for elevado na cruz" e na glória,
"quando eu for estabelecido Filho de Deus, com poder, pela
ressurreição dos mortos, atrairei todas as coisas a mim. Deus, que é rico em
misericórdia ...., quando estávamos mortos em nossos delitos, juntamente
com nos Cristo vivificou (na encarnação), e com ele
nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus (como
membros do seu Corpo Místico). A pedra rolada da boca do sepulcro desde que
"o Verbo se fez carne e habitou entre nós" e na madrugada da
ressurreição significa a remoção da pedra dos corações fechados, mortos e
sepultados sem fé, sem esperança, sem amor, sem Deus, seguida do
arrebatamento, abdução da nova humanidade com o Ressuscitado para junto de
Deus. "Tirarei do vosso peito o coração de pedra e colocarei nele um
coração de carne, misericordioso, sensível. Infundirei nele meu Espírito.
Sereis meu povo e eu serei vosso Deus". O túmulo vazio de
cadáveres e ossadas significa, pois, que a humanidade velha acabou,
foi esvaziada. A humanidade pecadora tornou-se túmulo vazio e aberto, nada
absoluto, que deu lugar ao tudo absoluto criado pela ressurreição de Jesus
Cristo, que foi "abduzido", arrebatado com a nova criação para
junto do Pai e Deus Mâe, onde ganhou identidade kairológica. "Eis que eu
faço novas todas as coisas. As coisas velhas passaram. Enxugarei toda lágrima
dos vossos olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, nem dor
haverá mais". A encarnação, ratificada pela ressurreição, fez
novas todas as coisas, criou a nova terra e o novo céu. Novo céu e
nova terra formam uma unidade interativa única. Jesus Cristo, "no qual
habita corporalmente toda a plenitude da Divindade", é Deus-Conosco.
"O Unigênito se fez o Primogênito da nova criação no ventre de
Maria, nela assumiu um corpo semelhante ao nosso corpo de pecado, condenou
o pecado na carne e armou sua tenda entre nós e foi estabelecido Filho de
Deus por sua ressurreição dos mortos". O Corpo de Cristo é a morada de
Deus com seu povo. "Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e ele,
Deus-com-eles, será o seu Deus". A implosão do pecado
aconteceu, portanto, já na encarnação, e a nova humanidade foi
arrebatada para junto de Deus com o Cordeiro Goel imolado e de pé, deixando
para o túmulo vazio (o corpo de pecado destruído). A encarnação já é,
pois, ressurreição da carne pela entrada da santidadede Deus no mundo
pecador. Santidade e pecado não convivem no mesmo espaço. A geração do
Unigênito em Maria foi pelo mesmo processo da sua geração ab eterno. Só que a
geração kairológica do Filho aconteceu no chrônos, na história. O Divino e o
humano, por Jesus Cristo, formam agora uma unidade hipostática indissolúvel,
sem nenhuma das duas hipóstasis perder a identidade por absorção da outra, sem
emborago da interação mútua. A ressurreição ratifica a encarnação, só que
tudo agora se passa no Kairós, pois a humanidade pecadora assumida por
Cristo, que se fez maldição, pecado, vítima de expiação, bode
expiatório, o Cordeiro de Deus por nós, foi implodida e abduzida,
atraída com ele para dentro da SS Trindade. A ressurreição é eventoabsolutamente
kairológico (no âmbito de Deus), assim como a encarnação é evento
kairológico ocorrido no chrônos (na história). Aressurreição, não
obstante, é, de algum modo, também evento histórico, no
sentido que o Ressuscitado, o Crucificado e o Encarnado são a mesma
Pessoa, cujos sinais e palavras permanecem no mundo, embora ele não esteja
mais visível aos olhos carnais. O corpo pneumático do Ressuscitado não
pode ser percebido por corpos psíquicos. A menos que ele se deixe ver.
O mesmo se diga das aparições de N Senhora. Não são exibições
coletivas, mas ela se deixa ver por alguns, como o fez Jesus. Aos
discípulos de Emaús e a Tomé, o Resuscitado mostrou que é o mesmo Encarnado e
Crucificado: "Põe teu dedo aqui (oudição e tato) e vê minhas mãos
(visão). Estende tua mão e põe-na no meu lado. ... Vede minhas mãos e meus pés.
Apalpai-me e entendeu que um espírito não tem carne nem ossos como vede que
tenho. Tendes o que comer?Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele o
tomou e comeu na frente deles"? (paladar). Estes palavras e fatos são
históricos, foram realizados e ditas pelo Ressuscitado, para avivar a fé
dos discípulos amedrontados com o escândalo da cruz, e registrados por
higiógrafos fidedignos. Os evangelhos e todos os escritos vétero e
neotestamentários são registros históricos como o são as obras de
Homero, Platão, Agostinho, Ariano Suassuna. A encarnação da Palavra
de Deus gerou o Pontífice supremo da humanidade e da nova criação, o Mediador
único e universal entre o céu e a terra, entre a terra e o céu. Nele, com ele e
por ele, tudo que se passa no céu diz respeito à terra; tudo que se passa na
terra diz respeito ao céu. O Divino manifesta-se no humano, o humano tem valor
divino. Porque nosso Deus é Emanuel, se fez carne da nossa carne e mora
conosco, partilha nossa vida e nosso destino até no que têm de mais sórdido,
para nos tirar do túmulo da morte e nos dar a condição filial.