O TRABALHO FORÇADO NA AMAZÔNIA COLONIAL

Por Djalmira Sá Almeida | 24/04/2010 | Resumos

Com base na leitura da obra Pontos de História da Amazônia I, publicado pela editora Pakatatu, de Belém do Pará, sobre o trabalho escravo na Amazônia no Período Colonial, verifica-se que a organização do trabalho e as formas de produção adotadas na região, desde a colonização, sempre foram alicerçadas no serviço escravo e na manipulação do nativo. Conforme argumenta Armando Alves Filho (2001) “organizar a força de trabalho na Amazônia foi uma das mais difíceis tarefas do processo de colonização (...) “A economia extrativista e as condições geográficas e ambientais também contribuíram para a criação, na região, da própria mão-de-obra”.
Vê-se que, mesmo sendo introduzido o escravo negro na Amazônia, ainda parecia mais barato investir no trabalho indígena. Entretanto, com a criação da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão, no século XVIII, a entrada de escravos africanos reduziu a procura inicial, provocando um curto período de escravidão indígena. Nas capitanias do Grão Pará e Rio Negro, por exemplo, o fluxo de escravos negros teve pouca duração. No Maranhão, o comércio negreiro predominou por mais tempo em função da produção algodoeira que bancava a importação de africanos.
Segundo o autor citado, a Amazônia não revelava vocação para a plantation, por isso o governo português passou a incentivar o trabalho da catequese. Mas, para isso, era indispensável a marcante presença do missionário e, deste modo, a imposição da ideologia cristã, na colonização do Norte, destaca-se como instrumento de dominação da terra e das gentes. Assim, a Igreja católica passa a ser protagonista dessa colonização e as missões preparam o índio para inseri-lo nos moldes dos interesses e ambição dos colonizadores, porém, para isso era preciso desarticular as bases produtivas, deixando a alternativa de mercado de escravo, as “repartições” aos índios que eram explorados pelo colonizador.
O curioso é que os missionários tinham um duplo papel em sua “missão”: ao mesmo tempo que protegiam os indígenas contra a exploração do colonizador, também colaboravam na função de atraí-los para a “descida” em direção ao litoral para as missões, seduzindo-os através da música, do teatro , da pregação e do convencimento.Chegavam ao ponto de mandar o nativo destruir suas casas e roças para esquecer de vez da vida na aldeia. Alves Filho, ao tratar das estratégias pedagógicas dos jesuítas utilizadas para o convencimento dos índios apresenta uma citação de Maria Valéria Rezende: “Quando os índios aceitavam partir de suas terras para perto do mar, os missionários lhes davam roupas para que se vestissem e mandavam que queimassem as casas e roças de sua aldeia para que eles não tivessem a tentação de desistir e voltar para lá”.
Também as doenças adquiridas pelo índio (gripe, sarampo, cachumba, tuberculose, varíola) com o contato eram utilizadas como argumento para abandonarem a aldeia, de modo que a catequese passa a funcionar “como instrumento gerador de força de trabalho para sustentar a colonização” nas missões, onde os índios eram submetidos à aculturação por uma vida de “salvação e felicidade”,com a evangelização nos novos aldeamentos pela doutrinação (aprendizagem das orações), moralização (viver conforme a moral cristã portuguesa) e sacramentalização (preparação para o batismo, crisma, casamento e outros sacramentos da igreja).
Porém, essa aculturação não era facilmente assimilada pelos nativos, pois as fugas e confrontos com os colonos foram formas adotadas “de reação indígena em defesa de sua identidade, de seu território e de sua liberdade”,e, mesmo que a exploração indígena fosse uma constante no Período Colonial, por ambos os interessados, missionários e colonos,as práticas de “guerra justa” e de “resgate” ainda não foram suficientes para consolidar o trabalho escravo indígena em toda a Amazônia . Apesar disso, se em outras regiões do Brasil, no Período Colonial, foi o trabalho escravo do negro africano que sustentou a economia, na Amazônia, segundo Armando Alves Filho(2001), mesmo tendo a participação do negro, a relevância do trabalho forçado coube ao indígena, que interrompeu sua trajetória de povo livre para tornar-se objeto “a serviço do capital mercantil metropolitano”.