O trabalho e o fim das organizações autocráticas
Por Roberto Jorge Ramalho Cavalcanti | 02/09/2009 | CrescimentoO trabalho e o fim das organizações autocráticas.
Roberto Cavalcanti é Advogado, Relações Públicas e Jornalista.
Trabalho é conceituado como qualquer atividade que transforme matéria prima em mercadorias, ou qualquer ação em relação ao meio ambiente onde se vive e convive.
Trabalho foi definido por diversos autores, que deveremos, neste artigo, citá-los de maneira sucinta, relacionados abaixo:
Segundo o filósofo e cientista social e econômico Karl Marx[1980], o trabalho nada é do que a força de trabalho empenhada pelo trabalhador para mover as máquinas e fazer o capitalismo gerar lucro para o patrão, detentor dos meios de produção, ou seja, das ferramentas e máquinas, denominados de meios de produção. No entanto segundo ele, sem o trabalhador as máquinas não funcionariam. Enquanto os capitalistas argumentam que se não fossem por eles os trabalhadores não teriam do que viver, e que pagam o valor da força de trabalho que os trabalhadores executam de acordo com os seus custos. Porém Marx considerou que não eram observadas a carga horária empenhada e as horas extras que gerariam mais lucros para os capitalistas, o que ele denominou de mais-valia. O Sistema Capitalista que se baseia na propriedade privada dos meios coletivos de produção embora desumano ainda sobrevive até os dias atuais graças aos avanços tecnológicos que resultaram na redução dos custos da produção. Ao contrário, o Sistema socialista como um conjunto de doutrinas ou sistemas econômicos que visavam transformar a sociedade através da coletivização dos meios de produção e, por conseguinte, a supressão das classes sociais pagava ao trabalhador do campo e da indústria a máxima a cada trabalhador segundo suas capacidades e necessidades. Porém o que se viu foi uma brutal exploração dos trabalhadores sendo forçados na época de Stalin a deixarem o trabalho do campo, isto é, na agricultura, para se aperfeiçoarem como trabalhadores industriais, levando a então União Soviética a se desenvolver rapidamente, porém, a um custo muito elevado que se refleteria mais tarde com a quase total destruição da sua economia agrícola faltando alimentos e levando ao racionamento, o que gerou anos depois a queda desse sistema, embora Mikhail Gorbachev, então premier, com suas reformas tenha tentado solucionar os problemas o que foi muito tarde.
Paul Sartre[1980] descreve: “Por meio do trabalho dominamos o meio. Há dispêndio de energia, ação sobre a natureza, produção, destruição e, portanto, trabalho.
Para Henri Bérgson[1980] ”O trabalho humano consiste em criar utilidade e, enquanto o trabalho não está feito, não há nada, nada daquilo que se queira obter”, finaliza.
Segundo George Friedman citado por Roberto Kanaane[1998], o trabalho assumiria as seguintes características:
Aspecto técnico, que implica questões referentes ao lugar de trabalho e adaptação fisiológica e sociológica;
Aspecto fisiológico, se refrindo como questão fundamental ao grau de adaptação homem-lugar de trabalho-meio-físico e ao problema da fadiga, algo preocupante para os capitalistas;
Aspecto moral, se referindo a atividade social humana, considerando especialmente as apitdões, as motivações, o grau de consciência, as satisfações e a relação íntima entre atividade de trabalho e personalidade;
Aspecto social que considera as questões específicas do ambiente de trabalho e os fatores externos(família, sindicato, partido político, classe social, etc.). Há de se considerar sob tal perspectiva a interdependência entre trabalho e papel social e as motivações subjacentes;
Aspecto econômico, esse, segundo Friedmann, como fator de produção de riqueza, geralmente contraposto ao capital, está unido em sua função a outros fatores como organização, propriedade e terra.
Em todos os aspectos relacionados, vemos que o trabalho constitui-se numa ação humana exercida dentro de um contexto social, sofrendo influências oriundas de distintas fontes, resultando numa ação recíproca entre o trabalhador e os meios de produção, segundo muito bem assinala Roberto Kanaane[1998].
Todavia, o trabalhador tende a desempenhar melhor, ou seja, executar seu trabalho como uma ação humana, social, econômica, política, técnica e fisiológica, se houver diferentes graus de motivação e de satisfação para que possa desempenhar bem sua tarefa.
Esses fatores são de inteira responsabilidade das instituições públicas e privadas, porque trabalha-se bem e motivado e satisfeito quando elas correspondam aos tipos de organismos democráticos onde o relacionamento entre chefias e subordinados sejam realizados de maneira cordial, respeitosa, amistosa e humana.
Dentro do Comportamento Organizacional, de acordo com Flávio de Toledo[1981], quando os trabalhadores estão conseguindo se livrar de condições restritivas de ordem individual, social, econômica e política, elas tenderão ao crescimento em seus esforços de buscar liberdade, para assumir responsabilidade, realizando dessa forma seus projetos de auto realização.
No mundo do Comportamento organizacional no trabalho segundo ele, baseiam-se nos seguintes princípios:
Busca crescente de participação/democracia num sentido amplo (tendência antiautoritária).
Busca de respeito à singularidade do ser humano (tendência antitecnocrática).
Busca do TER, porém, não ao preço de não SER (ou ser menos). TER PARA SER (recompensas intrínsecas, mas buscadas `a medida que as recompensas extrínsecas já sejam satisfatórias).
Organização adulta para seres adultos (estrutura sistemas, funções , etc.).
Condições de união para autorealização (“Tecnologia da União”).
Busca de responsabilidade e Responsabilidade a serem
utilizados dentyro de um livre exercício de disputa do poder, num contexto democrático de negociações e acordos.
Nesse sentido, em pleno século XXI, não há de maneira nenhuma possibilidade de se trabalhar, de forma arbitrária, numa instituição pública ou organização privada, de acordo com Moran[1998].
Afirma ele: “O autoritário, o que procura controlar tudo, que centraliza tudo, está mostrando que tem problemas de gerenciamento pessoal. O autoritário precisa contrplar externamente, porque não tem confiança em si mesmo, não sabe comunicar-se, não se dá valor nem dá valor aos outros. O autoritário é uma pessoa mal resolvida, frágil, que oculta sua fraqueza externando poder ou utilizando mecanismos externos de poder. Quanto mais autoritária é uma pessoa, mais está expondo sua fragilidade fundamental. O autoritário não consegue comunicar-se, só impor-se pela força externa, pelo medo, pela coação”.
Concluindo, no trabalho deve se sobrepor as ações éticas e morais baseadas em valores sociais onde haja um grau de cultura e clima organizacinal onde prevaleçam o respeito mútuo, a autosatisfação e motivação do trabalhador no seu ambiente de trabalho, sem prejuízo de ser agredido por nehuma forma de ação ou atitude vindas das camadas superiores de qualquer organização baseados no autoritarismo e no tecnocracismo vindos de modelos já ultrapassados como a Administração Científica e a Tecnocracia, como demonstrado por Flavio de Toledo e Roberto Kanaane em suas diversas obras publicadas ao longo do tempo, sendo considerados dois dos maiores especialistas em Organizações e Recursos Humanos no Brasil e no exterior.
Bibliografia
1. BERGSON, Henri. Os Pensadores. Editora Abril Cultural, São Paulo, 1980.
2. DE TOLEDO, Flávio. Administração de Pessoal: Desenvolvimento de Recursos Humanos. 6ª Edição, São Paulo Atlas, 1981. Capítulo 25.
3. MARX, Karl. Os Pensadores. Editora Abril Cultural, São Paulo, 1980.
4. KANAANE, Roberto. Comportamento Humano nas Organizações – O Homem rumo ao Século XXI, São Paulo, Editora Atlas, 1995.
5. MORAN, José Manoel. Mudanças na Comunicação Pessoal: gerenciamento integrado da comunicação pessoal, social e tecnológica. São Paulo. Ed. Paulinas, 1988. Capítulo 17.