O TRABALHO E A ESCOLA NA VISÃO DOS JOVENS E ADULTOS PLANTADORES DE ABACAXI.

Por MARIA JAIDETE FARIAS | 20/03/2010 | Educação

O TRABALHO E A ESCOLA NA VISÃO DOS JOVENS E ADULTOS PLANTADORES DE ABACAXI.

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos - EJA constitui-se de uma história muito mais tensa do que a história da educação básica. Nela se cruzaram interesses menos consensuais do que na educação da infância e adolescência, principalmente quando esses jovens, adultos e idosos são trabalhadores, subempregados, oprimidos, excluídos.

Os problemas existentes em uma escola são na maioria atribuídos a um agravamento das desigualdades e da exclusão. São múltiplas as suas formas: sucessivas repetências, abandono durante os estudos, escolhas de cursos que não oferecem reais perspectivas e no fim das contas, abandono da escola sem qualificação nem competência reconhecidas.

O insucesso escolar constitui, em qualquer dos casos, uma brecha profunda no plano moral humano e social, e é muitas vezes gerador de situações de exclusão que marcam os jovens para toda a vida.

A presente pesquisa busca analisar o trabalho e a escola rural a partir da visão dos plantadores de abacaxi, localizado na E.M.E. F "Arnaldo Bonifácio", no distrito de Odilândia em Santa Rita–PB, distante da capital aproximadamente 22 km.

Nesta perspectiva transitamos em três campos, para nossa análise: a educação dos jovens e adultos da EJA, o trabalho rural e a educação rural.

Para realizar este estudo partimos da nossa experiência de 10 anos trabalhando na zona rural, com turmas de alunos que, em sua maioria, são trabalhadores, partindo assim da nossa inquietação com a escolarização tardia dos alunos da EJA.

Por essa razão, entendemos ser importante desenvolver investigações que se proponham a dimensionar a vida escolar através das percepções e significados dos próprios alunos proporcionando um conhecimento realista, favorecendo assim, a formulação de diagnóstico mais verdadeiro e esclarecedor da situação educacional existente destes alunos.

Outro interesse em realizar essa pesquisa partiu do impacto de observar a escolarização tardia na vida dos alunos da EJA, já que conhecemos de perto a realidade daqueles que não tiveram acesso a escola da idade adequada, ou evadiram.

Assim, acreditamos também que esta pesquisa será relevante para osprofissionais da EJA(Educação de Jovens e Adultos), conhecendo assim a realidade destes trabalhadores no cultivo do abacaxi, onde o foco principal è proporcionar subsídios para aprimores na reflexão sobre a formação e práticas voltada à educação. Segundo Paulo Freire,

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino [...] Pesquiso para constatar, constatado, intervenho, intervindo educo e me educo pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (2006, p.29)

É preciso nos identificamos com a realidade da qual fazemos parte, para entendermos o aluno da EJA que esta em nossa sala de aula á nossa frente, é preciso vê-lo como um todo.

Segundo Leão apud Oliveira (2006) a decisão entre estudar ou não, investir na formação ou no trabalho, prolongar a trajetória escolar ou parar em determinado ponto dependerá de uma combinação de fatores objetivos e subjetivos que conformarão o peso que a educação tem na vida de cada um de sua família.

Assim, pelo fato de precisarmos conhecer melhor o perfil de nosso aluno, quais são suasnecessidades e expectativas do trabalho, bem como o significado da escola em sua vida, elegemos o seguinte tema: O trabalho e a escola na visão dos jovens e adultos plantadores de abacaxi.

Tão importante quando o direito a escola é garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade. Para tanto, o sistema educacional de um país tem que adaptar a realidade dos alunos, e não o contrário, para que assim, a aprendizagem se faça significativa para todos, a partir de propostas alternativas que se comprometam com uma educação de qualidade para estes jovens e adultos.

Segundo Gadotti,,

Os jovens e adultos trabalhadores lutam par superar suas condições de vida (moradia, saúde, alimentação, transporte, emprego, etc) que estão na raiz do problema do analfabetismo. O desemprego, os baixos salários e as péssimas condições de vida comprometem os seus processos de alfabetização... O analfabetismo é a expressão de pobreza, conseqüência inevitável de uma estrutura social injusta.

Tradicionalmente, a escola tem sido marcada em sua organização por critérios seletivos que tem como base a concepção da homogeneidade do ensino, dentro da qual alguns estudantes são rotulados. Esta concepção reflete um modelo caracterizado pela uniformidade na abordagem educacional do currículo: no material didático, no planejamento, numa aula, nos conteúdos curriculares, nas atividades de todos na sala de aula, metodologia de avaliação o estudante que não se enquadra nesta abordagem permanece á margem da escolarização, fracassa na escola elevando a evasão.

O não reconhecimento da heterogeneidade no aluno da EJA contribui para aprofundar as desigualdades educacionais ao invés de combatê-las.

Essa pesquisa objetiva trabalhar com os vários olhares sobre esses trabalhadores e estudantes da plantação da cultura do abacaxi e o maior desafio de dar conta do movimento, da complexidade dos problemas sociaisque comprometem a vida destes alunos.

O presente estudo está organizado, portanto, em quatro partes além desta parte introdutória que trata de toda a organização da monografia.

A segunda parte destaca a construção do objeto, a fundamentação teórico-metodológica da pesquisa, os conflitos e discussões teóricas que norteiam a investigação, conceitos e categorias que o nosso estudo envolve.

Na terceira, um breve comentário sobre Educação de Jovens e Adultos, e seus aspectos no Brasil. O trabalho como componente em estudo sobre o cultivo do abacaxi, destacando também a educação rural e seus movimentos sociais e governamentais.

Na quarta parte retratamos a voz dos estudantes plantadores de abacaxi, jovens e adultos, suas vivências e experiências de escolarização, suas atitudes no que concerne à aprendizagem, à experiência escolar, seu campo de trabalho, sonhos e perspectivas.

Na quinta parte tecemos considerações finais acerca da abordagem da temática, na recapitulação sintética dos resultados do estudo.

1 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA PESQUISA

1.1 Delimitações do objeto de estudo

Delimitando o objeto de estudo e considerado a perspectivas gerais da pesquisa, optamos por uma diretriz teórico-metodológica que possibilite analisar as representações construídas pelos estudantes-trabalhadores da plantação do abacaxi, a propósito de sua relação com a escola e seu trabalho.

O caminho traçado busca revelar as dimensões sociais, ideológicas e culturais das falas dos nossos interlocutores, através das quais podemos discutir a formação da juventude rural no contexto da diversidade cultural, social, reconhecendo a existência de múltiplos pertencimentos dos sujeitos, na construção de relações que o estruturam tanto individual como coletiva. Assim, no espaço educativo que têm este segmento como destinatário, privilegiaremos a categoria jovens e adultos, principalmente da juventude, no sentido de melhor entender o que se passa no interior das práticas educativas, entendendo as instâncias do seu espaço de trabalho.

A pesquisa com esses trabalhadores entrecruzam na direção da escola trazendo as questões educacionais das comunidades do campo passam, quais necessariamente de uma reflexão e entendimento do seu modo de vida, dos seus interesses, das suas necessidades de desenvolvimento e dos seus valores específicos. É fundamental que seja levada em conta a riqueza de conhecimentos que essas estudantes trazem de suas experiências cotidianas.

Estudar o processo de formação deste estudante requer do pesquisador uma postura em que se valorize a comunicação entre os pólos investigadores e investigados, objetivando captar e interpretar a concepção que estes atores sociais têm acerca de si e de sua realidade. Isto significa tentar entender como eles vivem como pensam como trabalham as lutas que empreendem; as formas de expressão culturais próprias do grupo; revelando assim, sua mentalidade, suas direções e perspectivas.

1.2 Caracterizações do Campo de Pesquisa

A pesquisa foi realizada na Escola Municipal do Ensino fundamental Arnaldo Bonifácio, localizada no distrito de Odilândia, município de Santa Rita- Paraíba. O acesso feitoa partir dacapital, João Pessoa, pela rodovia BR 230e de18,7Km..

A escola Arnaldo Bonifácio, teve inicio as suas atividades no ano de 1981, com duas salas de aulas, atendendo inicialmente na época 28 alunos matriculados nas primeiras séries do antigo 1º grau. Em 1987 foi reformada passando a ter quatro salas de aulas, contando com 205 alunos matriculados.

Sendo implantadas provisoriamente em 1991 mais quatro salas de aulas em um anexo para atender alunos de 5ª a 8ª série. Hoje todas estruturadas, contando com mais de 1.000(Hum mil), alunos matriculados nos três turnos.

Os alunos da EJA matriculados em 2008 são no total: 345 alunos tendo como categoria do1º segmento 191 e do 2º segmento 154 alunos..

Os alunos pesquisados são estudantes da EJA e trabalhadores plantadores da cultura do abacaxi.

A pesquisa de campo foi realizada no segundo semestre letivo do ano de 2008 durante o mês de outubro. Na pesquisa participaram quatorze alunos.

Primeiramente, mantivemos contato com a administração da escola do turno da noite para expor os objetivos, dos quais ela já estava ciente a partir da autorização da pós-graduação, fazendo deste contato sempre permanente durante todo o período do curso.

Realizamos uma reunião com os professores para discutir a pesquisa com o intuito de conseguir seu apoio com os alunos no sentido de liberação no tempo das aulas para que pudéssemos realizar as entrevistas e pesquisas.

Começamos o trabalho com os estudantes, apresentando-lhes os objetivos da pesquisa, como forma de motivá-los a participar, e, tendo eles aceitado, logo marcamos a aplicação do questionário e agendamos as entrevistas que, por alguns alunos morarem em outros distritos e trabalharem, bem como em conseqüências do tempo disponibilizado pela escola, foram coletivas, realizadas em dois momentos, gravadas, filmadas e transcritas sem dificuldades.

1.3 Concepções Metodológicas

De acordo com Vergara (1997), as pesquisas podem ser classificadas quanto aos fins (exploratória, descritiva, explicativas, metodológicas, aplicadas e intervencionistas). Esta pesquisa, por sua vez, tem fins descritivos, na medida em que retrata o perfil dos estudantes trabalhadores do plantio do abacaxi e sua relação com a E.M.E.F " Arnaldo Bonifácio".

Quanto aos meios, Lima (2002) coloca que se devem distinguir pelos menos quatro gêneros de pesquisa, intercomunicadas:

·Pesquisa teórica, quando se procura formular quadros de referencia, estudar teorias, apurar conceitos.

·Pesquisa metodológica dedicada a investigar por instrumentos, por caminhos, por modos de se fazer ciências ou produzir técnicas da realidade, ou discutir abordagens teóricas - pratica.

·Pesquisa empírica, na medida em que se codifica a fasemensurável da realidade social.

·Pesquisas Práticas, que interfere na realidade social, denominadas pesquisa participante, avaliação quantitativa, pesquisa ação.

Neste trabalho optamos pelo enfoque da pesquisa Prática, o que nos possibilitou uma maior complementação das informações, namedida em que retratam o perfil do aluno da EJA plantadores da cultura do abacaxi.

Elegemos o método de procedimento de acordo com Lakatos e Marconi (1995) para os quais este corresponde às etapas mais concretas da investigação, com finalidades mais restritas em termos de explicação geral dos fenômenos e menos abstratos. Esta é, portanto, uma pesquisa de procedimento de estudo de caso.

Quanto a natureza, o presente estudo tem uma concepção quantitativo e qualitativo, o que nos possibilitou uma maior complementação das informações.De acordo com Polit, Beck e Hungler (2004), essa junção metodológica permite reforçar a credibilidade dos resultados. Desse modo, a triangulação criteriosa da abordagem quantitativa e qualitativa possui muitas vantagens, dentre elas, a de que elas são complementares, representando palavras e números, as duas linguagens fundamentais à comunicação humana.

1.4 Instrumentos Metodológicos

O instrumento de investigação utilizado na coleta de dados foi um questionário, semi-aberto, que se justifica pela possibilidade de trabalhar com o propósito de traçar o perfil dos alunos pesquisados. Para Cervo e Bervian (2002) o questionário possibilita medir com melhor precisão o que se deseja, além de ter como vantagem coletar informações mais reais. Como já exposto este instrumento foi aplicado no segundo semestre do ano letivo de 2008.

Utilizamos uma entrevista semi-estruturada e grupal, fazendo uso de gravador e filmadora, seguindo um roteiro contendo as questões preliminares, de forma que pudéssemos alcançar os objetivos, garantindo a liberdade e a espontaneidade dos informantes.

2 – EJANO BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO

A educação de Jovens e Adultos, como área de estudos específicos, é recente, prática que teve início no Brasil colonial, com os trabalhos dos jesuítas.

No inicio do século XIX, está em debate a obrigatoriedade do ensino. Como aponta Paiva apud Souza,

Enquanto a gratuidade do ensino, através do sistema público, fora estabelecido desde a lei de 1827, a obrigatoriedade tornou-se um problema[...]não tinha condições de ser cumprida por falta de escolas, de professores e em fase ás condições de vidados próprios alunos, (2007, p.73)

As preocupações em torno da educação resumiam-se a questões da obrigatoriedade, da gratuidade, onde ela se desenvolveu de forma precária em meadas dos anos de 1870, através da criação de escolas noturnas em quase todas as províncias.

Em 1882, o ler é escrever foi motivo de maior atenção com a Lei Saraiva, que tornou proibido o voto do analfabeto. A constituição de 1824 não fazia restrições ao voto do analfabeto, embora excluísse a maioria da população do processo eleitoral, pois os votantes eram selecionados pelos rendimentos anuais. Já a constituição de 1891 eliminou a seleção por renda e acrescentou a seleção pelos aspectos da instrução escolar.

No Brasil, país de origem eminentemente agrária, a educação do campo não foi sequer mencionada nos textos constitucionais até 1891, evidenciando o descaso dos dirigentes e as matrizes culturais centradas no trabalho escravo, na concentração fundiária, no controle do poder político. Na verdade, no final do século XIX a maior parte da população dos pais era considerada analfabeta.

Essa realidade foi alterando-se ao longo do século XX, em decorrência do crescimento industrial e o fortalecimento dos núcleos urbanos no país, trazendo mudanças tanto para a cultura nacional, como para a economia. Com as indústrias, nascem também as classes operárias, as primeiras escolas destinadas aos adultos, partidários ou sindicais.

As mudanças econômicas e políticas trouxeram também mudanças educacionais O modelo escolar brasileiro, a partir da década de 40, segundo Whitaker e Antuniassi (1992), incorporou três características: a) conteúdos focados no processo de urbanização e industrialização; b) privilegia interesses de certas classes sociais e não considera a diversidade dos sujeitos sociais existentes no Brasil rural e no Brasil urbano, a sua cultura, as suas diversas formas de organizar o trabalho e a vida e c) privilegia conhecimentos relativos ao mundo ocidental industrializado.

De acordo com o Recenseamento Geral de 1940, 55% da população brasileira maior de 18 anos era analfabeta. O analfabetismo era apontado com índice de atraso nos países e como causa de pobreza do terceiro mundo.

Em 1945, foi criada a UNESCO, que se dedicou a estimular a realização de programas nacionais de educação de Jovens e Adultos analfabetosnas regiões atrasadas do mundo. Destacamos ainda papel importante no campo da EJA com a Conferência Internacional de Educação de Adulto( CONFINTEA).

A educação de adultos ganha maior importância quando se amplia o debate em torno da educação popular. Como afirma Freire:

O conceito de Educação de Adultos vai se movendo na direção da educação Popular na medida em que a realidade começa a fazer algumas exigências á sensibilidade e á competência cientifica dos educadores e das educadoras.[...] os conteúdos não podem ser totalmente estranhos aquela cotidianidade. (2005, p. 15)

Esclarecendo assim que a educação popular era entendida como aquela que oferta a toda a população, devendo ser gratuita e universal.

Podemos destacar o I Congresso Nacional de Educaçãoem 1947, criados pelos movimentos de companhia de Educação de Adolescentes e Adultos ( CEAA).

O segundo Congresso aconteceu após dezesseisanos, nestas ações foram marcados por intensas mobilizações de educadores, movimentos populares, igrejas católica, como o Movimento de educação Base (MEB), podemos destacar que muitos seguidores da concepção freireana.

2.1 Profissão e Educação

O trabalho, ao mesmo tempo em que transforma a natureza, adaptando-a às necessidades humanas, altera o próprio homem. A etimologia da palavra Trabalho vem do vocábulo latino tripaliare, do substantivo tripalium, um aparelho de tortura formada por três paus, ao qual eram atados os condenados, e que também servia para manter presos os animais difíceis de ferrar. O trabalho humano é ação dirigida por finalidades conscientes, em resposta aos desafios da natureza, na luta para a sobrevivência.

Nas sociedades primitivas, em civilizações que viviam a base das economias de coleta, pesca e de agricultura rudimentar, tinha uma divisão social do trabalho diferenciado por gênero e idade. Crianças e jovens eram responsáveis por tarefas domésticas, às mulheres com as atividades caseiras e a agricultura e ao homem a colheita e a caça.

Com o desenvolvimento da agricultura, aperfeiçoamento dos instrumentos e equipamentos, a urbanização, as guerras, as classes sociais, logicamente a diferenciação na divisão social de trabalho, podemos destacar agricultores, artesãos, comerciantes, guerreiros, senhores feudais, padres entre outros. Acentua-se, então a separação entre o trabalho manual e o intelectual, o ofício e especializações profissionais.

Na vida social e econômica ocorrem paralelamente ao desenvolvimento descrito series de transformações que determinam a passagem do feudalismo ao capitalismo.

No século XVIII, a mecanização do setor da indústria têxtil sofre impulso extraordinário na Inglaterra, com o aparecimento da máquina a vapor, aumentando significativamente a produção de tecidos. Outros setores se desenvolvem como o metalúrgico, e também no campo se processa a revolução agrícola.

No século XIX, o resplendor do progresso não oculta as questões sociais, caracterizadas pelo recrudescimento da exploração do trabalho e das condições subumanas de vida: extensas jornadas de trabalho, dezesseis e dezoito horas, sem direito a férias, sem garantia para a velhice, doenças e invalidez; arregimentação de crianças e mulheres, mão-de-obra mais barata; condições insalubres de trabalho, em locais mal-iluminados e sem higiene; mal pagos, os trabalhadores também viviam mal alojados em promiscuidade.

Na década de 70 durante o auge da expansão do emprego Industrial, O Brasil chegou a ter cerca de 20% do total de empregos sob a responsabilidade da indústria de transformação. Nos anos 90 essa indústria passaria a responder a 13% do total da ocupação, muito abaixo, portanto, do patamar atual de empregos industriais encontrados nas economias avançadas. Além da diminuição do nível de emprego na indústria, houve um decréscimo no índice do trabalho assalariado.

As políticas macroeconômicas, adotadas pelos governos brasileiros, de inserção dependente a economia no processo de mundialização tem característica excludentes, isto é, não resultam em crescimento do número de empregos, das taxas de ocupação do trabalho formal.

O Brasil tem uma estrutura ocupacional de tipo piramidal, com grande concentração de trabalhadores nas ocupações profissionais inferiores (que não requerem altos níveis de escolaridades e envolvem operações simples e rotineiras) e baixo agrupamento nas ocupações profissionais intermediárias e superiores (níveis de escolaridades do ensino médio e superior).

A relação entre escola e o trabalho dão-se num contexto histórico de movimentos sociais e econômicos em nosso país. Sabemos da importância da educação e da escola, para o mundo do trabalho. A escola como instituição que tem por função também preparar para os jovens para o ingresso no mercado de trabalho, embora, historicamente, a constituição da escola não esteja vinculada à formação para o trabalho.

A expansão do capitalismo industrial, durante os últimos séculos, criou a necessidade da universalização da escola como trato social de preparação para a inserção no mundo de trabalho, a Educação Profissional, quantos se tornam como parâmetros os diferentes interesses sociais: os dos trabalhadores, dos empresários e dos gestores do Estado.

Eleva-se a discussão sobre a importância e o significado diferencial da escola no âmbito de uma sociedade de classes, o desemprego no país e o nível de analfabetos envolvendo cada vez mais jovens e adultos que não sequer chegam à escolarização do nível médio.

O novo discurso para o trabalhador de todos os setores da economia é ter as capacidades intelectuais que lhe permita adaptar-se á produção flexível. Dentre elas algumas merecem destaque: a capacidade de comunicar-se adequadamente, ter autonomia intelectual para resolver problemas práticos utilizando os conhecimentos científicos, buscando aperfeiçoar-se continuamente, finalmente a capacidade de comprometer-se com o trabalho, estendido em sua forma mais ampla de construção do homem e da sociedade, por meios da responsabilidade, da critica e da criatividade, essas novas determinações, muito distantes da atual realidade, só acontecerão quando a escola compreender na sua construção uma concepção de Gestão Democrática.

Fica evidente que a Educação é uma responsabilidade compartilhada, cabe o estado promover a realização efetiva do direito à educação, moradia, saúde, trabalho entre outros. Está na constituição. A Ligação da educação e do trabalho é evidente, na medida em que a política educacional possibilite a melhoria da qualidade da escola pública, em busca da democracia, construindo, deste modo, uma sociedade mais justa e igualitária.

2.1 1 – O cultivo de Abacaxi

No Brasil, o cultivo do abacaxi é desenvolvido praticamente em todos os estados da federação, que coloca o país como segundo produtor mundial. Dentre os quatro primeiros produtores brasileiros, Minas Gerais, Paraíba, Pará e Bahia,

A Paraíba ocupar o primeiro lugar em produção de abacaxi. A informação é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2007, em 11,6 mil hectares, a Paraíba colheu 347,5 milhões de unidades, ficando atrás do Pará, que 15,4 mil hectares teve uma safra com 389 milhões de frutos. [...} Os municípios que mais produzem o produto no Estado são Santa Rita, Itapororoca, Araçagi, Pedras de Fogo e Sapé. (Acesso site do jornal o norte)

O processo de produção do abacaxi divide-se em 4 fases: preparo do terreno, plantio, tratos culturais e colheita, estas fases se subdividem em diferentes operações agrícolas que compõem o ciclo produtivo da cultura que dura de 18 a 22 meses e demanda um tempo de trabalho ativo.

Para o preparo do terreno, no caso de áreas cobertas por vegetação densa, é necessário realizar uma operação de desmatamento, podendo empregar maquinários específicos ou ser realizada com ferramentas manuais.

As mudas para o plantio, também chamadas de filhação ou fiação, são colhidas das plantações após a realização da colheita. Nessa operação, como nas demais que exigem a entrada do trabalhador ao interior da plantação, exige a proteção do corpo do trabalhador para se evitar os cortes com os espinhos das folhas do abacaxi. As mudas são selecionadas para se evitar o plantio de plantas doentes, nesse momento, de manipulação das mudas, aproveita-se para se classificar as mudas de acordo com o seu porte.

O plantio é realizado com operações combinadas. O caso mais comum é o plantio em covas, porém ocorrem casos de plantio em sulcos abertos por trator. A cavagem ou abertura das covas com enxada pode ser seguida pela colocação manual de esterco de vaca ou de galinha ou pela colocação das mudas. Concluindo-se o processo com a cobertura das mudas.

Essa operação é realizada ao mesmo tempo, quando o cavador vai à frente, o adubando com um saco de esterco, e jogando o produto nas covas, o semeador coloca a muda, até que, por último, um trabalhador segura a muda com as mãos e, com a ajuda dos pés, cobre a cova com areia.

Um fator de qualidade do plantio é a aglutinação de mudas semelhantes em peso e em tamanho nos talhões, a fim de se evitar descompasso entre os desenvolvimentos vegetativos das plantas e a ocorrência de sombreamentos.

A limpeza de mato, que consiste na retirada das ervas invasoras com enxada, utilizada ao longo do ciclo produtivo, é a tarefa que mais emprega aostrabalhadores destaatividade.

A época de floração do abacaxizeiro costuma ser antecipada mediante a aplicação de carbureto de cálcio na roseta foliar (centro da planta). A indução floral torna homogênea a floração trazendo economia de mão-de-obra no controle da broca do fruto e na colheita, além de facilitar a programação da mesma em função do mercado consumidor.

Na aplicação de carbureto utilizam-se de embalagens vazias de plástico de lata penduradas no pescoço com as pequenas pedras do produto que deve ser aplicadode um a dois gramas por planta, desde que tenha água no centro da planta. Realiza-se a operação nas primeiras horas do amanhecer.

Após o aparecimento dos frutos, 45 dias depois da indução floral, inicia-se o controle da broca do abacaxi e da fusariose, também chamada de resina. As aplicações repetem-se semanalmente durante todo o ciclo das flores, ao longo de cerca de cinco semanas.

A colheita é uma das atividades que exige maiores atenções cognitivas por parte dos trabalhadores, tanto na atividade da catação dos frutos como na arrumação das cargas nos veículos.

Os trabalhos se dividem em catadores, balaieiros e arrumadores. Ao catador é exigido grande esforço físico devido à postura demandada pela operação.

Cada balaieiro trabalha com um ou com dois catadores responsáveis pela retirada do fruto das plantas e pela colocação dos mesmos no interior do balaio situado sobre a cabeça do balaieiro. Essa catação deve ser feita segundo a especificação requerida para a qualidade dos frutos que é classificado em 4 faixas de peso, o que requer do catador uma experiência e uma destreza prática para catar somente os frutos requeridos. O catador deve também dispensar os frutos que apresentem defeitos indesejados, como doenças ou má formação.

A catação pode ser realizada com a quebra manual dos frutos ou com o corte com faca do fruto juntamente com as fiações, que protegerão os frutos na arrumação das cargas.

2.2 A EJA e a educação do campo

s perfis do aluno da EJA da rede pública são na sua maioria trabalhadores proletariados, desempregados, dona de casa, jovens, idosos, Portadores de deficiências especiais. São alunos com suas diferenças culturais, étnicas, religiosas.

No que diz respeito ao aspecto do aluno trabalhador, que muitas vezes chega atrasado às aulas, cansado, com sono e querendo sair mais cedo, isso quando eles comparecem,. Muitos acham que não são capazes de acompanhar os programas ou que o programa não traz a realidade para o seu cotidiano, sendo, portanto, vários os motivos para evadirem.

Segundo os dados dos INEP de 2007 (acesso em 20 de novembro de 2008), Santa Rita teve seu IDEB, com 2,6 anos iniciais do ensino fundamental, 2,4 anos finais do ensino Fundamental. Quanto à taxa de rendimento noturno do município no Ensino fundamental da EJA na zona rural, em 2007 31,3% foram aprovados, 81% reprovados60,6% abandonaram.

O maior motivo pelo qual os alunos trabalhadores abandonam os estudos é o trabalho, que, devido às suas condições sócio-econômicas, é considerado mais importante, pois é o que garantirá a sua própria subsistência, sendo difícil, portanto, para eles, conciliar a escola com o trabalho. Esta combinação também é problema do ponto de vista do docente, da grade curricular, da própria gestão da escola, causando desconforto para esses jovens e adultos que estudam no horário da noite. O não reconhecimento da heterogeneidade no aluno da EJA contribui para aprofundar as desigualdades educacionais ao invés de combatê-las.

Não há como deixar de pontuar a questão da exclusão social da Juventude, pobre e limitada Fica evidente que a escola vive uma crise, e o que é mais preocupante é ver que essa crise torne habitual um descaso social com os jovens. Mas é possível encontrar algumas alternativas para colocar em prática a educação no campo.

Historicamente, foram os movimentos sociais e associações civis do campo, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), a Confederação Nacional do Trabalhador e Trabalhadora na Agricultura (Contag), a Pastoral da Terra da Confederação dos Bispos do Brasil (CNBB), a União Nacional das Escolas Família Agrícola do Brasil (Unefab), a Associação das Casas Familiares Rurais (Arcafar), entre outros, que tem enfaticamente reivindicado políticas específicas. Estes movimentos sociais são os responsáveis pela concepção de educação do campo, contrapondo-se à visão tradicional de educação rural. Segundo Mançano (2002), a expressão do campo é utilizada para designar um espaço que possui vida em si e necessidades próprias, que é "parte do mundo e não aquilo que sobra além das cidades".

Nessa perspectiva, o campo não é só o espaço do latifúndio, da produção agropecuária e agroindustrial, da grilagem de terras ou esvaziamento decorrente do êxodo rural, que alguns consideram inexorável. O campo é concebido enquanto espaço social com vida, identidade cultural própria e práticas compartilhadas, socializadas por aqueles que ali vivem. Sendo assim, a educação do campo deve refletir a vida, os interesses e as necessidades de desenvolvimento desses indivíduos e não meramente reproduzir os valores do desenvolvimento urbano.

Um dos argumentos centrais que embasam essa concepção e a luta por uma educação do campo é o fato de que as escolas rurais não levam em consideração os conhecimentos que os alunos trazem de suas experiências e família, não oferecem aos alunos a oportunidade de desenvolver conhecimentos e habilidades que lhe são necessários, e ainda mais graves, desvalorizam a vida no campo, diminuindo a auto-estima dos alunos e descaracterizando sua identidade rural e classe social (Kolling et al., 1999; Silva, 2000). Assim, uma transformação na educação rural requer mais do que melhorar fisicamente as escolas ou a qualificação dos professores. Implica, necessariamente, a presença de um currículo baseado na vida e valores da população do campo para que o aprendizado escolar também possa ser um instrumento para o desenvolvimento sociocultural e econômico do campo.

É nesse contexto que tem surgido, nos últimos anos, diversas iniciativas desenvolvidas pelas próprias organizações e movimentos sociais do campo, no sentido de reagir ao processo de exclusão social e de forçar novas políticas públicas que garantam o acesso à educação e construam uma identidade própria das escolas do campo.

São experiências que, a partir de alianças com partidos políticos, Igreja, universidades e organizações não-governamentais, têm promovido idéias e práticas que conferem outros significados à função pedagógica, política e social da escola no campo. Exemplo desses esforços são os Centros Familiares de Formação em Alternância (Ceffa), com mais de 230 centros educativos em alternância espalhados pelo Brasil, o trabalho do Movimento de Educação de Base (MEB); as escolas de assentamentos e acampamentos, além de outras iniciativas assumidas pelas comunidades e pelos professores de inúmeras escolas isoladas, espalhadas nos diversos cantos do País.

Também é imprescindível mencionar a iniciativa do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), criado em 1988 no âmbito do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para atender as áreas de assentamento de reforma agrária. O Pronera é implementado mediante uma ampla articulação interinstitucional que envolve Estado, universidades e movimentos sociais, e que tem como objetivo geral fortalecer a educação nos assentamentos, estimulando, propondo, desenvolvendo e coordenando projetos educacionais com a utilização de métodos específicos para o campo.

Podem ser mencionados outros movimentos em favor da educação do campo: o I Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (Enera), realizado em 1997, seguido pela Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, em 1998. Além de denunciar os graves problemas da educação no campo em relação à falta de escolas, falta de infra-estrutura e reivindicar soluções para esses problemas, as propostas e encaminhamentos produzidos nesses eventos apontavam para a necessidade urgente de uma política de valorização do magistério e apoio às iniciativas de renovação pedagógica no campo, que promovam um currículo, condizente com as necessidades daquelas populações e considerem seu contexto no processo de aprendizagem.

Para eles a educação é um fator-chave para a construção de um projeto de desenvolvimento rural sustentável. Também, em 1998, constituiu-se a Articulação Nacional por uma Educação do Campo, integrada por representantes CNBB, MST, Universidade de Brasília, Unesco, Unicef. Em novembro de 2002, a Articulação promoveu o Seminário Nacional por uma Educação do Campo, com a participação de várias organizações governamentais e não-governamentais.

De modo geral, as críticas colocadas são as mesmas: os problemas na educação rural permanecem e a nova geração do campo está sendo "deseducada" para viver no campo, perdendo, assim, sua identidade cultural e seu projeto de futuro. Solicita, assim, uma maior intervenção do governo federal para solucionar os problemas endêmicos da educação no meio rural, tanto referente à provisão quanto à qualidade.

A partir da mobilização dos movimentos sociais, o cenário da educação rural nas instâncias oficiais vem mudando. Em 2002 foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação as "Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo", que colocam em evidência muitas das reivindicações para a educação do campo.

O atual governo federal, por sua vez, que iniciou seu mandato em 2003, definiu como uma de suas prioridades a implementação de políticas de combate à exclusão Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais, Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimento dos Pequenos Agricultores, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, Movimentos Indígenas, Conselho Indigenista Missionário, Comunidades Quilombolas, Pastoral da Juventude Rural, Comissão Pastoral da Terra, Escolas Família Agrícolas, Movimento de Organização Comunitária, entre outras.

No âmbito educacional, governamental a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 que, reconhecendo a concepção de "mundo rural" defendida pelos movimentos sociais do campo, estabeleceu as normas para a educação no meio rural: Art. 28 – Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino proverão as adaptações necessárias à sua adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente. A Educação no Brasil Rural deve contar com:

– conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;

– organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário escolar às – fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;

– adequação à natureza do trabalho na zona rural.

Foram iniciados, também, dois programas que beneficiam predominantemente o meio rural: a Escola Ativa, um programa específico para as escolas multisseriadas; a Proformação, um programa de habilitação de professores, a distância, destinado a professores sem habilitação que atuam de 1ª a 4ª série e classes de alfabetização; e o Projovem campo - Saberes da Terra.

Entretanto, pouco dessa legislação foi colocado em prática. Embora tenha colaborado para que as Constituições dos Estados determinassem a adaptação dos currículos e calendários às características e necessidades das regiões, poucos deles especificaram e programaram com mais detalhes sua política de educação na área rural, dissociada de uma visão urbana de educação

Embora o problema da educação, no Brasil, não seja apenas do meio rural, ali a situação torna-se mais grave, pois, além de não considerar a realidade onde essa escola está inserida, a mesma sempre foi tratada, pelo poder público, com políticas compensatórias, através de projetos, programas e campanhas emergenciais, e sem continuidade, com ações clientelistas e justapostas. O ensino médio, por sua vez, convive com a exclusão representada pela baixa taxa de conclusão do ensino fundamental e pela alta seletividade interna através do número de evasão e de repetência escolar,.

Frente a estas condições, a contextualização que proporcione uma escola do campo, salvo algumas iniciativas, não tem sido uma prática recorrente, havendo sim uma escola da cidade no campo, aproveitando do mesmo material didático, das mesmas formações de professores e, conseqüentemente, do mesmo currículo.

3 – A VISÃO DOS ESTUDANTES PLANTADORES DO ABACAXI

3.1 A voz do trabalhador

Os alunos da EJA trazem consigo uma visão de mundo influenciada por seus traços culturais de origem e por sua vivência social, familiar e profissional. Podemos dizer que eles trazem uma noção de mundo mais relacionada ao ver e ao fazer, uma visão de mundo apoiada numa adesão espontânea e imediata às coisas que vê.

As escolas para jovens e adultos recebem alunos e alunas com traços de vida, origens, idades, vivências profissionais, históricos escolares, ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamentos completamente variados. Nesta perspectiva, este questionário e entrevista retratam as vozes destes estudantes plantadores do cultivo do abacaxi que serviram como principal fonte de informação para o desenvolvimento desta pesquisa.

A presente pesquisa foi realizada em duas etapas: a entrevista com dez alunos e o questionário com os quatorzes alunos.

Na entrevista estiveram ausentes quatro alunos, três não compareceram a escola e um não desejou participar. Não identificamos os nomes dos alunosnos dadosdefinimos a identificá-los por classificação numérica do 1 até o 14.

Na entrevista filmada, começamos as interlocuções com diálogos mais abertos, houve espaço para conversa mais próxima com os jovens e adultos que foram ouvidos com mais intensidade, dando ênfase a relação trabalho e escola.

A descrição das atividades desempenhadas tem como finalidade possibilitar a visualização da situação de trabalho, ou seja, o que é verdadeiramente o trabalho destes estudantes plantadores do abacaxi e qual a sua visão de escola.O primeiro questionamento faz referência ao que o estudante faz neste trabalho.

"Trabalho com veneno, colocando na plantação de abacaxi, com balaio, (é grande cesta que agente coloca na cabeça )e outros vão jogando abacaxi dentro, bem sendo bem uns total de 40 abacaxi"( aluno 1)

"Coloco veneno nas plantações, adubar e limpa" ( aluno 2)

"Planto, rego também".(aluno 3)

"Trabalho arrumando carro,carro de abacaxi" ( aluno 4)

"Lidero uma turma de trabalhadores" (aluno 8)

Nestas tarefas os estudantes-trabalhadores estão expostos principalmente a riscos de acidentes, tais como corte, colisão, quedas etc, além da inspiração intensa de poeira, dos agrotóxicos, e o mais agravante, são as posturas adotadas por várias horas, atingindo diretamente a coluna vertebral. A colheita é uma das atividades que exige maiores atenções cognitivas por parte dos trabalhadores, tanto na atividade da catação dos frutos como na arrumação das cargas nos veículos.

Os riscos destas atividades, principalmente com agentes químicos, podem provocar intoxicações e feridas nas mãos desprotegidas. Colocamos em destaque também seu esforço com a quantidade de peso das cargas no levantamento e carregamento dos sacos e das bombas nas costas.

Indagados acerca de como se sentem depois de um dia de trabalho, os sujeitos responderam que se sentem cansados. Este cansaço é explicado considerando-se os tipos de atividades que desenvolvem.

A partir destes relatos veio à confirmação de todas as tarefas desempenhadas pelos alunos, sem restrição, e de como estes se sentem exaustosapós um dia de trabalho.

"Muito cansado, e às vezes sinto dor de cabeça, por ficar muito tempo no sol" (aluno 2)

Eles então exposto ao sol a dia inteiro eseprotegem do sol é com a confecção caseira de braçadeiras, a partir de pernas de calças velhas, que podem também servir de luvas e a utilização de duas calças sendo a segunda vestida com a frente para trás. É comum o uso de botas plásticas e de bonés sobre panos amarrados na cabeça para proteger o rosto e o pescoço.

"Muito cansado, mas tomo banhoe dou umas voltinhas."(aluno 1)

"Fadado,com sono,sem coragem de..." (aluno 9)

Nestes depoimentos compreendemos que o trabalho no cultivo do abacaxi é uma tarefa árdua, entretanto, apesar do cansaço eles freqüentam a escola no horário noturno, os pesquisadoresrevelam o quanto é difícil ser trabalhador-estudante.

Diante do questionamento sobre como eles gostariam que fosse sua escola, os alunos expuseram suas opiniões:

"tivesse mais disciplina" (aluno 4)

"Fosse assim, fosse arumada, e os alunos procurasse não bagunçar o colégio para entender as professora explicar direito" (aluno 9)

"É pouco tempo para o estudo á noite, já que este é único momento que tiramos pra aprender" (aluno 8)

"Assim a pessoa trabalha todo dia ai pra estudar a noite fica meio compricado, cansativo demais" (aluno 5)

"Melhor do quer é né professora?"(aluno 10)

Considerarmos as falas dos alunos no que se referem ao tipo de escola que estes gostariam de freqüentar, percebemos que além de uma escola limpa, conservada, agradável, com normas, os alunos almejam acima de tudo, aprender coisas significativas para sua vida cotidiana.

Observamos que os alunos comprovaram com clareza aquilo que supõem ser certo ou errado na escola. Eles desejam materiais didáticos, ter acesso a internet, ter computadores, querem uma escola mais social, mais democrática e acessível a todos, como exemplifica a fala dos alunos 1 e 2 e seu pedido por computadores.

Diante do atual contexto de globalização é imprescindível o uso dos meios de comunicações para obter informações. O acesso á informática pode propiciar amplas oportunidades a esses alunos, abrindo seus horizontes. Embora, em plena era da informática e biotecnologia, constate-se uma comunidade com exclusão digital.

Neste sentido, Freire nos diz:

A escola pública não anda bem, não porque faça parte de sua natureza andar bem, como muita gente gostaria que fosse que é insinua que é. A escola pública básica não anda bem, repitamos, por causa do descaso que as classes dominantes neste país têm por tudo o que cheira a povo. (1995, p.51)

Apesar deste questionamento sobre a sua escola, foi possível perceber nas falas da maior parte dos entrevistados que a escola tem um papel importante na vida deles.

" A escola melhorar a vida ,por que ensinar coisas novas (aluno 1)

" A escola é crescimento" (aluno 2)

" È bom a escola! ( aluno 7)

"Eu quero aprender a ler e escrever" (aluno 8)

O trabalho do cultivo da plantação do abacaxi como relatam os estudantes é um trabalho cansativo, para esses jovens e adulto, o mais agravante, vamos constatar, são as condições salariais que cada vez se distanciam mais da superação na exclusão social. Sobre tais condições negativas, é relevante a posição dos estudantes sobre o que significa trabalho.

"Trabalho significa a sobrevivência minha e de minha família",(aluno8)

"Trabalho ser alguém na vida," (aluno 2)

"Porque depende do trabalho que nói vamo pensar no nosso futuro".(Aluno5)

Um bom lugar para se trabalhar possibilita, entre outras coisas, que a pessoa tenha, além do trabalho, outros compromissos em sua vida, com a família, os amigos, a escola, hobbies pessoais, lazer, amadurecimento profissional e pessoal entre outros, pois isto, somada a salários dignos, é fundamental para a qualidade de vida do ser humano.

"Porque dependo do trabalho que nói vamo pensar no futuro,assim apessoatrabalha todo dia ai pra estudar fica meio compricado, cansativo demais" (aluno 4)

"Cansaço, significa isso"( aluno 9)

O conceito de lazer, segundo o Dicionário Aurélio (2001, p. 452), é tido como tempo disponível, descanso, folga, atividade praticada nesse tempo, entretenimento, divertimento. No que se referem a como os alunos ocupam seu tempo de lazer, eles relatam que:

"jogo bola, mas gostaria de viajar para conhecer novos lugares" (aluno 2)

"Eu vou me divertir esaio com a namorada"(aluno 3)

Tomar bãe de rio no domingo"(aluno5)

"assisto DVD" (aluno 8)

"dormir e ir para a igreja" (aluno 9)

De acordo com Trigo, as atividades de lazer exercem um papel muito importante na vida dos seres humanos:

O lazer é uma necessidade e um direto tão legitimo do ser humano quanto a educação, saúde, transporte ou segurança. O ser humano é um animal muito especial e completo, que não se contenta apenas com o mínimo indispensável à sua sobrevivência. (1998, p.53)

A concepção de tempo para o estudante-trabalhador está relacionada a sua carga horária no trabalho e sua jornada da escola.. Muitos dos alunos da zona rural não moram perto da escola, dependem do transporte escolar. Alguns relatos mostram a hora que estes alunos acordam para trabalhar, bem como seu horário de dormir.

Das dificuldades apresentadas sobre os aspectos físicos deste jovens e adultos diante da jornada de trabalho e escola, podemos destacar

"Acordo de 4:30 da madrugada e só vou dormir a partir das 10:00 horas".(aluno 8)

"As 5 horas eu acordopara trabalhar e vou dormir depois das 10 horas".(aluno1,2 )

Questionou-se ainda acerca das perspectivas futuras destes jovens e adultos trabalhadores. Nesta temática perguntamos sobre os planos para o futuro, seus sonhos e projetos relacionados a seu trabalho e sua escola. Eles relataram que:

"Um futuro melhor" (aluno 3)

" Crescer na vidanum serviço mais milho" (aluno 4)

" "Trabalhar só para mim, colocar um roçado só meu" (aluno 8)

"Corri três vezes na cidade de João Pessoa e ganhei três medalhas egostaria de correr novamente." (aluno 1).

O que dizer diante de tantos sonhos, que esses jovens e adultos acreditam serem possíveis de realizar por mediaçãoda escola?

Sonhar é uma forma de relação entre o que se quer sere a forma como está sendo a realidade, no cotidiano, na vida, é fazer a história. É o que pensam os alunos:

"O meu é ser advogado"(aluno 10)

"Como trabalho muito e estudo, nunca parei para pensar o que eu quero, mas quero crescer" ( aluno 2)

Nas palavras de Paulo Freire "sonhar não é apenas um ato político necessário, mas também uma conotação da forma histórico-social de estar no mundo das mulheres e homens." (2001, p.13)

O sonho faz parte do processo de constituição do ser humano nas suas transformações, pois são os sonhos que sustentam nossos desejos e aspirações.

4.2 O perfil do estudante trabalhador na escola

O questionário dividiu-se em três partes, contento 18 questões. A primeira parte do questionário compreendeu as perguntas referentes à nome, idade, sexo,origem, religião, local onde reside e com que ele mora.

A segunda parte esta relacionada às questões das atividades, trabalho, carteira assinada, quanto começou a trabalhar, com quem, carga horária trabalhada e se ele gosta do trabalho que realiza.

A terceira parte está pautada na escola, nível de estudo, reprovação e evasão escolar, o que ele estuda e aprende na escola esta relacionado como seu trabalho.

Foram feitas, portanto, entrevista com 14 alunos, caracterizando dados de identificação, atividades relacionadas ao campo de trabalho e sua relação com a escola.

Podemos destacar que das faixas etárias dos alunos que estudam a noite, plantadores do cultivo do abacaxi, a sua maioria são jovens. Nos dados, é possível compreender que o trabalho precoce destes trabalhadores no distrito de Odilândia tem um perfil especial.

No gráfico nº 1, referente à faixa etária dos alunos entrevistas, a idade mínima encontrada foi de 15 anos a 17 anos, com o potencial de 64%, de 18 a 24 temos 46% e 7% acima de 24 anos. Observamos que o maior percentual de sujeitos trabalhando reside na faixa etária proibida por Lei do Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA. (acesso no dia 18 de janeiro de 2008), com oArt. 60: É proibido qualquer trabalho para menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.

GRÁFICO Nº 1

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base nas informações obtidas através das entrevistas.

No que se refere ao gênero destes trabalhadores, podemos destacar que 93% dos entrevistados são do sexo masculino e 7% do sexo feminino.

Sabemos que o trabalho é árduo, entretanto isso não justifica o pouco espaço que é dado às mulheres na agricultura do campo.

Perguntamos sobre com quem eles moram e concluímos que 86% dos estudantes moram com os pais, sendo citado por vários que suafamília é composta só por uma mãe, avó, irmão, o que se aplica as mais diversificadas definições de família. Apenas 14% tem uma família, (casado) mora com esposa e filhos.

No gráfico nº 2 destacamos que os estudantes da zona rural representam 86%, os oriundos da zona urbana 14%, todos residentes nos distritos de Odilândia e Cicerolândia, Santa Rita-Pb.

Podemos constatar que a migração da zona urbana para a rural, ocorreu devido a doação de terreno no distrito de Odilândia, pela prefeitura. O distrito emOdilãndia foi constituído sem qualquer infra-estruturar.

GRÁFICO Nº 2

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base nas informações obtidas através das entrevistas.

Ao perguntados acerca da sua religiosidade, é necessário destacar o pluralismo religioso no nosso país, que está em todos os setores da nossa sociedade. Sabemos que atividades de cunho religioso sempre fizeram parte da paisagem escolar. Identificamos que 57% são católicos, 36% são protestantes e 17% não responderam.

No que se refere à carteira assinada, 64% não trabalham com carteira assinada. Destacamos ainda que a maioria dos entrevistados é menor de idade, o que reflete a questão do trabalho infantil. Os que trabalham com carteira assinadas correspondem 36%.

Enfatizamos no gráfico nº 3 com que idade eles começaram a trabalhar, constatando que: na faixa etária de 7 a 8 anos o número é de 21%, sendo a potencialidade entre 10 e 16 anos com 29%, e entre 13 e 14 anos constatamos14%. É expressivo o fato de que essas crianças e adolescentes tenham uma relação de trabalho, o que é revelador da exploração a que estão submetidos e da violação dos direitos da criança e do adolescente.

GRÁFICO Nº 3

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base nas informações obtidas através das entrevistas.

O trabalho Infantil, tão comum entre as famílias mais pobres, comprova o descaso com essas crianças na exploração da sua força de trabalho.

Em Santa Rita no ano 2004, foi feita uma pesquisa sobre o trabalho infantil na cultura do abacaxi no município, inserindo também Odilândia, com a OIT, em parceria com o Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente, a Delegacia Regional do Trabalho na Paraíba, o Ministério Público do Trabalho da Paraíba e a Universidade Federal da Paraíba. Temos conhecimento desta realidade cruel que é o trabalho infantil, tanto no Brasil como em outros países.

Podemos comparar os dados desta pesquisa e observamos que após quatro anos a realidade, segundo Alberto, continua

em todas as faixas de idade estudadas, os pesquisados afirmam que começaram a trabalhar principalmente na faixa de 8 a 14 anos de idade. Sendo que, aqueles atualmente na faixa de 11 a 14 anos apresentam o maior percentual (91,1%). Este resultado mostra que a tendência atual é a de aumento no número de jovens que começam a trabalhar cada vez mais cedo. Aqueles que começaram a trabalhar mais tarde (faixa de 15 a 16 anos) são os que estão com as idades compreendidas entre 17 e 18 anos (33,3%). (2006, p.17)

O trabalho Infantil na zona rural é uma demonstração da grande desigualdade social no Brasil.

Na amostra do gráfico nº 4. Tem relação aos níveis salariais dos plantadores de abacaxi, consta que o resultado é que 14% ganham mais de um salário mínimo, 86% ganham menos de um salário mínimo.

GRÁFICO Nº 4

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base nas informações obtidas através das entrevistas.

A remuneração destes trabalhadores da plantação da cultura do abacaxi reflete a degradação das condições de vida do indivíduo, não sendo capaz de atender sua necessidade básica, que vai além de um salário mínimo.

Segundo a Constituição Federal do Brasil de 1988:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social [...] IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; [...](acesso 18 de janeiro de 2008)

No gráfico nº 5, com relação à carga horária, destacamos um índice da jornada entre 3 e 4 horas que são os 14% dos entrevistados, os que trabalham de 5 a 6 horas corresponde a 14%, aqueles que trabalham de 7 a 8 horas compõem 50% destes trabalhadores e mais de 8 horas são 22%.

GRÁFICO Nº 5

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base nas informações obtidas através das entrevistas.

Estes declaram que acordam de madrugada, para chegar na plantação, e descrevem que, quando vão colocar o carbureto, tem que ser durante a madrugada. Eles almoçam no trabalho, todos levam suas marmitas.

Após sua jornada de trabalho, estes alunos vão para a escola, muitos deles dependem do transporte escolar, já que no seu distrito não há ensino fundamental nas séries finais, moram em outro distrito, Cicerolândia, pegando o transporte às 06h20min para irem à escola. Destes estudantes, 36% trabalham para a família, e 64% têm um patrão.

Com relação às séries dos alunos entrevistados, um aluno estuda a 1ª na série inicial, quatro alunos da 3º e 4º séries, quatro aluno do 6º anos, três alunos da 7º ano, um aluno da 8º ano e um aluno do 9º ano.

O gráfico nº 6 demonstra como os alunos se sentem com relação ao tipo de trabalho que realizam. Destes, apenas 36% não gostam do trabalho, afirmando ser muito cansativo e por ganharem mal, sendo, entretanto, necessário. destacarmos a afirmação de 64% dos entrevistados que gostam do tipo de trabalho que realizam e se alegram com este. O motivo de tal satisfação está relacionado ao fato de que o trabalho constitui o pão de cada dia, por não sabem fazer outra coisa e por trabalharem para a família.

GRÁFICO Nº 6

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base nas informações obtidas através das entrevistas.

No que se refere à questão de estudos e se exercem importância no seu trabalho, 93% afirmam que sim, enfatizando a importância da escola para um trabalho melhor, e 7% não acreditam na influência da escola em seu trabalho.

Com relação à questão da reprovação escolar, o gráfico nº 7 mostra o alarmante número de alunos que repetiram o ano mais de 5 vezes, constituindo 22% do total reprovado, 1 , 2 e 4 vezes 14% em cada, não reprovado 29% e 7% não responderam. Esta é a realidade da maioria dos trabalhadores, suas condições atribuladas da vida, seu trabalho, sua carga horária, sua vida social, sua família, auto-estima baixa, acima de tudo começaram a trabalhar ainda criança, o que denota, neste caso, mais exclusão social.

Estamos diante de um processo em que o capital não prescinde do saber do trabalhador e do saber em trabalho e é forçado a demandar trabalhadores com um nível de capacitação teórica mais o que implica mais tempo de escolaridade e de melhor qualidade. Revelam, de outra parte, que o capital, mediante diferentes mecanismos, buscam manter, tanto a subordinação do trabalhador quanto a qualidade de sua formação. (FRIGOTTO apud ESCORIÃO, 2000, p.122)

As relações de reprovação num sistema de ensino devem ser analisadas tomando também como referência o processo de democratização do ensino. São duas faces distintas na EJA, por um lado o aluno trabalha, por outro as condições escolares grade curricular, professores, estrutura física, organização da escola entre outros.

GRÁFICO Nº 7

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base nas informações obtidas através das entrevistas.

Através do Quadro nº 1 – Quadro Demonstrativo EJA-2008, que cita as matriculas, abandono, reprovação e aprovados, constatamos a realidade dos alunos como um todo no que se refere à evasão e reprovação.

QUADRO Nº 1

QUADRO DEMONSTRATIVO-2008

1 ºSEGMENTODA EJA

2º SEGMENTO DA EJA

SEGMENTOS

1º/2º

3º/4º

TOTAL

%

6ºANO

7ºANO

8ºANO

9ºANO

TOTAL

%

MATRÍCULA

106

85

191

-

68

35

31

23

154

-

ABANDONO

81

49

130

68%

41

16

10

07

74

47%

TRANSFERIDO

O1

_

01

0,5%

-

02

03

-

05

0,3%

APROVADO

17

33

50

26%

19

13

16

16

64

40,5%

REPROVADO

07

03

10

5,5%

09

04

02

-

15

9,5%

Fonte: Quadro elaborado com base nas informações fornecidas pela E.M.E.F.Arnaldo Bonifácio.

Essa visão, agrupada às representações dos estudantes como um todo, denota quão alarmante é a evasão e a reprovação dos alunos da EJA, enfatizandoo abandono com elevados índices. Diante deste contexto, observamos ainda que a reprovação também atingiu um indicador insatisfatório, reforçando deste modo a convicção de que a escola não tem resolvido os problemas da educação, que apresenta desconfortáveis índices de evasão e reprovação escolar.

São vários os fatores a ser investigados e aprofundados das diversas derrotas vividas ao longo do processo escolar, especialmente no que concerne à evasão da EJA.

No quadro nº 1 evasão escolar (abandono), no 1º segmento temos o número de 106 alunos, dos quais 68% são evadidos. Já no gráfico nº 8 o total de evadidos foi de 42%, 22% não responderam e 36% dos alunos não evadiram.

GRÁFICO Nº 8

Fonte: Gráfico elaborado pela autora com base nas informações obtidas através das entrevistas.

São muitos os fatores que convergem para a evasão na zona rural: a distância da escola, o cansaço para quem trabalha o dia inteiro no campo, a distorção idade-série, uma decepção, por mínima que seja sofrida na escola faz com que o sujeito abandone a escola, a sala de aula que não consegue despertar nele o interesse, somado ainda outros fatores que culminam com a desistência por parte dos alunos.

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação de Jovens e Adultos EJA é um campo carregado de complexidade que carece de definições e posicionamento claros. Acerca do perfil deste alunado, averiguamos os vastos estudos de pesquisadores sobre essa temática, sendo muitas as inquietações sobre o perfil do aluno no seu contexto histórico.

A discussão abordada é a questão do EJA e, mais especificamente, o perfil dos estudantes trabalhadores da cultura do abacaxi, que traz à tona alguns assuntos que são um desafio apresentar, no que diz respeito à caracterização do trabalho destes jovens e adultos o seu fazer educativo, bem como com questões polêmicas relacionados à história de vida destes, que, quase sempre começam a trabalhar precocemente na agricultura. Contudo, na visão deles o trabalho é visto como forma de sobrevivência e, essa exploração econômica agrava cada vez mais a exclusão social já tão vigente.

Nas trilhas das histórias destes estudantes trabalhadores da zona rural, pode-se considerar que somos produtos de uma série de situações e experiências acumuladas ao longo de nossas vidas, aos quais se pode considerar que, após dez anos de experiências nesta escola, percebem-se as vivências concretas destes alunos com mais intensidade, e sob um ponto de vista mais reflexivo, após a pesquisa.

Os dados desta pesquisa revelam que é preciso rever alguns argumentos que sustentam os investimentos políticos educacionais destinados aos estudantes da zona rural. Na verdade, eles apontam sérios obstáculos na composição escola X trabalho X lazer, e revelam que ainda é preciso discutir muito sobre a qualidade e adequação das ofertas destinadas ao público da EJA.

As análises da escola revelam a insuficiência de oferecer só a escola, segundo moldes pré-estabelecidos, uma vez que é de suma importância aproximar-se efetivamente destes alunos, com objetivo de unir o conhecimento escolar juntamente com a realidade destes, a dimensão de suas vidas, experiências, as questões relacionadas ao trabalho, lazer, à saúde, bem como à comunidade na qual estão inseridos..

Estes alunos têm que ser ouvidos, as suas aspirações não podem se limitar apenas a esta pesquisa, pois é de fundamental importância sair deste espaço simplista e formal.

Partindo deste pressuposto, asseguramos que se tem um terreno bastante fértil no que concerne à educação de jovens e adultos, para que seja possível desenvolver um trabalho com uma concepção ousada na formação de educadores para a transformação social, sobre a qual destacamos o exemplo de Paulo Freire, como educador, filósofo da educação, por seu ensinamento humanista.

O primeiro passo, embora seja apenas uma sugestão, da qual teremos que enfrentar alguns desafios, é reconhecer a necessidade de plantar, replantar, refletir projetos ousados na formação de educadores sociais, diante de uma realidade tão controversa, que inclui a distorção da idade, série, reprovação, evasão e, principalmente, o trabalho precoce destes estudantes da EJA.

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