O trabalho docente e sua relação com o proceso de ensino - aprendizagem
Por Salatiel Rocha Gomes | 26/06/2011 | EducaçãoO TRABALHO DOCENTE E SUA RELACAO COM O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa que procura revelar se os impactos da má qualidade de vida do professor interferem no processo de ensino-aprendizagem. O que se propõe é uma aproximação do referencial teórico levantado com a realidade pesquisada durante os estágios do curso de graduação. Esta pesquisa desenha-se em um traço da fenomenologia, de cunho qualitativo. A pesquisa parte de um estudo sobre o ofício de professor: sua profissão, seu processo de formação e características gerais sobre o trabalho docente. Para a elaboração da pesquisa, partiu-se de um levantamento sobre a literatura produzida e publicada em livros e artigos científicos que enfatizam o mal-estar docente e sua relação com o seu trabalho e com sua prática pedagógica, buscando compreender todos os caminhos e dificuldades que o professor enfrenta durante seu ofício, como as más condições de trabalho e suas relações cotidianas, destacando primordialmente de que maneira isso implica em sua prática diária na sala de aula. Procurou-se analisar a jornada de trabalho do professor e as principais dificuldades que o mesmo enfrenta no exercício de sua profissão, como o estresse, problemas com a voz, logística inadequada, relações escolares problemáticas; e principalmente, como esses aspectos, característicos de uma má qualidade de vida, afetam no processo de ensino-aprendizagem. Através da presente pesquisa podemos destacar a importância e a necessidade de expandir as discussões sobre o mal-estar docente, refletindo sobre suas condições gerais de trabalho e sobre sua formação, visto que essa linha temática ainda é pouco levantada principalmente no campo acadêmico e na escola.
Palavras-Chave: Qualidade de vida. Trabalho docente. Processo de ensino-aprendizagem. Prática pedagógica. Reflexão
INTRODUCÃO
Este trabalho é resultado da pesquisa sobre o trabalho docente e quais as relações que o mesmo possui com o processo de ensino-aprendizagem. O interesse por essa temática veio de uma inquietude durante os estágios e a algumas visitas feitas à escola no decorrer da trajetória na universidade. O que foi proposto investigar não diz respeito somente às dificuldades que o professor enfrenta na escola e na sala de aula, mas, sobretudo, como elas podem interferir no processo de ensino-aprendizagem. A relevância dessa pesquisa, além de maximizar as discussões no campo científico sobre o trabalho docente, principalmente o professor da escola pública, articula um outro olhar sobre ele, sobre sua prática e ação pedagógica.
O professor, mais do que outro profissional, executa atividades além do que é definido pela escola; estabelece cotidianamente várias relações e têm um papel importante na formação de indivíduos. Tais responsabilidades e atividades o levam a um mal-estar, uma sobrecarga de trabalho e, por conseguinte, à má qualidade de vida.
A referida pesquisa fora desenvolvida em uma escola estadual da zona sul da cidade de Manaus e teve como público alvo de investigação os professores, além da contribuição dos suportes administrativos.
A pesquisa orientou-se à luz de alguns teóricos e pesquisadores que buscam analisar principalmente os saberes e o trabalho docente. Nesse sentido, destacamos a contribuição dos autores: Tardif & Lessard ( 2005), Arroyo(2000), Pimenta ( 2000), Hypolito( 1997), Facci (2003), Enguita( 1995), Esteves (1999), Campos ( 2007), Azzi ( 2000), Perrenoud (2002). Tais autores discutem a despeito da prática, autonomia, jornada de trabalho, saberes docentes, mal-estar, profissionalismo, onde tais abordagens nortearam o objetivo dessa pesquisa que é conhecer primeiramente as características dessa do trabalho docente e como ele pode interferi na prática pedagógica do professor. O estudo desse fenômeno elucidou-se pela pesquisa qualitativa, e foi consolidada na utilização das seguintes técnicas: Questionário com questões abertas, observação participante, pesquisa bibliográfica, documental e internet, aspectos do percurso metodológico desse trabalho. Nos resultados obtidos, foram feitas as análises dos dados coletados durante a pesquisa, e discute os resultados, analisando as hipóteses levantadas no problema à luz da literatura científica presente no referencial teórico.
Trata-se de um estudo ainda pouco discutido no Brasil. No entanto, essa pesquisa, revela que o professor precisa ser melhor estudado, e que através dele o processo de ensino ?aprendizagem pode avançar ou ficar inerte, dependendo de sua qualidade de vida e/ou de seu bem-estar.Espera-se que este trabalho direcione caminhos para futuras pesquisas dentro dessa problemática.
QUALIDADE DE VIDA: ABORDAGEM PARA DOCÊNCIA
A qualidade de vida vem sendo bastante discutida pelos estudiosos, uma vez que é relevante mostrar o quanto isso influencia direta ou indiretamente na produtividade das pessoas. No campo da educação, podemos identificar esse pressuposto claramente nas práticas cotidianas dos professores. Qualidade de vida pode apresentar inúmeras definições. É delineada pelos fatores: condições de vida, saúde, trabalho, moradia, educação, enfim, como as pessoas se sentem e vivem diariamente. Durante as atividades da docência, o professor se relaciona com diversos sujeitos: os alunos, professores, gestores, pais, comunidade, escola, dentre outros; e essas relações desencadeiam alguns fatores como a sobrecarga no trabalho docente.
Bertuol (2006, p.27) define a qualidade de vida como "a cultura adotada ou construída por uma pessoa, que orienta sua prática de ser em relação à sua saúde". A qualidade de vida é base para todos os tipos de qualidade: auto-estima, bom desempenho em sua profissão ou atividades que desenvolvem boas relações com o outro. Quando recortamos esse conceito de qualidade de vida, associando para a docência, encontramos uma relação coerente com a realidade hoje posta no ambiente escolar. A docência, mais do que qualquer outra profissão, proporciona autonomia para o profissional, onde o mesmo refletirá sobre sua própria prática, revelará o que precisa ser acrescentado, melhorado, discutido, e, sobretudo, pesquisado. Entretanto, toda a cadeia de reflexões e atividades que acabamos de mencionar cotidianamente não é exercida. O professor possui tarefas que o fazem ficar sobrecarregado e com péssimas condições de vida, e isso provoca pouco tempo de reflexão e consequentemente baixa qualidade do ensino.
É preciso compreender que o professor possui sua prática e sua ação pedagógica, as quais se diferenciam. A prática refere-se aquilo já estabelecido e direcionado pela escola. Ao contrário da prática, a ação é muito subjetiva do educador, uma vez que as representações de sua ação são delineadas por sua história de vida, pela sua subjetividade, sua cultura, o próprio conceito de qualidade de vida que o mesmo construiu.
Para Sacristán apud Pimenta, a prática e a teoria se caracterizam da seguinte maneira :
... a prática é institucionalizada ;são as formas de educar que ocorrem diferentes contextos institucionalizados, configurando a cultura e a tradição das instituições ... a ação refere-se aos sujeitos , seus modos de agir e de pensar , seus valores, seus compromissos, suas opções, seus desejos e vontade, seu conhecimento, seus esquemas teóricos de leitura do mundo , seus modos de ensinar, de se relacionar com os alunos, de planejar e de desenvolver seus cursos. ( 2004, p.41-42).
Podemos perceber na colocação de Sacristán que a ação pedagógica requer muito do professor, da maneira de como ele interage ao o seu cotidiano e ao seu devir. Em contrapartida, a prática é posta ao professor, como um fazer pronto e acabado.
Tal prática docente, remete-nos a avaliar a qualidade da educação sob uma ótica da qualidade de vida desse docente. Delours (1998, p.53), entende que,
... para melhorar a qualidade da educação, é preciso antes de tudo, melhorar a formação, o estatuto social e as condições de trabalho dos professores, pois estes só poderão responder ao que deles se espera se possuírem os conhecimentos e as competências, as qualidades pessoais, as possibilidades profissionais e a motivação requerida.
A seguir, mostraremos algumas características do trabalho docente, relacionando algumas das suas principais definições.
O TRABALHO DOCENTE: HISTÓRIA E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Quando caracterizamos o conceito de trabalho docente à luz de uma perspectiva social, somos levados a refletir primeiramente sobre a idéia de trabalho. Marx apud Azzi ( 2002 ), ao conceituar o trabalho, destaca a ação do homem sobre a natureza e dela sobre o homem, ou seja, mostra o homem como ser responsável pela historia da sociedade, o homem responsável pela cultura, entendendo-se esta como o mundo construído pelo homem.
O trabalho é considerado como categoria importante para socialização de uma pessoa com a sociedade, uma maneira de integrá-la, é uma condição básica na vida de cada ser humano. A partir do trabalho, o homem constrói e reconstrói, se identifica com o meio, interage mais e promove uma cadeia de relações.( GRIFO MEU).
O trabalho docente empiricamente já foi visto e para algumas pessoas ainda é descrito como um sacerdócio ou uma vocação, onde as pessoas ensinam por amor, não necessitando de quaisquer formações ou preparo pedagógico. Kreutz apud Hypolito ( 1997,p.19) em relação ao magistério como vocação , descreve da seguinte maneira:
... a concepção do magistério como vocação foi reafirmada mais incisivamente por motivos políticos, a partir de 1848, quando se articulava, na Europa, especialmente na Alemanha, uma reação contra o avanço do ideário liberal. As forças conservadoras, identificando a Revolução Francesa e o liberalismo como origem e causa de todos os males, formaram uma frente política religiosa, o movimento de restauração, e lutavam pela volta aos "bons tempos" da Idade média como uma sociedade "harmônica e justa".
A docência é estereotipada como uma atividade voluntária e não como profissão, onde há limitações tanto de cunho social quanto econômico, político, cultural e religioso. Enguita (1995) afirma que, há mais ou menos dez ou quinze anos, os professores queriam ser considerados "trabalhadores de ensino", reivindicavam identificação com a classe trabalhadora, acentuando as semelhanças. O mesmo autor ainda afirma que o processo de trabalho a que está atrelado o trabalhador docente, leva-o à proletarização, à perda de autonomia na realização de seu trabalho, pois "um proletário é uma pessoa que se vê obrigado a vender sua força de trabalho ? não o resultado de seu trabalho, mas sua capacidade de trabalho"
Do século XV até a metade do século XVIII, a escola é de responsabilidade da Igreja, e os predominantes na educação são os dogmas da Igreja e o atendimento comunitário. Podemos entender a partir daí a condição vocacional/sacerdotal do professor, como sendo alguém que professa que atua por vocação, por sacerdócio. Nos países anglo ? saxões , só alguns ofícios são considerados profissões integrais, por exemplo, os ofícios de médico,advogado, engenheiro , o ensino não está incluído entre eles. (PERRENOUD, 2002, p.12).
A partir do momento que o professor se vê como profissional da área da educação, ele internaliza sua identidade e é nesse contexto que precisamos caracterizar o profissionalismo docente como uma construção de uma identidade, onde é concebida durante e construída ao longo de sua vivência no magistério. Esclarecendo em como se constrói essa identidade profissional, Pimenta ( 1999), escreve que :
Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão, da revisão constante dos significados sociais da profissão, da revisão das tradições.Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas . Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias. Constrói-se, também, pelo significado que cada professor , enquanto ator e autor, confere à atividade docente em seu cotidiano a partir de seus valores , de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor. Assim, com o a partir de sua rede de relações com outros professores, nas escolas, nos sindicatos e em outros agrupamentos.
Quando abordamos a respeito da construção da identidade do professor, Guimarães apud Pimenta (2004, p.64) considera que os cursos de formação - o qual trataremos no próximo tópico - podem ter um papel importante nessa construção ou no fortalecimento da identidade à medida que possibilitam a reflexão e a análise crítica das diversas representações sociais historicamente construídas e praticadas na profissão. "Em crise de identidade profissional, os docentes são levados a redefinir seus papéis e funções em uma sociedade em transformação que questionava seus valores" (COSTA, 1995, p. 82).
Quando relatamos o trabalho docente sob a ótica de sua carga ocupacional, claramente apontamos que o docente tem muitas funções e atividades que precisa executar cotidianamente, articulando outras funções entre a escola e a comunidade. Tais tarefas não se limitam apenas no fazer pedagógico dentro da escola ou às atividades de planejar e executar, e nesse sentido é importante destacar o trabalho não somente como uma atividade humanizadora, sobretudo, alienante, como já dizia Marx. Existe aí uma complexidade onde deve ser mostrada a dedicação ao ensino do professor em sua totalidade. Tardif (2005) enfatiza sobre o que consiste o trabalho docente quando aborda que,
O trabalho docente não consiste apenas em cumprir ou executar, mas é também a atividades de pessoas que não podem trabalhar sem dar um sentido ao que fazem, é uma interação com outras pessoas: os alunos, os colegas, os pais,os dirigentes de escola e etc., ( p. 38)
O que torna claro, então, é que a docência torna-se um trabalho cujo objeto são as relações humanas e suas interações. Os professores trabalham com um conjunto de grupos, que vai desde alunos a uma coletividade pública e comunitária. Torna-se também um trabalho cognitivo, onde fica exposta a busca contínua de saberes, promovendo a aquisição de certa cultura e permitindo a produção de conhecimentos. Nesse sentido, Tardif ( 2005), quando considera,
O trabalho docente não se limita nem às atividades de classe, nem às relações com os alunos, embora essas atividades e relações sejam essenciais no exercício da profissão ... um dos maiores traços desse trabalho é a grande diversidade de tarefas para cumprir , bem como seu caráter assaz diferenciado que exige competências profissionais variadas ( p. 44)
Entendemos que a docência é mais que simplesmente repassar e/ou reprodução de conhecimentos, isso porque a escola é mais que uma escola, os conteúdos da educação são mais que simples conteúdos, neles estão inseridos representações, culturas, significados sociais.
Para construir uma idéia melhor de trabalho docente, principalmente enquanto atividade historicamente construída, Sandra Azzi (2005) considera que,
O trabalho docente é uma práxis em que a unidade teórica e prática se caracteriza pela ação ? reflexão ? ação; o trabalho docente só pode ser compreendido se considerado no contexto da organização escolar e da organização do trabalho no modo de produção , o capitalista, a compreensão do trabalho docente só pode ocorrer no processo de elaboração de seu conceito , que emerge após o estudo de sua gênese, de suas condições históricas gerais ( o trabalho como forma histórica) e particulares ( o cotidiano da ação docente. ( p.38)
Buscamos entender hoje, como se entende o conhecimento epistemológico da prática desses professores, e como se articula tais saberes adquiridos. A intenção é discutir se essas práticas apenas transmitem conhecimentos ou produzem.
A respeito do saber da prática docente, Freire (2002) destaca que,
O saber que a prática docente espontânea ou quase espontânea , "desamada", indiscutivelmente produz é um saber ingênuo, um saber de experiência feito, a que falta rigorosidade metódica que caracteriza a rigorosidade epistemológica do sujeito. Este não é o saber que a rigorosidade do pensar procura [...] o indispensável pensar certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias dos professores que os iluminados intelectuais escrevem desde o centro do poder, mas, pelo contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o processo formador. [...] O de que se precisa é possibilitar , que, voltando-se sobre si mesma, através da reflexão sobre a prática , a curiosidade ingênua percebendo-se como tal , vá se tornando crítica. (p.43 ).
Salienta-se que o docente deve unir teoria e prática à luz da realidade de cada aluno, onde precisa repensar sobre sua profissão, reavaliando-a sempre e buscando melhorar reflexivamente suas práticas.
A partir disso, é relevante descrevermos como aconteceu todo o processo de formação do professor e de suas primeiras representações, principalmente caracterizando a importância de uma consolidação da prática e ação pedagógica crítica e reflexiva.
O OFÍCIO DE PROFESSOR: ELEMENTOS PARA UMA ANÁLISE A PARTIR DE SUA FORMACAO E DE SUA PRÁTICA
Um dos grandes problemas enfrentados na educação hoje, são os inúmeros docentes que na maioria das vezes não tiveram uma formação sólida, estruturada em práticas reflexivas e críticas. Alguns professores escolheram essa profissão por ser de fácil acesso, por isso, é comum encontrarmos docentes que não são comprometidos com sua práxis e/ou com a vivência diária na sala de aula. Demo (2002, p.87) diz que virou o curso mais barato e comum, refúgio dos desvalidos. Existem professores que quando se encontram dentro da sala de aula ficam totalmente "desencantados", alguns inclusive falam que é totalmente diferente daquilo que estudaram como cita Martinez apud Esteves (1999, p.44):
O professor vai constatar que a realidade do magistério não corresponde aos ideais que aprendeu durante seu período de formação, com os quais se compara ele mesmo e o compara boa parte da sociedade. Se ele havia identificado "a profissão docente" com as "relações pessoais entre professor-aluno" vai deparar com essas relações apenas se elas são possíveis nas atuais condições de trabalho que imperam nos centros docentes
Com uma visão bastante crítica sobre o processo de formação docente x processo crítico ?reflexivo - pesquisador, Arroyo (2008) descreve:
Sabemos por experiência de trabalho em escolas normais e em cursos de pedagogia como é difícil reunir os e as aprendizes de mestre em atividades extra-escolares em atividades culturais, em debates, em pesquisas e até em mobilizações políticas. Não há tempo, ( p. 130 )
A educação não se restringe apenas ao ato do ensino, mas busca compreender todos os sujeitos que a compõem e refletir sobre e na prática. A educação é um fenômeno complexo, porque é histórico, ou seja, é o produto do trabalho de seres humanos e, como tal, responde aos desafios que diferentes contextos políticos e sociais lhes colocam. (GHEDIN , 2002, p.32) Em sua docência, o professor precisa estar ciente de que o educando de hoje não é apenas o aluno, mas aquele que está informado sobre inúmeras notícias advindas de jornais, internet, outdoors e etc. É ciente que nas universidades, o processo de formação de professores ainda é insuficiente e reducionista, relacionado geralmente à analise crítica de conteúdos e teorias pedagógicas. Arroyo ( 2008 ), reforça quando diz que,
Os centros de formação afirmam conteúdos críticos, progressistas nas últimas décadas. Os futuros docentes saem com uma visão crítica da sociedade e do conhecimento, porém saem com uma socialização aprendida em estruturas, tempos, espaços, relações sociais que internalizam imagens culturais de escola e de magistério desencontradas dos conteúdos críticos. Os centros de formação tornaram-se ricos em análises críticas e continuam pobríssimos em vivências culturais, socializadoras de convívio, de trocas, de abertura à realidade social e à dinâmica cultural, ( p. 132 )
O professor reflexivo não se limita apenas em exercer sua docência por uma simples tarefa cotidiana e já rotineira, mas busca continuamente sua participação social e política, desenvolvendo atitudes que o possam ajudar em sua práxis pedagógica como na busca de políticas públicas. O docente precisa adquirir durante sua formação uma postura que viabilize pensamentos reflexivos. Ghedin ( 2005 ) afirma que,
A reflexão crítica não se refere só àquele tipo de meditação que podem fazer os docentes sobre suas práticas e as incertezas que estas lhe ocasiona, senão ademais " uma forma de crítica" que lhes permita analisar e questionar as estruturas institucionais em que trabalham. ( p. 138)
O professor quando parte para um processo de reflexão, é capaz de explicar melhor o sentido de suas práticas pedagógicas, assim como pensar nos limites e possibilidades de seu trabalho, constituindo questionamentos e principalmente mudanças. É necessário que o professor, então, procure ir além das quatro paredes da sala de aula e tentar problematizar, questionar, criticar . Ghedin (2002), aborda a idéia que,
Muitos professores tendem a limitar seu mundo de ação e de reflexão à aula. É necessário transcender os limites que se apresentam inscritos em seu trabalho, superando uma visão meramente técnica na qual os problemas se reduzem a como cumprir as metas que a instituição já tem fixadas. Esta tarefa requer a habilidade de problematizar as visões sobre a prática docente e suas circunstâncias, tanto sobre o papel dos professores como sobre sua função que cumpre a educação escolar . ( p. 137 ).
A formação de professores precisa continuamente ser destacada e pesquisada sob vários olhares, uma vez que precisa ser analisada sob diferentes aspectos, como o social, cultural, epistemológico. Dentro desse contexto, pode-se afirmar que além de ser um professor ? reflexivo tem que ser professor ? pesquisador, o qual produzirá conhecimentos e saberes sobre sua prática e competências. Neste sentido, Therriem (2002) afirma que,
O processo de formação deve assegurar o desenvolvimento dos hábitos de um autodisciplinamento que proporciona ao aprendiz docente ser um sujeito reflexivo, produto consciente dos saberes de sua prática, ou seja, um sujeito reflexivo que domina a complexidade de seu trabalho por meio da pesquisa como princípio científico e educativo. ( p. 113 ).
Grosso modo, podemos dizer que o professor precisa estar bem formado e sempre em formação, repensando a educação continuamente de forma dialógica e inovadora, por isso concordamos com Perrenoud ( 2002, p.18). quando diz que é preciso criar ambiente para o profissional trabalhar sobre si mesmo, trabalhar seus medos e suas emoções,onde seja incentivado o desenvolvimento da pessoa, de sua identidade.Perrenoud ( 2002, p.50), triangula essa idéia da seguinte maneira :
Seria absurdo esperar que uma formação inicial , por mais completa que fosse,pudesse antecipar todas as situações que um professor encontraria em algum momento do exercício de sua profissão e oferecer-lhe todos os conhecimentos e as competências que, algum dia, poderiam ser úteis a ele. Em diversos estágios,todos os professores são autodidatas, condenados, em parte, a aprender seu ofício na prática cotidiana.
O docente, então, deve ser formado e/ou preparado para ser um permanente construtor de pesquisa principalmente de sua prática, ou seja, as situações vão surgir todos os dias, novas experiências e conseqüentemente novas soluções e novos saberes que o docente terá que absorver. É nesse sentido que é destacada a formação desse docente por Freire (1996) quando relata que,
A formação dos professores e das professoras devia insistir na constituição deste saber necessário e que me faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social,e econômico em que vivemos. E ao saber teórico desta influência teríamos que junta o saber teórico ? prático da realidade concreta em que os professores trabalham. (p. 137 ).
Segundo Pimenta (2000), a formação dos professores na tendência reflexiva se configura como uma política do desenvolvimento pessoal ? profissional dos professores e das instituições escolares, uma vez que supõe condições de trabalho propiciadoras da formação continua dos professores. "A formação na prática reflexiva não é o único trunfo, mas é uma condição necessária. ( PERRENOUD, 2002,p.54).
Ainda focando a formação do professor, principalmente como gerador de um ensino importante para a qualidade da educação, temos:
A formação do professor é, então, parte importante, significativa e determinante do processo educativo de qualidade para que cada um possa reconhecer-se como pessoa e como educador, sujeito capaz, autônomo cognitiva e moralmente, e conquistar as condições mínimas para escolher, escolher para (re) construir, retomar e qualificar o vivido, como orientador, desafiador e mediador do seu processo de aprendizagem e do aluno. ( UEA, 2007. p.86)
É sabido da importância da prática reflexiva na docência como Schon , Ghedin, Garrido e outros autores estudaram e pesquisaram, entretanto, Contreras ( 2002,p.138), admoesta para a seguinte situação :
A imagem habitual da reflexão como uma prática individual e a demanda de que os professores devem refletir mais sobre sua prática, nos leva a supor que é neles que recairá a responsabilidade de resolver os problemas educativos.
É relevante enfatizar a ideia de um professor reflexivo, principalmente para mudar sua prática, no entanto, como Contreras afirmara acima, é preciso ter claro que isso não tem que ser desculpa para omitir outros problemas que não é de responsabilidade do professor, pois tudo pode ser banalizado à "culpa do professor"; que não reflete sobre sua prática, e é sobre essas etapas, principalmente das relações que a prática docente se dá no processo de ensino-aprendizagem que iremos abordar no tópico abaixo.
PRÁTICA DOCENTE E A RELAÇÃO COM O PROCESSO DE ENSINO ? APRENDIZAGEM
Quando falamos de prática docente, logo fazemos uma ligação ao processo de ensino ? aprendizagem, das maneiras de como isso se concretiza dentro do contexto da sala de aula. Hoje, esse campo de pesquisa avançou muito, onde se estuda criteriosamente cada detalhe desse processo. Sobretudo, muitos esquecem do educador, o sujeito que facilita a aprendizagem, apesar de sempre olharmos a educação como um processo interativo, vinculado à realidade de mundo e ao senso comum do aluno. Quando destacamos o processo de intermediação do ensino, nesse caso executado pelo professor, enfatizamos a importância de estudar a ação desse professor assim como suas práticas cotidianas. Pimenta (2000) contextualiza essa posição de como são caracterizadas algumas práticas docentes quando coloca:
Nas práticas docentes estão contidos elementos extremamente importantes, como a problematização, a intencionalidade para encontrar soluções, a experimentação metodológica, o enfrentamento das situações de ensino complexas, as tentativas mais radicais mais ricas e mais sugestivas de uma didática inovadora, que ainda não está configurada teoricamente (p. 27 ).
Para Libâneo (2001) o professor é um profissional cuja especificidade é a arte de ensinar. A formação inicial é um momento privilegiado para aprender um conjunto de habilidades, conhecimentos e requisitos que são essenciais para o exercício de sua função.
No contexto cotidiano da escola, é comum encontrarmos professores com metodologias diferentes e alguns com metodologias repassadas de ano em ano. Algumas práticas são decorrentes de causas que vão além de um olhar prematuro que muitas vezes temos, principalmente nos estágios. Com o decorrer do tempo, percebemos que a práxis desse docente é resultado de fatores que não são originados somente por ele, como também de diversos membros, como: escola, comunidade, família, sociedade em geral. É muito comum nos cursos de formação ouvirmos que a teoria na prática é diferente, e que o professor na verdade adota as metodologias que ele acha mais fácil e com menos esforço a ele. A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo. (FREIRE, 2004, p. 22). Paulo Freire sempre abordou o papel de ensinar do professor, pois exige muito mais que pensamos, onde desempenha um papel de pesquisa, crítica, consciência, respeito, bom senso, comprometimento, liberdade e outros. Freire (2004) destaca que,
A responsabilidade do professor, de que às vezes não nos damos conta, é sempre grande. A natureza mesma de sua prática eminentemente formadora, sublinha a maneira como a realiza. Sua presença na sala é de tal maneira exemplar que nenhum professor ou professora escapa ao juízo que dele ou dela fazem os alunos. ( p.65 ).
Fica evidente que a prática pedagógica do professor não é um conjunto de receitas, é uma prática social conscientemente desenvolvida, onde o mesmo precisa organizar-se, repensar e conhecer os sujeitos com quem está trabalhando. Em sua prática, o docente desenvolve habilidades pessoais, e adquiri capacidades de gestos, improvisação, estilos, disposições vivenciadas que tornam - se hábitos na e pela prática que ele executa.
Sabe-se, então, que a escola possui um papel importante no desenvolvimento da práxis pedagógica do professor; com isso, abaixo será mencionada a importância e relevância da escola como fator essencial para o entendimento dos processos sociais na prática docente.
O PROFESSOR E A ESCOLA : QUAL O PAPEL DA ESCOLA FRENTE ÀS QUESTOES COTIDIANAS DO PROFESSOR ?
Na escola são realizadas as práticas da docência. A escola possui algumas características e funções principalmente como organização social e também onde são canalizados ao professor seus planejamentos e orientações. Ela executa papéis que vai desde a deliberação das atividades rotineiras ao acompanhamento/ supervisão da atuação do docente. É na escola que aparecem as relações sociais entre professores e alunos, professores e pais, professores e comunidades.
A escola, como lugar social, deve ser pensada não somente como um reflexo de funcionamento da sociedade e da economia em si, mas principalmente deve ser vista como um ambiente de trabalho, onde seu principal foco é produzir conhecimentos, não apenas reproduzir. Ela construirá conhecimentos na medida em que possibilita recursos e relações com e ao professor.
Embora os professores utilizem diferentes saberes, essa utilização se dá em função de seu trabalho e das situações, condicionamentos e recursos ligados a esse trabalho. Isto significa que as relações com os saberes nunca são relações estritamente cognitivas: são mediadas pelo trabalho que lhes fornece princípios para enfrentar e solucionar as situações cotidianas. ( TARDIF,2002 p. 27 ).
A escola, longe de ser uma entidade neutra, possui cada vez mais acessibilidade para canalização de oportunidades, ou ao menos, da igualdade a todos dessas oportunidades. Sobretudo, os sujeitos da escola ? alunos, educadores ? possuem entre si vidas sociais diferentes, espaços divergentes, desenvolvimentos desiguais. Quanto à visão da escola como construtora de possibilidades, Candau (2008), diz que um dos grandes trunfos da legitimação dessa escola tem sido o seu papel de formadora de identidades, sejam individuais, sociais e, principalmente, culturais, e aí muito se tem pensado o que vem ser realmente uma escola justa, que tipo de políticas públicas e/ou compensatórias são evidenciadas para tornar o ensino mais coerente com a realidade e principalmente como destacar os principais sujeitos que a compõe : alunos e professores.
A respeito de Escola Justa, Dubet (2008) esclarece que a construção de uma escola mais justa exige alguma liberdade intelectual, porque supõe romper com a nostalgia de uma idade de ouro que nunca existiu na escola,que somente existiu para uma minoria.
Grosso modo, podemos identificar dentro do contexto educacional várias disparidades, onde se tem pregado bastante a liberdade intelectual como Dubet acima mencionou. A escola precisa dar condições ao professor, provendo os recursos didáticos necessários, instrumentos pedagógicos, condições de trabalho e principalmente liberdade intelectual para os mesmo executarem suas atividades sem muitas dificuldades e principalmente com autonomia. Campos ( 2007, p.97) afirma que:
A escola como instituição social pode assumir uma postura emancipadora se no seu projeto pedagógico e simultaneamente instituir na prática pedagógica dos docentes a intencionalidade de promover a formação de sujeitos históricos que possam construir sua autonomia.
Ainda falando sobre a escola, podemos dizer que o mundo dos alunos cresceu mais depressa que a escola. O professor, quando chega em sala de aula, percebe que os alunos trazem conhecimentos adquiridos fora externamente , aliás, os próprios alunos percebem que a escola não é o único lugar o qual eles recebem o saber, mas sim uma parte .Alguns autores dizem que temos uma criança nova para uma escola velha. A relação que fazemos entre o professor e a escola é que, na medida que ela possibilita essa consistência da realidade do aluno ela facilita em certa medida a prática do docente. Em linhas gerais, a escola não deve se manter neutra, mas em conjunto com o professor estabelecer pontes com o aluno, gerando melhor relação entre educador e educando.
PRINCIPAIS DIFICULDADES ENCONTRADAS PELO PROFESSOR: UM OLHAR A PARTIR DE SUA PRÁTICA NA ESCOLA.
Condições de Trabalho
Muito se vem discutindo sobre as condições de trabalho do professor, ou seja, as circunstancias sobre as quais os docentes se mobilizam para executarem suas inúmeras capacidades. Alguns aspectos podemos descrever quanto às condições de trabalho do professor, como: Má estrutura da sala de aula, a lotação das turmas, o excesso de atividades extras que geralmente são inúmeras, a carga de trabalho, os baixos ?salários, as tensões, a sobrecarga mental e cobranças da escola e dos pais, e além disso, têm que lidar com problemas que envolvem drogas, prostituição, violência , dentre outros.
Os docentes possuem sempre inúmeras atividades, que nos remete a pensar como operários que devem cumprir uma rotina, e de forma mecânica chegar a um resultado final. Reforçando essa idéia, Tardif ( 2005, p.82) fala que:
Os professores se aproximam mais de um grupo de operários ou de técnicos do que de uma verdadeira profissão: como os operários ou técnicos, eles trabalham na linha de fogo da produção e são eles que garantem o essencial das tarefas cotidianas mais importantes da organização; mas, como os operários e os técnicos , os professores participam pouco da gestão e do controle da organizam na qual trabalham.
O Salário do professor
A desvalorização salarial do profissional do ensino é gritante, muitos descrevem isso, como principal aspecto de sua desmotivação, hoje em níveis muito alto. O salário dos professores ainda merece muitas discussões e debates. Quanto a essa questão, discutida entre os cursos de formação, fica claro que o professor realmente não ficará rico nessa profissão, entretanto, o que a maioria dos docentes quer é um salário digno, que os faça estarem em um ambiente melhor, em possuírem melhor bem-estar. O professor, hoje se quiser possuir uma renda extra, terá que se desdobrar em vários turnos, e, isso o prejudicará, tanto em sua qualidade de vida quanto na qualidade de seu ensino. Infelizmente, as políticas públicas atribuídas a essa problemática são poucas, o que nos faz refletir sobre que investimentos realmente se têm feito na educação; muitos deles são em infra-estrutura, em viadutos, em pontes, isso tudo é importante, contudo, a educação vem se "mantendo" como um investimento de rotina sem muito a se desenvolver (aumentar), e com isso os professores também são esquecidos, ficando na mesma situação cada vez mais doentes. Quanto aos salários dos professores, Wangberg apud Esteves ( 1999, p.4-35) diz que,
Em todos os paises do ocidente europeu, Canadá e Estados Unidos, os profissionais de ensino, têm níveis de retribuição sensivelmente inferiores aos de outros profissionais com a mesma situação. Esse fator, que em si mesmo não teria grande importância , contribui como um elemento a mais a constituir-se em prol do mal-estar do educador, sobretudo quando o professor o associa com o aumento das exigências e responsabilidades que se lhe pedem em seu trabalho.
A associação do problema de salário do professor com o seu mal-estar é claro em Esteves ( 1999, p. 144), quando relaciona a falta de valorização com a implicação de um mal estar. "O mal estar docente é uma doença social produzida pela falta de apoio da sociedade aos professores, tanto no terreno dos objetivos do ensino como no das recompensas materiais e no reconhecimento do status que lhe atribui".
A respeito do problema da desvalorização do profissional da educação, Lisboa & Koller ( 2004, p.204) colocam que :
No Brasil, atualmente, são observados índices cada vez mais medíocres de desempenho em aprendizagem e políticas públicas e econômicas que, apesar dos resultados alarmantes, desvalorizam a educação. Essa desvalorização reflete-se, fundamentalmente , na baixa renumeração e na falta de apoio para o aperfeiçoamento dos professores. Consequentemente, professores brasileiros encontram-se cada vez mais desmotivados e despreparados para lidarem com o cotidiano funcional, favorecendo, então o risco e pouco investindo na prevenção de problemas na escola.
O tamanho das turmas
O governo propaga continuamente que todos têm direito à educação, e realmente, nos últimos anos, é notório o aumento dos alunos principalmente nas escolas públicas. Entretanto, as escolas e os professores não aumentaram proporcionalmente, fato que fez com que a quantidade de alunos por professor aumentasse. Poderíamos destacar que, quando menor a média de alunos por professor, melhor é o ensino, uma vez que o professor terá menos desgaste físico e emocional. O que destacaríamos também é que, além do número grande de alunos nas salas de aulas, a diversidade desses sujeitos seja a maior complexidade, principalmente, quando se trata de alunos com dificuldades de aprendizagem ou com necessidades educativas especiais, pois tais alunos exigem do professor um maior cuidado e atenção. Com o advento da inclusão, algumas escolas apenas colocaram esses alunos nas salas de aula.
A jornada de trabalho do professor
O professor não é um profissional que apenas executa suas funções em seu campo de trabalho, no caso na sala de aula. Ao contrário disso, o mesmo é responsável por várias atividades que o deixam como uma jornada de trabalho bem atípica.
Dependendo do professor, a logística de locomoção desse profissional ao seu posto de trabalho pode ser bastante estressante caso dependa de transporte público. Muitos deles moram muito longe e sofrem com o trânsito cada vez mais longo. Com isso, o mesmo tem que acordar cedo para ir ao seu trabalho, contudo, o que se distingui nesse aspecto a profissão da docência de outras profissões é que o professor tem que ser o primeiro a chegar a seu trabalho, existem alunos que o esperam para iniciar o dia letivo. Geralmente, os professores ao chegarem no ambiente da escola, ficam em contato com os outros profissionais ou preparando seu material para início da aula. A rotina de trabalho do professor se torna um ciclo de atividades repetidas e estabelecidas.
A respeito da rotina do trabalho, Tardif ( 2005,p. 168) menciona que,
Ensinar, de certo modo, é fazer sempre a mesma coisa, todos os dias, durante 25,30 ou 35 anos. Em suma, trata-se de um trabalho muito rotineiro, apesar da presença importante do elemento humano e das variações contínuas que ele introduz necessariamente nas situações de trabalho. Esta dimensão rotineira acarreta uma tensão interna, na medida que ela recorre situações, pessoas e eventos que transformam dinamicamente. Levada ao limite, a rotinização do trabalho se fossiliza em formas padronizadas de ação, em comportamentos repetitivos, atitudes formais, gestos mecânicos.
O professor e suas inúmeras tarefas
Não poderíamos falar sobre condições de trabalho do professor sem mencionar suas inúmeras atividades, que não se limitam apenas a sala de aula, talvez essa seja uma das menores. Entretanto, outras atividades complementam a carga horária do docente, muitas vezes incólume pela sociedade e dia sem importância. Encontramos em Esteves( 1999, p.59) algumas atividades que o professores tem que obrigatoriamente executar.
O professor está sobrecarregado de trabalho, obrigando-se a realizar uma atividade fragmentária, na qual deve lutar, simultaneamente, e em frentes distintas: deve manter a disciplina suficiente , mas ser simpático e afetuoso,; deve atender individualmente as crianças sobressalentes que queiram ir mais depressa, mas também aos mais lerdos, que têm que ir mais devagar; deve cuidar do ambiente da sala de aula, programar, avaliar, orientar, receber os pais e coloca-los a par dos progressos de seus filhos, organizar diversas atividades para o centro atender freqüentemente a problemas burocráticos..., a lista de exigências parece não ter fim.
Citaremos abaixo aleatoriamente alguns mais presentes na realidade escolar conforme Esteves mostrou acima.
A preparação das aulas: O professor precisa antes de sua ida à sala ?de ? aula promover seu planejamento, de certo que isso já faça parte de sua profissão e formação. Outrossim, é notável o destaque que isso toma bastante tempo, e aí surge a preocupação com a diversidade de alunos que o mesmo possui dentro de seu ambiente de sala de aula. Nesse aspecto, o professor precisa sempre replanejar, tomar outras ações, buscar novas metodologias, e principalmente checar se aquilo que ele está planejamento e aplicando, está trazendo bons resultados para a classe toda em si. Toda essa análise e reflexão demanda horas e horas .
As reuniões com os pais : O professor precisa dar continuamente folow-up para os pais de seus alunos sobre a vida escolar dos mesmos. O que gera mais inquietação no professor é a maneira como esses pais exigem uma solução imediata, ou então, uma atenção dobrada para seus respectivos filhos. O que os pais não percebem é que não existe apenas um aluno dentro da sala de aula , mas uma cadeia de outros que às vezes estão na mesma situação precisando dos mesmos cuidados. Todos os pais querem que o professor priorize seu filho, e que o mesmo faça certo "milagre". Muitas vezes, os pais culpam os professores pelo fracasso escolar de seus filhos, continuamente abordando a ideia que o professor não sabe ensinar.
É interessante constatar que nas pautas de reuniões dos coletivos das escolas não entram questões sobre os conteúdos ensinados. Isso fica por conta de cada professor(a) ou do coletivo de cada área. As questões postas e debatidas em comum se referem ao como, a organização da escola, dos processos escolares, dos tempos e espaços, das provas e das cargas horárias, dos rituais comuns, das normas e dos para-casa... Todas questões sobre o como se convive na escola,sobre as concretas formas de organizar o cotidiano de nossa docência"( ARROYO :2008, p.111)
Conforme comentado por Arroyo nas reuniões com pais e com a escola, os assuntos mais debatidos e tomados como mais importantes geralmente são aqueles voltados aos interesses comuns da comunidade e não do professor, as práticas e suas dificuldades não são relevantes nem contextualizadas nesses encontros.
As avaliações : Atividade obrigatória dada ao professor, a avaliação requer do professor vários cuidados, onde não pode generalizar o desempenho de seus alunos, cada aluno possui uma lógica, uma subjetividade que precisa ser respeitada e analisada. A correção tantos das provas e trabalhos da sala de aula não são feitas em sua maioria na sala de aula, mas fora do horário de aula. O que se questiona não é o fato do avaliar uma vez que sobre essa questão existe uma discurso e estudo muito amplo .Pretendemos descrever é que a escola não menciona que o tempo gasto por esse docente na correção é extra , não fazendo parte de sua carga horária.
O professor hoje, precisa estar ciente de sua obrigação quase que forçada a ter que aprovar os alunos, uma vez que alunos que repetem a mesma seriação geram custo, e isso para a escola é despesa sem retorno. Trata-se de uma pressão que o professor sofre sempre que entrega seus diários à secretária, é tido como um professor que não possui critérios de avaliação, fazendo que na maioria das vezes faça uma avaliação complementar para os alunos que não conseguiram o conceito estabelecido.
Relação professor ?aluno, professor ? professor :
A relação professor ? aluno se constrói constantemente em uma interação bastante presente no cotidiano da prática diária. Contudo, o que queremos abordar trata-se de especificidades que o professor enfrenta nessas relações.
Algumas delas são evidenciadas, outras, porém, o professor prefere até mesmo omitir para evitar complicações. Um dos principais traços que o professor sofre nessas relações são as constantes ameaças, as violências surgidas na própria sala de aula, principalmente em escolas de bairros mais violentos. O medo do professor muitas vezes o constrange em avaliar alguns alunos, onde nos bairros mais periféricos a violência é mais constante.
ALGUMAS IMPLICAÇÕES CAUSADAS AO PROFESSOR EM SUAS DIFICULDADES NA DOCÊNCIA.
O ofício de ser professor é mais complexo do que pensamos. O professor na verdade, trabalha com e para os seres humanos, e se esforça para cumprir suas inúmeras tarefas tanto de socializar quanto de ensinar os alunos.Pretende-se mostrar abaixo algumas das principais dificuldades que no decorrer da prática da profissão docente são percebidas, e como as mesmas podem influenciar a qualidade do ensino. De acordo com Trias apud Facci ( 2005, p.30), "alguns fatores afetam a eficiência da prática do professor na medida em que diminuem sua motivação, gerando sentimentos de impotência e influem na imagem que o professor tem de si mesmo e de seu trabalho profissional". Eis alguns deles:
Estresse : Professores estressados, alunos desmotivados.
Comumente podemos perceber o estresse quando contemplamos alterações nas atividades de cada pessoa. Tais alterações engendram atitudes muitas vezes impensadas, práticas que não são habitualmente corretas. Por suas características e natureza, a profissão de professor é bastante estressante, uma vez que suas atividades se caracterizam por muitos esforços, que gera cansaço ? fato que também faz com que suas aulas sejam mais cansativas. O estresse do professor hoje já é bastante discutido em muitas escolas ou por estudiosos que abordam a temática da prática docente, e nessa mesma linha de questionamento, nascem algumas inquietudes : Que implicações o estresse do professor pode gerar no processo de ensino-aprendizagem ? Suas práticas irão seguir fluentemente? Como se dará o cumprimento de seu planejamento se seus excessos de responsabilidades e tarefas o levam a uma carga de estresse ?
Segundo Lipp (2002), o estresse "é uma reação do organismo com componentes psicológicos, físicos, mentais e hormonais que ocorre quando surge a necessidade de uma adaptação grande a um evento ou situação de importância. Ser professor é uma das profissões mais estressantes da atualidade.
Augusto Cury ( 2003, p.62), mostra o resultado de uma pesquisa do Instituo Academia de Inteligência, onde na Espanha, 80 % dos professores estão estressados. Na Inglaterra, o governo está tendo dificuldades de formar professores, principalmente de ensino fundamental e médio , porque poucos querem esta profissão. De acordo com o Instituto, no Brasil, 92% dos professores estão com três ou mais sintomas de estresse e 41% com dez ou mais.
Podemos dar veracidade a isso geralmente por encontrar professores com jornadas de trabalhos muito longas, muitas vezes sem pausas e com precárias refeições, uma vez que muitos deles precisam se locomover de uma escola para outra com transporte público e não há tempo para descanso e uma boa alimentação, sem falar que os mesmos têm que lidar com outras situações como : a gravidez precoce, as drogas, a violência, as metas do Ministério da Cultura e Educação em que se não deve reprovar ninguém, e se o professor não souber enfrentar tais situações em conjunto com a direção da escola, passará a sofrer pressões e ameaças , além de perder o controle sobre os alunos na sala de aula.
Quanto às principais fontes que caracterizam o estresse do professor, Cruz( 1990), apontas os seguintes" o demasiado trabalho para fazer, as turmas difíceis., nível de barulho bastante elevado, alunos poucos motivados, salário inadequado dos alunos, formação inadequada, más condições de trabalho, pressão de tempo".
O professor quando está com as dificuldades citadas não se sente confortável em sua sala de aula. Isso é percebido durante os estágios, uma vez que eles encontram "ajuda", e acabam dividindo algumas tarefas. Percebe-se que a maioria deles reclama de fortes dores de cabeça, uma vez que os alunos principalmente do maternal e dos anos iniciais gritam muito, interagem mais, e para "acalmar" a turma, o professor executa algumas atividades de brincadeiras que geralmente não estão contempladas no dia em seu planejamento. Esses déficits nos conteúdos com certeza prejudicam o processo de ensino ?aprendizagem, não que sejamos conteudistas, mas acreditamos que existe um conhecimento que precisa ser repassado a esses alunos e os mesmos muitas vezes não são cumpridos pelas dificuldades que o professor enfrenta dentro do contexto da sala de aula. Os professores, então, desgastados profissionalmente, sentem-se totalmente insatisfeitos com seu trabalho , desenvolvem de forma ineficaz o desenvolvimento de sua prática. .O Estresse , então, podemos considerar que é uma doença da vida moderna totalmente ligada a fatores psicológicos e sociais.
Ainda para Lipp (2002), o trabalho realizado dentro das salas de aula e nos intervalos sobrecarrega os professores, sendo que a raiva e a frustração são sentimentos que interferem desfavoravelmente na saúde física e mental dos mesmos.
Grosso modo, podemos afirmar que o estresse profissional , mais conhecido como a síndrome de Burnout , é muito sério, uma vez que traz tensões ao professor, prejudicando não só a ele, mas aos alunos também. A Síndrome de Burnout é causada por circunstâncias relativas às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, comportamentais, afetivos e cognitivos. Hoje, a síndrome de Burnout tem sido analisada com maior constância entre professores do que entre outros grupos, o que parece indicar que o trabalho docente seja aquele onde há mais desenvolvimento.
Alto índice de absenteísmo
Conforme mencionado acima, o excesso de atividades gerado pela multiplicidade de funções que o professor precisa executar, gera tensões, estresse, ansiedade, preocupações, problemas emocionais e outros que acabam produzindo uma série de problemas de saúde, tanto físico, quanto emocional. Nessa situação, o professor é obrigado a ficar de licença médica, ou então, sair continuamente mais cedo, pois geralmente, sente dores de cabeças, febres e mal-estar. Outrossim, o absenteísmo é muitas das vezes uma forma de escapar das tensões geralmente acumuladas.
O processo de ensino-aprendizagem conseqüente sofre por essas situações, onde geralmente o professor que irá substituir esse doente não acompanhou o ritmo que os alunos estão tendo, muitas vezes não seguindo uma seqüência lógica dos conteúdos, isso quando os alunos não são liberados sem aula. Certo do grande problema que o absenteísmo pode gerar no processo de ensino-aprendizagem, Esteves ( 1999, p.63 -70), entende o absenteísmo da seguinte maneira:
Forma de buscar um alívio que permita ao professor escapar momentaneamente das tensões acumuladas em seu trabalho ...tem relação com os ciclos de estresse identificados ao longo do ano escolar ... o absenteísmo tem como última opção um gesto de sinceridade: o abandono real da profissão docente.
O professor e sua voz
Na profissão docente, a voz é fator relevante para o desempenho profissional e a atuação do professor em sala de aula, especialmente enquanto componente constitutivo da identidade do professor como trabalhador, do impacto do docente sobre o discente e componente do processo ensino-aprendizagem (Penteado, 2003; Penteado e Bicudo-Pereira, 2003; Grillo, 2004).
O ritmo da sala de aula, as turmas lotadas, a diversidade de alunos encontrados em um mesmo espaço tornam o ambiente mais propício a barulhos, podendo causar distúrbios na voz do professor. A atividade de docência requer do professor uma utilização de sua voz constante uma vez que esse é o seu principal instrumento de trabalho . Falando sobre essa relação da voz com a prática do professor, Nuppi apud Braz ( 2006, p.15 ) aborda que ,
... a voz pode ser um caminho para falar da construção de conhecimentos, possibilitar novos aprendizados; pode oferecer subsídios que indiquem a concepção de ciência que permeia à prática do professor, entre outras variáveis ligadas à educação. .
A voz é o instrumento mais importante do professor para execução de suas atividades de docência, uma vez que ela se faz presente nos processos de socialização. O que percebemos nos professores é a presença contínua do grito ou do mau uso da voz, uma vez que para ele é uma das maneiras de colocar ordem na sala. Sobretudo, tal prática gera no docente um cansaço vocal que não é assistido, a escola não possibilita a esse professor um acompanhamento de tais implicações uma vez que esse tipo de comportamento do professor é típico de sua profissão.
Com base no que fora exposto em todos os tópicos, é notória a importância da boa qualidade de vida do professor para que o processo de ensino aprendizagem seja realmente consolidado dentro de uma perspectiva daquilo que foi planejado para o processo de ensino. O trabalho docente, as práticas e ações pedagógicas, a relação escola ? professor, precisam estar melhores esclarecidas e registradas, para que então, se promova as devidas correções no processo de ensino ? aprendizagem. Sabemos que o fracasso escolar não deve ser visto ou representado apenas sob a égide do instrumento chamado professor, contudo, é importante colocar que com um professor desmotivado, doente, sem condições de trabalho, com turmas lotadas e sem qualquer apoio pedagógico, eleva as possibilidades desse aluno fracassar, resultando em um processo de ensinar e aprender insuficiente e insatisfatório.
RESULTADOS OBTIDOS NA PESQUISA
Pesquisar sobre o tema da qualidade de vida da docência nos remete sempre a perceber o seu sujeito principal - o professor - não como um profissional passivo, que não possui reflexão e ação pedagógica eficaz, mas alguém que tem elementos que prejudicam sua prática e que afetam de certa maneira o outro sujeito desse processo, o aluno .O que a maioria das pesquisas hoje propõe, é desmistificar a idéia de responsabilidade total do professor, uma vez que na ciência comum, o mesmo deve assumir todas as funções que dizem respeito ao processo de ensino ? aprendizagem. Contrariamente a isso, o que analisaremos, é que na verdade o professor possui também limites e em alguns casos peculiaridades profissionais que precisam ser mostradas, evidenciadas e, sobretudo, postas à sociedade para melhor compreensão e noção dessa cadeia de atividades que geralmente são impostas, em uma relação de poder e injustiça.
Como parte metodológica, pretendeu-se abranger um número mais coerente e mais próximo da realidade, o que fez com que procurássemos um número maior de professores para realização da pesquisa. Participaram da pesquisa 11 ( onze ) professoras da escola - uma amostra relevante, pois equivale a 60 % do quadro de docentes da escola. Os professores que faltaram não participaram da pesquisa devido a algumas atividades de final de ano que os impossibilitavam de dedicar um tempo para a pesquisa.
Durante as observações da pesquisa, algumas inquietudes começaram a surgir, principalmente na prática docente e na percepção do professor como sujeito de seu processo e investigador também. Os principais tópicos que abordamos para consolidação da pesquisa, foram: Trabalho docente, onde procuramos à luz também de uma literatura científica, evidenciar as características que norteiam esse processo, e então, compreende-los em seus universos de particularidades, como : prática docente, relação professor ? professor, professor ? aluno, o gestor como articulador, a carga horária do trabalho, as inúmeras atividades. Outro tópico abordado fora a respeito da saúde do professor, e aí focamos o estresse / síndrome de burnout, a voz do professor, as licenças médicas. No final, finalizamos com o que os docentes consideram como ter uma boa qualidade de vida. Todos esses pontos, nos levam a um olhar especial para a vida desse profissional, onde procurou-se entender não apenas a vida na escola , o que banalizaria o trabalho docente e o reduziria a um trabalho "comum". Contudo, ao termos a sensibilidade de focarmos a externalidade desse processo, a égide dessas atividades, entenderemos que tudo conduz e canaliza a uma relação de dificuldades, e aí percebemos que a má qualidade de vida que esse docente possui, influi totalmente no desenvolver de sua atividade diária, principalmente na sala de aula com os alunos.
Nesse contexto, sumarizaremos com o desenvolver das seguintes abordagens : O trabalho docente, o professor e a escola, o professor e sua saúde e seu entendimento sobre o que é ter uma boa qualidade de vida.
Quanto ao trabalho de professor: Revela que a média de trabalho dos professores na escola pesquisada é de 6,8 horas diárias. Reis ( 2006), mostra em uma pesquisa a Rede Municipal de Vitória da conquista, uma carga diária média de 7,6Hs, bem próxima à realidade de Manaus.
Como vimos no quadro acima, os professores têm uma média de trabalho praticamente igual a de qualquer profissional. Na pesquisa, apenas 1 (um) professor trabalha o dia inteiro, com 12 horas cheias. Entretanto, nas observações na sala de aula, percebe-se o esforço duplicado do professor, onde o mesmo precisa executar tarefas concomitantes. Contudo, outro fator importante bem focado durante a pesquisa, é que o professor apesar de ter uma média de trabalho "normal", o mesmo possui atividades extras que geralmente, se dão fora da sala de aula, habitualmente em sua casa ou nos intervalos de um turno para outro. O professor executa as atividades de planejamento, correção de provas, coloca os pareceres de cada aluno, responde relatórios, monta as atividades práticas, elabora materiais didáticos para sua aula. Na escola, a maioria dos professores executa as suas atividades durante o período da noite, em média 2 ( duas) horas. Ou seja, se formos realmente somatizar o trabalho do professor, ele tem atividades que não são oneradas ao Estado, mas que o mesmo executa principalmente porque são muitos cobrados e precisam alcançar as metas e aos resultados esperados pela escola. Igualmente, o que é mais preocupante é o trabalho noturno, onde o mesmo tinha que descansar, mas não consegue isso, elevando a sua má qualidade de vida, principalmente porque pela manhã, os mesmos sentem sonolência e não conseguem executar normalmente suas atividades, fragmentando o processo. Se compararmos com outra profissão, as atividades se dão no próprio horário do trabalho, muito diferente do professor que as executa na escola e fora da escola. A seguir, mostraremos a relação principalmente da escola, e aí nos voltamos principalmente para a figura do gestor, que deve sim ser o articulador no desenvolver de melhorias nas relações escolares e no trabalho do educador.
A escola e o professor - O que pretendemos mostrar nesse tópico, é que a escola possui um papel importante para melhorar as condições de trabalho do professor. A escola, como uma empresa, também engendra resultados e precisa-os até mesmo para mostrar à sociedade e ao Estado a "produtividade" desse processo. Entretanto, nas empresas, principalmente as industriárias, as condições de trabalho são obrigatoriamente melhoradas, em um conceito de KAIZEN , onde seus profissionais necessitam de bons ambientes para desempenhar um bom papel e consequentemente gerar lucros à empresa. Quando fazemos tal analogia, não queremos necessariamente demonstrar dois universos diferentes, mas queremos fortalecer a visão de que o professor e a escola precisam estar mais integrados e ligados. Durante a pesquisa, a grande dúvida surgida fora se realmente os professores possuem liberdade para se expressarem, ou então, se ficam à vontade para falarem de suas principais dificuldades para a gestora e a pedagoga da escola. Dos onze professores pesquisados, tivemos o seguinte resultado:
Notamos no gráfico acima, que os professores possuem sim essa abertura de falar de sua prática para os gestores da escola. Quando observamos nas salas de aula e nas conversas informais, alguns professores geralmente reclamam dizendo que "não possuem a vivência as sala de aula, e por isso não se preocupam, nem tampouco os compreendem". Abaixo, segue uma fala de uma das professoras entrevistadas:
"Dificuldades profissionais sim, apesar de sentir receio, pois para elas que estão for a da sala de aula, tudo é fácil, pois elas estão distante da realidade da sala de aula e se tornam incompreensivas e ditadoras. ( PROFESSORA "A")
A fala acima demonstra apesar do resultado geral dessa relação, um pouco de afastamento entre a escola com o professor O gestor da escola possui um papel importante para melhorar essas condições de trabalho ao professor, e tentar otimizar a relação professor- aluno, professor ?professor e outras relações estabelecidas dentro do ambiente escolar. Deve-se, portanto, estabelecer prioridades, e essas só podem ser destacadas se o mesmo observar dentro da escola , os principais gargalos do processo educativo. Quanto ao papel do gestor, assim como o mesmo deve atuar nesse contexto e relações, Lucchesi ( 2003, P.113), indica que,
... o diretor foge desse papel importante que se constrói no contato com os alunos e professores, priorizando coisas corriqueiras, como a grade da janela, o prego que caiu, a lâmpada queimada...,perdendo-se que talvez seria o aspecto mais importante de sua missão : a questão disciplinar, que não se reume no adestramento, mas constitui um instrumento importante privilegiado para ajudar o aluno a enfrentar a vida de formar a construir-se..
O gestor precisa direcionar mais seu olhar para os processos que envolvem os sujeitos da educação : alunos, professores. Nas principais observações na escola, verificamos que os mesmos cobram apenas, com o intuito de manter a qualidade da escola frente à sociedade. "Falta a certos diretores habilidades para canalizar e reordenar as forcas emergentes no cotidiano escolar". ( LUCCHESI, 2003, p.102).
A relação professor ? professor também foi considerada importante nessa pesquisa e que precisa ser melhor revelada. Os conflitos são inevitáveis , e até comuns, sobretudo, o que não podemos deixar de comentar é que o professor, quando tem muitos conflitos, principalmente com os outros professores, isso o faz ficar sozinho nesse processo, e essa relação de parceria é necessária para melhorar tais processos de ensino. Na escola, principalmente, quando conversamos com alguns professores, nitidamente verificamos problemas. Na pesquisa, solicitamos que os professores falassem sobre essa relação. O resultado demonstrou que :
Surgem a partir desse gráfico, algumas perguntas: Como o professor reclama tanto de outros professores, se os mesmos possuem, como mostrou abaixo, uma boa relação professor ? professor ? Como a escola pode atuar também se os mesmos verbalmente dizem uma coisa, mas formalmente mostram o contrário ? O que percebemos muitas das vezes é falta de clareza, e isso engendra processos e relações deficientes produzidas pelo próprio professor. Isso implica dizer que, se o professor não trabalha em grupo, suas atividades se tornam muitos individuais e cansativas, o que aumenta de certa forma suas sobrecarga de trabalho, uma vez a individualidade traz tensão, desconfiança, estresse, dentre outros. Arroyo ( 2008, P.64) quando discuti essas cadeias de relações, nos direciona que,
...condições que impedem ou permitem essas aprendizagens são materiais, mas também são de estrutura, de organização e de clima humano ou de relações sociais, humanas, culturais.Podemos ter escolas em boas condições físicas, equipadas, salários e condições de trabalho razoáveis e faltar clima humano.Porque as relações entre professores e com a direção, entre educandos sejam distantes, formais, frias, distanciadas, coisificadas ou burocratizadas.
Quanto à relação aluno ? alunos, constatamos que 100 % afirmam que possuem uma relação muito boa com os alunos, e que amam ser professores, 91 % deles não sofreram quaisquer tipo de agressão física dos alunos. Em contrapartida, não fora esse otimismo que tivemos quando falamos de professor - aluno em outra pergunta que fizemos aos professores.
Quando abordamos a seguinte questão: Quais as principais dificuldades que você enfrenta na sala de aula? Constatamos que para os professores, o aluno, é a principal dificuldade, conforme pode ser visualizado no gráfico abaixo :
O aluno, na verdade, é o principal problema que os professores mencionam em suas respostas. Se de um lado, os mesmos falam que a relação com os alunos é muito boa, agradável. Por outro, falam que o aluno estressa-os, que os alunos não tem disciplina, que fazem muito barulho e que geralmente possuem baixos rendimentos e não prestam atenção nas aulas. A seguir, são visualizadas as principais características desse aluno problemático:
A indisciplina do aluno para o professor, é então, a principalmente dificuldade que o mesmo enfrenta durante sua prática seguido pelo baixo rendimento. Será que esse baixo rendimento na verdade é só problema do aluno ? Quais os aspectos que o professor contribui para essa deficiência? Isso na verdade não é fruto da má qualidade de vida do professor? Em outra pergunta, solicitamos que os mesmos abordassem quais os fatores que eles consideravam mais relevante paro o surgimento do estresse do professor. Os mesmos afirmaram que:
Como é pontualmente destacado, os principais problemas são: a falta de responsabilidade dos pais, a indisciplina dos alunos, assim como o baixo rendimento deles, essas são as causas mais relevantes para que os mesmo fiquem estressado segundo os professores pesquisados. O foco do professor é o aluno. Mas, será que realmente o professor sabe estabelecer e mencionar esse problema? As condições de trabalho geralmente não são evidenciadas nas respostas dos professores. O professor centraliza seus problemas no aluno. A reflexão que deve ser feita é: Será que os desgaste físico e mental, ocasionados pelas exigências contínuas desta profissão trazem impactos em termos de bem estar e saúde, elevando assim as possibilidades desse profissional "culpar"o aluno ?
Diante disso, nos perguntamos se não houve problemas durante a formação do docente. Perrenoud ( 2002, p.104), quanto a isso, defenda da seguinte maneira :
... a formação de "profissionais reflexivos" deve se tornar um objetivo explícito e prioritário em um currículo de formação dos professores; em vez de ser apenas uma familiarização com a futura prática,a experiência poderia, desde a formação inicial, assumir a forma simultânea de uma prática "real" e reflexiva..
Será que a Universidade está realmente formando esse profissional para o exercício e entendimento das relações com o aluno. Será que os conteúdos ensinados na universidade não são teoricamente fora da realidade desse professor, precisando o curso de formação abordar mais essas relações cotidianas e tentar esclarecer melhor. A universidade constitui-se com um espaço de problematizacão, questionamento ( CAMPOS, 2007, p.32).O que mais claramente é posto, são as deficiências que esse profissional tem de sua prática. O aluno não é um alguém neutro nesse processo e nem tampouco deve ser tratado fora à parte dessa problemática, mas o que notamos é que ele é o foco mais forte e presente nas discussões. "As relações que se estabelecem entre o professor e aluno são síncreses e sínteses que se constroem na vivência de troca de experiências, de confrontos, de conflitos e reciprocidade.( Ibid, p.39)
O professor e sua saúde ?. A repercussão da má qualidade de vida do professor, gerado pelos contínuos problemas em sua saúde refletem totalmente em sua prática na sala de aula. O que queríamos abordar com os professores inicialmente é se os mesmos possuem problemas em sua voz, e se percebem que o estresse está mais presente do que eles imaginam. Na verdade, queríamos que os mesmos começassem a pensar mais sobre sua saúde. Quando perguntamos à secretária da escola, quantas licenças médicas registradas no livro de ocorrências, sobre os professores e os motivos, a mesma afirmou que eram poucas, geralmente não ligados ao quotidiano dos professores, mas sim a outros tipos de doenças. Quando conversamos com alguns professores, notamos que existiam professores afastados por estresse e havia uma outra professora readaptada devido depressão, que a afetou muito, impossibilitando de exercer a docência. Nesse ponto, corroboramos a pontualidade que essa dinâmica escolar, onde apresenta sobreesforco, desvalorização, impactando diretamente na execução da atividade docente. Aos que participaram da pesquisa, perguntamos se os mesmos tinham se afastado por motivo de saúde, os mesmos responderam que:
Muitos professores afirmaram que preferem ficar doentes a faltar, uma vez que se faltarem independente de suas doenças, os mesmos terão que repor essa aula. A análise que fazemos é que esse "presenteísmo ", gera uma pseudo ? presença do professor na sala de aula, que geralmente dá atividades que não requerem o esforço do professor e isso influencia e/ou prejudica o processo de ensino- aprendizagem dos alunos. Talvez por isso, então, é que os professores consideram o aluno como principal fator que gera seu estresse e aspecto "desmotivador", isso porque naquele contexto que o professor não está bem, o principal sujeito que está à sua frente é o aluno. E aí repensamos : Os contextos quotidianos da escola , como o professor doente mas dentro da sala de aula, produzem a configuração de aluno que não "respeita"o professor, ou "aluno inquieto", ou "aluno sem rendimento". Essas expressões condicionam a um processo deficiente no processo de ensino ? aprendizagem, totalmente influenciado pela má qualidade de vida do professor.
Quanto abordamos a respeito do estresse, perguntamos aos mesmos se eles percebem o estresse como uma doença que causa absenteísmo, e que produz elevados afastamentos e problemas na sala de aula, 73 % dos professores disseram que sim , que tem ciência disso. Mas, como os mesmos podem minimizar o estresse ? Que tipo de programa a escola pode fazer ? Será se realmente o estresse é uma doença que acompanha o professor e tem que ser considerado normal nessa profissão. O estresse pelos professores é tido como algo tão comum, que os mesmos já consideram uma característica bem presente. Em algumas anotações, alguns professores diziam aos alunos que a vida de professora era uma árdua, trabalhosa, que tinham muitas atividades para entregar. Muitos pesquisadores e estudiosos pesquisaram também sobre a saúde do professor. Codo apud GASPARINI, BARRETO e ASSUNCÃO (2005), estudando uma população de aproximadamente 39 mil profissionais da educação em todo o Brasil, concluiu que 48 % apresenta síndrome de Burnout.. Além de Codo, Reinold apud OITICICA e GOMES ( 2004, p.2 ) ,foi mencionado as principais causas que os professores consideram como fontes do estresse foram as seguintes:
a) ter classes com muitos alunos;
b) trabalhar com alunos desinteressados dentro da sala de aula;
c) achar que alguns alunos indisciplinados ocupam demais tempo em prejuízo de outro;
d) ter alunos na classe que conversam o tempo todo;
e) trabalhar com uma classe onde as capacidades dos alunos são muitos diferentes entre si;
f) sentir que há falta de apoio dos pais para resolver problemas de indisciplina.
É evidente conforme as pesquisas, que o aluno na verdade, é um "problema nacional", principal causador de estresse do professor.
Além da síndrome de Burnout, outro grande problema bem mostrado na pesquisa de Codo, são os relacionados à voz do professor. O professor, mais do que qualquer outro profissional precisa e utiliza frequentemente sua voz. Sobretudo, a maioria dos professores não tem um acompanhamento fonoaudiólogo , o que mantém sua voz sempre com rouquidão, podendo inclusive posteriormente ficar sem voz. Quando perguntamos ao professor se os mesmos já tiveram ou ainda possuem problemas com voz, tivemos as seguintes respostas:
Como mostrado, 64 % dos professores que pesquisamos, possuem problemas com a voz, afirmando que os mesmos se sentem cansados e em alguns deles como dão sempre aula em dois horários, no horário vespertino, geralmente não conseguem satisfatoriamente executar seus planos de trabalho, o que interfere no processo de ensino ? aprendizagem. E aí refletimos sobre a tecnologia, e pensamos que apesar de todos esses avanços, a voz do professor ainda é o seu principal instrumento de trabalho, totalmente necessário para a explanação dos conteúdos na sala de aula, nas conversas com os pais . A voz do professor, sendo o instrumento principal dessa relação de ensino ?aprendizagem, por que a escola e até mesmo o professor não dão tanta importância ? São feitas manutenções nos computadores, nas cadeiras, nos ar condicionados, mas atuar de forma preventiva na voz do professor, é irrelevante para a escola e principalmente para o próprio professor. Ainda nos comentários do professor, um fato muito presente é a respeito da desvalorização, dos salários muitos inferiores. Abaixo , veremos que a maioria deles não se sentem valorizados.
Esse é um discurso antigo dos professores, mas ainda muito presente também, e isso tem muito a ver com o estereotipo do magistério como vocação, que esse é um ato amoroso, e outras expressões que não deixa a docência como profissão. Mariano e Muniz ( 2006), nos lembra que "Os baixos salários, além de não atenderem às reais necessidades das docentes,trazem insatisfações, dissabores e uma sobrecarga de trabalho. Gatti (2000, p.62) quando pontua a relação valorização enfatiza que:
a relação renumeração/desempenho profissional, embora não linear, é questão que merece maior atenção e exame, uma vez que ela se associa a aspectos de auto-estima e valor social, tendo, com isso, impacto direto na auto- estima e, ?portanto, no perfil do profissional e em suas condições básicas para atuar eficazmente. Interfere nas relações professor ? alunos e professor ? comunidade.
O que fica claro, então, como Gatti abordou é que a desvalorização do professor traz um clima organizacional ruim, que interfere principalmente em suas relações, fato que prejudica , como Gatti afirmou, a eficácia de sua atuação na sala de aula, portanto, há uma implicação dessa má qualidade de vida no processo de ensino aprendizagem.
Um outro problema da escola, é a grande maioria dos professores não moram nas proximidades, mas sim que moram bem longe. A logística desses professores à escola é complicada e influi totalmente em suas qualidades de vida, uma vez que os mesmos se estressam ao pegarem ônibus ou em carro mesmo. Perguntamos se eles utilizam algum tipo de transporte e qual era o meio?
Como mostrado acima, uma boa parte dos professores utilizam ônibus geralmente bem lotados. Alguns professores não vão em sua casa devido a distância de suas casas, ficando geralmente na escola e executando atividades na sua maioria das vezes. Os professores que mantivemos mais contato falaram que as refeições que os mesmos fazem são geralmente básicas, quando não apenas merendam. Isso podemos também ver em outras profissões, mas o que queremos sensibilizar é que esse profissional lidar com crianças, com o processo de ensino ? aprendizagem, que repercute em toda sua trajetória escolar.
Querer ser professor hoje, requer conhecimento do que é docência, focamos tanto a qualidade de vida do professor, mas o que presenciamos durante a pesquisa, é que o professor precisa ser mais reflexivo sobre sua prática, sobre sua saúde. Sobre esse assunto, Nóvoa apud PIMENTA (2006,p.55), diz que:
... o processo de formação crítico ? reflexivo, implica produzir a vida do professor ( desenvolvimento pessoal), produzir a profissão docente ( desenvolvimento profissional)e produzir a escola ( desenvolvimento organizacional)
Como abordado por Nóvoa, a prática reflexiva deve ser produzida sempre para melhoria da vida do próprio docente. "O docente deve ser formado para ser permanente pesquisador de sua prática ( THERRIEN, 2002, p.113). Esteves ( 1995, p.100), quanto aborda que essa prática não é tão simples como pensamos da seguinte maneira:
... no momento actual, o professor não pode afirmar que a sua tarefa se reduz apenas ao domínio cognitivo. Para além de saber a matéria que lecciona, pede-se ao professor que seja facilitador da aprendizagem,pedagogo eficaz, organizador do trabalho em grupo,e que, para além de ensino, cuide do equilíbrio psicológico e afetivo dos alunos,da integração social e da educação sexual e etc,; a tudo isso pode somar-se a atenção dos alunos especiais integrados na turma.
Trabalho & Docência: Como esses problemas acima descritos, interferem no processo de ensino ? aprendizagem ?
Diante do que fora exposto e apresentado acima, conclui-se que, esses problemas ? rouquidão, estresse, péssimas condições de trabalho, más relações de trabalho, a jornada intensa de trabalho, as cobranças, a desvalorização ? todas ele, tornam o trabalho do professor mais cansativo e desestimulante; gera no professor um processo de acomodação profissional, não querendo o professor, inovar sua ação educativa nem tampouco estimular o seu aluno a superar as principais dificuldades que o mesmo enfrenta. No senso comum, temos a idéia de que o professor tem condições de "dar conta" de tudo, na verdade, como vimos, é preciso que a escola revise seus conceitos a respeito do professor. Talvez por isso, é que o professor recebe cada vez mais atividades e responsabilidades, deixando-o sobrecarregado, e de executar como prioridade sua principal atividade: Estimular/ facilitar um bom processo de ensino ? aprendizagem. Perguntamos a eles se em geral, os mesmos se sentem motivados ou desmotivados, e obtivemos os seguintes resultados :
Apesar das grandes dificuldades na docência, os mesmos até se sentem motivados, isso quer dizer que, a profissão docente mesmo com suas peculiaridades engendra satisfação pessoal e profissional. Ainda sobre esse aspecto, perguntamos se os mesmos querem prosseguir nessa profissão : Uns disseram que não estão mais no tempo de escolher,que estão perto de se aposentar e por que escolher outra ? Uns abordaram ainda que escolheram essa profissão e agora vão até o fim, mas no geral, 91 % disseram que não vão ingressar em outra profissão.
O que podemos concluir é que : motivado o professor está, ele quer continuar nessa profissão, então, o que falta ? Condições básicas e necessárias para que o mesmo execute suas tarefas com qualidade e acima de tudo, colaborando para melhor desempenho de seus alunos, ou seja, um processo de ensino ? aprendizagem que esperamos e satisfatório, fator que pode ser gerado pela boa qualidade de vida professor.
Qualidade de vida. O que significa para os professores? Essa fora a pergunta que fechamos nossa pesquisa, afinal de contas, é preciso que entendamos o olhar que esse professor tem sobre o que vem ser qualidade de vida. Analisemos as seguintes respostas:
O que podemos sublinhar é que o professor não enfatiza nos principais aspectos para ter uma boa qualidade, fatores relacionados ao seu trabalho e à condição de trabalho que deve ser dado a ele. Conforme o quadro acima, os aspectos das condições de trabalho e o salário são mencionados pelos professores, mas em uma linha de menos relevância. Na verdade, ele considera a alimentação como o fator mais relevante para sua qualidade de vida. A qualidade de vida no trabalho inclui aspectos de bem-estar, garantia de saúde, segurança física, mental e social, e capacitação para realizar as tarefas do trabalho com segurança e bom uso de energia pessoal (MONTEIRO e SOARES).
Ao analisarmos todos os aspectos acima argumentados, temos o olhar mais consistente sobre a saúde do professor, principalmente sobre sua qualidade de vida, o seu bem-estar e como isso resulta em sua práxis pedagógica, nas suas metodologias e na sua postura enquanto docente. A qualidade de vida do professor deve ter mais importância uma vez que implica diretamente no ato pedagógico desse docente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A qualidade de vida do professor é um tema fundamental para um entendimento maior sobre o trabalho docente, e conseqüentemente sobre a sua prática. Essa discussão vem ganhando relevância em nosso país principalmente pela necessidade de desmistificar a idéia de que o professor "pode tudo", ou então, que o professor é o único responsável por alguns problemas que a escola enfrenta, onde citamos primordialmente, o processo de ensino ? aprendizagem.
Diante do cenário atual, onde a escola impõe deveres ao professor, que elevam as jornadas de trabalho e maximizam suas atividades cotidianas, assim como outras influências geradas dentro e fora do contexto escolar, constituímos um olhar diferenciado a respeito do docente. Quem é realmente esse docente? Como suas práticas são influenciadas e quais as implicações e relações com o processo de ensino aprendizagem?
Temos na pesquisa, algumas considerações, que merecem ser levantadas e expostas. As relações do professor com seus alunos, gestores, pedagogos, pais, trazem ao professor, mal ? estar. Tais relações influenciam consideravelmente o ato pedagógico dos professores. O clima organizacional da escola é um fator que merece maior análise, pois resulta na qualidade de vida do professor. Dentre as relações do professor com a escola, a do aluno é a que mais contribui, segundo os professores, para o estresse e sua desmotivação. Contudo, o aluno na verdade é um participante apenas desse processo, e como tal, deve lhe ser assegurando a integração com a educação. Os alunos sempre existirão e dificilmente, "comportamento indisciplinados" e os "baixos ? rendimentos" vão erradicar. O olhar que temos, volta-se ao professor, principalmente como sujeito que deve refletir melhor sobre o aluno, assim como em suas relações. O professor não deve ser um mero reprodutor da educação, nem tampouco ingerir um pacto de mediocridade com seus alunos, mas tem condições sim de estabelecer "momentos educacionais", que viabilizem uma boa qualidade de vida e condição adequada de seu trabalho.
Acreditamos também, que não somente as relações escolares interferem na qualidade de vida e na prática docente, mas, a desvalorização ética, social e cultural que esse profissional enfrenta. Os baixos salários, o desrespeito, a péssima condição logística, os problemas fonoaudiólogos, as contrariedades sociais e as péssimas condições de trabalho,todas elas engendram desmotivação e impossibilidades de melhor atuação pedagógica. O professor com qualquer profissional, até procura melhorar seu campo de atuação, mas não lhe é garantida tentar promove-las dentro de uma estrutura possível.
À medida que a pesquisa ia avançando, ficou claro que a profissão docente, ainda é pouco valorizada. Alguns profissionais afirmam que "amam o que fazem", mas o que cotidianamente presenciamos é que, por detrás de um discurso amoroso e poético, existem sujeitos frustrados, desesperançosos, referenciados ainda hoje, como um profissional de "simples" importância, apesar das grandes correntes que tentam contradizer isso hoje no campo educacional/social. Mas, que tipo de implicação a má qualidade de vida do professor pode gerar no processo de ensino ? aprendizagem? Podemos concluir que um professor que não consegue se sentir valorizado e acima de tudo, inserido em um contexto profissional que lhe propicie desenvolver satisfatoriamente seu trabalho, teremos aulas sem rendimento, planejamentos apenas copiados e não atualizados, teremos mestres que sem paciência pedagógica farão com que seus alunos fiquem a mercê de um conhecimento fora da realidade. O ensino e a aprendizagem são processos, e dentro desse caminhar, existem os seus sujeitos, onde direcionam e os executam, e é nesse sentido que esse caminhar é interferido, principalmente quando o professor não tem condições de viabilizar e facilitar esse processo.
A qualidade de vida do professor, logo, interfere no processo de ensino ? aprendizagem. Nossa pesquisa, apesar de suas limitações, revela consistentemente as implicações que o processo de ensino-aprendizagem tem com as dificuldades que um dos principais sujeitos desse processo possui. Temos convicção que a educação promove liberdade e conhecimento, mas é precisa (re) estuda-la, e acima de tudo, (re) significá-la, partindo principalmente de um ponto de partida de seus sujeitos, prioritariamente o professor ? sua saúde, sua vida, suas relações, seus saberes, experiências, formação...
Como sugestão à escola, à universidade e à sociedade em geral, consideramos importante que se aprofundem mais sobre essa temática dentro de seus espaços. Que surjam mais pesquisas que promovam esse saber e revelem cada vez mais aspectos do trabalho docente! Abram-se mais estudos e reconstruam saberes sobre o professor!
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: Vozes, 2000.
AZZI, Sandra. Trabalho docente : autonomia didática e construção do saber pedagógico, In: PIMENTA, Selma Garrido ( Org). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez,2000. 246p, p.35-60.
BARROS, Aidilte Jesus Paes , LEHFELD, Neilde Aparecida de Souza. Projeto de pesquisa : Propostas metodológicas.Petropolis, RJ : Vozes, 1990.
BERTUOL, F. P. Qualidade de Vida de Professores de Licenciaturas. Curitiba, 2006. 117f. Dissertação (Mestrado em Educação), Centro de Teologia e Ciências Humanas, PontifíciaUniversidade Católica do Paraná.
BICUDO, Maria Aparecida Viggiani. Fenomenologia : Confrontos e avanços . São Paulo : Cortez, 2002.
BRAZ, Daniella Scalett Amorin. Compreender para transformar : A voz como medicação didática. UNISANTOS , S/A.
CAMPOS, Casemiro Medeiros. Saberes docentes e a autonomia dos professores. Vozes, 2007
CANDAU, Vera Maria. Nas teias da Globalização. Cultura e educação. IN : CANDAU, Vera Maria ( Org). Sociedade, educação e cultura(s) : Questões e propostas.2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. Pp-13-29.
COSTA, Marisa C.V. Trabalho docente e profissionalismo. Porto Alegre: Sulina, 1995.
CONTRERAS,José. A autonomia de professores.São Paulo, Editora Corttez, 2002.
CRUZ, L.E, Estresse e Ansiedade no processo de ensino-aprendizagem . Braga : Universidade do Minho, 1990.
CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes.Rio de Janeiro : Editora Sextante, 2003.
DELORS, Jacques. Educação : um tesouro a descobrir. São Paulo : Cortez, Brasília, DF: MEC, UNESCO, 1998.
DEMO, Pedro. Professor e seu direito de estudar , In: MACIEE, L.S.B.,(Org) Reflexões sobre a formação de professores.Campinas, SP : Papirus,2002, p.71-88
DUBET, François. O que é uma escola justa ? A escola de oportunidades. São Paulo: Cortez, 2008.
ENGUITA, M. F. A ambigüidade da docência: entre o profissionalismo e a
proletarização. Teoria & Educação, Porto Alegre, nº 4, p3-21.1995.
ESTEVES, J.M. O mal-estar docente : A sala de aula e a saúde dos professores. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
ESTEVES, J.M. Mudanças sociais e funções docentes. In: NOVOA, A ( org).Profissão professor. 2. ed. Porto Alegre : Porto editora, 1995.
FACCI, M. G. D. (2003) Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um
estudo crítico-comparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da
psicologia vigotskiana. Tese de Doutorado. Universidade Estadual Paulista
FAZENDA, Ivani ( org). Metodologia da pesquisa Educacional. São Paulo : Cortez, 2004.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 21. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GASPARINI, Sandra M. ;BARRETO,Sanhdi M.; ASSUNCÃO, Ada A. O professor e as condições de trabalho e os efeitos sobre a sua saúde.Educacão e pesquisa. São Paulo, V.31,n.2, p.189 ? 193, maio/agosto, 2005.
GATTI, Bernardete Angelina. Formação de professores e carreira: problemas e movimentos de renovação . São Paulo, SP: Editora Abril, 2000.
GHEDIN, Evandro. Professor reflexivo no Brasil: Gênese e critico de uma conduta.. São Paulo. Editora Cortez, 2002.
GHEDIN, Evandro; LOBATO, César; ALMEIDA, Luis Sérgio Castro de; Estágio na formação de professores : Diferentes olhares - Manaus: Gráfica e Editora Raphaela Ltda 2006.
GONZAGA, Amarildo Menezes. A pesquisa em educação : um desenho metodológico centrado na abordagem qualitativa. In: PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro; FRANCO, Maria Amélia Santoro ( Org). Pesquisa em Educação: Alternativas investigativas com objetos complexos.São Paulo, SP. Edições Loyola, 2006.
GUIMARÃES, Valter Soares. O grupo focal e o conhecimento sobre identidade profissional dos professores. In: PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro; FRANCO, Maria Amélia Santoro ( Org). Pesquisa em Educação: Alternativas investigativas com objetos complexos.São Paulo, SP. Edições Loyola, 2006.
HYPOLITO, Álvaro Moreira. Trabalho docente, classe social e relações de gênero. Campinas, SP: Papirus, 1997.
LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Cientifica. ? 6. Ed. ? São Paulo: Atlas, 2007.
LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação ? 9394, de 20 de Dezembro de 1996.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogo, para quê ? 5ed.São Paulo: Cortez,2002.
LIPP, M. N. O estresse do professor. Campinas: Papirus, 2002.
LISBOA, C. KOLLER, S.H. Interações na escola e processos de aprendizagem : fatores de risco e proteção. In : BORUCHOVITCH, E.& BZUNECK, J.A.(orgs). Aprendizagem : Processos psicológicos e o contexto social da escola. Petrópolis, RJ : Vozes, 2004.
LUCCHESI, Martha Abrão. O diretor da escola pública, um articulados In : ALONSO, Mirthes (orgs).O trabalho docente : teoria e prática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
LUDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em Educação : abordagens qualitativas. São Paulo : EPU, 1988.
MARIANO, M.S.S; MUNIZ, H.P. Trabalho docente e saúde: o caso dos professores da segunda fase do ensino fundamental. Estudos e Pesquisas em Psicologia. Revista da UERJ-RJ, ano 6, n.1, 1o semestre de 2006. Disponível em Acesso em: 26/11/09.
MONTEIRO, Alessandra M; SOARES, Luciana, S.L. A saúde em questão : A Síndrome de Burnout e o trabalho docente. Disponível em: http://www.psicologado.com/site/artigos/saude-mental/a-saude-em-questao-a-sindrome-de-burnout-e-o-trabalho-docente. Acesso em : 23, nov.,2009.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer uma pesquisa qualitativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
OITICICA, Maria Lúcia Gondim da Rosa; GOMES, Maria de Lourdes Barreto.O estresse do professor acentuado pela precariedade das condições acústicas da sala de aula.XXIV Encontro nacional de Eng. De produção ? Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de Novembro de 2004.
PENTEADO, R. Z.; BICUDO-PEREIRA, I. M. T Impacto da voz na qualidade de vida do professor de ensino Fundamental. Artigo Scielo.
PERRENOUD, Philippe. A prática reflexiva no ofício de professor. Profissionalização e Razão pedagógica. Porto Alegre : Artmed, 2002.
PIMENTA, Selma Garrido. Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez,2000. 246p.
PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores: identidade e saberes da docênciaIn PIMENTA, S.G. (org.) Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo:Cortez, 1999.
PIMENTA, Selma, GHEDIN, Evandro, FRANCO. Novos sentidos para a ciência.In: GHEDIN, Evandro et al. Epistemologia da pesquisa Educacional.Manaus, BK Editora, 2008.
PIMENTA, Selma Garrido. Pesquisa ação crítico - colaborativa: construindo seu significado a partir da experiência na formação e na atuação docente. In: PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro; FRANCO, Maria Amélia Santoro ( Org). Pesquisa em Educação: Alternativas investigativas com objetos complexos.São Paulo, SP. Edições Loyola, 2006.
REIS, E.J.F.B. et al. Docência e Exaustão emocional. Revista Educação e Sociedade. Campinas, v. 27, n. 94, jan/abr.2006. Disponível em http://www.scielo.br. Acesso em 26/11/09.
SOUZA, Aparecida Néri. Condições de trabalho na carreira docente comparação Brasil - Franca. Departamento de Ciências Sociais, Unicamp.
TARDIF, M.& LESSARD, C. O trabalho docente. Elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanos. Petrópolis, RJ : Vozes, 2005.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis : Vozes, 2002.
THERRIEN, J. O saber do trabalho docente e a formação do professor, In: MACIEE, L.S.B.,(Org) Reflexões sobre a formação de professores.Campinas, SP : Papirus,2002, p.103-113.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva, Introdução à pesquisa em ciências sociais : a pesquisa qualitativa na educação. São Paulo: Atlas, 1987.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS: Organização do Trabalho pedagógico e Gestão escolar. UEA Edições, 2007.