O topo do meu mundo
Por Andréia Ponciano de Moraes | 15/01/2010 | PoesiasEu tinha uma árvore no meu quintal. Uma árvore grande e frondosa. Quando criança costumava subir até o topo, mas o topo mesmo, onde os galhos eram já mais fracos e o vento os balançava com mais facilidade. Então eu ficava lá, sendo balançada para um lado e para o outro, sentindo a brisa e olhando a paisagem ao redor. Sentia-me tão grande no topo daquela árvore, sentia-me poderosa... era como se pudesse voar. E voava!
O topo da minha árvore era o topo do meu mundo. Era lá aonde eu ia me encontrar comigo. Sempre gostei de ter um lugarzinho assim para estar comigo sem que ninguém atrapalhasse, quando ainda não sabia subir em árvores, era num cantinho escondido dentro do armário que combinava os encontros comigo, e lá ficava... no escurinho do armário com aquele cheirinho de roupa limpa. Também era legal, mas o topo da árvore era melhor!
A minha árvore era uma mangueira, dava uma ótima sombra, além de frutos maravilhosos. Mas não era nada disso que me atraia nessa árvore. Também não me apetecia a segurança de uma casa na árvore, eu queria era estar no topo, balançando de um lado para o outro e olhando a paisagem. Quando descia, gostava de abraçar a minha árvore e sentir a energia que vinha dela.
Hoje a minha árvore não existe mais, foi arrancada, pois estava causando estragos na estrutura da casa. Dela sobrou um tronco cortado com as raízes ainda presas ao chão... a minha árvore não tem mais topo!
Depois que cresci, também gostava de subir em árvores e ficar no topo, sendo balançada pelo vendo, olhando a paisagem e me encontrando comigo. Mas nunca mais encontrei uma árvore como aquela, e todas que encontrei também tiveram que ser cortadas por causa de algum tipo de estrago.
A última árvore que tive hoje está cortada. Não tem mais folhas, nem galhos e seus frutos foram extirpados antes mesmo de amadurecerem. Não dá sombra e nem tem topo... foi cortada, mas suas raízes continuam fixadas ao chão. É tão triste ver um pedacinho de tronco fazendo força para viver... é tão triste não ter um topo de árvore para fugir do mundo, encontrar-me comigo e ficar sendo balançada pelo vento e olhando a paisagem. Parece um frio que vem de dentro! Acho que vou pegar o tronco jogado, arrancar o tronquinho ainda fixado e as raízes e vou fazer uma grande fogueira em busca de um pouco de calor... será que consigo???