O TEMPO: SEGUNDO AGOSTINHO DE HIPONA

Por Pedro José Ferreira Aragão | 22/08/2016 | Filosofia

RESUMO

 “O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não o sei.” (Confissões – Agostinho, Livro XI). A pergunta sobre o tempo não é fácil. Pode parecer, mas não é. De fato, não há como defender que eles existem realmente, pois o passado já não existe mais, e o futuro ainda não existe. Como, então, medimos o tempo? Não podemos nem mesmo dizer que o passado foi longo, pois não há o que possa ter sido longo, já que ele não existe no momento em que o dizemos. Contudo, apesar do problema, percebemos os intervalos de tempos, e os comparamos entre si, medindo-os. Mas como fazemos isso? Não é possível medir o que não existe, logo, não se pode medir o passado e o futuro. E o presente não tem duração, não podendo, também, ser medido. A solução de Agostinho para o problema é engenhosa e totalmente inovadora. Ele diz o seguinte: o passado e o futuro só existem no presente. Pois o passado existe como lembrança do que já foi, e o futuro existe como antecipação do que será. É desse modo que medimos o tempo. À pergunta “com que meço eu o tempo”, Agostinho responde: com meu espírito. Em suma, podemos ver, com isso, que Agostinho foi um filósofo extremamente rigoroso em seu raciocínio, e frutífero em vários âmbitos.

1 INTRODUÇÃO

“Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei” (AGOSTINHO, 2000, p. 322).

É de fato muito empolgante quando se trata a passagem do homem neste mundo. Foram muitas as indagações e os questionamentos quanto a isso. Pode-se até afirmar que não foram poucas as teses defendidas por grandes filósofos, entre eles, Agostinho de Hipona pertencente à escola patrística.

Todos os debates que o norteiam surgiram quando tratava sobre a vida humana. Esta vida consiste e existe em um espaço de tempo que tem continuidade, onde o vivenciar novidades no campo da experiência, deve produzir no homem a percepção do movimento, ou melhor, sensação de que algo está a passar.

            Podemos perceber que o homem, é capaz de se apaixonar pela vida e se deixa guiar para o fim último, Deus; sendo crente que se é capaz de chegar a uma plena realização, quando se busca pela própria percepção e interioridade do ser e tem capacidade ao que de fato seja o tempo.

Para se caminhar no rastro de Agostinho em busca de sua ótica sobre o tempo é necessário permitir e deixar-se enveredar em um passeio pelo subjetivismo e pela interioridade. O homem não deve ser visto como uma mera estrutura ou coisa a ser estudada, mas uma pessoa, sendo dotado de natureza racional e individualidade, que envolve a si próprio.

            Portanto, no caminho que se vai seguir, haverá uma continuidade e sempre será necessário, um retorno a alguns subtemas já vistos, pois um é base do outro, talvez como uma ordem, um dependente do outro.

No que se refere à existência da eternidade, se passará pela via do tempo até chegar e se desemborcar na mais profunda intimidade do homem, tendo certeza que há um tempo quase inevitável; e o questionamento preocupante sobre a probabilidade da existência das histórias e da profecia. Até que se possa verdadeiramente firmar naquilo de existência verídica.

2 EM DEUS, SE CONHECE A ETERNIDADE

2.1 EM DEUS, SE CONHECE TUDO

A intenção de Agostinho no princípio de sua exposição a respeito do tempo, que tem como ponto de partida o conceito de eternidade, parece ter o propósito de criar uma base que funcione como fundamento ao seu conceito de tempo.

Todo o pensamento e estrutura lógica de Agostinho giram em torno da sua segurança de que Deus é Criador e criou o mundo para que o mesmo se unisse Nele. Ele afirma que Deus é o princípio de tudo “e deduz que Deus criou o mundo do nada, segundo as idéias-arquétipos que se encontram no Logos, o Filho de Deus”.

(MONDIN, 2008, p. 153-154). Segundo o Evangelho de João: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. (Jo 1,1. p. 1842).

Com isso, Agostinho quer dizer que para se obter a compreensão do mundo tem-se que, ou deve-se ter como ponto de partida a compreensão do Criador, em seguida a compreensão do criado que deve começar do interior do homem. E é então que o homem, na sua íntima busca interior consigo mesmo, se colocará de frente com o seu Criador e Nele acaba se encontrando. “Criastes-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Vós” (AGOSTINHO, 2000, p. 37).

2.2 EM DEUS, SE CONHECE A ETERNIDADE COMO PARTE DA ESSÊNCIA DE DEUS

“Deus é criador e verdade de todas as criaturas” (AMADO, 1993, p. 83), tudo foi criado por Ele e para Ele. Em Deus jamais se encontrarão imperfeições ou movimento, pois Ele é imutável, eterno e perfeitíssimo: “Vós, pois Senhor que não sois umas vezes uma coisa, e outras outra, mas o mesmo, o mesmo, sempre o mesmo, o Santo, Santo, Santo, o Senhor” (ibid, 2000, p. 346).

Todo o seu ser é, por isso que em Deus há uma plena e completa realização. Em Deus há apenas Ser e não pode haver devir: “Precedeis, porém, todo passado, alteando-Vos sobre ele com vossa eternidade sempre presente”. (ibid, 2000, p. 321).

Por isso diz-se que Deus é eterno, não tem princípio nem fim é imutável e incessante e, portanto, se conhece a sua eternidade como parte da sua essência: “Vós, pelo contrário, permaneceis sempre o mesmo, e os vossos anos não morrem” (ibid, p. 341).

            Uma vez convicto de que Deus é eterno, ainda é necessário saber mais sobre este assunto fazendo a pergunta: O que é a eternidade? Como Deus é eterno?

Agostinho distingue e diz que a eternidade não é o mesmo que o tempo dilatável, mas simultâneo a todas as coisas.

Compreenderá então que a duração do tempo só será longa, se não se compuser de muitos movimentos passageiros. Ora, estes não podem alongar-se simultaneamente. Na eternidade ao contrário, nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca é todo presente. (ibid, p. 319-20).

Ao iniciar sua definição, o bispo de Hipona deixa explícito que eterno é apenas aquilo que não está sujeito a mudanças. Nada finito poderá incluir-se nesta conjectura. Apenas Deus é eterno, pois a eternidade encontra-se como parte de sua essência, logo, o tempo jamais poderá medir a eternidade.

2.3 A ETERNIDADE ESTÁ NA VONTADE DE DEUS, E NÃO NAS CRIATURAS

Quando se fala de eternidade como coisa simultânea temos um problema, pois sendo Deus eterno, nada poderemos acrescentar Nele, porque há risco de não existir a eternidade (que é o berço do tempo), nisso se  se afirma que é simultânea[1], se dará quando realizar-se qualquer ato da criação que há mudança na divindade, porém, isto é impossível ao eterno.

            Diante do problema há também uma solução: “Mas o desígnio de Iahweh permanece para sempre, os projetos de seu coração, de geração em geração” (Sl 33,11. p. 895).

Com isso se pode dizer que a vontade de Deus não é uma coisa mutável, pois se fosse não poderia ser imortal. A eternidade está na vontade de Deus, não na vontade do criado.

Assim como toda a volição de Deus é eterna, ou seja, descansa (no sentido de repousar) na eternidade, são eternos também todos os atos divinos. Por sua vez, a eternidade da vontade não supõe consideração temporal, mas lógica. Sendo assim, o conceito de tudo, existi na mente de Deus desde a eternidade e este conceito se encontra em ordem lógica e não meramente no tempo.

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