O TABLET COMO RECURSO PEDAGÓGICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO...

Por Antonio Carlos de Oliveira | 12/10/2016 | Educação

O TABLET COMO RECURSO PEDAGÓGICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NA ESCOLA MUNICIPAL MANOEL COTIAS DE JESUS  EM JEQUIÁ DA PRAIA, ALAGOAS

RESUMO:

Este artigo objetiva refletir sobre o uso do tablet como recurso pedagógico no processo de alfabetização na Escola Municipal Manoel Cotias de Jesus em Jequiá da Praia. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de abordagem qualitativa, através de observações numa turma do 1º ano do Ensino Fundamental e do registro das interações ocorridas com esse material tecnológico em sala de aula. Além disso, compôs o corpus dessa pesquisa as entrevistas feitas com os alunos, com a professora e com a equipe gestora da escola. Esse acompanhamento se efetuou na escola no início do segundo semestre de 2015, quando a Secretaria Municipal de Educação de Jequiá da Praia implantou o projeto de inclusão de tablet nas salas de aula, visando contribuir com o aprendizado dos alunos. Nesse sentido, acompanhamos o projeto durante todo o semestre. As análises dos dados indiciam que a utilização dessa ferramenta em sala de aula pode contribuir não só para o aspecto pedagógico da alfabetização como também para uma formação do aluno frente às novas tecnologias. Teóricos como Moura (2009); Paulo Freire (2000);Papert (1994) e Kensky (2007) sustentam o embasamento sobre a importância do uso das tecnologias educacionais no ambiente escolar. Pode-se então concluir que o uso dos tablet na sala de aula constitui-se como um instrumento aliado dos professores e dos alunos, sobretudo quando se trata de alfabetizar e letrar os estudantes de forma inovadora e significativa para o mundo atual.

 

1 INTRODUÇÃO

É desvelando o que fazemos desta ou daquela forma, à luz de conhecimento que a ciência e a filosofia oferecem hoje, que nos corrigimos e nos aperfeiçoamos. É a isso que chamo pensar a prática e é pensando a prática que aprendo a pensar e a praticar melhor. E quanto mais penso e atuo assim, mais me convenço, por exemplo, de que é impossível ensinarmos conteúdos sem saber como pensam os alunos no seu contexto real, na sua cotidianeidade. Sem saber o que eles sabem independentemente da escola para que os ajudemos a saber melhor o que já sabem, de um lado e, de outro, para, a partir daí, ensinar-lhes o que ainda não sabem(Paulo Freire, 1998).

As novas tecnologias de informação e comunicação apresentam-se nas diferentes áreas da atividade humana de forma intensa, provocando impactos significativos na vida das pessoas, seja na facilidade da comunicação e na viabilização da informação, seja na produção de conhecimentos. Certamente, isso possibilita o estabelecimento de novas formas de relações e desafios interessantes para diferentes gerações. Os próprios professores, inclusive, não deixam de ser também desafiados. Eles precisam sair de sua zona de conforto e se lançarem a novas formas de ensinar. Como diz Penteado (1999),

[...] em geral, o professor enfrenta os desafios impostos pela profissão e busca criar alternativas, porém a introdução do computador na escola altera os padrões nos quais ele usualmente desenvolve sua prática. São alterações no âmbito das emoções, das relações e condições de trabalho, da dinâmica da aula, da reorganização do currículo, entre outras (op. cit., p. 298).

Nesse sentido, é importante compreender como a inclusão digital faz parte do cotidiano das pessoas na sociedade atual. Tais imperativos do mundo atual aguçaram ainda mais nossa curiosidade epistemológica, especialmente quando se trata de refletir sobre o uso do tablet como recurso pedagógico no processo de alfabetização de crianças da rede pública de ensino, que se encontram na faixa etária de seis anos de idade.

Inicialmente, o tema nos proporcionou uma série de questionamentos tais como: quais os desafios da escola com o uso do tablet? Ele pode ser um instrumento motivador da aprendizagem? Seu uso pode favorecer outros aprendizados na 1a série do Ensino Fundamental? Como ocorre a formação da autonomia do aluno através dessa ferramenta? Como este instrumento pode ser incluído na rotina de uma prática pedagógica de alfabetização? Essas indagações constituíram o eixo estruturante do trabalho investigativo, visando evitar a perda do foco de nossa reflexão no percurso de pesquisa.

Vale também ressaltar que a Escola Municipal Manoel de Cotias de Jesus, sendo uma instituição de ensino cuja missão precípua é a formação humana, por meio da qual se cruzam diferentes experiências, não pode estar alheia aos impactos provocados pelas novas tecnologias. Isso implica dizer que,

Se a escola não inclui a Internet na educação das novas gerações, ela está na contramão da história, alheia ao espírito do tempo e, criminosamente, produzindo exclusão social ou exclusão da cibercultura. Quando o professor convida o aprendiz a um site, ele não apenas lança mão da nova mídia para potencializar a aprendizagem de um conteúdo curricular, mas contribui pedagogicamente para a inclusão desse aprendiz na cibercultura (SILVA, 2005, p. 63).

Nesse sentido, essa pesquisa também dá visibilidade aos modos de formação desta geração denominada de nativos digitais, que necessita lidar com os acervos tecnológicos em seu processo educativo.

Assim, a professora e a equipe de gestão entendendo que a escola precisa contemplar em seu Projeto Político Pedagógico (PPP) a inclusão digital, acatam a necessidade de mudanças não só pedagógicas, mas também estruturais. Ou seja, a construção de um espaço físico que possa favorecer compartilhamentos para uma nova prática docente com o uso das tecnologias no processo educativo.

Embora a implantação do uso do aparato tecnológico tenha sido uma decisão política da Secretaria da Educação Municipal, é importante destacar que a escola “abraçou” essa ideia em favor de seus alunos.Segundo Guimarães e Dias (2006, p.23), “Um novo fazer educativo só será realidade se a tecnologia for incorporada de forma adequada ao contexto de nossas ações educativas”.

Cabe ainda destacar que apesar de ser um projeto que está dando seus primeiros passos na escola, já apresenta um avanço qualitativo do ponto de vista pedagógico e político, vez que está possibilitando o acesso da classe popular a novas tecnologias. Ou seja, essa ação política da Secretaria Municipal de Educação, de implantar no cotidiano das escolas da rede a inserção digital, sinaliza o seu compromisso em oferecer uma educação de qualidade em conformidade com o mundo atual, compreendendo o potencial tecnológico.

Por isso, as observações realizadas na pesquisa confirmaram que o uso dos tabletpelos alunos tem contribuído para a formação e aprendizado dos educandos nos seguintes aspectos: elemento motivador da aprendizagem; construção da autonomia; metodologia na relação professor-aluno-aluno-tablet.

Assim, é uma pesquisa de abordagem qualitativa na busca de melhor compreender como e quais aprendizados que os alunos adquirem ao utilizar estes artefatos. Ao tempo em que iremos refletir sobre as ações observadas em sala de aula, onde os alunos, a partir de diferentes mediações, fazem o uso do tablet para a realização de suas atividades, apresentaremos os efeitos dessa inclusão digital para os atores sociais da escola.

  1. CONTEXTUALIZAÇÃO

O interesse pela pesquisa ocorreu quando soubemos que a Escola Municipal Manoel Cotias de Jesus recebeu tablet para serem utilizados na 1a série do Ensino Fundamental. A implantação dos dispositivos na escola faz parte do projeto da Secretaria Municipal de Educação do Município de Jequiá da Praia, AL, que os distribuiu para toda a sua rede na série inicial com o objetivo de efetivar um aprendizado mais eficiente por meio de aplicativos implantados nesses aparelhos digitais. A sala de aula é composta por dezessete alunos, todos na faixa etária de seis anos de idade. Os alunos vivem no próprio bairro e a maioria é filho de trabalhadores de uma usina de açúcar na região. A grande parte da renda familiar dos alunos é dependente de programas sociais implantados pelo governo federal.

Vale ainda dizer que outro fator decisivo na escolha desse objeto de estudo se deu pelo fato de a escola pertencer à rede pública de ensino, que geralmente é vista pela sociedade nos dias de hoje como escassa de investimentos e de materiais tecnológicos para a inclusão digital. Até porque, neste contexto de avanços tecnológico, tem se destacado a tecnologia digital, ou seja, os aparatos eletrônicos como o tablet que se caracteriza por sua mobilidade e interatividade, e por reunir várias funções em um único aparelho.

Leva (1999, p.22) afirma que “as tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura”. Assim, aponta para a necessidade de observar o que as tecnologias representam para as pessoas e também para a escola – lócus para o desenvolvimento de diferentes aprendizagens.

Do mesmo modo, Santos e Radtke (2005, p.332) afirmam que:

A realidade de uma instituição de ensino constitui-se de uma estrutura, uma organização de tempo, de espaço, de grade curricular, que, muitas vezes, dificulta o desenvolvimento de uma nova prática pedagógica. São amarras institucionais que refletem nas amarras pessoais. Não basta o(a) professor(a) querer mudar. É preciso alimentar a sua vontade de estar construindo algo novo, de estar compartilhando os momentos de dúvidas, questionamentos e incertezas, de estar encorajando o seu processo de reconstrução de uma nova prática. Uma prática reflexiva na qual a tecnologia possa ser utilizada a fim de reverter o processo educativo atual.

É neste contexto que a pesquisa procura compreender os desafios que os alunos, a professora, a equipe gestora e a própria coordenação da Semed têm enfrentado ao longo desse percurso, desde a implantação do projeto, no uso dos tablet como um dos mediadores do processo ensino-aprendizagem na alfabetização, procurando favorecer um ambiente de letramento digital significativo para os alunos.

[...]

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