O som da cachoeira...e o silêncio do Cachoeira
Por JUNIA PIRES FALCAO | 27/05/2012 | PolíticaO primeiro ressoa orgulhosamente com superioridade, exibindo altiva a voz da natureza em uma das mais lindas obras da Criação. O som da cachoeira é ouvido até sob a fúria das tempestades, e ecoa de dia e de noite com a intrepidez de quem não tem nada a temer.
O segundo demonstra simploriamente a sua inferioridade, através do silêncio dos culpados, e esconde covardemente a voz, como os que não têm mesmo o que dizer. As poucas palavras que usou ao ser interrogado foram carregadas de ironia e cinismo, deixando bem evidente o desrespeito a todos e a confiança que tem na sua impunidade. Com um olhar vago fitava o vazio, mostrando a falta de coragem dos que não têm caráter, e sempre tentava ocultar com a mão um certo sorriso debochado. Sua presença por mais de duas horas no plenário da CPMI só serviu para irritar os parlamentares, enquanto a mais recente figura convidada a entrar nessa berlinda moderna, assistia de banca o espetáculo que se seguiu, o tumulto causado pelo descontrole emocional que tomou conta de alguns políticos, por causa do seu comportamento cínico e impassível, pelo qual chegou a ser qualificado de múmia, por uma parlamentar mais exaltada.
Mas como quem “custeia os custos” aqui neste nosso reinado é mesmo o povo, uma sessãozinha a mais não vai mesmo fazer diferença, e entre tapas e beijos distribuídos entre os parlamentares, com a turma do deixa-disso acalmando os ânimos encerraram a sessão. Caiu o pano. O feito foi adiado para depooois do dia 1º de junho.Sine Die. É que nesse dia, o bicho, digo, o bicheiro, tem audiência agendada na Justiça. É!! O cara já deve de tá acostumado, é marinheiro que conhece a rota e sabe contratar gente boa pra tocar o barco dele. Vai falar pra que? Tá bem assessorado e o resto vai ser mole. Encasquetou que em boca fechada não entra mosca e vai se dar bem, e tudo indica que o próximo capítulo será bem divertido, o maior vale-tudo. Vai ser um tal de fala, num falo, prefiro ficar calado, uaau! Já estou a imaginaire a lenga-lenga:
- Já que V.Excia. não respondeu, vou repetir a pergunta:
- Protesto! - Sr. Presidente, o meu cliente amanheceu com-ple-ta-men-te afônico e deprimido. A esta hora ele deve estar faminto. Ele tem tentado esconder a boca com a mão, mas é porque está... está chupando pastilhas, é isso. E não vê a hora de sair daqui pra encarar uma aliche: aquela de filé de anchovas com mussarela, porque não aguenta mais chupar essas pastilhas que não estão servindo pra nada.
- Não tem importância, doutor! Vejo que desde que aqui chegou ele está com uma brasília amarela, digo, uma caneta amarela, rabiscando numa folha de papel.
- O Sr. Presidente permite aposta, digo, resposta, por escrito?
- Perfeitamente.
- Protesto, Sr. Presidente! O meu cliente é portador de LER, L - E - R! Lesão por Esforço Repetitivo, o senhor já deve ter ouvido falar dessa patologia. É que... nos tempos de pobre, ele mesmo escrevia aquelas milhares de apostinhas, aqueles pepeizinhos, o senhor sabe, escrevia muito rápido... Ossos do ofício. E exatamente hoje, neste exato momento, infelizmente ele nem fala, nem escreve. Apenas... cochicha!
- Ah, cochicha? Não seja por isso. Serve. Secretária! Por gentileza leve o microfone bem próximo à boca do senhor Cachoeira. Ele vai cochichar, mas sei que vai dar pra se ouvir.
- Sr., aqui está o microfone, ele é muito sensível. O som está no volume máximo, pode falar.
- Xxiiii... Bom, me dá aqui. Obrigada.
- Me re-ser-vo o di-rei-to de fi-car de bi-co-ca-la-do!
E Zé-Fi-ni.
Será?
Júnia – 25.5.2012