O significado da sócia no mercado informal angolano

Por Alberto Mahula Francisco | 27/01/2023 | Economia

O significado da sócia no mercado informal angolano

Autor:

Alberto Mahúla Francisco, MSc.

É, Mestre em Economia e Gestão de Educação, pela Northeast Normal University, Licenciado em Pedagogia pelo Instituto Superior de Ciências de Educação do Uíge. Possui uma vasta experiencia académica e profissional cheio brio, partilha o seu saber em universidades privadas e públicas.

E, lecciona Inglês nas escolas do primeiro ciclo do ensino secundário. É, pesquisador, formador de professores e orienta palestras nos cursos de agregação pedagógica.

Contactos: albertofrancisco0686@yahoo.com. Mahula0686@gmail.com. Mahula06@gmail.com.+244-941612807

Resumo 

Trata-se de uma pesquisa abordada num enfoque de natureza qualitativa, onde as técnicas de observação, entrevista e bibliográfica foram devidamente empregues para a colecta de dados. O estudo foi realizado com o objectivo de compreender o significado da sócia no mercado informal angolano. Participou de forma aleatória simples, senhoras que pertencendo um núcleo familiar de base financeira carenciada e de extrema condição de vida, criaram hábitos de unir-se, duas, três pessoas ou mais, em prol de conseguir comprar alguma coisa alimentar para a sobrevivência familiar. E, nisto, conseguem mitigar o défice financeiro que caracteriza quase todas as famílias angolanas e da escassez de produtos alimentares predominante no mercado informal angolano. Os resultados da pesquisa mostram que a sócia é uma agente de natureza económica informal e que apesar de imensas dificuldades é munida de um carácter humano cheio de amor, persistência, resiliência, prosperidade, etc. A sócia se sacrifica com o propósito de ver a família a sobreviver da miséria, fome e crises que vêm assolando o país desde 2012, e que intensificou-se em 2017 com as reformas económicas que levaram a extinção de certas empresas, onde muitas famílias ficaram desempregadas. O estudo sugere que pesquisadores, possam realizar mais estudos capazes de compreender cada vez mais o significado da sócia na vida económica informal. Na mesma óptica que a sociedade prime em mecanismos e estratégias económicas capazes de maximizar os níveis de produção, melhoria dos níveis do rendimento financeiro das famílias, evitando hábitos e comportamentos de riscos que atolam a sociedade angolana.

Palavras-chave: significado, sócia, mercado, informal, angolano.

  1. Introdução 

Nas últimas décadas, assistiu-se em Angola um crescimento sem precedentes de organizações que, não sendo públicas, perseguem objectivos sociais, tendentes a luta pela sobrevivência.

Por perseguirem metas não regidas plenamente pelo mercado formal, a sua caracterização e descrição torna-se cada vez mais complexa, tomando designações, mais próximas às do: “terceiro sector, economia social, terceiro sistema, sector não lucrativo, economia comunitária, sector voluntário, entre outros que reflectem não só a grande variedade de contextos históricos e sociais” (Almeida, 2005, p. 1) de Angola. Mas, sim o modo de vida das famílias angolanas, ilustrando nisto, a pobreza extrema, a miséria e outras situações, que aludem quão as dificuldades de mobilidade social, educação e saúde, interfere directamente nos moldes de organização funcional da sociedade.

Estas organizações, pela forma humilde que apresentam, congregam maioritariamente famílias carentes e pessoas de baixo nível social, cuja, rentabilidade económico-financeira cita-se abaixo de um dólar (1USD).

Dentro desta organização, há uma agente económico tão fundamental, chamada de sócia que representa uma personagem, cujo, significado, é meramente humilde e de fraternidade.

A sócia é uma senhora que sente e vive as dificuldades económico-financeiras e que vendo seus filhos sofrendo de fome, ela acorda as madrugada, vai a procura de recursos financeiro para suprir as necessidades da fome no seio familiar. Esta, senhora pelas suas limitações, não é capaz de conseguir dinheiro suficiente para comprar pelo menos um saco de arroz, ou caixa de massa alimentar.

Para isso, o pouco dinheiro conseguido durante o dia-a-dia da “zunga” (arte de vender de forma ambulante), procura uma outra pessoa com o mesmo índice de dificuldades financeiras, a fim de ambas juntarem dinheiro para comprar o bem alimentar necessitado. E, esta senhora, associando-se há uma outra, consegue revolucionar e dinamizar o mercado informal de Angola.

E, a partir dela, vão surgindo cada vez mais várias formas de empreender capital financeiro. E, dada a possibilidade que as famílias e as pessoas singulares, possuem, por meio da sócia consegue-se diversificar a dieta alimentar e cada família consegue criar um negócio próprio.

E, isto, constitui o modo de vida mais sustentável, que segundo as suas modalidades de luta pela sobrevivência, a sócia é a mãe da economia doméstica. É, a base fundamental para que uma família possa ter o mínimo para se alimentar.

Assim, a pare do sector não produtivo e do terceiro sector, distinguido pelas actividades não agrícolas que podemos situar a sócia que possa ser uma das responsáveis na produção de um valor de 1,1 triliões de dólares a nível do mundo, conforme cita Almeida no seu estudo realizado em 22 países do mundo. E, que e emprega 19 milhões de pessoas a tempo inteiro, o que representa, em média, 56 Interacções em cerca de 5% do total do emprego não agrícola” (Almeida, 2005, p. 2).  

  1. Enquadramento teórico do conceito sócia no mercado informal angolano

A sócia enquanto uma agente económico que actua fundamentalmente no mercado informal, o seu enquadramento teórico, vem sendo analisado no contexto do terceiro sector. E, o interesse pelo estudo da problemática do terceiro sector, assume um interesse maior, quando se envolve na renovação dos próprios fundamentos da teoria económica (Almeida, 2005).

Assim, dentro das indagações dirigidas ao mercado informal angolano, surge um termo que dentro das teorias económicas assume um interesse maior que envolve uma renovação de fundamentos teóricos da teoria económica.

A sócia, constitui um assunto de interesse social e capaz de engrandecer o campo de estudo das ciências económicas. Por isso, o seu enquadramento teórico funda-se em “factores sociais idiossincráticos, culturais e linguísticos, mais do que com preocupações de natureza científica e teórica” (Queiroz, 1996, p. 1).

De qualquer modo:

 “Os que se dedicam ao estudo da economia informal absorvem da linguagem comum os nomes com que se tornaram conhecidos certos aspectos da economia informal em cada país ou região, operando depois com esses nomes, de forma generalizada, no tratamento teórico desse tema” (Queiroz, 1996, p. 2).       

A título de exemplo, temos o clássico termo «mercado negro» que foi usado nos períodos de crise que se seguiram às guerras mundiais, na Europa, e, ainda hoje, tem sido utilizado nos países francófonos (marchais noir) e anglo-saxões (black market), para referir o comércio de artigos que não estão disponíveis nos circuitos oficiais de comércio (Queiroz, 1996)

Pelo que convém considerar que o termo “sócia”, advém de uma linguagem económica informal. E, que é próprio da natureza das sociedades, atribuir nomes as coisas e as actividades produtivas que exercem. 

Por evidencia, a sócia é resultado da procura de flexibilidade e de redução dos custos na compra e venda dos produtos alimentícios, cuja, sua efectivação no mercado informal permite que agentes da economia regulada possam dinamizar as suas actividades e as famílias possam minimizar os custos e diversificar a dieta alimentar.

  1. Surgimento da sócia no mercado informal angolano

A sócia, entra na linguagem económica informal do mercado angolano, de forma forçada, pois, depois de um conjunto de alterações de leis de regulamentação da actividade económica e financeira, surgiu em 2022, o IVA (imposto sobre valor acrescentado) e IRT (imposto sobre o rendimento do trabalho) que agonizaram a raiz económico-financeira das famílias. E, este processo, associando-se ao maior índice de despedimentos de pessoas nas empresas públicas e privadas, queda do valor internacional do petróleo e a pobreza extrema que é quase um assunto próprio da cultura angolana, viu-se a maior parte das famílias a perder o seu poder económico-financeiro de compra e venda de produtos. 

De facto, neste processo de reforma económica que ocorreu desde o ano de 2017-2022, muita agente ficou desempregada. E, com certeza o índice do desemprego cresceu verticalmente, contribuindo no aumento do índice da pobreza e degradação do ambiente económico.

No mesmo sentido, Angola ficou sem mecanismo próprio de aumento da produção interna, condicionando os agentes económicos a afirmarem-se no processo de consumo, sem prévia expectativa de busca evidente de técnicas e vias próprias de produção e distribuição de bens e serviços.

E, a pouca capacidade de produção interna, juntos de excessos no processo de consumo de bens e serviços, isto, provocou a escassez de bens, principalmente aqueles, que são da primeira necessidade, tais como: a alimentação, bebida, vestuário, luz e habitação. 

Quando há escassez de bens e serviços, surge o aumento exponencial de preços no mercado e a especulação do câmbio e permuta de bens no mercado informal.

Na mesma circunstância, aumentou em Angola, a procura de meios para a sobrevivência. Esta procura forçou os agentes económicos a operar fora do sistema oficial regulado de economia, criando mecanismos incomuns que deram origem ao surgimento do termo sócia.

Assim, a sócia em Angola tem um significado muito íntimo a condição de vida desfavorável que as famílias suportam. Por sua vez, a sócia é a mãe, rainha e heroína das famílias economicamente desfavoráveis.

Por isso, ser sócia significa ser vencedora, humilde e agente económico que se sacrifica de forma estratégica para vencer as graves situações de crise alimentar nas famílias.

Ser sócia significa ser inteligente, criativa, firme e capaz de tomar decisões próprias para fazer com que a família tenha algum bem útil para se alimentar.

  1. O que é necessário para ser sócia?

Para ser sócia, é necessário basear-se no seguinte:

  • Ser amável

O amor é a primeira via para ser sócia. Pois, é preciso amar a sua família e as pessoas a sua volta para realmente tomar uma decisão de sacrifício. Por isso, a sócia é uma pessoa amável, e por amor a família torna-se capaz de andar, percorrendo longas distâncias, viajando na procura de um local que seja uma loja ou um outro espaço de vendo, onde possa encontrar algum produto que seja mais barato e que esteja em óptimas condições para alimentar a família de forma humilde.

  • Saber sentir o sofrimento no meio familiar

A sócia é pessoa sensível que sente o sofrimento. E, incorpora todo o sofrimento das pessoas à sua volta de forma natural. Assim, ao ser sensível consegue tomar decisões de sacrifício em próprio de salvar a família através de trazer alimento em casa.

  • Ser estratega

É, preciso ter uma atitude estratégica para ser sócia, na medida em que a estratégia é a forma mais compacta que encurta os moldes de solução do problema que aflige a família em termos de alimentação e bem-estar.

  • Ser inteligente

Para a sócia, a inteligência é a capacidade de fazer uma escolha que seja julgada a melhor ou mais correcta. E, tem sido empregue dentro do mercado informal, como sendo uma faculdade peculiar e fundamental para resolver problemas de acerto na escolha da pessoa ideal para fazer sócia na hora de compra.

A inteligência constitui a capacidade de extrair informações referentes ao bem por adquirir, aprender com a experiência das outras sócias, adaptar-se ao ambiente económico-financeiro bastante rural, cujo, capital financeiro local é tanto quanto desvalorizado. Usa-se ainda a inteligência para compreender e utilizar correctamente o pensamento e a razão face a complexidade do mercado informal angolano (Blanco, De OLIVEIRA, CARVALHO, & De ARAÚJO, 2017).

  • Ser criativa

As competências criativas na sócia, são necessárias perceber as diferentes sucessões e modalidades de mudanças, precisamente as mudanças de preço que de correm no mundo caótico dos negócios.

Com a criatividade, a sócia consegue imprimir mais rapidez para dominar a imprevisibilidade. Assim, as competências criativas de resolução de problemas têm sido necessárias para cumprir com as exigências dos vendedores e agente intermediário das sócias.

Para a sócia, a criatividade é encarada como chave necessária para dominar os critérios de sobrevivências que o mercado angolano apresenta.

É, a criatividade que faz a sócia ser mais exigente com o ambiente económico-financeiro. E, implicando, na exigência na qualidade de preços e qualidades dos bens e serviços que vai comprando para o consumo domestico (Morais, S/A).

  • Paciência

A paciência é uma das qualidades mais admirável que habita nela. Esta qualidade que lhe permite tolerar as frustrações do dia-a-dia. Assim, pode-se admitir que as sócias são por natureza pessoas que aprenderam a se comportar em função das consequências históricas de Angola que entre tantas, confirma-se a guerra armada, a corrupção, nepotismo, roubos e assaltos que justificam as injustiças e inseguranças no meio ambiente económico angolano, principalmente nos mercados informais.

A sócia usa a paciência principalmente nas situações em que a loja esteja bastante cheio pela procura massiva dos bens de primeira necessidade.

Com a paciência a socia é capaz de esperar e dar o tempo certo até que o momento da realização dos seus desejos chegue.

Há situações em que a sócia possa passar uma noite no mesmo local de compra e venda de produto, esperando que a sua vez chegue. E, que ela não possa sair sem nada na mão ou no saco de compra.

 A sócia emprega essa qualidade na solução de problemas alimentares e de saúde familiar. E, usa a paciência para ajudar a atravessar momentos difíceis da vida, momentos de crise, de perda e tensão económico-financeiro.

Na vida da sócia, a paciência é investida de forma mais ajustada a vida de unidade na diversidade de ideia, permitindo, assim, fazer uma escolha certa da pessoa ou pessoas que possam unir-se, em prol de conseguir concretizar o sonho de comprar alguma coisa para a dieta alimentar familiar (Rocha, S/A).

  • Sacrifício

A essência da sócia no mercado informal é o sacrifício. Assim, é certo que o sacrifício sempre implica uma consagração. Por isso, a sócia é uma agente económica consagrada, afirmada em salvar a humanidade, partindo da sua própria família, pois, o sacrifício se distingue da maior parte dos fatos designados como aliança pelo sangue (Mauss & Hubert, 1899).

  • Trabalhadora:

O trabalho é um factor de identidade de uma sócia, isto quer dizer que é o trabalho que dignifica a sócia. Por isso, constitui a base para a sobrevivência familiar, desenvolvimento e evolução dos modos de relações de produção. É, a forma de organização funcional da sociedade como um todo. Assim, o trabalho é um determinante facultativo das formas de conhecimento humano;

O trabalho que distingue e define a sócia, compreende a criação de cada concepção do trabalho que associa-se a interesses económicos, ideológicos e políticos. E, de realização das necessidade de sobrevivência das famílias angolana .

  • Espírito de prosperidade:

A sócia é uma agente económica de vida económica próspera. É, mais forte em espírito próspero, por saber guiar o seu dia-a-dia, pelo termo “esperar”. A sócia por ouvir a palavra “espere”, quantas vezes for possível por dia, ela não se cansa de esperar.

Por isso, pode-se admitir que no cérebro da sócia habita uma arquitectura muito complexa e também muito poderosa com a nobre função de preservar a vida a todo custo, o que pode ser muito positivo, desde que não impeça de descobrir os reais limites da capacidade de desenvolvimento e evolução do núcleo da sociedade que se chama família. Pela prosperidade, vê-se que a sócia é extremamente perfeita pelo seu modo de agir e de saber esperar (Miraldo, 2019).

  1. A sócia no contexto das ciências económicas e sociais  

O enquadramento da sócia, no contexto das ciências económicas e sociais, surge na luz, segundo o qual, a teoria só fornece a fórmula abstracta; compete à observação e à experiência dar aos coeficientes desta fórmula valores concretos”, por um lado. E, por outro, a Sociedade não é um clube de pensamento fechado (Guesnerie, 2004).

Assim, trazemos este conceito numa abordagem económica e social, fazendo fé de que o seu enquadramento teórico dentro das ciências económicas e sociais, trará mais-valia para o desenvolvimento das sociedades, mostrando que, a ligação entre questões económicas e questões sociais mais gerais, traz sempre um problema que convoca o conjunto das ciências sociais procurar uma solução que engrandeça a própria ciência e a humanidade de forma mais concreta.

É, de aferir que o termo sócia faz uns preâmbulos de alta consistência teórica, centrado na dimensão social dos problemas económicos que o mundo vive com o advento de cogitações catastróficas que o mundo vem vivenciando tais como: o problema da degradação do meio ambiente social, aumento da temperatura global, o surgimento da COVID-19, as fortes guerras entre povos e nações, cujo, exame destes fenómenos, apela aos olhares cruzados de todas as ciências.

A sócia dentro do contexto das ciências sociais visa estabelecer um diálogo entre as ciências. E, apela antes de mais nada há uma melhor compreensão das suas relações com o meio ambiente social.

Pela mesma dimensão de equidistância científica, a sócia busca uma confrontação dos seus métodos empregues para o estudo dos grandes problemas da económica informal e dos seus objectivos estabelecidos na busca de soluções, onde a ciência política e os políticos de modo particular, endurecem as suas medidas de contenção de custos e regulação dos preços nos mercados, principalmente ao mercado informal.

É, de facto económico afirmar que em todo mercado, a oferta cria a sua própria procura. E, quando a sociedade não organiza o mercado e regular as funções deste, o próprio mercado se organiza e auto-regula-se, dando nomes próprios a cada actividade económica realizada numa determinada sociedade, grupo social e num dado espaço físico e temporal.

E, por conseguinte, cabe a ciência criar dinâmica própria para sistematizar as acções e eventos que ocorrem no meio ambiente social, dando significado formal aos actos e consistência as ocorrências observadas.

 Assim, no mercado informal angolano surgiu por força de actividades económicas realizadas pelos agentes económicos de forma assistemática, e que por ser actos de natureza socioeconómicos, coube ao observador traduzi-los numa linguagem científica de tratamento social e económico.

  1. Estrutura vital e funcional da sócia no mercado informal

A estrutura vital e funcional da sócia no mercado informal, enquadra-se dentro das sociedades simples, constituída por pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços, para o exercício de actividade económica, partilhando, entre si os resultados.

Assim, a sócia obedece o seguinte esquema estrutural de serviços económico-financeiro:

Figura: 1-Estrutura funcional da sócia no mercado informal

 

Estrutura funcional da sócia, demonstra que as necessidades humanas imediatista todos os agentes económicos. E, os colocam em comum. Assim, a sócia nunca está no mercado sozinho, conta sempre a participação conjugal de outros entes socioeconómicos.

Há na figura, sócia – 1 e sócia – 2: são (2) dois consumidores unidos pelo mesmo grau de aflição onde:

Sócia-1: é a pessoa que chega primeiro no local de compra e venda do produto, que pode ser uma loja, supermercado, minimercado, shopping, etc. Esta, ao chegar no local apresenta a sua intenção de adquirir o produto, conforme o desejado. Mas, por ser uma pessoas de renda baixa, fica-lhe impossível comprar o produto necessário para consumo por totalidade ou unidade total. Neste caso, solicita ao intermediário que possa encontrar uma outra pessoa com o mesmo grau de aflição e que esteja necessitando o mesmo produto ou bem de consumo. Nesta conformidade, une-se as intenções e o poder de compra.

Sócio – 2: É, a segunda consumidora que vem ao mercado aflita por ter um nível de renda baixo. E, por possuir um valor financeiro insignificante para obter os seus bens de consumo e de sexta básica. Para isso, a sócia-2, apresenta-se ao intermediário e o intermediário por sua vez cumpre o seu papel de unir ambas, a fim de obter o bem necessário.

Assim, a sócia-1 e sócia-2, ao cruzar, sempre vem nelas o sentimento de alívio pelo stress e aflição. Por conseguinte segue-se a unidade das intenções que dá o propósito de juntar o total de dinheiro preciso para adquirir o bem necessário. Juntas, são dirigidas ao empreendedor ou vendedor que obviamente recebe o seu total de dinheiro e em troca dá o produto às sócia-1 e sócia-2.

E, elas satisfeitas partem para o processo de divisão do bem adquirido. Esta divisão é feita de forma cuidada e naturalmente justa de modo que cada uma não saia prejudicada.

De facto, aqui a divisão ocorre sem nenhuma injustiça. E, assim, reina o afeito, irmandade que até transcende, atingindo a dimensão de fraternidade e amizade.

O intermediário: o intermediário é um agente que movido pelas necessidades de consume de bens e serviços, sobrevive da sua capacidade de unir duas ou mais pessoas aflitas pela débil condição financeira. E, recorrem ao intermediário com o propósito de encontrar a sócia ideal para obter o bem de consumo.  

Assim, o intermediário, pelo trabalho que realiza de unir pessoas com o mesmo grau de aflição, é pago pelas sócias: Sócia-1 e sócia-2.  

Já o empreendedor ou empresário: é o dono, possuir da loja, ou local onde o processo todo da procuro de sócia, chamada e a unidade entre as sócias ocorre. É, o promissor do negócio.

Apesar das distinções e definições claras atribuídas a cada um dos agentes, o mais importante é a satisfação das necessidades. Pois:

A necessidade é o factor dinamizador e comovente de todos os outros agentes. Por isso, a necessidade, é o elemento, pelo qual, os agentes envolventes no mercado informal: Sócia-1, sócia-2, intermediário e empreendedor dirigem as suas intenções.

É, a necessidade que comove e leva todos os intervenientes a agir. E, motivarem-se em ir na busca de bens úteis para a satisfação das necessidades, principalmente a aquelas do tipo primário, como é caso da alimentação. 

 

  1. Metodologia  

Este estudo usa uma abordagem de enfoque qualitativo e empregou as técnicas de entrevista, observação participativa e bibliográfica, como instrumentos de colecta de dados.

Depois da colecta de dados, as informações colectadas foram cuidadosamente analisadas, usando a síntese, dedução e indução como vias de análise de dados.

Dentro dos dados colectados, houve uma decisão precisa de prestar mais atenção aos conceitos históricos do problema focado na sócia como uma agente económica que exerce as suas funções no mercado informal.

As entrevistas foram realizadas no local por onde as sócias são encontradas com maior fluência, procurando-se uma das outras.

Para generizar o contexto, efectou-se algumas entrevista via online, a partir das redes sociais, what upp e facebook .

Com as entrevistas feitas em redes sociais, foi possível perceber que sócia há sócia em qualquer parte de Angola.

A pesquisa teve maior probabilidade de encontrar sócias no bairro Kakiuia, Município do Uíge, Província do Uíge, precisamente numa localidade chamada BECO.

BECO, é um nome atribuído ao local, onde as sócias fazem as suas compras de peixe congelado, carne congelada e outros bens de género alimentar que servem de dieta de sustentabilidade familiar.

Assim, no Município do Uíge, observou de forma natural o fenómeno. E, por sua vez, o pesquisador, tendo sido um participante activo do contexto, conseguiu viver directamente o fenómeno. Ao passo que, por meio das redes sociais, encontrou-se vídeos que foram observados, ilustrando o modo de vida das sócias no meio ambiente do mercado informal.

Os vídeos mais observados e visualizados, foram encontradas no facebook, cuja, proveniência foi provada nas províncias de Luanda, Benguela, Bengo, Malange e Huíla.

Dada a dimensão dos factos e suas evidências, o problema ficou registado, estudado e sistematizado de forma generalizada.

Assim, as vias utilizadas por ser concretas e cientificamente convenientes, viu-se a lógica deste estudo ser aplicado no âmbito económico. E, foi efectuado, o seu enquadramento dentro das teorias da economia informal, terceiro sector e do sector não produtivo, que perante estudos avançados no mundo económico, vê-se estes sectores, sustem pelo menos meia parte da população mundial.

  1. Apresentação, analise e interpretação dos resultados da pesquisa

Os resultados desta pesquisa mostram que a sócia é uma agente de natureza económica informal que exerce uma actividade de compra de bens e produtos de género diverso que servem para mitigar as necessidades da fome dentro das famílias.

Toda a actividade diária da sócia, é guiada por um fim único, consistente em satisfazer as necessidades alimentares, pois, em Angola, as famílias não têm a criação de riquezas como sendo uma cultura. Por isso, o exercício árduo do dia-a-dia da sócia, só, se resume em encontrar alguma coisa que seja para garantir a subsistência da vida familiar.

Assim, os resultados deste estudo, conseguem definir a sócia dentro dos termos da sua dignidade, mostrando que:

  • A sócia é uma agente económica que transforma o sofrimento de uma nação num sorriso de vida próspera. É, a única via previa que as famílias angolanas têm para a diversificação da dieta alimentar.
  • A sócia é uma mulher cheia de qualidades inéditas, tais como: inteligência, prosperidade, coragem, estratégia, amor, etc.
  • A sócia consigna o modo de vida do povo angolano que resulta da pobreza extrema que as famílias vivem.
  • O objectivo fundamental da sócia consiste em flexibilizar os custos na compra de bens alimentares das famílias. E, constitui a peça fundamental para a aquisição de bem para a sobrevivência familiar. Pelo que em Angola, sem a sócia as famílias não sobrevivem.
  • A sócia apresenta uma estrutura fundada na lei de sobrevivência que inclui, duas sócias no mínimo. E, actualmente com o aumento dos preços no mercado, associada ao baixo poder de compra, a estrutura da sócia apresenta três sócias ou mais.
  • A vida da sócia no mercado informal é regulada por um elemento indissolúvel, chamada intermediário.

De facto, sem a sócia a família angolana, não consegue ter o mínimo da sua sexta básica alimentar.

Quanto ao surgimento, a sócia surge por meio das crises económicas que vem assolando a Angola desde 2012. E, que intensificaram a partir de 2017, depois das reformas económicas que provocaram a extinção de certas empresas nacionais. E, que provocaram o despedimento de vários trabalhadores que fizeram crescer de forma elástica o índice de famílias desempregadas em Angola.

Dentre as qualidades exuberantes na sócia, o amor apresenta-se de forma singular, por ser um meio pelo qual a sócia transforma até os seus inimigos em amigos. Isto quer dizer que, a sócia é uma pessoa humana com capacidade de esquecer, perdoar e influenciar positivamente as outras pessoas a fazer melhor as escolhas de bens e alimentos úteis para a sobrevivência no meio ambiente familiar.

  1. Conclusões

Depois de um longo processo de colecta analise e interpretação dos resultados, a pesquisa teve as seguintes conclusões:

  •  Conseguiu-se construir uma fundamentação teórica que define a sócia dentro do contexto da economia informal;
  • A sócia não pode ser exposta há qualquer hábitos de risco, por ser a única pessoa, membro da família confiável para suster os outros;
  • A sócia possui características humanas imensuráveis, onde o amor apresenta-se como factor segundo o qual, a sócia consegue transformar os seus inimigos, em amigos;
  • O escassez do produto alimentar no mercado informal, ofensas e maus-tratos que a sócia sofre, não lhe fazem desistir, pois, a sócia é uma pessoa rica de espírito de prosperidade;
  • A sócia tem a família em primeira instância. Por isso, em nome da família, sofre, enfrenta sol, chuva, engarrafamentos, leva pesos além do normal, percorrendo longas distancias na base da persistência, cujo, fim ultimo é obter algo alimentar que possa ajudar a família a sobreviver da fome.    
  1. Sugestões 

Pelo interesse social da pesquisa, viu-se a necessidade de apresentar algumas sugestões que sirvam de contribuições para uma vida económica mais racional e sustentável.

Assim, temos as seguintes sugestões:

  • Que os economistas e pesquisadores de diversas áreas continuem a construir uma fundamentação teórica que possa definir a sócia dentro do contexto da economia informal;
  • Que a sociedade e órgãos do direito, possam organizar melhor o mercado informal, de modo a evitar o excesso de riscos em que a sócia é exposta;
  • Que as características humanas da sócia fossem reconhecidas, salvaguardadas e generalizadas, em prol de fortalecer o contexto da unidade familiar e social;
  • Que o amor fosse vivido dentro das famílias e da sociedade em geral de modo que cada pessoa de forma singular possa ser capaz de transformar os seus inimigos, em amigos;
  • Que a sociedade angolana, adopte uma cultura económica afincada no aumento da produtividade, evitando a escassez do produto alimentar no mercado informal;
  • E, que os senhores possuidores de mercados: lojas, vendedores, e outros agentes do comércio, evitem ofender e maus-tratos a sócia, por ser um membro da família que sofre em nome de todos os outros.
  • Que a sócia continue a ser persistente ao mercado informal. E, que nunca desista em fazer o bem em prol da sustentabilidade familiar;
  • Que o espírito de prosperidade, caracterize todas as demais pessoas singulares;
  • Que toda a sociedade, respeite a família, tal como a sócia, a tem em primeira instância.

 

 

Bibliografia

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