O sétimo Coveiro

Por Carlos barros | 02/04/2011 | Crônicas

O SÉTIMO COVEIRO
Tudo começa numa pequena cidade da Paraíba chamada Olho Santo. Cidade de poucos habitantes, mas de muitos mortos. Lugar para enterrar já se tornava um problema. Só tinha um pequeno cemitério e sete coveiros.
Aconteceu que, num período de um ano, os coveiros começaram a morrer. Dizem que o primeiro morreu de tanto beber cachaça. O segundo afogou-se ao tentar salvar um gato que caiu no riacho. O terceiro morreu de febre. O quarto pisou num prego enferrujado de caixão e morreu dois dias depois. O quinto foi assassinado pelo amante da mulher. O sexto coveiro morreu de causas desconhecidas. O único sobrevivente foi seu José, o mais velho de todos. Como o prefeito não tomava providencias, José teve que trabalhar duro. Chegava a enterrar dez defuntos num só dia. O tempo foi passando. Numa tarde, em final de expediente, a Morte apareceu para José em forma de gente.
- Vim te buscar - Disse a figura vestida de preto.
Seu José teve um pequeno susto. Nunca acreditou em alma penada ou coisa parecida. Mesmo assim não deixou de ser educado.
- Mas dona Morte, se a senhora me levar agora, quem vai fazer o serviço pra senhora? Respondeu o derradeiro coveiro.
José era bom de lábia. Deixou a Morte pensativa. Mas logo veio a resposta.
- Não posso fazer nada, chegou sua hora.
José não titubeou:
- Tenho uma proposta pra senhora, dona Morte. Tô ensinando meu filho o ofício de coveiro, quando ele completar dezoito anos a senhora me leva.
O filho de José ainda tinha oito anos. Mais uma vez a Morte parecia encurralada. O diálogo entrou pela madrugada. A Morte enfim cedeu. Viria buscar José quando seu filho completasse dezoito anos. Finalmente, quando isso aconteceu, o sétimo e ultimo coveiro de Olho Santo, depois de cantar parabéns para o jovem filho, entrou no quarto e se matou com um tiro na cabeça. Deixou um bilhete para a esposa que dizia:
- A dona Morte vinha me buscar hoje, mas enganei a Coisa antes que chegasse. Deixo minha pá pra meu filho Tiago. Até queria ser enterrado por ele. Tem um dinheirinho embaixo do colchão, é seu. Assinado: José
A esposa de José não entendeu, mas chorou bastante ao ver o marido morto. Na cidade, todos, inclusive o prefeito, comentaram o fato ao mesmo tempo em que perguntavam: e agora, quem vai enterrar o sétimo coveiro?