O Ser e o Fazer do Pedagogo na Classe Hospitalar
Por Marcus Gonçalves Duarte | 20/08/2010 | Educação1 INTRODUÇÃO
A partir de um estudo teórico-prático da hospitalização infanto-juvenil é que resolvemos abordar o papel do pedagogo na recuperação de crianças hospitalizadas que estão fragilizadas e se deparam com um cotidiano diferente das crianças que freqüentam a escola de ensino regular.
O hospital para a criança e adolescente hospitalizados, passa a ser o principal espaço de convívio. Nesse espaço por meio de atividades a ela proporcionadas, a criança passa a ter contato com o jogo, explorando sua criatividade onde seus anseios, necessidades e temores passam a ser expressos, propiciando a criação de sonhos e fantasias.
Os jogos e brincadeiras são artifícios usados na maneira da criança lidar com o tratamento hospitalar, pois, quando falamos em atendimento hospitalar, é importante destacar que a Resolução N°. 2/01 do Coselho Federal de Educação definiu como portadores de necessidades especiais, dentre outros, os alunos que apresentam dificuldades de acompanhamento das atividades escolares por limitação de saúde e locomoção. Isso significa que as crianças e jovens hospitalizados precisam ter um acompanhamento especial na classe hospitalar ou se possível no próprio leito.
2 O DESAFIO DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL NO AMBIENTE HOSPITALAR
O atendimento educacional no contexto hospitalar conforme apontado por Fonseca (2001, p. 26) surgiu no Brasil através do Hospital Jesus no Rio de Janeiro no ano de 1950 com crianças com paralisia infantil, que permaneciam hospitalizadas durante anos. Já são 55 anos deste trabalho que, em geral, não é exatamente o da Pedagogia Hospitalar, mas a escolarização da criança hospitalizada.
Fontes (2002, p. 46) diz que o objetivo predominante não é o de levar as crianças a compreender aquele universo, mas de evitar que a escolaridade dessas crianças seja sistematicamente interrompida ou que sejam prejudicadas na conclusão de seus estudos por constantes internações.
Assim neste tipo de atendimento denominado de Classe Hospitalar, o professor atua como uma ponte entre o hospital e a escola, tendo um acompanhamento pedagógico e didático-curricular da escola no hospital e quanto mais pro´pício for o ambienta hospitalar e igualmente mais próximo da vida cotidiana infantil, mais rápido e menos sofrido será o pronto restabelecimento da criança ou adolescente hospitalizado.
3 A CLASSE HOSPITALAR
No Brasil as classes hospitalares estão distribuídas em onze, das vinte e sete Unidades federadas e apenas dez contam com Unidades físicas próprias para atendimento dentro dos hospitais (CECCIM, 1999, p. 33).
Esta experiência teve início na década de 90 no Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA), no qual um projeto de extensão universitária foi realizado como um programa de apoio, visando as crianças com longo período de permanência hospitalar ou com múltiplas internações.
Já Fonseca (1998, p. 22) afirma que no Brasil há apenas trinta classes hospitalares, cada uma com um diferente perfil teórico e prático desde a vinculação das atividades de recreação até os programas escolares da escola formal no ambiente escolas sob coordenação das Secretarias de Educação ou atendimento pedagógico-educacional para crianças hospitalizadas.
3.1 O QUE É CLASSE HOSPITALAR?
A Classe Hospitalar constitui-se em um ambiente próprio que possibilita o acompanhamento educacional de crianças e jovens que necessitam de atendimento escolar diferenciado por se encontrarem em tratamento hospitalar e que deve apoiar-se em propostas de educação lúdica, educação recreativa ou de ensino para a saúde, diferenciando-se assim das salas de recreação, brinquedotecas e dos movimentos de humanização hospitalar (BRASIL, 1994).
Para Ceccim (1999, p. 51) a classe hospitalar não pode ser considerada como uma classe de escola formal, mas implica em uma regularidade e em uma responsabilidade com as aprendizagens formais da criança, com a formulação de um diagnóstico para o atendimento e a formulação de um prognóstico á alta, com recomendações para a casa e a escola no final de cada internação.
3.2 O PAPEL DO PROFESSOR NA CLASSE HOSPITALAR
A literatura específica sobre o atendimento pedagógico educacional hospitalar não é vasta, mas aponta para o importante papel do professor junto ao desenvolvimento a aprendizagem e ao resgate da saúde pela criança hospitalizada (BRASIL, 2002).
A função do professor na Classe Hospitalar não é de apenas ocupar o tempo da criança para que ela possa expressar e elaborar os sentimentos trazidos pelo adoecimento e pela hospitalização, aprendendo novas condutas emocionais como também não é de apenas abrir espaços lúdicos com ênfase no lazer pedagógico para que a criança esqueça por alguns momentos que está doente ou em um hospital.
O professor deve estar no hospital para operar os processos afetivos de construção da aprendizagem cognitiva e permitir aquisições escolares às crianças
O contato com o professor é como uma escola no hospital, pois, funciona de modo que há uma ligação com os padrões da vida cotidiana do comum das crianças, como se fosse uma ligação com a vida em casa e na escola..
Há de se destacar ainda que os avanços tecnológicos na área médica tem reduzido o tempo de intervenção em diversas patologias que antes significavam mortes prematuras.
Do ponto de vista da atenção integral em saúde, sentir-se cuidado e, portanto, contar com um desejo de cura implica na criança, dispor de um atendimento correspondente às suas necessidades de desenvolvimento e aprendizagem.
3.3 O PAPEL DO PEDAGOGO NA CLASSE HOSPITALAR
O pedagogo é que coordena a proposta pedagógica na classe hospitalar ou em atendimento pedagógico domiciliar. Deve conhecer a dinãmica e o funcionamento peculiar dessas modalidades, assim como conhecer as técnicas e terapêuticas que dela fazem parte, as rotinas da enfermaria ou os serviços ambulatoriais assim como as estruturas de assistência social (BRASIL, 2002).
Do ponto de vista administrativo o pedagogo deve articular-se com a equipe de saúde do hospital, com a Secretaria de Educação e com a escola de origem do educando, assim como orientar os professores da Classe Hospitalar ou do atendimento domiciliar em suas atividades e definir demandas de aquisição de bens de consumo e de manutenção e renovação de bens permanentes (BRASIL, 2002)
4 CONCLUSÃO
O desenvolvimento é um processo contínuo que envolve aspectos biológicos e psicológicos através do qual a criança irá adquirir novos comportamentos antigos. No período em que a criança permanece internada o seu desenvolvimento pode ser interrompido ou retardado e ainda há a possibilidade de sofrer desvios ou atrasos.
Assim podemos dizer que o processo de hospitalização da criança desencadeia uma série de reações que não se limitam aos aspectos físicos, mas, afeta sobretudo o desenvolvimento ainda que de maneira temporária.
Em geral na hospitalização a criança enfrenta o afastamento tanto de pessoas próximas como do seu habitat e se depara com o hospital, um ambiente estranho onde passa a ser submetida a uma série de procedimentos que não compreende, desencadeando uma série de reações que se dão principalmente através do choro, dos gritos, da recusa de ficar no hospital, de problemas alimentares, de alterações no sono, dentre outras.
5 REFERÊNCIAS
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/ SEESP, 1994.
_______. Casse Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: Estratégias e orientação. Brasília: MEC, 2002.
CECCIM, Ricardo, Burg. Classe Hospitalar: Encontros da educação e da saúde em ambiente hospitalar. 3°. Ed. São Paulo: Editora Moderna, 1999.
FONSECA, Eneida, Simões da. Aspectos da ecologia da classe hospitalar no Brasil. Brasília: MEC, 1998.
__________________________. Classe Hospitalar. Brasília? MEC, 2001.
FONTES, Rejane de S. Escuta pedagógica a criança hospitalizada. 4°. Ed. Niterói, Rio de Janeiro, 2001.