O Segredo de Luísa - Análise da obra de ficção sobre empreendedorismo

Por Viviane Morais Ribeiro | 16/09/2012 | Adm

Viviane Morais Ribeiro

 O Segredo de Luísa 

Análise da obra de ficção sobre empreendedorismo.

 AUTOR:         FERNANDO DOLABELA

                        PÓS-GRADUADO PELA FGV E MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PELA UFMG.

                                  

                    

A obra “O Segredo de Luísa” relata uma história sobre uma estudante de odontologia que decide abandonar a carreira para realizar o sonho de abrir o seu negócio. Trata-se de uma história sobre empreendedorismo. É descrita pelo autor Fernando Dolabela como a demonstração de dois processos básicos para a criação de uma empresa: a formação de uma ideia e o caminho para sua validação através do Plano de Negócios. O objetivo do autor é tentar diminuir o número de empresas que fecham muito cedo devido ao despreparo de novos empreendedores. Ressalta-se que não é possível garantir o sucesso de um empreendimento, mas sim diminuir o risco. Com isso, o autor pretende indicar ao leitor quais qualidades deve desenvolver para se tornar um empreendedor bem sucedido.

 

 

Estrutura

 

Em relação à estrutura, o livro inicia com o prefácio (realizado por Gina Paladino, profissional de Administração) sobre o tema empreendedorismo e comentários da obra. A apresentação da obra é feita por Louis Jacques Filion, professor de empreendedorismo da Escola de Negócios da Universidade de Montreal. Em seguida o autor faz os agradecimentos. E então, na introdução, destaca o fascínio de muitos alunos e diversas pessoas sobre empreendedorismo. É feita uma nota sobre a metodologia a ser utilizada, que procura demonstrar como criar uma empresa. Ele comenta que, além da história narrativa, há diversas caixas explicativas sobre conteúdos importantes vinculadas a diferentes passagens da história.

A história em si começa após a introdução, e é divida em cinco capítulos: o primeiro procura caracterizar Luísa como empreendedora; o segundo demonstra a validação da idéia; o terceiro capítulo trata da busca do padrinho (o mentor) para o negócio; o quarto capítulo é o mais extenso, com toda a demonstração do plano de negócios da empresa (englobando plano de marketing, estratégias de marketing, a preparação do empreendedor e o plano financeiro); o quinto capítulo trata da busca por recursos para o início do negócio; no último capítulo, é demonstrado o resultado final, a consolidação do trabalho. Após o término da narrativa, são demonstrados nos apêndices: o plano de negócios da “Goiabadas Maria Amália” de forma estruturada; e um teste sobre empreendedorismo.

 

Conteúdo: A história e o resumo dos capítulos

 

A história se inicia in media res, ou seja, a narrativa começa quase no final da história, no salão nobre da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), onde será feita a entrega do prêmio de Melhor Empreendedor Global do Estado de Minas Gerais, e há uma expectativa de que a vencedora do prêmio será a protagonista da história, a empreendedora Luísa, filha da dona Maria Helena, a qual se encontra aflita na plateia. Essa premiação será retomada no final da história.

Então o autor volta no tempo para o início da história, seis anos antes da premiação, quando a protagonista Luísa estava noiva de Delcídio e cursava o quinto ano de Odontologia em Belo Horizonte. Começa a caracterização de Luísa e a demonstração de suas características de empreendedora. Ela nasceu em Ponte Nova, interior de Minas Gerais, e a maioria de seus ascendentes de a sua família trabalhou como funcionário público, a não ser a sua tia Fernanda, por quem Luísa tem admiração por ser uma empresária de sucesso na cidade, pessoa que vai ajudá-la no início de sua caminhada.

O primeiro capítulo demonstra também a diversificação de serviços de Fernanda em sua única loja (Sereia Azul – ponto mais importante da cidade), que incluem salão de beleza, mercearia, corretagem de imóveis, entre outros. O capítulo é relevante por mostrar a da decisão de Luísa de desistir da Odontologia e montar seu próprio negócio de goiabada-cascão, produto apreciado na cidade e oferecido de graça no negócio da tia. Ela precisou conquistar o apoio de Fernanda que precisa ajudá-la a convencer a família de que é o melhor caminho para sua vida, pois eles provavelmente vão se opor à ideia de não seguir a carreira de dentista.

Outro ponto de destaque no meio primeiro capítulo é a incerteza de Delcídio a respeito de algumas histórias contadas a respeito de antigos amores de Luísa e também sobre algumas saídas da protagonista sem explicação muito clara na cidade de Belho Horizonte. Isso não o faz duvidar do caráter dela, que sempre se mostrou muito correta, apenas o deixa um pouco inseguro quanto ao seu relacionamento. É relevante para a narrativa da trajetória de Luísa.

O primeiro capítulo é importante também por demonstrar características empreendedoras de Luísa, como gostar de ir ao colégio para encontrar amigos, ouvir coisas diferentes e aprender com os colegas; gostava muito de se diferenciar de outras meninas; reproduzir situações; ter iniciativa; aprender com insucessos; ser capaz de transformar o mundo; realizar seu próprio sonho, e não o sonho dos pais (decidiu abandonar a Odontologia) e ter um modelo, uma pessoa que a influencia (Fernanda). Nas caixas explicativas há a definição de empreendedorismo e de características do empreendedor.

No segundo capítulo da obra, Luísa conhece o professor Pedro, especialista em empreendedorismo, o qual começa a orientá-la. Para a surpresa de Luísa, Pedro não dá respostas às suas perguntas, mas sim realiza diversos questionamentos sobre o seu negócio. Entre os ensinamentos, ele diferencia ideia de oportunidade, que nem sempre uma boa ideia vinga, e as oportunidades podem ou não servir para diferentes empresas. Conta histórias sobre empreendedores, e ressalta a importância da vocação para aceitar dinheiro como forma de reconhecimento do seu trabalho.

Na continuação do segundo capítulo, demonstra uma outra característica de empreendedores, que devem colocar o acaso a seu favor. Outro importante conselho é a escolha de um mentor, ou um “padrinho”, um empresário com experiência que ajude a planejar o negócio. Ele também aconselhou Luísa a elaborar um plano de negócios. Em um encontro com Eduardo, amigo consultor de administração (com quem ela se relacionará no futuro), ela demonstra o início do seu plano de negócios, o qual colabora para a construção da visão e para projetar a organização da empresa, englobando também o produto, a descrição da unidade fabril, o fluxo de produção. Ela demonstra uma lista de contatos profissionais; a competência e o comprometimento de Luísa impressionam o consultor.

O final do capítulo é marcado por uma reviravolta na vida de Luísa. De repente quando retorna para Fonte Nova, estão planejando seu casamento, seu pai pretende presenteá-la com um apartamento, e o Sr. Luís pretende repassar a ela sua clínica odontológica. Parece que sem saber, estão tentando fazê-la desistir de abrir a GMA. Luísa fica lisonjeada, mas em seu interior não vai desistir de seu sonho empreendedor, revelando para a família nos próximos capítulos seus planos.

O terceiro capítulo trata da busca pelo mentor. Luísa atende aos conselhos de Pedro e não escolhe sua tia Fernanda como mentora, pois era preciso que ela começasse a montar sua rede de relacionamentos. Procura, então, o seu André, proprietário de uma fábrica de doces (Biscoitos Santa Luzia). É um momento de clímax para Luísa, pois desse encontro possivelmente seu negócio passaria de uma ideia a uma realidade. Apesar do nervosismo, ela se sente preparada para o encontro.

Quando ela finalmente é atendida, se sente pressionada com perguntas do experiente empresário em relação ao comprometimento com o projeto da GMA. Ela responde a ele que está deixando uma carreira de dentista, inclusive com emprego garantido para dedicar-se ao seu empreendimento, que é o seu grande sonho e possivelmente seu grande talento. Seu André, convencido pelo argumento de Luísa, e também por ser conhecido de Vovó Amália (pela qual ele tem carinho), começa a ajudá-la. O encontro foi muito proveitoso, inclusive com a elaboração de um plano de trabalho com cronograma; nesse momento ela já estava muito mais preparada para tocar seu negócio. Tinha consciência de que poderia não dar certo, mas o entusiasmo transformava-se em otimismo. Então organizou seu tempo para a elaboração do plano de negócios.

O quarto capítulo é o mais extenso e complexo do livro, demonstra toda a elaboração do plano de negócios. Nesse capítulo Luísa rompe seu noivado com Delcídio, e a família já sabe que ela não seguirá carreira de dentista, o que causa decepção na mãe. O plano de negócios se inicia com o plano de marketing, subdivido na análise do mercado (setor, concorrência, fornecedores e clientes) e na definição da estratégia de marketing (identificação dos objetivos, estratégia de produto, estratégia de preço, estratégia de distribuição e estratégias de comunicação). As caixas explicativas demonstram toda a teoria sobre o plano de marketing.

Luísa percebe, após elaborar o plano, que somente sabor agradável do produto não seria garantia de sucesso. Era necessário identificar também um direcionamento para o seu negócio, além de saber qual seria o nicho de mercado que exploraria, e qual seria o diferencial de sua goiabada, algo que tornaria seu produto único. Também era importante decidir quais seriam os pontos de vendas, o design, o preço (detalhes que poderiam influenciar o consumidor). Acontece a decisão de vender goiabada em tabletes, após pesquisa de mercado. Com a elaboração do plano, Luísa já está pronta para um novo encontro com o mentor.

Nesse capítulo também acontece a festa de 90 anos do nascimento de Vovó Mália, e cria-se uma expectativa de romance entre o professor Pedro e a Tia Fernanda (toda a família torcia para o relacionamento, assim como Luísa, querendo ser a madrinha). Há também a consolidação do relacionamento de Luísa com Eduardo. No encontro com o mentor André, ela obtém informações sobre sociedade e sobre a constituição da empresa, envolvendo contrato social e outras burocracias necessárias. Também tem conversas interessantes com Rodrigo (namorado da irmã Tina) que a relata sobre o clube dos empreendedores. O capítulo acaba com a demonstração do plano financeiro, cujo investimento inicial deveria ser de R$40.847,08.

O quinto capítulo relata um drama vivido por muitos empreendedores no início do lançamento de sua empresa: a falta de capital. Luísa refez todos os cálculos, porém não conseguiu fazer cortes para reduzir o valor de investimento sem comprometer a qualidade. Devido à falta de recursos, ela tenta conseguir capital no banco onde seu pai tinha conta. Só que ela não conseguiu viabilizar um financiamento, pela falta de uma garantia real.

Luísa procura para seu padrinho André, o qual indica três empresários para que ela fosse conversar na tentativa de fazer uma pareceria para o investimento inicial do capital. O primeiro parceiro que ela procurou, o Dr. Celso, propôs a ela a compra do plano de negócios e da idéia da empresa, dizendo que ela ainda era muito nova e sem experiência. Luísa não concorda e procura outro parceiro, o seu Acácio, futuro concorrente, que propôs a Luísa uma sociedade, onde ela teria a participação de 10% na GMA, cuja administração seria de Luísa, supervisionada pelo seu Acácio. Apesar de se decepcionar por não querer participar de somente 10% do seu sonho, decide aceitar a proposta, tendo em vista a impossibilidade de falar com o terceiro possível parceiro.

Quando o contrato com empresa de seu Acácio está pronto para ser assinado, com um clima de decepção por parte de Luísa e uma pequena esperança da família de que ela voltasse para a odontologia, Luísa recebe um telefonema. Era Romeu Neto, o terceiro possível parceiro para a sociedade, que não tinha conseguido atender Luísa anteriormente. Proprietário da Doceminas (indústria de compotas), ele propõe que ela utilize suas instalações ociosas para produzir a goiabada, em troca ele receberia um valor unitário pelo produzido. Ou então, fazer um contrato de risco, onde ele bancaria a produção e teria a participação em 10% sobre o faturamento bruto. Luísa parte para Contagem (MG), conhece a fábrica, e fecha um contrato provisório. Finalmente Luísa materializa seu projeto.

O último capítulo explicita as dificuldades enfrentadas no primeiro ano de funcionamento da empresa, como dificuldades no fluxo de caixa, problemas na produção, falta de funcionários, ou seja, a dificuldade do início do negócio. Então ela viaja para os Estados Unidos a convite de sua tia Fernanda (que bancou a viagem), com a intenção da tia de que fosse uma viagem de compras e lazer. Luiza, porém, não acompanha a tia nas compras e distribui amostras de seus produtos em supermercados e varejistas, percebendo uma boa oportunidade para exportar seu produto. O capítulo também revela algumas dificuldades da vida pessoal de Luiza, como a falta de tempo para a família e a impossibilidade de estar presente no enterro da avó, além da instabilidade de seu relacionamento com Eduardo.

Finalmente a história termina com a demonstração de que a GMA é um sucesso, e seis anos após o início das atividades, Luísa é indicada ao prêmio Melhor Empreendedor Global do Estado de Minas Gerais. Pelo valor das exportações, Luísa ganha o prêmio e se emociona, no seu discurso improvisado, ela ressalta características do empreendedor, como: “o ser é mais importante que o saber” e “a empresa é a realização dos nossos sonhos” e assim de certa maneira, fica implícito que Luísa acredita que valeu a pena passar por todas as dificuldades em busca de seu sonho.

 

Análise Crítica

 

A obra é muito interessante por demonstrar um exemplo de empreendedorismo. É uma obra que pode serve de exemplo para futuros empreendedores que pretendem abrir uma empresa. Há uma aplicação muito competente de ferramentas de marketing e plano de negócios para empresas. O autor demonstrou ótimos conhecimentos ao descrever a narrativa e também nas caixas explicativas de conteúdo. A obra pode servir como um guia para novos empreendedores. A leitura do livro agrega muitos conhecimentos na área do empreendedorismo.

 

Conclusão

 

O empreendedor não sobrevive apenas com uma ideia. Ele precisa se preparar para enfrentar o mercado competitivo. Para isso, é necessário muita perseverança, além de talento inovador, englobando características de transformação de conhecimentos, esforços e bens em novos produtos, mercadorias ou serviços. É necessário não desistir do seu sonho, além de saber gerenciá-lo com prudência e competência.