O sangue de Gaia.
Por Carlos José Esteves Gondim | 09/05/2013 | CrônicasO Sangue de Gaia.
Sobrevoando a região amazônica, vemos, lá de cima, um cenário inusitado. Os numerosos rios amazônicos serpenteando por entre o verde florestal. Os igarapés, quase imperceptíveis, desaguando em pequenos rios, estes em outros maiores, até finalmente chegar ao majestoso rio Amazonas. Isto se passa por mais de 7 milhões de quilômetros quadrados de terra. Área equivalente a mais de nove mil e quinhentas cidades do tamanho de Belém.
“A investigação ecológica da região amazônica deve começar pelo estudo das águas”, disse Harald Sioli, o grande limnologista e humanista. Esta observação foi feita por ele ao ler uma conferência proferida por Hans Blunstschli, anatomista suíço em 1918, em Frankfurt, Alemanha. Este senhor foi o primeiro pesquisador a considerar a Amazônia como um grande organismo harmônico, uma unidade funcional, ou seja, um ecossistema tal como o entendemos hoje.
Só por volta do ano de 1988, Jame Lovelock lançou sua teoria chamada Gaia, através da qual o planeta Terra seria um superorganismo vivo, portanto, uma unidade dotada de uma série de mecanismos que a mantém tal qual ela o é.
Abordando a ecologia sob este enfoque, poderemos estabelecer uma forte analogia entre o corpo humano e a Natureza. Entre as veias do aparelho circulatório e os rios da imensa rede de drenagem da Amazônia. Entre o sangue que corre dentro das veias e a água que flui nos rios amazônicos. “É preciso entender os rios como as veias do corpo humano”, salientou Jeff Richey, mestre em hidrologia e Modelamento da Universidade de Washington, recentemente.
Jaques Cousteau, o famoso oceanógrafo francês, quando esteve em viagem pela Amazônia, ao efetuar análise da água coletada no rio Madeira, descobriu que ela, em sua foz, estava contaminada com elevado teor de mercúrio. Isto indicou o uso indiscriminado deste elemento por garimpeiros localizados no alto curso do citado rio.
Se, ao fazermos uma análise físico-químico e bacteriológica de amostras d’água Coletadas em um determinado rio, estes exames mostrarem alterações em qualidade e quantidade das suas propriedades e componentes, isto indicará que estas modificações ocorreram ou estão ocorrendo na terra ao redor por onde esse rio passa, ou seja, em sua bacia de drenagem. Por sua vez, efetuando exame de sangue de um ser humano, saberemos como anda a saúde desse indivíduo. Se o colesterol está alto, se está sofrendo de anemia, se tem propensão à diabete, etc. Da mesma forma, o exame das águas dos rios nos dirá como está a saúde da Natureza.
Poluição por agrotóxicos, bacteriológica, por metais pesados, impactos mecânicos de derrubadas, queimadas, desmatamentos de cabeceiras e margens, serão detectados por esses exames. Assim, as águas dos rios funcionam como o sangue. O sangue de Gaia.