O sabor das redondilhas

Por António Lourenço Marques Gonçalves | 19/05/2014 | Poesias

AS PALAVRAS DAS IMAGENS 17

O SABOR DA REDONDILHA

(ilustraram mais algumas das minhas fotografias publicadas no  facebook)

 

O povo do Carvalhal 

Ainda se ouve o tal grito
Nas altas fragas da serra.
Tão poderoso, está escrito
Na fama dos que venceram a guerra
Dos que lutaram pelo pão
Roubado com a própria terra
De águas frescas, e falta
Do sustento elementar.

Não morrera a claridade,
Não fora lavrado em vão.
O povo sabe a liberdade.

De quem é o Carvalhal?
O Carvalhal é nosso, sem senão!

(em Souto da Casa)


Que ânsia…

Que ânsia p'ra mudares tudo!
Assim fervem os teus dias.
Faz-me lembrar os tiranos.
Que desfrutas? Não confias?

Margaridas

É neve tão à distância!
Ah! onde o olhar a alcança!?

Ó queridas margaridas,
Tão próximas. Que elegância!
Mostrais-vos. Não é vingança.
P’ra muitos sois preferidas!

Preto e branco

Credo! Mas há decisivo?!
Ou quando trocarem mando
Os que ora acertam a mão
Pertencem ao mesmo bando?

Não é de crer tal suspeita,
Nem isso está demonstrado.
Eles gozam, só p’ra desfeita,
Quando invocam o passado.

Não são aves agoirentas.
Ah mas despicam o milho!
Uma e outra p´las ementas
Acham o outro empecilho.

Mas é definitivo?

Como então compreender
Essa pergunta fatal:
É o "arco do poder"
E se chegar fica igual?

Não posso crer!

Luz

Pleno, luz, frio, pureza
Têm o branco em partilha.
Olha só! Há mais clareza?
Bem dispensa a redondilha!

No largo de Camões

Acolhidas à chuva, as aves
Gozam, contidas, em tal graça!
O Camões logo se presta!
E a gente, fria, só passa!

Cova da Beira - Rústico (2014)

Um abrigo aqui vazio
Feito rijo no passado
E que o tempo mais macio
O deixou abandonado.

Mais além, socalcos? Calha!
Vão ter pés de cerejeira
Ou outra coisa que o valha?
Mal asados p´ra trincheira!

Ao longe, vemos a neve.
Levezinha, Tão branquinha!
P´ra comer, olha, não serve!
Porque será? Adivinha.

Mulher, em Petra

Esculpidos na mesma sombra,
Oh, onde o deserto nos sobra?!"


O vendaval

As árvores quase derrubadas
Enfrentam vento fortíssimo.
E tombam pelas pancadas 
Que de longe batem próximo.