O rotulo da Coréia do Norte
Por Adriano Alves Fernandes Pinto | 08/12/2010 | PolíticaA comunidade internacional rotulou a Coréia do Norte como uma ameaça a paz, seguindo a linha do ex-presidente estadunidense George Bush que classificou este país como um dos integrantes do eixo do mal. O que a Coréia do Norte busca é uma ferramenta de dissuasão, pois a história recente mostra que os países que não tinham armas estratégicas quando enfrentaram forças invasoras mais fortes foram dominados ou perderam partes de seus territórios, Afeganistão, Iraque e Sérvia. É claro que nem todos tinham a capacidade de desenvolver um armamento nuclear, isso é restrito a poucos países.
A Coréia do Norte é um país que sofre com pressões dos EUA há algumas décadas, a participação dos EUA na guerra da Coréia (1950 a 1953) foi efetiva, e não pode fazer frente a um inimigo numericamente e tecnologicamente superior. A aquisição de armas nucleares é a chance de obter uma ferramenta de dissuasão por parte dos norte-coreanos, assim como também é para as potências que já possuem armas nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra, França, Índia, Paquistão e Israel). Os norte coreanos sabem de suas limitações militares, agravadas ainda mais por décadas de isolamento e sanções, e a busca por armas nucleares é o único caminho para a sobrevivência de um país que possui vizinhos inimigos e aliados de uma superpotência chamada Estados Unidos, até porque, esta superpotência já mostrou ao mundo o poder de tal arma em Hiroshima e Nakasaki.
A Coréia do Norte já executou dois testes, o primeiro em 2006 com uma explosão subterrânea que teve a potência de 4 quilotons e o segundo em Maio deste ano com uma potência de 20 quilotons também com um teste subterrâneo. A evolução dos norte coreanos é um fato, porém, até usarem essas armas em um míssel vai levar mais algum tempo. A bomba propriamente dita precisa ser remodelada para poder ser alojada dentro de um míssel que possa carregá-la, ogiva. Até isso acontecer os norte coreanos podem ser surpreendidos ou provocados com o intuito de revide. Não acredito que a Coréia do Norte tenha o desejo de lançar um ataque nuclear contra sua vizinha Coréia do Sul ou mesmo o Japão, a represália seria fulminante com os Estados Unidos lançando seus Minutenam e Trident, sem chance de defesa.
Um conflito convencional também não é das melhores escolhas para a Coréia do Norte. Seu exército é numeroso e impressiona pela organização, mas, não pelos equipamentos. Seu exercito de mais de 1,2 milhões de soldados possui tanques russos antigos T-34, T-62, T-72. O exercito conta ainda com mais 6milhões de reservistas e uma tropa de elite de 120mil homens. Há ainda, 13 mil canhões apontados para a Coréia do Sul. Há cerca de 1000 mísseis, entre eles 600 Scud e 200 Rodong. Os norte coreanos começaram sua parceria com a ex-URSS na obtenção de mísseis em 1960. Entre 1976 e 1981 receberam carregamentos de Scud-B via Egito como retribuição a ajuda de Pyongyang a guerra de Yom Kippur contra Israel. Desses 600 Scud há os modelos Hwasong-6 com alcance de 300Km e o Hwasong-6 com alcance de 500Km. Os Rodong tem um alcance de 1.400 km. Há também um míssel de curto alcance o KN-02 com alcance entre 100 a 200km que apesar de ser o de menor alcance tem a melhor precisão entre os mísseis norte coreanos. O grande orgulho da Coréia do Norte esta nos seus Taepodong. O Taepodong-1 é um míssel de multiestágio com combustível liquido que foi testado pela primeira vez em 1998 sobre o mar do Japão, tem um alcance que gira entre 2.000 a 3.000km. O Taepodong-2 é um míssel de 2 ou 3 estágios e tem um alcance estimado entre 5.000 a 7.000km, podendo atingir o Alasca. O Taepodong-x é um míssel de combustível sólido com alcance entre 2.500 a 4.000km. A Marinha, com 800 navios, e a Força Aérea são o ponto fraco da Coréia do Norte. A Força Aérea conta com mais de 1.700 aviões, entre eles Su-7, Su-25, Q-5, Mig-17, Mig-19, Mig-21, Mig-29. Seu melhor avião é sem dúvida o Mig-29, mas possui pouco mais de 30 aparelhos e de versão antiga, estão encarregados de defender a capital Pyoungyang. Ao que tudo indica a Coréia do Norte optou por investir seus poucos recursos na produção de mísseis e da tecnologia nuclear, deixando a Marinha e Força Aérea em segundo plano. Foi uma escolha arriscada, pois em um conflito convencional contra a Coréia do Sul, o que acabaria envolvendo os Estados Unidos e possivelmente o Japão, a Coréia do Norte teria que enfrentar forças muito mais bem equipadas. A Coréia do Sul conta com navios e caças muito avançados, entre os caças figuram aproximadamente 40 F-15K, 150 F-16, 130 F-4 e 150 F-5. O Japão conta com 200 F-15J, 90 F-2 e 50 F-4J. Esta força ainda tem um reforço direto de 72 F-16 C/D e 10 A-10 dos Estados Unidos estacionados na Coréia do Sul e mais 48 F-15, 32 F-16, 12 F-22 e 48 F-18 estacionados no Japão. Além disso, há ainda aproximadamente 28,5 mil soldados dos Estados Unidos na Coréia do Sul.
É claro que essa força dos Estados Unidos seria, consideravelmente, aumentada em caso de um conflito o que traria a inevitável derrota da Coréia do Norte. O grande problema é a curta distância entre a capital da Coréia do Sul, Seul, com a fronteira da Coréia do Norte, por volta de 40km. Nas primeiras horas do conflito os 12 milhões de habitantes da capital Seul sofreriam com os mísseis e com a artilharia. Isso iria diminuir à medida que a aviação estadunidense e sul coreana começasse a revidar eliminando as peças de artilharia do norte, isso seria feito sem muitos problemas, pois são alvos fixos e sem uma aviação decente para protegê-las não teriam muita chance. Sem seu principal mecanismo de ataque restaria o avanço de seu exercito para uma investida final ou apenas se defender dentro de seu próprio território contra maciços ataques aéreos. Um cenário extremamente complicado para um país que já sofre com a fome e falta de recursos. Mas, todo o sacrifício é valido quando se esta na mira dos Estados Unidos da América.