O RIO E A CANOA EM GUIMARÃES ROSA: UMA ABORDAGEM SOBRE A COMPOSIÇÃO LINGUÍSTICA ALEGÓRICA E POÉTICA

Por REGINA JAREMKO | 05/04/2018 | Literatura

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIENCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS - FACEL

Pós-Graduação em Linguística e Formação do Leitor

 Área: Educação

 Data de início: 21/01/2017

O RIO E A CANOA EM GUIMARÃES ROSA: UMA ABORDAGEM SOBRE A COMPOSIÇÃO LINGUÍSTICA ALEGÓRICA E POÉTICA[1]

Regina Jaremko[2]

RESUMO:

O presente artigo define-se em pesquisa bibliográfica literária. Procura-se apresentar um pouco sobre a composição linguística portuguesa, suas modalidades de expressão e variação, bem como a função cultural da literatura. O artigo apresenta, ainda, características da linguagem e produção literária de João Guimarães Rosa, analisando e comparando a ligação e traços muito comuns de comunicação textual entre os contos: “A Terceira Margem do Rio” e “Ripuária”, marcados por excelência pela alegoria, poesia e encanto do rio e da canoa.

Palavras-chave: rio, canoa, João Guimarães Rosa, alegoria, linguagem.

  1. Introdução

No decorrer deste artigo, procura-se enfatizar a formação linguística e literária e suas funções na formação do falante, do leitor, até se chegar ao ponto maior da pesquisa: a obra de João Guimarães Rosa. Enfatiza-se a linguagem poética do escritor, analisando-se a alegoria das figuras do rio e da canoa em dois contos escritos em épocas diferentes, bem como a intertextualidade e ligação que ambos têm em comum.

  1. Da Língua, sua formação e Literatura, à Linguística e Estilística rosianas

O português brasileiro, como as demais línguas faladas no mundo, varia de acordo com a região em que os falantes estão inseridos. Aprende-se a falar a partir da exposição à modalidade linguística a que se tem acesso, processo que se desenvolve no seio familiar antes mesmo da alfabetização. A isso podemos denominar Língua Materna.

Na fala e na expressão linguística das pessoas, acontece a Variação Linguística. São formas diferentes de falar que constituem o mesmo sistema linguístico, não impedindo a comunicação entre pessoas de diferentes regiões e culturas dentro do mesmo país. No entanto, há uma modalidade linguística que rege todas essas outras livres manifestações da fala dos indivíduos que fazem uso da mesma língua para seu processo comunicativo. A essa modalidade, chamamos de Norma Padrão.

De acordo com as DCE (BRITO, 2003), a linguagem, no ensino de Língua Materna, deve ser concebida como sistema que, embora possua muitas normas, nasce da interação entre os homens na sociedade, sendo, por isso, um acontecimento oriundo da interação verbal entre os indivíduos em determinado contexto político, social ou econômico.

Essa concepção de linguagem relembra Bakhtin (1988), para quem a experiência discursiva se desenvolve a partir do momento em que o ser humano interage com o outro, com os enunciados alheios:

[...] a experiência discursiva individual de cada pessoa se forma e se desenvolve em uma constante interação com os enunciados individuais alheios. Esta experiência pode ser caracterizada, em certa medida, como processo de assimilação (mais ou menos criativa) de palavras alheias de palavras da língua). Nosso discurso, ou seja, todos os nossos enunciados (inclusive obras literárias) estão repletos de palavras alheias de diferentes graus de alteridade ou assimilação, de diferentes graus de conscientização e de manifestação. As palavras alheias trazem sua própria expressividade, seu tom apreciativo que assimilamos, elaboramos ou reacentuamos. (BAKTHIN, apud GERALDI, 2002, p. 19-20).

A partir disso, percebemos o quanto a linguagem dos escritos de João Guimarães Rosa é um repleto manancial de palavras alheias — o que nos apresenta um exemplo de concepção de linguagem definido por Bakhtin. Em seus escritos, emanam vozes de toda parte, de todos os tipos de gente, em essência sertanejos. Essa variabilidade linguística rosiana evidencia que o homem, a partir e por meio da linguagem, se revela humano, um homem que se comunica com o outro, interage como outro trocando conhecimentos e valores sobre o mundo.

Se a linguagem é resultado dessa interação entre os falantes, no que implica o ensino da Língua Materna nas escolas?

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