O rio da minha cidade de sonho

Por Edson Terto da Silva | 04/11/2010 | Crônicas


Edson Silva

O rio de minha cidade é caudaloso, límpido e comportado. Aliás, fruto de mero sonho, nem mesmo sei se existem cidade e tal rio. O leito dele é de retângulos de pedras artesanalmente esculpidos. Sobre eles corre água mais que transparente. Por intervenção do homem, o rio teve o leito dividido como se fosse uma avenida de mão única, mas com delgado canteiro do meio, enfeitado por floreiras sempre multicoloridas, perfumadas e com o néctar que delicia pequenas e grandes criaturas.

Em cada esquina do rio/avenida de sonhos, nos cruzamentos de pontes e túneis, as águas transparentes somem momentaneamente sob pneus de carros e o asfalto, mas ressurgem do outro lado. A beleza da correnteza e seu barulhinho tão melódico encantam motoristas, passageiros, ciclistas e pedestres. Também é bonito de ver os cardumes de peixes descendo as águas sob o sol que rompe sem dificuldade aquela transparência límpida, imaculada e faz brilhar ainda mais os peixinhos de todas as cores.

Curiosas são as cascatas de peixes formadas nas esquinas. Muitos deles tentam retornar na contramão do rio/avenida de sonhos e alguns formam a heróica subida, bem ao estilo das piracemas que já vimos em programas vespertinos de pescarias. Nem ai com toda aquela beleza e preocupados em conseguir algum petisco estão muitos gatos, de todas pelagens, raças e tamanhos que se aglomeram nas esquinas com cascatas de peixes.

Patadas ágeis, leves e precisas- noto que a maioria daqueles felinos é canhota- retiram num golpe algum peixe do véu de águas claras. O pescador hábil, mas improvável, nem precisa brigar pelo que pescou, já que a fartura é tanta que os demais companheiros vão conseguir sua presa em questão de minutos. Menos rápido do que o lindo rio/avenida de sonhos, passa o dia e passam as pessoas,sendo que estas parecem tão acostumadas com a beleza que nem se importam.

Eu, turista acidental mesmo em sonho, olho tudo atenciosamente. A mente parece fotografar para que meus dedos possam revelar depois o mínimo que seja daquela maravilha criada por Deus e, embora modificada, preservada pelos homens para se tornar rio permanente a passar em nossas vidas.

Edson Silva, 48 anos, jornalista, nasceu em Campinas e trabalha como Assessor de Imprensa em Sumaré.

edsonsilvajornalista@yahoo.com.br