O RIACHO DO BALDO E A VILA
Por JUNIA PIRES FALCAO | 07/12/2009 | PoesiasO Riacho do Baldo e a Vila
Ah, se me lembro
Daqueles meus oito anos...
Nas tardes de domingo,
Meu pai andando na frente,
Levando o menor pela mão,
Atrás os outros irmãos e o cachorro,
Correndo pro riachão
A gente morava na Vila,
Lustosa, se não me engano,
Na casa número um.
Casa pequena, quatro pirralhos, um cão,
A mãe exausta resmungava:
Ah! Leva eles pra brincar, leva pro riacho,
O calor está de rachar!
Em volta do riacho,
Na areia fria e branquinha,
Entre os pés de capim santo
A meninada se espalhava.
Das águas limpas, quase geladas,
Unido ao som das cigarras,
Lentamente um canto soava: oooaaa...oooaaa...
A tarde escurecia
E voltava a meninada,
O pai e o cachorro. Na escadaria
Da calçada, de longe a gente sentia
O cheiro do pão torrado, do café passado,
E da tapioca com côco
Que mamãe fez pra nós.
Como me lembro daquela vila!
De “seu” Pasteur, que criava galinhas...
Se alguém o chamasse de “seu Pastel”,
Ele se danava!
Da dona Margarida, que tinha cem anos,
Era filha de escravos, vivia no escuro
Porque não gostava de luz elétrica.
A casa dela não tinha luz.
Mas tudo passou, o horto já não existe,
Acabou. O riacho..., que riacho?
Tá lá, coitado, feio, resignado, um filete d`água.
Fazer o quê? A fonte não secou...
Arrasta-se tristemente
Embaixo de um viaduto.
Não vê mais o céu,
Não vê mais o sol,
Não canta mais.
Tudo passou...
Junia – Dez/2008