O relacionamento existente entre professores e alunos no ensino a distância

Por Liliana Fátima Santos de Campos | 01/01/2012 | Tutoriais

O RELACIONAMENTO EXISTENTE ENTRE PROFESSORES E

ALUNOS NO ENSINO A DISTÂNCIA

 

Liliana Fátima Santos de Campos *

 

 

RESUMO

 

 

No atual mundo globalizado e com o avanço da educação a distância que vence as barreiras do tempo e do espaço, o acesso às novas tecnologias exige uma atitude crítica e inovadora que permita a relação da sociedade com um todo. Estas mudanças que se desencadeiam na sociedade do século XXI vêm desafiando o ser humano na busca constante de uma formação que venha de encontro com as necessidades do momento histórico. Nesta atual perspectiva surge à necessidade de alunos e professores irem em busca de novos processos de investigação e de pesquisa, onde o docente precisa ser inovador, articulador, criativo e companheiro dos seus alunos no processo de aprendizagem e o educando necessita vencer as barreiras de um ser passivo, que decora, que escuta, que repete os ensinamentos do professor e deve procurar ser um indivíduo descobridor, criativo, atuante, transformador e produtor do seu próprio conhecimento. Cabe ao educador assumir a função de mediador entre o indivíduo e a mídia, levando o educando a desenvolver o interesse e também o estabelecimento de uma relação crítica frente aos meios de comunicação.

 

 

Palavras-chave: professores, alunos, tecnologias, ensino a distância.

 

 

1         INTRODUÇÃO

 

Nesta última década a educação à distância revigorou-se em sua função, principalmente com o surgimento das novas tecnologias de comunicação mediada pelos computadores em rede e com a popularização da Internet que tem sido cada vez mais utilizada para apoiar e complementar o ensino a distância.

 

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* Professora, com Licenciatura em Pedagogia pela UCS, Especialização em Gestão do Trabalho Pedagógico e Tutoria em EaD pela FACINTER, professora da rede municipal de ensino do município de Vacaria.

 

No momento atual verificamos que o aparecimento de muitas tecnologias pode facilitar os processos do ensino a distância e que o convívio e a troca com outros alunos de espaços diferentes irá colaborar com um grande ganho cultural que a própria diversidade proporciona.

A partir destas mudanças surgem novos métodos educacionais, novas concepções de material didático, novas relações humanas e também novas relações com o conhecimento.

Em todas as áreas educacionais precisamos implantar e avaliar iniciativas corajosas de ensino inovador, mas por outro lado, não podemos esperar do ensino à distância a solução para todos os problemas acumulados ao longo de tantos planos governamentais desencontrados e nem pensar que os projetos voltados para esta modalidade de educação irão salvar a educação brasileira.

 

 

2       O RELACIONAMENTO EXISTENTE ENTRE OS PROFESSORES E OS ALUNOS NO ENSINO A DISTÂNCIA

 

O século XXI surge marcado por diversas características como o mundo globalizado e o surgimento de uma nova sociedade que se convencionou a ser chamada de sociedade do conhecimento. Este cenário traz diversas transformações em todos os setores da vida humana.

O progresso tecnológico é visível e a importância dada à informação é incontestável. Este progresso da tecnologia atua, principalmente, como facilitador no processo de comunicação, pois atualmente é possível processar, armazenar, recuperar e comunicar a informação em qualquer formato, sem interferência de fatores como a distância, o tempo ou o volume.

No ensino a distância os professores e alunos não estão normalmente juntos, fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias como a Internet, mas também podem ser utilizados o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e outras tecnologias semelhantes.

Na atualidade podemos contar com a educação presencial, semipresencial e educação à distância (ou virtual). A presencial é onde professores e alunos se encontram em um local conhecido por sala de aula e que consideramos o ensino convencional. A semipresencial acontece em parte na sala de aula e outra parte a distância. A educação a distância pode ter ou não momentos presenciais, mas acontece com professores e alunos separados fisicamente no espaço e ou no tempo, mas podendo estar juntos através de tecnologias de comunicação existentes.

O desenvolvimento da educação a distância envolve a identificação de uma modalidade de ensino com suas características específicas e a necessidade de organização de um espaço que venha fornecer situações para que os alunos aprendam.

Segundo Delors (1998, apud MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2000, p. 82) a educação deve

 

contribuir  para  o desenvolvimento  total  da  pessoa, espírito e   corpo,  inteligência, sensibilidade,  sentido  estético,  responsabilidade  pessoal,  espiritualidade. Todo  o ser   humano  deve  ser preparado, especialmente,  graças   à   educação   que  recebe  na   juventude,  para  elaborar   pensamentos   autônomos  e  críticos   e   para formular  os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.

 

 

  De acordo com o Plano Nacional de Graduação (1999, p.12 apud MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2000, p. 123) a ação compartilhada e as parcerias deverão estar presentes, pois

 

o  processo  pedagógico  caracterizado  como   “aprender  a  aprender”  neste contexto inclui  igualmente  o  pólo  da  extensão  universitária,  aquele  que  se desenvolve em  parcerias  com  grupos  sociais  no  contexto  da sociedade que integra cidadão. Trata-se do ensino e da pesquisa articulados com as demandas sociais.

 

 

A  educação superior deve se preocupar com os cursos e programas que possibilitem a formação do cidadão para atuar nos processos de transformação social e criar alternativas com potencial para enfrentar as problemáticas que emergem do mundo contemporâneo.

 

 

 

No ensino a distância existe um diferencial entre as relações dos professores e dos alunos, onde os docentes ensinam e os alunos aprendem frente a situações que são consideradas nada convencionais, onde o ensino ocorre em espaço e tempo não compartilhados.

Para Machado (apud  ABC EDUCATIO, 2006, p. 38) o nosso compromisso, no âmbito da educação,

 

não  é perseguir métodos e, sim, conscientizar nossos alunos de que o conhecimento isolado não deve ser tomado como única garantia, no mundo do trabalho, de prosperidade ou sucesso na vida. O que é fecundo é aprendizagem significativa: aprender a aprender.

Em sala de aula, ou você tem uma relação aberta, dialógica, fraterna, verdadeira ou não chega a lugar algum.

 

 

A tecnologia interativa está evidenciada na educação à distância o que deveria ser o princípio básico de qualquer processo educativo - a interação e a interlocução entre todos os envolvidos neste processo.

 Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual (Internet, telecomunicações, videoconferência, redes de alta velocidade) o conceito de aulas presenciais também se alterou, pois podemos ter um professor "entrando" com sua imagem e voz para os alunos em uma sala distante.

Haverá, desta forma, um intercâmbio maior de saberes, possibilitando que cada indivíduo envolvido no sistema, colabore com seus conhecimentos específicos, no processo de construção do conhecimento, muitas vezes à distância.

Podemos compreender, segundo Preti (2002,  p. 26), a  educação à distância

 

como  um   processo  de   auto-aprendizagem   centrado   no sujeito  aprendente,  com  capacidade  de  ser   autônomo,  de   gerir   sua   formação (autoformação), como  um  processo  mediatizado  pelos  meios  tecnológicos  acessíveis  a esse sujeito   e  apoiado   por   uma  instituição    que   lhe   oferece   todo  o  tipo de suporte,  do  cognitivo  ao  afetivo, para   que   se  dê  a  interção e a intersubjetividade.

 

 

O percurso da aula, que ainda entendemos por um local e um tempo determinado, também se diferenciou e será cada vez mais flexível, onde o educador continuará "dando aula", e enriquecerá esse processo com as possibilidades que a tecnologia interativa proporciona - para receber e enviar mensagens aos alunos, possibilitar discussões e alimentar de forma continuada os debates e pesquisas, através da Internet, mesmo fora do horário específico da aula, pois existe uma grande possibilidade de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes.

Desta maneira, tanto os educadores quanto os alunos estarão motivados, compreendendo que a "aula" propriamente dita, pode ser vista como pesquisa e intercâmbio. E nesse sistema, o papel do professor toma uma nova dimensão onde ele se torna um supervisor, um animador, um incentivador dos alunos na grande aventura da aquisição do conhecimento.

Para Demo (2003, p.286) a

 

motivação  participativa  é   algo   essencial   para   a   aprendizagem,   não   apenas   como    componente    emocional   do   envolvimento,  mas   principalmente como    substância    central  do   processo,   e  isto   é   mister   cultivar   com   atenção permanente”.

 

 

Poderemos ter nos cursos médios e superiores o virtual superando o presencial onde existirá, uma enorme reorganização das escolas com salas ambientes, salas de pesquisa, de encontro e interconectadas.Também teremos as residências e o escritório como lugares importantes de aprendizagem.

Ainda estamos em uma fase de transição na educação à distância, mas já é visível que começamos a passar dos modelos predominantemente individuais para os grupais na educação à distância. 

Para Neder (2002, p. 11) a educação à distância,

 

como  uma  modalidade   pedagógica, com características especiais, deve fazer parte  dos   questionamentos   e   preocupações   hoje existentes no setor educacional   e   contribuir   para  a  formação  do  cidadão autônomo e consciente de suas  responsabilidades sociais.

 

 

 

A educação a distância não é um sistema em que o aluno se serve de algo pronto, mas é uma prática que permite um equilíbrio entre as necessidades e habilidades individuais e as do grupo, onde nesse sistema é possível trocar experiências, esclarecer dúvidas, realizar diferentes formas de avaliação e conferir resultados.

Com a tecnologia ao alcance dos alunos e educadores, nas práticas educativas poderão ver-se e ouvir-se, intercalando períodos de pesquisa individual com outros, e pesquisa e comunicação conjunta com a orientação virtual do professor ou de um tutor.

As possibilidades educacionais que a educação à distância abrem são fantásticas, pois através da Internet podemos ter transmissão em tempo real de som e imagem com uma tecnologia que permite ver o professor numa tela, acompanhar o que ele fala e fazer perguntas ou comentários (interação on-line).

Estas diversas possibilidades oferecidas no ensino a distância estão relacionadas à flexibilidade, que é característica do programa. Tais propostas são caracterizadas pelo uso de uma diversidade de recursos pedagógicos que tem como finalidade facilitar a construção do conhecimento.

Outro aspecto da educação a distância é a ênfase dada à eficiência organizacional e administrativa – a maneira de inscrição, a distribuição dos materiais didáticos para estudo, o sistema de avaliação, a atenção e orientação aos educandos no decorrer do curso.

Na educação a distância pode ser enfatizada a autonomia dos alunos na escolha de espaços e tempos para estudarem e isto é percebido nas matrículas dos cursos que são realizadas por pessoas adultas e já inseridas no mercado de trabalho.

A educação a distância segundo Toschi (2002, p. 219) é

 

alternativa   indispensável   em  um   país   amplo  e  de  enormes   desigualdades, desde   que   seja   garantido   padrão  elevado   de qualidade  nos cursos  e programas,  com  profissionais  de  alta   competência. A  EAD  não  deve  ser instaurada  em programas isolados, mas precisa interagir com outras ações existentes.

 

 

 

Mesmo a educação à distância permitindo que os alunos se organizem de maneira autônoma, não podemos esquecer que nela há conteúdos selecionados, orientação para o prosseguimento dos estudos, atividades propostas para que os educandos realizam e que esta maneira de educação contêm uma proposta didática clara e é uma modalidade competitiva frente às ofertas de educação presencial.

Após o surgimento do ensino a distância, diversas tecnologias foram inseridas, que vieram contribuir para a definição de suportes fundamentais. Como propostas iniciais foram redigidos livros e cartilhas; a televisão e o rádio constituíram os suportes dos anos setenta; os áudios e vídeos nos anos oitenta; as redes de satélite, o correio eletrônico, a Internet e os programas especialmente elaborados aparecem na década de noventa.

Podemos perceber que o desenvolvimento atual da tecnologia favorece a criação e o enriquecimento da educação à distância, pois permite abordar de maneira eficaz inúmeros temas, bem como favorecer a aproximação entre docentes e alunos e destes entre si.

O uso da tecnologia vem resolver um dos grandes problemas do ensino a distância – a interatividade. Foram desenvolvidas inúmeras opções que permitem os usuários realizarem consultas, intercambiar opiniões, problemas ou propostas com outros usuários. O acesso constante permite que os alunos aprendam a utilizar programas que atualizam a informação constantemente. Ao utilizar a tecnologia como ferramenta irá notar que seu uso também modifica a maneira de resolver novos problemas ou outras tarefas e relacionar hipóteses e variáveis referentes à disciplina abordada.

A escrita modificou a maneira de pensar e de operar e as modernas tecnologias também produziram mudança em relação a uma nova estrutura do ato de pensar. É uma nova ferramenta que estimula o reconhecimento de diferentes propostas que levam a construção do conhecimento.

A adaptação do se humano com a variedade de recursos tecnológicos resulta na capacidade de reconhecer e por em ação novas atividades cognitivas, pois o desenvolvimento tecnológico gera possibilidades com novas relações do conhecimento com os contextos culturais.

Apesar de se afirmar que a tecnologia pode resolver muitas situações em relação ao conhecimento, na medida em que representa poderosa ferramenta na solução de atividades, não quer dizer que resolvam os problemas de compreensão.

A produção de materiais didáticos para a educação a distância tem o desafio de desenvolver recursos com propostas de ensino que acabem com as fórmulas prontas e desenvolvam desafios cognitivos para os alunos.

Demo (2003, p. 244) enfatiza que

 

a teleducação deve orientar-se por construir SITUAÇÕES e CONDIÇÕES de aprendizagem adequada. Fugindo sempre da aula meramente expositiva e reprodutiva, o objetivo será mostrar, nos meios eletrônicos, sobretudo, modos pertinentes de aprendizagem concreta, tomando como referência principal momentos individuais e grupais de aprendizagem.

 

 

 

A educação a distância propõe sistemas de avaliação do sistema em execução com a finalidade de detectar êxitos e desacertos, e, com a finalidade de poder aprimorar as atividades desenvolvidas nos cursos.

É fundamental considerar que são desconhecidos os futuros destinatários que utilizarão os materiais. Por isso, a necessidade de se avaliar os recursos didáticos antes de sua utilização, enfocando diversos pontos de vista: a qualidade dos conteúdos, a proposta de

ensino, a concepção gráfica, a legibilidade dos subsídios e verificar se as atividades favorecem a construção do conhecimento.

3         CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O desafio constante do ensino a distância fundamenta-se em não perder de vista o sentido original da oferta, analisar se os suportes tecnológicos utilizados são os melhores para o desenvolvimento dos conteúdos, reconhecer a proposta de ensino e a aprendizagem subentendida e analisar de que forma os desafios do ensino a distância são tratados entre os educandos e os professores.

O autêntico desafio da educação a distância está no seu sentido democratizante de reduzir as desigualdades, na qualidade da proposta pedagógica e de seus recursos materiais.

           O processo de mudança na educação a distância não é uniforme e também não é nada fácil. É um sistema que irá mudar aos poucos, em todos os níveis e modalidades da educação. Existe uma enorme desigualdade econômica, de acesso, de maturidade e de motivação das pessoas. Muitos estão preparados para a mudança e outros ainda não, e por  isso é difícil mudar os padrões adquiridos das organizações, dos governos, dos profissionais e principalmente da sociedade.

Temos que ter convicção que uma grande maioria ainda não tem acesso a esses recursos tecnológicos, que podem democratizar o acesso à informação, Portanto é fundamental criar possibilidades para todos terem acesso à tecnologia, à informação significativa e à mediação de professores efetivamente preparados para a sua utilização inovadora.

É necessária a convicção de que a educação a distância tem como finalidade a contribuição para a emancipação dos sujeitos, colocando os educandos como protagonistas no sistema, como seres históricos e capazes de construírem seu próprio conhecimento, seu projeto e virem atuar na construção de uma sociedade mais humana, igualitária e democrática.

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

ABC EDUCATIO. A revista da educação. 56. ed. São Paulo: Criarp, 2006.

 

DEMO, Pedro. Questões para a teleducação. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

 

MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos Tarciso; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 8. ed. Campinas: Papirus, 2000.

 

NEDER, Maria Lúcia Cavalli. Produção de Material Didático para Educação a Distância. Curitiba: IBPEX, 2002.

 

PRETI, Orestes. Fundamentos e Políticas em Educação a Distância. Curitiba: IBPEX, 2002.

  

TOSCHI, Mirza Seabra; OLIVEIRA, João Ferreira de; LIBÂNEO, José Carlos. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005.