O REGIONALISMO PRESENTE NO FALAR AMAPAENSE SOB A PERSPECTIVA FONÉTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Por Fábio Trindade | 08/06/2010 | Educação

O REGIONALISMO PRESENTE NO FALAR AMAPAENSE SOB A PERSPECTIVA FONÉTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

FÁBIO TRINDADE

RESUMO

A linguagem desenvolvida por um povo tem vários aspectos que precisam ser estudados, tendo-se em vista a valorização deste aspecto cultural pelo homem moderno. Daí a necessidade de se analisar foneticamente o regionalismo presente no falar amapaense, pois é no contexto da fonética que se pode elucidar o porquê da diferenciação dialetal existente no Amapá e ao mesmo tempo compreender de que forma esse aspecto o integra a realidade brasileira em toda sua diversidade social.

Palavras-chave: Linguagem, Regionalismo, Dialetal, Amapá.


Résumé

Le langage développé par un peuple a des plusieurs aspects qui doivent être étudiées, compte tenu de la valeur de cet aspect culturel de l'homme moderne. Alors, Il faut analyser phonétiquement le régionalisme présent dans la façon de parler des amapeéns parce que c'est dans le contexte de la phonétique qu?on peut expliquer le pourquoi de la différenciation dialectiques existants dans Amapá et comprendre, en même temps, la façon dont cet aspect fait partie de la réalité brésilienne dans toute sa diversité sociale.

Mots-clés: Langue, régionalisme, le dialectique, Amapá.




INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por finalidade fazer a relação intrínseca e extrínseca do regionalismo amapaense com suas particularidades dentro do contexto fonético da Língua Portuguesa, tendo em vista as inúmeras expressões comuns à realidade nortista que a diferenciam no modo de falar das demais regiões brasileiras.
De acordo com a temática em questão a Fonética terá papel principal na análise da formação das palavras e frases próprias do Regionalismo, sendo que estas fazem parte do cotidiano amapaense, parte da vivencia dos usuários deste dialético.
Desse modo, a análise do Regionalismo presente no falar amapaense, do ponto de vista fonético, propiciará uma nova visão acerca da expressividade dialetal, valorizando-o suas particularidades no contexto brasileiro.
A pesquisa seguirá a hipótese de que a fonética como técnica da lingüística favorecerá a reflexão sobre o uso e a forma que o regionalismo amapaense assume diante da estrutura da língua portuguesa.

O REGIONALISMO AMAPAENSE
Fazer uma reflexão sobre o Regionalismo Amapaense é estudar como a língua se estrutura de maneiras diferentes numa dada realidade e descobrir como ela se diferencia de um lugar para o outro na construção das palavras e expressões comumente utilizadas pelos falantes desses lugares. Assim é particularmente enriquecedora a experiência de transcrever foneticamente dizeres e expressões locais, que por vezes são utilizadas cotidianamente sem receberem a devida atenção e estudo pormenorizado.
Concordemente, pode-se afirmar que de acordo com a temática "O Regionalismo presente no falar amapaense sob a perspectiva fonética da língua portuguesa" define-se as variantes regionais como dados a serem coletados para se formar o corpus ou material lingüístico a ser analisado. Nesse sentido Silva (2008, p. 14) enfatiza: "Ao empreendermos uma análise linguística, devemos considerar parâmetros linguísticos e não-linguísticos. Dentre os fatores não-linguísticos ressaltamos: região geográfica, faixa etária, gênero...".
Visto que a fala amapaense caracteriza muito bem a variante linguística dos outros Estados nortistas, pode se utilizar a caracterização dessa fala como estudo fonológico preponderante para a transcrição fonética dos seus sons . Essa maneira ímpar de pronunciar alguns sons, pode ser denominada como Alofonia, onde os fonemas diferem na forma como são realizados, ou seja, de forma livre ou de modo complementar.
Quando se estuda essa linguagem, em particular, verifica-se a mutação de um povo em suas relações pessoais. De tempos em tempos, vão se criando novas palavras que incorporam-se aos poucos no linguajar cultural deste povo.
Conforme Lamarão (2006, p. 9), entender os significados da língua "é compreender também quem as criou, quem as repetiu e porque elas se perpetuaram na história".









Nessas transcrições fonéticas percebe-se a frequente ocorrência de um "s" que no dialeto amapaense é representado pelo símbolo devido ao sempre "chiado" s final nas palavras, além do "r" no meio ou fim de alguns vocábulos, representados pelo símbolo h. Outra característica marcante é que quase todas as vogais (e,o) são pronunciadas de maneira fechada, algo que ocorre também no dialeto carioca.
De acordo com Lamarão (2006), os significados para as palavras e expressões dialetais amapaenses são os que se encontram discriminados abaixo:

 Arriado: Estar doente, acamado, baquiado;
 Avortado: Servido à vontade, generosamente, bem medido, grande;
 Baquiado: Adoentado, abatido, abalado. Quando uma pessoa está ruim por causa de uma doença, diz-se que ela está baquiada;
 Blefado: Doente, ruim, liso, sem dinheiro, cansado, em pior situação;
 Caraquento: É dito a tudo aquilo que está sujo ou corroído;
 "cabelo de espeta caju": Cabelo liso e arrepiado, cortado baixinho ao estilo Dunga;
 Discunforme: Tudo aquilo que é exagerado;
 Di-cun-força: Bater forte, lançar ou jogar algo com força, rápido, ligeiro;
 Égua: Interjeição usada nas situações de dor, dúvida, alegria, espanto, admiração, nojo, irritação;
 Espia: Olha, vê;
 Foba: bafo, vantagem;
 Goto: canal nasal;
 Ilharga: Perto, rente, ao lado;
 "Ir na beira": Ir à beira do rio amazonas fazer compras, quando alguém dizia que ia na beira, estava se referindo ir ao comércio;
 Jarana: Mão fechada, avarento,pão duro;
 Jitinho: Diminutivo de jito, pequeninho;
 "Levar o farelo": Acabar, terminar, virar o pó, morrer;
 Maluvido: malcriado, rebelde, respondão, teimoso;
 Massadeira: Local ou máquina em que é produzido o vinho de açaí;
 Negatofe: Forma enfrescalhada de fizer não;
 Oruá: Caramujo dos igapós e igarapés da região;
 Panema: Azarado, sem sorte;
 Petisqueiro: Armário usado para guardar louças e petiscos;
 Quebra-mar: Muro de arrimo na década de 1970 usado para urbanizar a frente da cidade;
 Remoso: Comida ou bebida altamente alérgica
 Ralho: carão, sermão, repressão
 Se abrir: Rir, dar gargalhadas;
 Sonsa: Dissimulada, fingida;
 Trancada: Porrada, bater forte em algo;
 Tuíra: Sujeira, resultado do barro seco sobre a pele;
 Urucubaca: Azar, praga, mal olhado;
 Vai-te cobra d?água: Expressão de repúdio ou desprezo a alguma coisa
 Vitaminosa: O mesmo que massadeira;
 Xilis-zire: "Deixe eles irem";
 Zarolho: Pessoa desatenta, atrapalhada, amalucada.





CONSIDERAÇÕES FINAIS

Elencar palavras e expressões próprias do dialeto amapaense, principalmente as que reforçam a identidade cultural deste povo, é uma das melhores maneiras de se conhecer a realidade linguística e social que se desenvolveu durante décadas de história local. Isso reforça a idéia de Lamarão (2006) de que a língua é viva que possui uma força intrínseca e caminhante com o homem em suas relações e é um dos melhores espaços amostrais para que se entenda o mundo que cerca esse homem.
Sendo assim, percebeu-se que a fonética realmente foi um hábil instrumento para a valorização do dialeto amapaense, identificando-o como um regionalismo que o diferencia e ao mesmo tempo o identifica no contexto brasileiro.








REFERÊNCIAS

LAMARÃO, João Nobre. Falar Tucuju desde o tempo do Ronca. Macapá: SEBRAE/GEA, 2006.

SILVA, Thaís Cristófaro. Fonética e Fonologia do Português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: CONTEXTO, 2008.


DADOS DO AUTOR

Fábio Bezerra da Trindade é acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade Vale do Acaraú- UVA, cursando o 3˚ semestre com a disciplina Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa, sob a orientação da Professora Doutora
Seu endereço eletrônico é: fabiotrindade73@hotmail.com