O QUINZE: “O CENTENÁRIO DA MAIOR SECA NO CEARÁ”.

Por Jose Wilamy Carneiro Vasconcelos | 28/12/2015 | História

O QUINZE: “O CENTENÁRIO DA MAIOR SECA NO CEARÁ”.

 

                                     ¹ José Wilamy Carneiro Vasconcelos

 

 

 O Ceará, região semi-árida do nordeste brasileiro vive às memórias da maior seca existente em sua história.  Com uma área coberta de mais de 90% da vegetação rasteira, que chamamos Caatinga, espécie de mata esbranquiçada que cobre o solo, o restante é coberta por cerrado, caracterizado por arbustos, gramíneas e árvores baixas.

 No ano de 2015, após grandes lutas do povo cearense pela água, nossa região relembra de sua maior calamidade em toda sua história. “A SECA DO QUINZE”.

 Isso se dá pela grande irregularidade e pouca pluviometria (poucas chuvas) na época da quadra invernosa, que se entende entre janeiro à junho do ano.No período das secas os meses são reduzidos e as chuvas que caem não são suficientes para suprir os reservatórios (açudes, lagos e  rios) da região.

 A temperatura no semi-árido varia em média de 30 a 35 graus Celsius durante todo ano chegando às vezes até 43 graus, amenizando, porém nos períodos de chuvas. Nas regiões mais elevadas (nas serras que cobrem a região e no litoral) a temperatura varia entre 25 a 28 graus.

 Apesar das freqüentes secas, o Estado do Ceará é o terceiro estado mais rico do nordeste, segundo o IBGE. E o segundo melhor Índice de desenvolvimento Humano (IDH).

 Terra de grandes vultos na História, como o escritor cearense José de Alencar, Domingos Olímpio, Patativa do Assaré, Clovis Beviláqua e Raquel de Queiroz, escritora e autora do livro “O QUINZE” livro que se deu o mesmo nome da grande seca.

 O título revela à grande e terrível seca de 1915 vivida pela escritora na sua infância no interior do Ceará. Outras secas também foram vividas pelo povo cearense.

 Durante a grande seca, muitos retirantes deixaram suas famílias, residências, seu rebanho, para refugiar nas grandes cidades do Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil. Nessa época o sertanejo cearense morreu de sede, o gado foi extinto, a fauna e flora foram praticamente extinta, a população viu a morte de perto. Muitos não resistiram à grande seca.

 Frentes trabalhistas foram destacadas para o interior do Ceará pelo Governo Federal na estimativa de suprir os sofrimentos dos flagelados da seca. Muitos emigrantes chegavam de outras localidades para as cidades mais povoadas.

 Os moradores locais temiam dos grandes saques no comércio, flagelando ainda mais os retirantes que chegavam. Muita dor, sofrimento e penumbra aos familiares que perdiam seus entes queridos atacados pela fome  e sede.    

 As doenças causadas pela fome aumentaram e virou epidemia generalizada: A febre tifóide, a varíola. As águas barrentas fornecida dos pequenos reservatórios contribuíram para o aumento de doenças para adultos e principalmente às crianças, ocasionando um grande número de mortes a população mais afastada e menos favorecida, com surto de diarréia.

 Com sede e fome, “Os flagelados da Seca”, saqueavam as reservas dos pequenos agricultores, matavam, roubavam e comiam as criações, o gado que restavam nas pequenas propriedades rurais. Para não morrer de fome e sede eram obrigados a saquear e até fazer atos ilícitos, como pequenos furtos.

 A seca foi responsável pelo êxodo dos flagelados da seca para regiões mais ricas do país a procura de sua sobrevivência. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Manaus, Curitiba.

 Os que tinham mais recursos na região, venderam tudo, suas propriedades, seus comércios, a preço vil (preço de banana), fugindo do colapso, da fome da sede e das doenças oriunda da seca.

 Cotam os filhos dos sobreviventes da “Grande Seca do Quinze” que seus avôs para sobrevivência de seus familiares cavavam cacimbões à procura d’água chegando uns até com mais de 10 metros de profundidade. Quando encontravam era pouca água. Muitos cansados, famintos e anêmicos não resistiam, morrendo ali mesmo na própria cacimba.

 Outros filtravam o barro vermelho úmido dos açudes espremendo numa espécie de pano para conseguir poucas gotas d’água para seu rebanho e para beber.  Com a procura de água, e calor escaldante ficavam fracos, doentes contraindo as doenças da época.

 Cem anos se passaram e muita coisa melhorou, com novos reservatórios, tecnologias, abastecimentos em carros – pipas, transposição de águas, novas adutoras. Mas falta muito, o povo cearense precisa de uma assistência emergencial , tecnologias mais viáveis para subrir sua sede com um  bem mais precioso do planeta: Á ÁGUA. 

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¹José Wilamy Carneiro Vasconcelos. Especialista em meio Ambiente. Cronista. Poeta. Professor (Portaria MEC Nº 389). Bacharel em Direito pela flf. Graduado em Ciência (Matemática) e em Construção Civil (Edificações pela Universidade Estadual Vale do Acaraú.Ceará. Foi Coordenador de ensino na Rede Pública entre 2001 a 2012. Autor e colaborador de vários artigos, crônicas, poesias em JusNavegandi, Jurisway e Web Artigos.  

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