O QUE FAZER COM UM MILHÃO DE AMIGOS?
Por Antonio Brás Constante | 18/07/2009 | CrônicasO QUE FAZER COM UM MILHÃO DE AMIGOS?
(Autor: Antonio Brás Constante)
Nos tempos da jovem guarda um dos hits de sucesso era aquele que dizia: "eu quero ter um milhão de amigos...", algo que provavelmente só poderia ser possível na china, onde existem mais de um bilhão de habitantes, ou seja, alguns milhões seriam quase nada. Não é à toa que se os chineses resolvessem pular da cama todos ao mesmo tempo, e tropeçassem, e ao tropeçar se agarrassem ao ropeiro e o ropeiro também caísse, a onda sísmica provocada causaria devastadoras catástrofes e até mesmo, porque não dizer, catástrofes devastadoras (talvez isso explique porque milhares de chineses vivem em condições desumanas, morando em lugares apertados, onde ninguém conseguiria pular, ter uma cama, ou quem dirá então, um armário).
Se a música fosse sucesso nos dias de hoje, alguns até poderiam pensar que para tornar realidade tal desejo de ter tantos amigos, bastaria se cadastrar em algum site de relacionamento como o Orkut (onde tudo que escrevemos é interpretado como SPAM e bloqueado). Mesmo assim, um milhão de pessoas é muita gente. Para se ter uma ideia do montante, mesmo no orkut, o indivíduo teria que adicionar a cada dia cem novos amigos, e ainda assim, ele precisaria de, aproximadamente, uns trinta anos para conseguir alcançar a cifra milionária (salvo se ele utilizasse alguma falcatrua virtual, dessas que o orkut não pega por estar mais preocupado em infernizar seus usuários normais que somente querem trocar mensagens com seus amigos).
Caso, milagrosamente, alguém conseguisse tantos amigos, e resolvesse ligar para eles ao menos uma vez por ano, teria quer gastar no máximo doze segundos com cada um, e teria que utilizar dez horas por dia nessas ligações, durante o ano inteiro para falar com todos eles. Falaria apenas um mero "olá", e ouviria um "tudo bem", deixando a seqüência da conversa para o próximo ano.
Se quisesse presenteá-los, também ao menos uma vez por ano (afinal, eles são seus amigos), comprando presentes em lojas de R$ 1,99, gastaria anualmente quase dois milhões de reais em lembrancinhas (sem calcular o valor do frete, etc). Claro que haveria a contra partida, já que também receberia presentes deles (sem ter espaço para guarda-los). Reunir os amigos para uma festinha? Nem pensar, pois além do gasto absurdo, este número de pessoas lotaria quase dez estádios de futebol, do tamanho do Maracanã.
Vi em uma reportagem que cada pessoa se relaciona com aproximadamente de 1.700 outras pessoas durante sua vida (entenda-se por relacionamento qualquer ato onde pelo menos ela acabe conhecendo o nome de seus contatos), um número bem aquém do vultuoso milhão almejado pelo Rei.
Dependendo da situação, até que o tal milhão não representaria muita coisa, por exemplo, um milhão de cruzeiros hoje em dia não é nada, mas já representou fortunas, ou nem tanto, visto que chegamos a ter em nossa economia notas de 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros), que eram utilizadas para pagar, entre outras coisas, o salário mínimo da época. Por isso, os desejos (quando financeiros) devem ser sempre feitos em dólar, para que no eventual acaso de que sejam atendidos, não fiquem defasados.
No que diz respeito à amizade, a qualidade tem muito mais valor do que a quantidade. Boas amizades necessitam de doação de ambas as partes, de companheirismo e dedicação, entre tantos outros ingredientes, para se enraizarem, e tudo isso demanda tempo. Enfim, quem quer ter um milhão de amigos, acaba por não ter nenhum.
abrasc@terra.com.br
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