O QUE É O DESEJO 1 (DE 2)
Por B. L. C. | 26/02/2015 | PsicologiaO QUE É O DESEJO I
Desejo é a vontade de obter algo para servir como degrau ou escada para alcançar outro algo que achamos que vai nos completar. É essa vontade que nos mantém vivos, na luta.
Alguns usam de quaisquer meios que estiverem a seu alcance, sejam lícitos ou não, para satisfazerem seus desejos. Os que usam meios ilícitos acabam, consciente ou inconscientemente, satisfazendo outros desejos: de fazer o mal, para ver como que é, principalmente aqueles que o fazem conscientemente. O próprio meio é o fim.
Os desejos, em geral, sua força, na maioria das vezes, é maior do que a contrapartida dada pela coisa desejada e obtida. É como se o desejo abrisse um vazio maior do que aquilo que desejamos pode cobrir. Com isso, todos, sem exceção, acabam sentindo uma certa frustração após satisfazerem seus desejos.
Os que fazem o mal por fazer, não sentem uma frustração, mas um desinteresse total sobre as consequências de seu ato, principalmente para com quem foi atingido. É como se o outro fosse apenas uma pedra no caminho que foi chutada, afastada e esquecida. O mal que praticam é sempre maior do que aquilo que desejam, assim, a coisa obtida é maior do que aquilo que desejam cobrir. Assim, persistem em sua busca insana.
Quanto mais adultos ficamos, mais aquele vazio é maior e mais difuso (e confuso) se torna aquilo que desejamos. Ficamos, então, desejando sei-lá-o-que que está sei-lá-aonde para cobrir não-sei-o-que que estou sentindo.
Em uma criança, quando o seu desejo é satisfeito, ele é satisfeito plenamente. Ela fica extasiada, pelo menos por um tempo muito maior do que um adulto ficaria.
A criança parece saber o que quer. Bem diferente do adulto. Talvez porque ela conheça poucas coisas e, assim, a maioria das coisas é novidade para ela, é novo, é interessante, não preencheu o desejo latente e inconsciente do conhecimento.
A satisfação desse desejo no adulto, através do estudo, do conhecimento, torna a maioria das coisas desinteressantes. Mas, o inconsciente conhece muito mais coisas do que o consciente. E aquele deixa este antever apenas o vazio daquelas coisas e, assim, a necessidade de preencher este vazio. Daí o sei-lá-o-quê que eu quero que está sei-lá-aonde.
O sei-lá-o-que é real, é a falta de algo indefinido. Algo que deveria estar ali e agora. E não há nada que possamos fazer para ele ficar palpável no agora. Só nos resta reconhecer isso e aguardar, sem desejar. Aguardar sem desejar é esperar que algo venha, não ficar tentando buscar esse algo. Se vier, bem; se não vier, amém!
O fato de não se poder conhecer tudo é que cria os vazios. Aquele que conhece tudo não sentirá falta de nada. Mas, tal pessoa não existe.
Muitos especialistas em propaganda (alguns na maldade) conhecem muito bem essa característica do ser humano e se aproveitam bem dela. Eles não sabem exatamente o que a pessoa deseja, mas sabem que elas têm o vazio. Assim, jogam com seus produtos e variações, esperando que um deles se encaixem em alguns daqueles vazios. Normalmente eles obtêm sucesso. Se você é a pessoa “atingida”, num primeiro momento você se sente realizado, completo. Você valoriza aquele “produto”. Depois, você o desvaloriza, começa a perceber que não era bem aquilo que você queria. Descobre, então, que tudo ficou como dantes. O “produto” não se encaixou completamente. Na verdade, ele foi apenas uma nova peça no imenso “quebra-cabeças” da vida. Ele se dissolveu no meio da grande quantidade de coisas que você já aprendeu, já viu, ficou comum. Ele não chama mais a tua atenção, ficou invisível.
Veja: ele não desapareceu, não perdeu o valor, apenas te mostrou que o que você tem a aprender é extremamente maior do que você aprendeu até agora.
Mas, como é que se quer algo, se deseja algo e, ao obtê-lo perde a graça (como se costuma dizer)? Será que o objeto obtido nos influencia, modificando-nos ou somos nós que os desvalorizamos sem saber porque ou lhe damos mais valor que o necessário?
Nosso problema, na verdade, é que valorizamos mais o que não temos do que o que temos. Essa gana não indica que estamos incompletos, que precisamos de mais, que o que temos nada vale. Ela, em verdade, mostra o poder que temos de buscar, de conhecer, de aumentar o que temos. O fato de não encontrarmos imediatamente aquilo que desejamos, só mostra que não estamos enxergando, tanto por não estar ali onde procuramos quanto por não sabermos ver.
Procure, então, ver mais que os olhos podem ver. Procure ver com o pensamento, com o raciocínio.
Há coisas para serem vistas não só no fim de uma viagem, mas também ao longo do caminho. Olhando para o que passa por você vai diminuir a ânsia de alcançar aquilo para o que você olha fixamente, e vai dar a ele o valor correto, do tamanho do teu desejo, e não vai acrescentar ao desejo uma diferença que vai se revelar numa frustração e desvalorização do objeto de teu desejo.
Desejos exacerbados são nivelados pelo objeto. A diferença é transformada em frustração, desvalor e desinteresse.
Brasilio – abril/2009.