O que é liberdade intelectual
Por Rafael da Silva Tinoco | 01/08/2012 | FilosofiaO que é Liberdade intelectual
Advertência:
O tom irreal destas proposições não indica seu caráter utópico, mas sim, o vigor das forças que impedem sua percepção.
É de total descontrole a condição de vulnerabilidade que sentimos quando nos encontramos soltos neste mundo hostil e perigoso. Desamparados pela natureza que não nos dotou de mínimas condições para sobrevivência sem “um outro” que nos auxilie nos momentos vitais, ou simplesmente naquela hora de necessidade básica. Em comparação aos outros mamíferos com nosso tamanho e peso, somos fracos, medrosos, lentos, biologicamente indefesos contra uma série de agentes naturais, contra os quais até mesmo um “cachorro de madame” se livraria com facilidade daquilo que a nós significaria morte certa.
Por isto rejeitamos analisar o estimulo causador de dor.
Tentamos, pelo contrario, a todo o momento, silenciá-lo. Posso afirmar, sem dúvida, que a dor é vital para vida.
No entanto rejeitamos a dor em favor do torpor que nos traz vulnerabilidade. A busca pelo constante prazer (por meios e modos predispostos culturalmente) é comum a todos os humanos, tal como nos é comum à busca pela sensação de segurança resultante da idealização do universo. Ao invés de me contentar em saber que, caso ocorra algo comigo, este fato não alteraria nada no cosmos. Gosto de pensar que os Astros confabulam a respeito do meu destino, e que cada redemoinho de um riacho segue uma ordem predeterminada e exata. Isto é, vivemos uma existência construída sobre um fenômeno psicótico paranoico típico de uma relação grandiosa com forças do bem e do mal numa escala metafísica.
Por isso só a dor é nosso passaporte para a realidade.
Trazendo-nos à memória a ineficácia desta ilusória sensação de segurança que a paranoia que construímos nos transmite ela denuncia as projeções que fazemos de nós mesmos para o exterior (estado esquizoparanóide) e assim podemos observar quais aspectos sombrios povoam nossa mente.
Quanto mais rejeitarmos a dor que a insignificância e transitoriedade da vida significam, mais isto indica que não estamos prontos para encarar a nossa tragédia do real.
Quanto mais ilusões de grandeza eu acumular, a qual atribuiu a minha onipotência, mais dependente das ilusões metafísicas eu serei. Gerando um círculo vicioso.
O fato é que nós adotamos crenças, opiniões, ideias que muitas vezes, e quase sempre imperceptivelmente, não sabemos de onde se originaram. Sem pensar em suas causas e motivos, sem saber se seriam ou não coerentes com a realidade, operamos através do imaginário das representações e regras extraídas da experiência imediata e do silêncio, na falta de algo melhor formulado.
Este estado psíquico, uma vez estando oculto da nossa própria consciência analítica, nos passa despercebido. Falamos, agimos, pensamos e disto extraímos comportamentos mimeticamente a partir do que a sociedade a nossa volta faz e pensa.
E isto nos parece perfeitamente natural e racional, afinal é a sociedade que sempre se repete, aceitando e reproduzindo tudo outra vez e mais outra vez, por meio da família, da escola, pelos livros, pelos meios de comunicação de massa, pelas relações de trabalho, pelas práticas politicas que nos dão a sensação acolhedora do real, verdadeiro e racional.
Assim, um véu de imagens preestabelecidas interpõe-se entre nós e a realidade gerando um estado coletivo de insanidade reproduzido a cada geração.
Porém tudo isso ocorre deliberadamente de forma involuntária. Nós fomos condicionados a precisar das referências imagéticas, dos totens, substitutos, de sonhos, até dos lapsos, atos falhos, sintomáticos de que algo não vai bem. De paranoias que não nos deixam sentir solidão nunca. E de quebra nos fazem sentir maiores e mais importantes do que realmente somos!
Tudo isso só para nos proteger da consciência da realidade trágica: nossa condição humana.
A inversão do sistema de causa e efeito é vital para manutenção da sociedade assim como está. No nosso silêncio se manifestam interesses alheios de imperativos dominantes de uma minoria social. A ideologia não é o resultado de uma vontade deliberada de uma classe social para engolir a outra, mas é o efeito necessário da existência social da exploração e dominação, é a interpretação imaginária da sociedade do ponto de vista de uma única classe social.
A história sendo contada por quem ganhou. A luta contra a desigualdade acabou e os desiguais (aqueles que ainda não enlouqueceram), perderam.
Liberdade intelectual significa pensamento individual, ou seja, a abolição da chamada opinião pública que é a verdadeira doutrinadora das massas.