O que é ética

Por Marcelo Gomes González | 07/02/2012 | Resumos

Acadêmico:

Marcelo Gomes González

4º semestre de Licenciatura em Educação Física pela Universidade Vale do Caraú - Amapá (UVA-AP)

 

1 INTRODUÇÃO

 

A ética é discutida desde a antiguidade e até hoje não se definiu um padrão exato a ser cumprido pela sociedade, dito que esta é flexível, moldável, e sofre alterações no decorrer dos séculos. O reflexo desta visão é que o certo ontem, hoje pode ser errado.

A princípio serão expostos os problemas da ética, onde inclui-se também, a ética grega antiga. Logo após, entra-se num paralelo entre ética e religião, que abre questionamentos sobre o agir certo e o agir errado. Seguindo, têm-se os ideais éticos. E, um dos pontos, a liberdade, está incluso em todo corpo do trabalho, onde o homem é livre mesmo quando preso, ou seja, seu corpo está preso, mas sua mente é livre eternamente.

Em quase todo o texto será apresentada a diferença de pensamentos da antiguidade, da idade média e da modernidade. Por fim, expor-se-á o comportamento moral: o bem e o mal e a ética hoje, em outras palavras, as discussões e reflexos da ética na atualidade.

 

2 O QUE É ÉTICA

 

Ética é uma reflexão filosófica sobre a moral. Os problemas teóricos da ética são separados em dois campos, o dos problemas gerais e fundamentais e os problemas específicos, onde o primeiro é mais abstrato, filosófico e o segundo é mais concreto. Quando se tem um “problema de consciência” cabe à reflexão ética perguntar se o homem é culpado ou apenas existe um sentimento de mal-estar sem fundamento. Segundo Dostoievski (apud VALLS, 2006, p. 9) “se Deus não existe tudo é permitido”, leva a refletir que sem um ser divino há uma proposta de abolição da ética, em outras palavras, o homem tem que ter uma referência do que é certo para poder fazer o certo.

Os costumes são mutáveis, ou seja, o que ontem era considerado certo, hoje pode ser errado, e que em um local onde seja aceita a morte de pessoas, nesse mesmo país pode haver leis contrárias em outras regiões. Então, as leis seriam chamadas de convenções sociais provisórias. Não são apenas os costumes que variam, mas também os valores que os acompanham, as próprias normas concretas, os próprios ideais, a própria sabedoria, de um povo a outro. Não seria nada mais do que um comportamento adequado aos costumes vigentes.

A ética tem uma função descritiva: estudos de antropologia cultural e semelhantes, os costumes das diferentes épocas e dos diferentes lugares. A humanidade só reteve por escrito depoimentos sobre as normas de comportamentos dos últimos milênios, embora os homens já existam há muito mais tempo. Certamente deve haver um princípio ético supremo, podendo ser o princípio que proíbe o incesto. No entanto, se a quase totalidade, na antiguidade, era analfabeta, como conhecer bem a árvore genealógica?

Sócrates, usando o método da maiêutica (interrogar o interlocutor até que este chegue por si mesmo à verdade), foi condenado a beber veneno. Ele obedecia às leis, mas as questionava. Para o conservadorismo grego as leis existiam para serem obedecidas, e não justificadas. Sócrates foi chamado, "o fundador da moral", porque a sua ética se baseava na convicção pessoal, adquirida através de um processo de consulta ao seu "demônio interior" na tentativa de compreender a justiça das leis. Ele seria então, o primeiro grande pensador da subjetividade. Kant achava que a igualdade entre os homens era fundamental para o desenvolvimento de uma ética universal. Legalidade e moralidade se tornam extremos opostos. Diante de cada lei, de cada ordem, de cada costume, o sujeito está obrigado, para ser um homem livre, a perguntar qual é o seu dever, e agir somente de acordo com o seu dever. A forma do dever se expressa em várias formulações, no chamado imperativo categórico, o qual tem este nome por ser uma ordem formal nunca baseada em hipóteses ou condições. Assim, seria querer começar, a cada vez, tudo de novo, seria supor em si uma consciência moral tão pura e racional que nem existe, e seria reforçar o individualismo. Não se pode ignorar a história e as tradições éticas de um povo.

Platão (427-347 a.C.) parte da idéia de que todos os homens buscam a felicidade, ou seja, o Sumo Bem. Ele esperava a felicidade principalmente para depois da morte. Os homens deveriam procurar durante esta vida, a contemplação das idéias, como há uma espécie de Ser e do Bem. A partir deste Bem superior, o homem deve procurar descobrir uma escala de bens, que o ajude a chegar ao absoluto.

Dialética e virtude devem andar juntas, pois a dialética é o caminho da contemplação das idéias e a virtude é esta adequação da vida pessoal às idéias supremas, também é uma purificação, onde o homem aprende a desprender-se do mundo do aqui e agora para contemplar o mundo ideal, imutável e eterno. Aí está o Sumo Bem. O ideal buscado pelo homem virtuoso é a imitação ou assimilação de Deus.

A norma da virtude é a própria idéia do Bem, uma idéia perfeita e subsistente. Platão diz que as principais virtudes são justiça, prudência, sabedoria, fortaleza, valor e temperança. Aristóteles também parte da correlação entre o Ser e o Bem. E insiste sobre a variedade dos seres, e daí conclui que os bens também devem necessariamente variar, pois para cada ser deve haver um bem. Aristóteles sabe que o homem não precisa apenas do melhor dos bens, mas sim de vários bens. Aristóteles parte do fato de que a razão, para não se deixar ela mesma desordenar, precisa da virtude. O bem próprio do homem é a vida teórica dedicada ao estudo e à contemplação, a vida da inteligência, pois o pensamento é o elemento divino no homem e o bem mais precioso. A virtude é sempre uma força adquirida, um hábito, que não brota espontaneamente da natureza. Virtude é uma espécie de segunda natureza, adquirida pela razão livre.

Aristóteles divide a ética em duas partes, na Ética a Eudemo, onde o objetivo ou a finalidade da vida humana é o culto e a contemplação do divino. Na Ética a Nicômaco aparecem mais as coisas relativas e também necessárias, de modo que o autor busca igualmente as normas mais relativas. Entre os gregos antigos a lei moral seria um aspecto da lei natural. Sócrates acentuou a especificidade da moral frente à cosmologia. A religião grega era ainda bastante naturalista, sendo os deuses apenas personificações de forças naturais. Com a religião judaica, o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, está acima de tudo o que há de natural. Quando o homem se pergunta como deve agir, deve adotar uma nova posição que manda agir de acordo com a vontade do Deus pessoal. A religião trouxe, sem dúvida alguma, um grande progresso moral à humanidade, mas os fanatismos religiosos ajudaram a obscurecer muitas vezes a mensagem ética da liberdade, do amor, da fraternidade universal. Na Idade Média o pensamento ético está ligado à religião, à interpretação da Bíblia. Na Idade Moderna apresentam-se então duas tendências: a busca de uma ética laica, racional, muitas vezes baseada numa lei natural ou numa estrutura da subjetividade humana e, por outro lado, novas formas de síntese entre o pensamento ético-filosófico e a doutrina da Revelação.

A concepção determinista ignora, por princípio, a liberdade humana como sendo uma ilusão. Há uma concepção racionalista que procura deduzir da "natureza humana" as formas corretas da ação moral. O chamado "formalismo kantiano". No utilitarismo: bem é o que traz vantagens para muitos. Esta tendência aparece em muitas formulações que podem ser definidas como pragmatismo: deixam-se de lado as questões teóricas, apelando-se para os resultados práticos, muitas vezes imediatos. Nos países de capitalismo mais avançado, se busca a utilidade e a vantagem particular: bom é o que ajuda o meu progresso e o meu sucesso pessoal no mundo. A outra linha atual é a do positivismo lógico, que ignora muitas questões fundamentais, que chamam de especulativas, e se dedicam apenas a pesquisar as formas da linguagem moral, os tipos válidos de formulações éticas, e assim por diante. E, Kierkegaard (apud VALLS, 2006, p. 42), “não pode passar a vida toda somente estudando a linguagem da ética, sem viver a ética, isto é, sem viver eticamente”.

Agir moralmente significaria agir de acordo com a própria consciência. Os teólogos cristãos dizem que viver de acordo com a natureza seria o mesmo que viver de acordo com as leis que Deus deu através da natureza. Já os epicuristas afirmavam que a vida devia ser voltada para o prazer. No entanto, eram exigências da própria vida de prazer, certa moderação ou temperança. Com o Renascimento e o Iluminismo, o ideal seria viver de acordo com a própria liberdade pessoal, e em termos sociais o grande lema foi o dos franceses: liberdade, igualdade, fraternidade. Kant (apud VALLS, 2006, p. 45) diz que “O homem racional, autônomo, autodeterminado, é aquele que age segundo a razão e a liberdade, eis o critério da moralidade.” O ideal ético para Hegel estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito. No século XX, os pensadores da existência, em suas posições muito diversas, insistiram todos sobre a liberdade como um ideal ético, neste ideal estariam a autenticidade, opção, resoluteza, cuidado, entre outros. Já o pensamento social e dialético buscou como ideal ético, a superação das injustiças econômicas mais gritantes. Também não se entende muito bem que uma geração deva ser sacrificada hoje pelas gerações futuras, e há quem diga que a justiça futura não compensará jamais a injustiça atual. A ética lembra as normas e a responsabilidade, pois a norma diz como se deve agir, e se deve agir de tal modo, é porque também pode não agir deste modo.

Há muitas formas de determinismo. O fatalismo: tudo o que acontece, tinha de acontecer, não se escolhe o destino. Pode aparecer com a doutrina de um Deus dominador. Tudo o que se faz é decidido por Ele. Também como uma doutrina de um materialismo estrito: a natureza, ou a lei natural, rege todos os atos do ser. Quando uma objetividade total domina o sujeito, não há mais espaço para a liberdade e consequentemente nem para a ética. O oposto ao determinismo também nega a ética, porque acredita numa liberdade total e absolutamente incondicionada que chega a ser humanamente irreal.

Os filósofos gregos ou romanos pensavam que "o sábio é livre sempre, mesmo que esteja aprisionado e acorrentado". Mas, ser livre para pensar, e não ser livre para agir, não é liberdade humana. Este pensamento penetrou no cristianismo, sendo ele posto de forma errônea, pois ainda pregavam apenas a liberdade interior. Schelling escreve um tratado cuja palavra chave é “liberdade humana”, neste haverá uma liberdade realmente humana, nem mais e nem menos. A liberdade aumenta com a consciência que se tem dela. Hegel procurou a formulação de uma síntese da política grega e da moral cristã, que deve aparecer na estruturação de um Estado de direito, moderno e constitucional, onde cada indivíduo fosse realmente livre, interior e exteriormente. Criticando a teoria de Hegel, Karl Marx diz que a instância do universal, está preocupada com a realização do bem comum e com a harmonização dos interesses contrários da sociedade civil burguesa, e que não seria o universal harmonizador, mas o particular dominador.

A ética se preocupa, em resolver as contradições entre o individual e o social, entre o econômico e o moral. Essas contradições não são todas do mesmo tipo, mas brotam do fato de que o homem é um ser sintético, pois ele precisa tornar-se um homem, realizando em sua vida a síntese das contradições que o constituem inicialmente. Marx (apud VALLS, 2006, p. 57) diz que “tentando dominar a natureza, pelo trabalho, para humanizá-la, o homem encontra sempre a resistência do material, mas, ao tentar transformar a matéria ao redor dele, ele também se transforma”. Confrontando o pensamento grego antigo com o cristão, Kierkegaard percebeu que para os gregos o pecado seria apenas ignorância. A única coisa importante para o homem seria "conhecer o bem", porque daí se seguiria um "agir bem". Kierkegaard (apud VALLS, 2006, p. 61) fala que “a angústia é o reflexo psicológico da consciência da liberdade”. Por isso que o presente deve ser compreendido como o instante da decisão, síntese de passado e de futuro. Sendo o homem um ser natural, para ser livre precisa consultar a consciência individual. 

Se a ética grega era uma estética, e a ética medieval cristã uma atitude religiosa, a ética hegeliana era política. Sendo que, todo agir é político, inclusive e principalmente o agir ético. Na segunda metade do século atual os filósofos se voltaram principalmente para a questão do discurso, mas isto de duas maneiras mais ou menos independentes.  A crítica da ideologia busca descobrir os interesses reais, materiais, econômicos ou de dominação política. A análise da linguagem tem os méritos do rigor formal, quando se concentra na análise das formulações linguísticas através das quais os homens definem ou justificam o seu agir. Kierkegaard (apud VALLS, 2006, p. 68) diz que “uma pessoa ética é aquela que age sempre a partir da alternativa bem ou mal”. Theodor Adorno (1903-l969) chama a atenção para o fato de que hoje a ética foi reduzida a algo de privado. O lema máximo da ética é o bem comum. Hegel insistiu na esfera da eticidade ou da vida ética. Nesta esfera, a liberdade se realiza eticamente dentro das instituições históricas e sociais, tais como a família.  Assim, hoje em dia, os grandes problemas éticos se encontram nestes três momentos da eticidade, família, sociedade civil e Estado. Em relação à família, hoje se colocam de maneia muito aguda as questões das exigências éticas do amor. Em especial, a reflexão sobre a dominação das chamadas minorias sociais chamou a atenção para a necessidade de novas formas de relacionamento. Na sociedade civil os problemas atuais continuam os mais urgentes: referem-se ao trabalho e à propriedade. As experiências socialistas destes últimos cem anos ensinaram aos teóricos de esquerda a revalorizar a importância que a propriedade tem para a auto-realização humana. A propriedade particular aparece agora principalmente como uma forma de extensão da personalidade humana e de afirmar a sua autodeterminação sobre as coisas do mundo. Em relação ao Estado. A ética política revisou os ideais de um cosmopolitismo indeterminado de um Kant, e soube reconhecer as análises de um Hegel a respeito do significado da nacionalidade e da organização estatal como o ápice do edifício da liberdade. Há um interesse comum universal, acima das classes e dos interesses egoístas privados e de pequenos grupos.

Muitos filósofos se dedicaram a estudar e denunciar o problema da massificação. Nas fábricas ou sentados em casa ante um aparelho de televisão, os homens de hoje estão se reduzindo a funções simplesmente passivas, vão desaprendendo a arte de falar, vão perdendo sua voz e sua vez. O espaço, mesmo o espaço físico, é também uma das condições do exercício concreto da liberdade. "Saber é poder", dizia o grande iluminista Francis Bacon. 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A ética é um pensamento filosófico que vem variando seus conceitos e formas de aplicação desde a antiguidade até os dias atuais. Com isso vê-se que a ética é o eixo principal para o convívio harmônico em uma sociedade, seja ela de qualquer localidade ou tempo.

Findando, nota-se que a liberdade é o carro chefe para o bom andamento de uma ética, pois, sendo a ética uma reflexão filosófica, o pensamento livre é crucial para chegar a uma lei justa e para uma melhor criticidade perante a sociedade. O conhecimento é o único bem que não pode ser violado, pois está no interior de cada ser.

 

 

REFERÊNCIA

 

VALLS, Álvaro L. M.. O que é ética. 9ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. 82 p. (Coleção Primeiros Passos – nº 177).