O QUE É DEUS 1

Por B. L. C. | 26/01/2015 | Religião

O QUE É DEUS

Este foi o primeiro texto extenso que escrevi. Eu trabalhava no CPD da UNICAMP. Escrevi em 1980, não me lembro do dia, nem do mês, mas foi de madrugada.

Vejo hoje (2003 - 23 anos!) que o meu texto soa um tanto panteísta. Mas, na verdade, quando digo que Deus é tudo, o sentido é de “estar em tudo” e não “ser tudo”, como se, ao destruir uma montanha, está-se destruindo Deus.

Quando digo que somos Deus, quero dizer que as virtudes que ele prega estão em nós em graus variados. Como o resto das coisas, somos ele no sentido de contê-lo, sem com isso diminui-lo ou tomar-lhe partes, principalmente porque ele não é personificável, não pode ser limitado.

Uma coisa que notei de O Que é Deus I até O Que é Deus V é que fui ficando cada vez mais incrédulo, não num deus, mas, na descrição religiosa dele.

Tudo unido com nada = universo = tudo ==> nada = vazio. O nada não tem substância. O tudo tem substância. Nada é não pensar (assim você imagina o nada), é vácuo, sem vazio, não tem nenhuma dimensão, ou seja, a dimensão é zero. Pensamos algumas vezes que o nada é alguma coisa por causa do artigo O na frente definindo. Ora, não há sentido nem mesmo na afirmativa: “O nada não existe”, quanto mais na afirmativa: “O nada é o que sobra quando se tira o tudo”. Também, não há sentido em dizer que o nada está no tudo, nem mesmo por definição.

DEUS (Uma prova por contradição?)

Deus não é o tudo, pois é dito que ele fez o tudo. Ele se fez? Ora, Deus então não fez o tudo, porque assim ele estaria separado deste tudo e, antes dele fazer esse tudo, nada haveria. Mas como nada havia se Deus estava lá?! De onde surgiu Deus então? Deus não surgiu. Não há o antes dele, porque o antes dele nada seria e nada não tem substância, não tem espaço, não tem tempo, por isso a pergunta perde o sentido. Deus não surgiu do nada, pois coisa nenhuma vem do nada. Ora, pode-se concluir portanto que Deus é o anti-nada (mas o anti-nada é o tudo!!!). Ele não fez o tudo: Ele é o tudo (contradizendo o início do parágrafo!) e ele está em tudo!

Vimos que Deus não surgiu. Compreende-se daí o dito da Bíblia: Deus é. O “é” aí não é de “ser alguma coisa”, mas “é” de “ser”, de “existir”.

O nada não é <==> Deus é. Daí, novamente, Deus é o anti-nada: Ele é tudo. É eu, é você, é a flor, é o pássaro, é a montanha...

Só existiu o tudo, não houve o “antes”, portanto não houve começo, apenas “houve”. A dimensão era zero. Ora, novamente a Bíblia diz: “Eu sou o início e o fim.” !!!!!

 
   

                                                                                                           Início

 
   

                                                                                                            Fim      NÃO HOUVE O “ANTES”.

                                                                                                                        ANTES JÁ ERA E É !!!!

Dissemos que nada é não pensar. Ora, Deus é pensar, falar, andar. Deus é vida. A mente é viva: a mente é Deus. A alma é viva: a alma é Deus. Novamente, Deus é tudo. O tudo é infinito. É tudo. É Deus. Agora “vê-se” o tamanho de Deus. Morte é nada, pois na verdade não morremos. Vida é tudo, e vida é para sempre. O corpo está no tudo. Deus é também o corpo. Deus é também o corpo morto, mas muito mais o corpo vivo (igual o corpo mais a vida), pois o corpo vivo tem mais tudo que o corpo morto (sem vida).

Eu costumava pensar que Deus era alguém que ficava me vendo, me ouvindo, me observando. Isso me fazia ter medo dele. Ora, ele realmente me vê, me ouve, me observa. Está sempre comigo, nada consigo esconder dele. Só se eu conseguisse esconder de mim mesmo!!! Ora, para ter medo dele, eu teria que ter medo de mim, portanto meu medo não tinha sentido. Se ele não é um, mas é tudo, por que ter medo dele? Ele é tudo, inclusive eu!!! Aí é que entra o amor: se eu sou Deus e eu me amo; se o meu próximo é Deus, então ele é eu e eu sou ele. Ora, se não o amo, não estarei me amando e não estarei amando a Deus. Agora compreendo porque Jesus disse isso, e só isso: “AMAI O PRÓXIMO COMO A TI MESMO.”

Você não irá a um tribunal celeste com Deus atrás da mesa de julgamento: você certamente já está julgado a cada momomento, conforme você faça ou não Deus crescer em você.

Nossa condenação é ele sair de nós (não crescer em nós), pois fazemos parte do tudo, somos ele, ele é nós. Se você faz o bem, você está cada vez mais no tudo (ele cresce em você!). Se faz o mal, está perdendo tudo, está morrendo, está virando coisa nenhuma, está se transformando em nada!

Deus é bondade, porque bondade está no tudo. Não-bondade (passividade) é pior que maldade, é nada. Bondade não usada se acumula dentro de você, e te faz mal e depois te faz mau e por fim te faz nada. Bondade é ação, Deus é ação. Ação é crescer Deus em você.

O que procuramos está em nós, não em algum lugar distante um milímetro de nós sequer. O melhor lugar do mundo é aquele em que se está. Daí se conclui que a melhor coisa do mundo é estar vivo. Viver é ser Deus (“... E DEUS FEZ O HOMEM À SUA IMAGEM: ´FAÇAMOS O HOMEM À NOSSA IMAGEM´”. Não à imagem fotográfica, pois assim o estaríamos personificando e limitando, mas à imagem espiritual, de poder, a imagem do tudo, que é infinito). Vida é energia, vida é tudo: vida é Deus. O melhor não está distante de nós: está em nós.

O poder de Deus está em nós. Se você tira isso pra fora, você só faz o bem. Muitas vezes parte desse poder aparece nas horas de perigo. O notável é que se você tirar para fora esse bem, você se sente cada vez melhor (é Deus crescendo em você!), caso contrário você ganha nada (!). Assim, se você ajuda, você está te ajudando; se você ama, você está te amando. Daí você pode ver que não adianta se jogar no chão e, fazendo nada, dizer: “Ah, meu deus, me ajude”. Que sentido há nessa frase com você agindo assim? Ora, Deus só ajuda a quem se mexe, a quem se ajuda. Veja: se você te ajuda, Deus está te ajudando; se você ama, você está te amando, e Deus está te amando. Veja novamente: Deus está em você, você é Deus!!!

Mas se você mata, você está te matando, você está matando Deus. Se você só faz mal, Deus está morrendo em você, e morte é nada: se você era Deus, agora você é nada. E não pense que você está vivo porque se mexe, ainda fala e ainda vê. Isso é pouco, muito pouco (o fogo também faz tudo isso, mas acaba em nada depois que a vida dele se foi: o oxigênio e o inflamável = Deus). Vida é Deus e Deus é vida. Você só vive se tiver Deus, se for Deus. Você vai ver Deus quando olhar para o céu, mas muito mais quando olhar para as coisas e, principalmente, seres ao teu redor e dentro de você mesmo.

Jesus falava com Deus. Falava com o que estava nele (“EU ESTOU NO PAI E O PAI ESTÁ EM MIM”), ou seja, com o que está em nós. Só que Jesus conseguia falar com Deus, e já que o que estava nele naquele tempo é o que está em nós, tudo o que Jesus falou de Deus é verdade e é o que nos seria dito se conseguíssemos falar com Deus também, como ele falou. Mas ninguém sobre este mundo poderá jamais se igualar a Jesus, mas ele clama para que o imitemos. O Cristo já nasceu “sido”: o tudo se personificou e veio entre nós (“O VERBO SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS”). “EU E O PAI SOMOS UM.”

Então Deus veio a nós e nos mostra como agir para nos tornarmos um com ele: ele é todos nós e cada um de nós; cada um de nós é ele (parte dele!) e nós todos somos ele. Falta as partes se unificarem. Praticando o bem todos juntos unificaremos e seremos Cristo, e seremos Deus, e seremos um. Um só não se iguala a ele, a menos que já nascesse “sido”. Aí seria outro Cristo (no temp e no espaço, mas com certeza, sem dúvida alguma, seria o mesmo de há dois mil anos). Se conseguirmos a unificação antes dele voltar, melhor para nós.

O QUE É O CÉU?

Certamente que não é um lugar no espaço, mas um estado (status). O estado máximo, o estado de Deus, o estado de Cristo.

PAI, FILHO, ESPÍRITO-SANTO

Do que vimos acima é certo que Pai e Filho são um e são nós (uns, poucos – outros, mais). E o Espírito Santo? Será também um com os outros, Pai e Filho?

Ora, Espírito Santo é ação, é poder de fazer, fazer o bem, ensinar, amar. Jesus fazia o bem, ensinava, amava, agia para o bem. Jesus tinha o Espírito Santo. Após ele, seus apóstolos receberam o Espírito Santo e começaram a agir para o bem exatamente como Jesus fizera. Ora, ação para o bem é Deus crescendo em você, faz parte do tudo, e Deus é tudo, é Deus em você, é o Espírito Santo em você: é Deus! Sim, a partir do momento em que você comece a imitar, a sentir o Cristo, a agir como ele, você terá em você o Espírito Santo.

Sim! Pai, Filho e Espírito Santo são um: a trindade santa é um. O Cristo, ou seja, Deus, ou seja, o Espírito Santo, pede que o imitemos, pede que cresçamos Deus em nós, pede que recebamos o Espírito Santo.

Se você não se mexe, não age para o bem porque você não quer, você está repelindo o Espírito Santo, o está rejeitando (“...MAS AO QUE BLASFEMAR CONTRA O ESPÍRITO SANTO, ISSO NÃO LHE SERÁ PERDOADO.”!).

Impossível agir como Cristo? Difícil? Sim, mas imitar não é necessariamente fazer igual. Um pensamento bom já é uma oração poderosíssima.

Brasilio – Campinas/SP – 1980.

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