O que é Cultura?

Por Josoé Durval | 06/04/2011 | Filosofia

I. CULTURA E DIVERSIDADE

É com a definição de cultura que este estudo se inicia. Para tal definição, faz-se necessário avaliar a humanidade como um todo através de sua evolução histórica, sem deixar de lado suas peculiaridades, já que é nas culturas específicas que se encontra grande diferencial entre elas.
Cada cultura possui suas próprias características e essa grande diversidade cultural causa muitos conflitos. Conhecer cada realidade cultural de acordo com todos os seus aspectos, e enteder o que essa realidade representa para aqueles que a vivenciam é imprescindível para a definição de cultura atualmente.
A fim de otimizar a compreensão desse estudo nos dias de hoje, é necessário compreender a lógica interna de cada grupo cultural, assim como suas atividades.
As realidades culturais estão diretamente ligadas ao contexto histórico em que estão inseridas; por exemplo, a realidade cultural familiar tem no seu cotidiano o resultado de sua evolução histórica e de seu poder aquisitivo, e é aí que o estudo da cultura contesta contra o preconceito, uma vez que gera respeito nas relações humanas.
Para se conhecer uma realidade cultural específica, é necessário conhecer também sua relação com outras culturas, pois é nesta interação intercultural que se extrai melhor compreensão.
Ao se estudar cultura, têm-se a possibilidade de se enxergar como ser social, e essa capacidade auxilia no raciocínio autocrítico, e por conseguinte, numa melhor interação com outras culturas.
Como trata-se de tema de fundamental importância, e sempre sujeito a conflitos, é conveniente entender o por que de tanta variação e diversidade de culturas.
Os grupos humanos vieram todos de uma mesma origem e cada um desses grupos evoluiu de uma forma diferente, de acordo com a região em que viviam, e o pouco contato havido entre grupos findou por gerar isolamento. Esse isolamento somente é minimizado com a evolução dos tempos, pois a chamada globalização propõe uma interação entre diferentes culturas.
Mesmo sabendo-se que cada grupo evoluiu e se desenvolveu à sua maneira, é possível encontrar muitas caracterísitcas em comum dentre os mais diversos grupos, já que todos tinham o mesmo objetivo, qual seja a sobrevivência e o bem-estar. Por conta de tanta variação cultural, não foi possível ordenar de forma sistemática o desenvolvimento de cada cultura, já que também as etapas de evolução não eram as mesmas e não é possível numerar os mesmos critérios para hierarquizar diferentes culturas.
Todos os meios de se inserir as culturas humanas dentro de uma hierarquia foram duramente criticadas, pois nestes trabalhos, todas as culturas foram colocadas em escalas de evolução onde o ponto alto era a civilização, ou seja, a Europa. A Europa passou a se valer disso para exercer ainda mais sua soberania sobre o mundo, especialmente sobre as nações não européias, que foram vítimas de preconceito e exploração.
As principais apreciações desfavoráveis diziam que cada cultura possui sua própria verdade, não havendo critério suficientemente possível e capaz de compará-las. Dessa forma, a diversidade cultural passou a ser valorizada, pois um estudo idôneo e livre de preconceitos constatou importantes transformações na evolução de grupos culturais.
O problema ainda não foi sanado, já que não houve possibilidade de hierarquizar as culturas, e na evolução histórica ainda não havia registro de um conceito justo e aceitável sobre o estudo a cultura, uma vez que constatou-se que o estudo de uma cultura estaria ligado com o olhar de quem a estuda, logo, suas conclusões seriam muito relativas, dependendo de quem a estudasse. Surge aí o relativismo cultural.
É preciso deixar claro que só é possível respeitar a diversidade cultural quando se compreende suas particularidades dentro da história mundial, e também seu relacionamento com outras culturas. Dentro dessa ótica, há que se perceber que não existe cultura superior ou inferior, mas sim evolução histórica e relacionamento entre culturas. Desta forma, novamente cai por terra a teoria relativista, uma vez que enquanto seus estudiosos insistiam nessa teoria, suas civilizações avançavam por conta de sua produção material e destruía outras culturas.
Não é suficiente pensar sobre a evolução das sociedades humanas, mas sim compreender sua história. E é neste contexto que o estudo da cultura muda de foco; já não é mais o fim que se objetiva, mas sim compreender cada fase de sua evolução e transformação. As culturas e sociedades humanas se relacionam de maneiras diferentes, e a desigualdade social e a influência de poder acaba por superiorizar algumas culturas em relação a outras. Isso requer muita reflexão a fim de se extinguir situações como estas.
Ao se analisar uma cultura em particular, encontra-se muito em comum com relação a culturas de sociedades diferentes. E o contrário também é verdadeiro, já que dentro de uma mesma sociedade cultural existem muitas características distintas. Isso sse dá por que os países são compostos de regiões distintas, e cada uma dessas regiões teve uma colonização específica, criando assim, cada uma a sua própria cultura. Essas culturas acabam sendo tratadas como culturas estranhas por conta de suas características específicas serem tão diferentes do restante da sociedade.
É necessário que se leve a sério essa diversidade cultural, a fim de que haja respeito no sentido de melhor compreender a sociedade e melhorar as relações sociais.
Mesmo sabendo que cada sociedade particular possui suas diversidades internas, não faz sentido estudá-las de maneira isolada, e sim sempre se compreendendo o todo, já que as características de um grupo se relacionam com a sociedade toda.


Se a teoria relativista fosse aplicada, todas as formas de dominação impostos por grupos de poder seriam justificadas, já que essas ações seriam relativas. Daí a necessidade de se ratificar as críticas feitas a tal teoria.
Simplesmente dizer que tudo é relativo não basta para estudar a diversidade que há entre sociedades diferentes e também dentro de cada sociedade. É necessário compreender seu contexto histórico e suas relações intersociais, para que não se exalte caractéristicas prejudiciais e, dessa forma se busque alcançar progresso.

II. O QUE SE ENTENDE POR CULTURA

Desde o século passado as preocupações em se aprender as culturas humanas vem aumentando. Essa necessidade evoluiu a partir dos crescentes contatos havidos entre diferentes povos, e os estudos se voltaram tanto para aquelas sociedades que estavam crescendo e se modernizando, quanto para aquelas sociedades que iam desaparecendo ou se descaracterizando por conta da crescente globalização.
Essa preocupação porém não foi capaz de criar uma definição unânime aceitável do que seja cultura, já que, por cultura, compreende-se muita coisa.
O sinônimo mais comumente utilizado para designar cultura é o de educação e manifestações artísticas, porém também têm-se cultura de uma época, com a evolução dos meios de comunicação e a proliferação em massa, e também cultura como as características de um povo, como suas crenças, seu idioma e seu modo de se vestir. Há inúmeras outras definições, porém o estudo em tela abraça o assunto de maneira mais abrangente, buscando apreciar tudo o que diz respeito à uma população, sem se deixar influenciar por tanta variação no estudo da cultura, mas sim, almejando sempre compreender os motivos de tanta diversidade a fim de se melhorar o estudo.
Com o objetivo de avançar no tema, vamos restringir o assunto.
A primeira concepção de cultura diz respeito à todas as características de uma sociedade, e a segunda concepção diz respeito à conhecimento, idéias e valores de um povo.
O primeiro conceito de cultura está ligado com tudo o que caracteriza a existência social de um povo ou de um grupo específico que possui uma realidade social distinta, e embora essa concepção possua uma característica de ser mais ampla e genérica, ela é muito usada quando se fala de povos e de culturas diferentes da nossa.
No segundo conceito de cultura, que diz respeito ao conhecimento, idéias e convicções de um povo, também é necessário ter a totalidade de características globais, já que temos esse contexto inserido dentro de uma sociedade, que é o todo. Nesta segunda concepção, cultura refere-se também a ecologia, alimentação, relações pessoais.
Nas duas concepções é provável que se entenda cultura como algo estagnado, mas essa não é a realidade, uma vez que cultura é dinâmica.
Estudar a cultura contribui para entender o processo de transformação por que passam as sociedades contemporâneas.
Verificar a variedade de modos de vida de um povo é muito importante para o estudo e preocupação com a cultura. Dentro desse contexto, sempre se questionou o motivo de tantos costumes e crenças tão diversificados, porém, só atualmente começou a existir uma preocupação sistemática acerca da cultura.
Tal preocupação nasceu com pensadores interessados em entender a história humana e suas particularidades, de acordo com uma compreensão do todo cultural. A palavra cultura tem origem ligada à atividades agrícolas, no sentido de cultivar, e alguns pensadores, mais tarde, usaram esse termo no sentido de se referir aos modos e conhecimento de uma pessoa.
Conforme as nações européias se tornavam mais poderosas, as preocupações com cultura passavam a ter maior papel na sociedade, uma vez que o contato entre nações passou a se intensificar, e a cultura passou a ser estudada cientificamente de forma sistemática.
Existem dois aspectos principais no que se refere à consolidação da preocupação da cultura. Primeiro, foi no século XIX que o cristianismo passou a perder poder de influenciar e começou a prevalecer uma visão não-religiosa do mundo e da vida humana, que passa a levar em consideração a teoria da evolução das espécies, com a peculiaridade de se considerar o poder aquisitivo.
Inserida no contexto de evolução, a palavra cultura era utilizada tanto para diferenciar grupos ou povos quanto para distinguir o ser humano de outros animais. As dificuldades em definir cultura começaram a surgir por conta da confusão diante dessas duas óticas.
Compreender cada uma dessas teorias científicas, assim como sua evolução e aperfeiçoamento é fundamental para a compreensão e conceito de cultura, que vieram associadas a novas formas de conhecimento.
A consolidação das preocupações da cultura está ligada com as recentes preocupações de conhecimento científico surgidas no século XIX. Nesse contexto, as potências européias avançavam industrialmente e dominavam nações ricas em matéria-prima.
O estudo da cultura procurava compreender os povos e nações que haviam sido incorporadas à Europa. A posição ocidental em relação a cultura se deu por meio da dominação política e econômica, e por causa da imposição de suas próprias concepções culturais sobre os povos dominados, resultando assim numa visão de superioridade européia.
Pode-se dizer que a atual preocupação com cultura nasceu da união do conhecimento de novas culturas com a realidade de dominação política. Ela faz parte da história tanto do desenvolvimento científico quanto da história das relações internacionais de poder. Tal compreensão é necessária para se enteder o que é uma nação, e assim se chegar a conclusão do que é cultura.

No tempo em que a Alemanha ainda era dividida é que surge o pensamento acerca da definição de cultura, e esse conceito veio unir essa nação, trazendo unidade na falta de uma política comum, que carecia do Estado.
No Continente Americano, essa análise estuda a realidade de seus países, e reflexões como estas estão ligadas a constituição de um país.
Ainda podemos citar como exemplo a Rússia do século XIX, uma nação que tinha grande diversidade de povos e estava preocupada em estabelecer uma cultura comum à todos.
A medida que as nações começam a se estabelecer, nota-se que todas buscavam instituir uma cultura comum aos seus cidadãos, a fim de unificar o país. No nosso país e na América Latina, as culturas de grupos específicos não resistiu à estipulação de uma cultura única imposta pela colonização, e essas culturas somente vêem à tona quando para complementar com seus valores como comidas típicas, lendas, etc.
Nesses locais, as discussões sobre cultura consideram toda a sua origem, desde as particulares, como as que foram impostas como sendo únicas. Porém é necessário atenção ao se compreender a cultura de uma nação como sendo uma mistura de traços culturais, pois o importante é entender o processo histórico que a produz, assim como as relações de poder e confronto de interesses dentro de uma sociedade.
Há alguns aspectos importantes inseridos nas discussões sobre cultura. Temos a alta cultura, que é aquela que se opõe à selvageria, ou seja, é a civilização. Têm-se a cultura dominante, que possui a característica de estar nas camadas dominantes da sociedade onde há domínio da língua escrita e amplo acesso à ciência e à arte. E ainda qualquer cultura, quando se fala sobre a cultura de qualquer povo, nação ou sociedade. É por causa dessa multiplicidade de tipos de cultura que surgem as discussões.


Com a evolução da história, a discussão sobre cultura surge para tentar distinguir aspectos materias e não-materias da vida na sociedade.
Para chegar aos dias de hoje, a idéia de cultura concorreu com a idéia de civilização, tornando-se palavras praticamente sinônimas, havendo situações em que cada uma dessas palavras era utilizada isoladamente com significado próprio e particular.
A humanidade sempre é referência quando a discussão é cultura, pois procura interpretar as características de uma realidade cultural, e está relacionada com outras discussões havidas conjuntamente sobre a sociedade capitalista e as lutas das classes operárias. Refletir sobre todas essas discussões possibilita uma melhor compreensão para se formar um conceito do que é cultura.
O estudo da cultura ou engloba a totalidade de características de um grupo ou sociedade, ou então foca-se somente na realidade e forma de expressão de um grupo específico. É a relação entre essas duas concepções que proporciona a forma de se entender o que é cultura, e a união dessas duas linhas de pensamento se iniciou no século XIX e vigora até os dias de hoje.
As diversas maneiras de organização social ficam mais claras a partir do momento em que se compara a totalidade de características de grupos muito distintos. Por conta da crescente interação e integração entre povos, o que tem levado à formação de uma civilização mundial global, esse tipo de comparação vem se tornando cada vez mais raro.
É preciso constatar a diversidade para se estudar cultura, e esse aperfeiçoamento vem transformando esse estudo, resultando na dimensão da realidade social e não material, que é o conhecimento que uma sociedade tem sobre si mesma e sobre outras sociedades, e também sobre o modo que esse conhecimento é expresso. Atualmente, a cultura visa seu desenvolvimento na história e se relaciona com as forças sociais que movem uma sociedade.
Os métodos de simbolização desempenham extrema importância no estudo da cultura, já que substituem algo por aquilo que isso significa, e esse processo faz com que o conhecimento seja transformado e retransmitido.
Sabendo-se que cultura se refere a processos globais de uma sociedade, não é válido esmiuçar ações isoladas, já que isso pode fazer com que se perca o foco, lembrando que o foco é compreender que cultura é fator de mudança e transformação social, já que compreende a organização social e busca aprimoramento.
Pode-se afirmar que cultura é parte do processo social pois tem vínculo com todos os aspectos da vida social, e é parte da construção histórica de uma sociedade. É o resultado das lutas sociais por um destino melhor, contra a desigualdade. As preocupações em se estudar e conceituar cultura são constantes nas civilizações dominantes, e a cultura em está em constante transformação e aperfeiçoamento, crescendo em unidade com a sociedade.
A cultura é a dimensão da sociedade que engloba todo o conhecimento num sentido amplo e a forma de expressar esse conhecimento.


III. A CULTURA EM NOSSA SOCIEDADE
Uma das características da sociedade de hoje é a grande diversidade interna, pois a população se posiciona de maneiras diferentes no modo de produção. Há a classe detentora da riqueza, e também a classe operária, trabalhadora. Essa divisão se dá por meio das classes sociais, que possuem formas de viver distintas. Porém, mesmo dentro de uma mesma classe social, há diversidade, pois nem todo mundo vive do mesmo jeito, uma vez que existe diferença de rendas, de prioridades, de valores, de região do país, etc.
A preocupação é como lidar com a dimensão cultural dentro da nossa própria sociedade. Já se sabe que dentro da sociedade brasileira existem diversos grupos culturais, mas existem uns que se sobressaem por tratar de características da cultura nacional, ou seja, pode-se dizer que são soberanos.
O conceito de cultura passou a significar conhecimento ou refinamento pessoal no fim da Idade Média, momento da história em que somente as classes dominantes, detentoras da riqueza tinham acesso. Esse conhecimento, ou essa cultura se sobressaía ao restante da população, que acabou sendo marginalizada e caracterizada como sendo detentora da cultura popular (cultura considerada inferior pelas classes sociais mais ricas).
A cultura popular passou a ser foco de estudo a fim de se compreender e classificar as formas de pensamento das classes mais pobres da sociedade, objetivando compreender sua lógica interna e suas participações políticas, através de seus movimentos populares. A cultura popular é sempre confrontada com a cultura erudita, e essa, no decorrer histórico atingiu status e passou a controlar as instituições culturais como, por exemplo, as universidades. A cultura popular é entendida como as manifestações culturais dessa classe, que é bem diferente das manifestações da cultura dominante, pois possui características distintas. Vale lembrar que é a própria elite das classes dominantes que decide o que é cultura popular.
Essas duas culturas se desenvolvem por meio do conceito do que é erudito e do que é popular, que exterioriza na cultura as oposições e diferenças entre si.
Nesse contexto de bipartição social, as classes dominadas oferecem a denúncia das desigualdades sociais e a necessidade de superá-las, daí seu caráter transformador. Da mesma forma, a cultura erudita está vinculada às classes dominantes, e seu crescimento pode ser visto como expansão colonizadora. A compreensão dessas duas culturas não é simples, e para isso, buscá-se referências políticas, como a resistência da cultura popular e seu caráter revolucionário com seus movimentos políticos.
A capacidade de tranformação que a luta das classes populares possui é base de estudo das ciências sociais de hoje, porém, para o prosseguimento desse estudo, faltam instituições sistematizadas. É tarefa árdua estudar no Brasil manifestações culturais que não estejam ligadas às instituições dominantes, e torna-se mais complicado ainda detectar o que seja o popular puro e original.
A oposição entre cultura erudita e cultura popular é fruto dessa relação, que precisa ser analisada e observada com muito cuidado de acordo com a realidade social, já que essas duas classes partilham um processo social comum, e isso não as isola no contexto social.
É necessário analisar com calma tudo aquilo que pode ser considerado popular na cultura. É preciso comparar a história com a nossa cultura, e isso nos mostra que a população oprimida emerge na cultura com fortes expressões próprias. Não se pode considerar o carnaval e os cultos afro, manifestações da cultura popular, como sendo exclusimente nascidos da origem popular, pois tais manifestações transformaram-se com o país e hoje abraçam toda a cultura, deixando de fazer parte somente da cultura popular ou das classe mais oprimidas e pobres da sociedade.
A origem da cultura não determina de qual classe social ela fará parte, muitas vezes, uma certa manifestação acaba fazendo parte de toda a população, de toda a sociedade de um país.
Para estudar o que é cultura popular, pode-se primeiro observar as expressões culturais dos processos sociais vividos pelas classes dominadas, pois possuem características em comum, e é necessário ver em que medida essas características se manifestam culturalmente como forma de pôr fim às desigualdades sociais. Os extremos não auxiliam no estudo da cultura, pois, mesmo as classes dominadas, por exemplo, lutam por melhores condições sociais, e ao alcançar esse objetivo, não significa que não fazem mais parte dessa classe social, mas sim que o estudo de toda a sociedade é inevitável pela amplitude proporcionada pela sua observação.
O modo como a sociedade toda vê e percebe as classes sociais auxilia a compreender quais são elas e o porque da desigualdade social, bem como do quadro político dessa sociedade e sua dimensão cultural, uma vez que a cultura é criativa, inventiva e mutável.
Atualmente, as sociedades modernas são consideradas sociedades de massa, pois nelas existem as instituições dominantes. Essa sociedade requer mecanismos de comunicação que transmitam mensagens à sociedade toda de forma rápida e clara. Esses mecanismos de comunicação, que são principalmente o rádio, a televisão, a internet, a imprensa e o cinema, impõem uma visão de mundo que vai além das classes sociais e facilita o controle das massas. Essa é uma característica das sociedades modernas, em que os meios de comunicação são elementos fundamentais da organização social e estão ligados ao exercício do poder. Esses elementos, além de transmitir informação, também difundem formas de comportamento e estilos de vida. Embora o exercício de controle e poder exercido pelos meios de comunicação de massa sejam muito fortes, ele não é absoluto, e também nele existem conflitos, já que a população, embora muitas vezes induzidas, continua tendo sua própria percepção e idéia de mundo, e isso difere uma sociedade moderna de outra, e faz com que cada sociedade continue tendo a sua própria cultura e permite que isso se propague pela história.
Pode-se resumir cultura como um conteúdo do que se entende por nação, e sua transformação se dá principalmente por lutas de classes sociais. Como as nações são unidades políticas, e como a cultura faz parte da dimensão do processo social, pode-se pensar em cultura nacional. Ela resulta de um processo histórico e de lutas sociais, e é a cultura comum de uma sociedade nacional que auxilia a compreender as relações internacionais, de acordo com uma definição valorativa.

IV. CULTURA E RELAÇÕES DE PODER
Entender e conhecer o que é cultura nos permite compreender as sociedades modernas e suas relações, sem ignorar as relações de poder aí existentes. As preocupações de cultura nasceram vinculadas às relações de poder, e como cultura faz parte do processo e dimensão social, finda por registrar conflitos históricos e transformações políticas e sociais.
É com o progresso da sociedade que surgem as preocupações com a cultura e também as relações de poder como novas formas de dominação, que já fazem parte da própria organização social.
A maneira de se compreender o que é cultura está associado ao modo de ver as relações sociais de poder, levando-se em conta que não se pode relativizar a cultura pois desta forma não é possível criar um juízo de valor. A cultura possui características únicas que são a criatividade, a capacidade de mudança e o aperfeiçoamento e transformação de valores.
O mal entendido deve ser evitado na forma de tratar a cultura, sem extremá-la e valorizando suas relações sociais, assim como os seus meios de comunicação de massa.
Mesmo a cultura fazendo parte de toda uma sociedade, seu controle e domínio pertencem à uma única classe social específica e dominadora, já que as relações sociais são marcadas por desigualdades sociais, e como resultado, a própria cultura finda por conter traços de desigualdade. Nesse âmbito, as lutas sociais pelo fim da desigualdade e da dominação primam por universalizar os benefícios da cultura e buscam uma transformação cultural, já que é necessário deixá-la como legado para as futuras gerações, pois cultura é uma herança para toda a humanidade.