O QUE É A VIDA 2 (DE 9)
Por B. L. C. | 21/05/2015 | FilosofiaO QUE É A VIDA II
Talvez você não seja você. Talvez você seja alguém que está tendo um sonho. Sim, pois em sonhos, a duração ordinária de tempo não se aplica. Às vezes, sonhamos em 1 hora o que precisaria de 2 dias para acontecer. Então, é perfeitamente normal que a duração de uma vida em 80 anos seja apenas o de um sonho de algumas horas.
E esse alguém, que é você, acorda quando você morre (será que ele acorda quando você dorme?). E ele fica com aquela sensação de que teve um sonho. Não há como ele se comunicar com as pessoas que estiveram no sonho dele (da mesma maneira que você não pode se comunicar com as pessoas que estiveram no teu sonho).
A questão é: quem é esse alguém? De onde ele vem?
Claro que não pode ser alguém aqui da Terra, pois todos estão “vivos”. E, também, cada um é o sonho de seu “alguém”.
Pode ser o “alguém” de alguém que já morreu, e agora aquele alguém voltou a sonhar. É como uma “reencarnação”.
Talvez a quantidade de “alguéns” que sonham seja limitada, por isso estamos sempre nascendo e morrendo, ou (eles) dormindo e acordando.
Mas, ainda não respondemos quem é esse alguém e de onde ele vem.
Será que esse alguém é único (como o ar que respiramos) ou são individualidades?
Se é único, então o que nos faz diferentes é o sonho desse alguém que é cada um de nós, o que nos faz diferentes é o “aparelho receptor” do sonho, e que é criado pelo sonho, isto é, o corpo. Mas, como alguém único pode ter sonhos diferentes e simultâneos, sendo alguns sonhos bons (pessoas boas) e outros ruins (pessoas más)? Se assim é, então não tem sentido em falar sobre “quantidade limitada de alguéns” e, nem mesmo, em “quantidade limitada de sonhos” para esse único alguém. Assim, não precisaríamos morrer, mas só nascer. Cada dia um sonho novo.
Mas, cada um pode sonhar com várias pessoas (conhecidas ou não, boas ou ruins) ao mesmo tempo! Por que, então, não podemos ser o sonho de um ser único? No teu sonho, pessoas aparecem (nascem) e desaparecem (morrem), assim como aqui no “mundo real”. Mas, tem uma diferença: no sonho elas aparecem e desaparecem sem uma transformação. No “mundo real” elas nascem, se transformam (crescem) e desaparecem (devagar). Mas, quem disse que nossos sonhos seguem as mesmas “regras” do sonho daquele alguém único de quem estamos falando? O sonho dele é nosso “mundo real”. Nossos sonhos são apenas pequenas partes do sonho dele.
Ainda assim, supor que esse alguém é único, fica no ar um quê de imperfeição para ele. Alguém que está sozinho no universo e tudo domina não pode ter fraquezas. A razão clama por isso. Se temos sonhos bons ou ruins não implica que somos uma ou outra coisa.
Cada um de nós sendo o sonho de uma individualidade é bem mais coerente e mais aceitável. E o que nos faz diferentes é a própria individualidade, e não o objeto no qual ela atua. Tem sentido falar em “quantidade limitada de alguéns” e em “quantidade limitada de sonhos”, pois haveria a correspondência um a um. E assim fica normal nascer e morrer, e ainda assim ter a capacidade de ser um sonho novo a cada dia. Até o quê de imperfeição fica plenamente aceitável.
Que o ser único se esqueça de “nós” assim que ele para de sonhar conosco (assim que morremos), podemos entender, pois fazemos isso também em nossos sonhos. Então podemos aceitar.
Agora, que o ser individual faça isso, não podemos aceitar. Fica estranho. Ta certo que, mesmo nós, não temos o mesmo sonho todos os dias. Acho até que nos faria mal. Agora, o ser individual ter um sonho hoje e outro diferente amanhã (à nossa maneira) nos torna em nada, como tornamos em nada as pessoas de nossos sonhos.
Será que faria mal a ele sonhar com você todos os dias (dias dele, não nossos, podendo variar de anos terrestres)? Então hoje ele é você, João, e amanhã (anos depois que você morreu com mais de 80 anos de idade) ele é Maria? Será que Maria tem alguma lembrança de João?
Bom, e se assim for? Será que é mesmo estranho? Será que João desapareceu mesmo só porque Maria não tem nenhuma lembrança dele? Até onde podemos lembrar, se sonhamos com um João num dia e com uma Maria no outro, ainda no terceiro dia ambos estão em nossas memórias. Então, até onde o ser individual pode lembrar, você, João hoje e Maria amanhã, está na memória dele.
Então, só ele vai poder responder a esta nossa questão.
Mas, de novo, não respondemos o que é aquele alguém e de onde ele vem. Melhor dizendo: o que são aqueles alguéns e de onde eles vêm.
Quando sonhamos (dormindo ou acordado), o que somos? Somos nós mesmos! Na nossa “visão” e na dos outros. Estamos vivos pelo sonho. Nem passa pela nossa cabeça o temor se vamos acordar ou não. Na visão dos outros, não há como saberem se estamos dormindo ou mortos.
Quando morremos, o que somos? Somos nós mesmos! Na nossa “visão” e na dos outros. Agora, eu escrevendo e você lendo, não podemos saber se entramos em sonho ou não, do mesmo modo que não temos a mínima idéia do momento em que entramos no sono. Então podemos afirmar que somos nós mesmos, na nossa “visão”. Os que não sabem que morremos podem achar que estamos dormindo. Então somos nós mesmos, na visão deles.
Os que sabem que morremos, sabem que não vamos mais acordar, mas também não podem afirmar que não estamos sonhando. A matéria (corpo) se desfazer ou não, não implica que não estamos sonhando. Eles não podem saber, enquanto vivos e, talvez, nem quando mortos também. Por isso podemos afirmar que continuamos nós mesmos na visão deles também.
Quando sonhamos (dormindo ou acordado), onde estamos? Bom, nosso corpo está em algum lugar no espaço, mas nossa mente está em algum lugar no tempo (no nosso tempo, não no tempo dos outros, porque eles não percebem isso). Nossa mente está no sonho (focada no sonho ou vivendo o sonho, ou sendo o sonho). Quando acordamos, nosso corpo continua em algum lugar no espaço, e nossa mente continua focada no “sonho” que nós somos, vivendo o sonho, sendo o sonho, sendo nós!
Quando morremos, onde estamos? Nosso corpo está em algum lugar no espaço, mesmo que tenha virado pó. E nossa mente, onde está? Quando morremos, o ser individual acorda, com seu próprio “corpo” em algum lugar de seu espaço e sua mente continua sendo ele mesmo.
Então, aqueles “alguéns” é cada um. De onde vieram? Não tenho a resposta. Talvez apenas talvezes.
Brasilio – Junho/2004.