O QUE É A VELHICE

Por B. L. C. | 23/01/2015 | Sociedade

O QUE É A VELHICE

O que me inspirou a escrever este ensaio foi ter visto fotografias de três épocas diferentes da atriz Wilza Carla (jornal Folha Universal – Edição de 3 de julho de 2011). A primeira foto, de 1956, mostra uma moça muito bonita, lindíssima mesmo. A segunda foto a mostra já com 40 anos de idade, mas ainda bonita, apesar (sem sentido de reprovação, pois o engordar/emagrecer é característico da fisiologia de cada um e, na maioria das vezes, não temos condições de controlar - pelo menos ela sempre se mostrou feliz enquanto nessa condição) de estar com muito mais massa do que na época da primeira foto.

A terceira foto (2011, aos 75 anos) foi a que me chocou mais, quando comparada às anteriores, e me fez questionar por que isso acontece com a gente, inspirando-me a escrever sobre isso para tentar entender e, se for o caso, ajudar as pessoas (eu incluído) a aceitar essa condição em si mesmo e, principalmente, nos outros.

Eu não me sinto do jeito que o espelho me mostra, ou da maneira que algumas pessoas possam me "ver". Existem dias, porém, que me sinto mais "acabado", principalmente quando estou com a enxaqueca atacada. Aí, me sinto como o espelho me mostra. Porém, se eu olhar nele, ver-me-ei bem pior. Será papel do espelho piorar a aparência das pessoas?

Diferentemente do espelho da bruxa, ele não tem medo de nós, podendo mentir (como mentia para a bruxa) ou falar a verdade. Mas, na verdade, essa interpretação é de cada um. Se você se sente péssimo, se verá péssimo (ou um pouco pior?) no espelho; se você se sente bem, se verá apresentável (ou um pouco pior?) no espelho.

Por que "um pouco pior" nos dois casos? Porque a imagem que você vê está sempre mudando, passando por todos os estados, entre o estar bem e o estar mal. Na média, isso nos piora mesmo. É a mistura entre o que se vê e o que se sente.

Isso não acontece com uma fotografia tua que você vê, porque a parte material não varia, o que, praticamente, não causa variação no que você sente. É o mesmo efeito de quando você olha para outra pessoa (ou para a fotografia dela). Mesmo que ela esteja mudando a cada instante, isto não se mistura com o que você sente, então ela te parecerá bela, ou não.

Traduzimos por “feio” aquilo que incute ameaça e medo. Por isso a figura da bruxa. Quem teria medo da "feiticeira" Elizabeth Montgomery (ou de Nicole Kidman no papel de A Feiticeira)? E quando elas ficassem bem velhas e continuassem feiticeiras?

Traduzimos por “belo” aquilo que parece querer nos proteger, aquele com quem queremos estar, quem queremos ser. O que se afasta disso é ameaça e deve ser afastado, ou devemos nos afastar dele.

A questão do belo e do feio vem é da opinião dos outros, mesmo quando você se torna o outro ao olhar-se no espelho. Evite que a opinião dos outros te influencie. Evite que tua imagem no espelho te influencie. Sê belo para si mesmo. Dê-se tanta importância quanto aos outros. Nem mais a eles e nem mais a si. Nunca se diminua pela opinião deles, pois o que veem é o que sentem, não é o que você transmite realmente.

Nunca os tente diminuir pela tua opinião, porque só você acha que é capaz disso, mas, na verdade, não é. Ninguém maneja ninguém, a não ser a si próprio.

Olivia Hussey, nascida em 1951. 17 anos em 1968. Nunca existiu, e hoje ainda não existe, uma mulher mais linda do que ela com aqueles 17 anos (e talvez, depois, até os 40, talvez). Vendo-a agora, aos 60 anos de idade, só consigo ver aquela Olivia de 1968 se eu olhar bem no fundo dos olhos dela. Dá para perceber uma mensagem vindo deles: sou eu mesma. Mas, olhando na superfície, a Olivia de 1968 não está mais lá. Para alguém que a conhece de perto, que convive com ela desde aquele tempo, aquela Olívia ainda está lá, principalmente para aqueles que enxergam mais com a razão e com o coração do que com os olhos.

Ora, o que nos ameaça numa imagem não é a própria imagem e sim a ideia que fazemos dela. Ameaça é aquilo que te ataca, mesmo que você seja cego.

Para ver o feio, bastam os olhos, mas, para ver a beleza é preciso muito mais. É preciso amor, que traz um respeito natural. Com amor você vê sempre a beleza, pois você estará vendo o próprio amor.

Na foto da Wilza Carla aos 75 anos, dá para ver amor em seus olhos. Alguns podem ver sofrimento também, mas, para mim, esse sofrimento é transformado em amor e nos é entregue. É estranho como certas fotografias conseguem nos passar sentimentos.

A Wilza faleceu durante o mês passado. Fez sua parte, sendo bonita até o seu fim aqui neste mundo. Assim ela vai continuar, seja em outro mundo, seja na mente daqueles que a amavam.

Alguns velhos não respeitam os jovens e muitos jovens não respeitam os velhos. Velhos não respeitam jovens porque veem nestes aquilo que não mais podem ser, porém desejam ser. Jovens não respeitam os velhos porque acham que, por serem jovens, nunca serão velhos. Azar o deles, pois a vida só nos dá duas alternativas, e apenas duas: morrer ou envelhecer e morrer. Você só ficará jovem para sempre se morrer jovem. Quem vive muito, quem envelhece, é um herói e não um inútil vilão como alguns jovens pensam.

Estar vivo é uma situação anormal, é uma anomalia, uma luta constante contra o nosso verdadeiro estado normal: o estar morto. É como estar numa Escola, onde se deve lutar para aprender e alcançar um estado de paz e felicidade. Assim como na Escola, é uma oportunidade única que temos. Os mais jovens têm que ter em mente que, quem viveu mais, aprendeu mais e assim, para que estes jovens evoluam mais rapidamente, eles têm quem encarar os mais velhos como possíveis mestres que merecem todo o seu respeito, mesmo que sejam aqueles velhos que lamentam por não serem mais o jovem que foram.

Teu corpo envelhece, como tudo o que é material. O que pode torná-lo feio ou ameaçador é tua mente, tuas atitudes. Nada há que você possa fazer para impedir o envelhecimento dele, mas você tem a capacidade de impedir o envelhecimento de tua mente por preconceitos contra os outros e contra si mesmo.

Viver é temporário, morrer é para sempre. Não se pode viver para sempre, mas se pode morrer para sempre. Por outro lado, a mente que não envelhece viverá para sempre, pois, ela não será confundida com o corpo.

Brasilio – Julho/2011.

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