O QUE É A PAZ
Por B. L. C. | 10/04/2015 | SociedadeO QUE É A PAZ
Paz é uma daquelas palavras que tem um significado único, mas, aplicações diversas (vários contextos). “Hoje está uma paz aqui”, quando o lugar está silencioso; “Agora ele está em paz”, quando o sujeito morre, mesmo no meio de uma guerra! “Meu coração agora está em paz”, quando uma angústia chega ao fim.
Em qualquer expressão, seu significado único fica evidente. Essa evidência deixa claro também o seu oposto. Esse oposto pode bem merecer o nome de guerra. E é esse o sentido principal e usual da palavra paz: o oposto de guerra. Sim, qualquer oposição a um sentimento de paz é uma guerra, dure o quanto durar essa oposição.
Na verdade, não é uma oposição. O que ocorre é uma substituição da paz pela guerra, causada pela oposição, pois guerra e paz não convivem. É como manchas escuras numa superfície clara, se podemos chamar assim. Oposição sempre há. Ela trabalha nos dois lados, tentando transformar um no outro. Enquanto existir a oposição, existirá a paz. E oposição tem sempre que existir, senão não haverá reação e a paz será substituída.
É a reação que nos mantem vivos, na luta. A paz nada tem a ver com vitória ou derrota. Tem a ver só com luta. Sim, você deve manter a tua paz diariamente. Se não tem luta, você está morto. Quem morreu não está em paz, parou de lutar. Perdeu a guerra, literalmente. Esse “descanse em paz” só existe para aqueles que dizem isso daquele que se foi. Em paz pode ele não estar. O corpo vai lutar e vai perder. Do espírito não se sabe.
A paz absoluta não pode existir, pois ela não existe em nenhum lugar da natureza, nem mesmo lá no zero absoluto.
Essa paz, no sentido usual, que existe entre os países do mundo (não entre todos), não é paz, é um jogo de interesses que, no fundo, é uma guerra, pois é feita de toma-lás-dá-cás, num equilíbrio muito sensível ou cheio de sensibilidades. Basta um desses países se sentir prejudicado de alguma forma que essa falsa paz mostra sua verdadeira face. O mais estranho de tudo é que, no mesmo instante que a paz acaba, ela quer recomeçar: são os governantes mandando os governados lutarem em seu lugar, sendo o próprio governante o culpado pelo desequilíbrio e seus soldados os inocentes. E os soldados, antes “cansados de tanta paz”, agora com medo de “descansarem em paz”, vão à luta para recuperarem aquela mesma paz da qual estavam entediados. Isso só mostra a necessidade que temos, ou que nos é imposta misteriosamente, de ficarmos balançando numa dualidade, entre coisas opostas, sem sabermos onde fica o ponto de equilíbrio.
Trata-se, exatamente, da mesma luta que existe entre os cidadãos de um país, de uma cidade, de um bairro, de um prédio, de uma família. É o conflito íntimo diário de cada um. Basta a cabeça ficar em paz por alguns instantes que pensamentos contrários a essa paz começam a brotar. Na sua maior parte são pensamentos conflitantes, gerando uma verdadeira guerra mental. E, como na guerra entre países, não se sabe qual o verdadeiro motivo que levou àquele conflito.
E, exatamente como numa guerra, depois dos recursos orgânicos terem se esgotado quase que totalmente, a paz começa a aparecer, como uma paz forçada pela guerra. É como se a guerra fosse o adubo da paz. Então, tudo começa novamente.
Será que existe a verdadeira paz? Seria ela o que se chama de paz celestial? Sim, se existir paz, ela tem que ser uma paz celestial, pois seria a única paz que seria adubo de si mesma, e não da guerra.
A verdadeira paz é aquela que se alimenta de si mesma, gerando mais paz. É claro que ninguém nesse mundo tem condições mentais para suportar a verdadeira paz, pois ela expõe totalmente a guerra mental que alimentamos diariamente. Ao ouvirmos seu barulho ensurdecedor, os estrondos, os gritos de dor, desejamos que aquela paz acabe. Mas, ela nos parece tediosa, chata, porque a vemos fora e não a sentimos dentro. Por não a sentirmos dentro, não podemos senti-la fora, pois o que sentimos dentro se torna o que sentimos fora. Assim, a chatice, o tédio que está em tal ou qual lugar, estão em apenas um lugar: dentro de nós. É esse tipo de sentimento que gera uma paz falsa, que se torna adubo para um conflito, para uma guerra.
A verdadeira paz não é quietude, não é silêncio. A verdadeira paz é movimento, é transformar o errado no certo, é não deixar alguém cair, mesmo quando esse alguém é você, é ver a parte boa de tudo e saber usá-la para transformar um todo aparentemente mal num todo bom.
A verdadeira paz é se sentir bem consigo mesmo. E isso só é conseguido quando você se põe no lugar dos outros e luta para ficar bem consigo mesmo. Assim, você estará transformando o conflito daquelas pessoas na verdadeira paz para elas e muito mais para si.
Paz é voar sem sair do chão, é flutuar até o céu, como se todo o seu corpo fosse apenas pensamento.
Paz é sonhar. É rir como se estivesse rindo para o vazio, da mesma maneira que um bebê faz, pois, se a paz é visível, ela é aquilo que se vê no sorriso de um bebê que, como todos eles, acaba de chegar de um mundo onde reina a verdadeira paz.
Brasilio/Junho-2009.