O QUE É A LINGUAGEM 1
Por B. L. C. | 27/01/2015 | EducaçãoO QUE É A LINGUAGEM I
Por que você consegue cantarolar ou assobiar uma canção que você só ouviu poucas vezes? Por que você, ao ver uma palavra escrita em Português, é como se alguém estivesse falando com você também em Português?
Em uma língua desconhecida, mas escrita com caracteres latinos, a palavra “fala”. Português: BARBECUE está falando BARBÉCÚI. Em caracteres árabes ela será muda para você: ﻖ ﻙ ﻜ ﻞ ﻱ ﻵ ﻃ ﻍ, nada nos diz, mas para um árabe diz algo (peguei letras do alfabeto árabe e juntei – espero não ter escrito algo impróprio. Alguém sabe como se escreve barbecue em árabe?).
A canção é gravada na memória, como é gravada em uma fita magnética, com a diferença de que a gravação não é fiel. Não em relação à letra (se houver), porém ela é fiel em relação à música. Como um pensamento reproduzido da memória (chamado de lembrança), a canção é reproduzida pelo cantarolar. Quanto a assobiar, o mecanismo é o mesmo. À medida que a reprodução prossegue, a boca é formatada para assobiar, sendo o ajuste, a cada momento, feito com o auxílio da audição. Assim também é com o falar de uma lembrança. A fala não é possível sem a audição, porque há um “feedback” da boca para o ouvido e, daí, para os centros da fala, onde ocorrem buscas na memória e ajustes que possibilitam a fala correta do pensamento.
A palavra escrita é apenas uma figura representativa da palavra falada. Essa representação é capaz de reproduzir o “som” da palavra, sendo que esta pode ter um significado para um determinado grupo de pessoas ou nenhum significado para outro grupo.
Por que você consegue cantarolar ou assobiar uma música, mas não consegue fazer isso se ela é apresentada para você na notação musical? Ela fica parecida com o conjunto de palavras em caracteres árabes mencionado acima: totalmente muda. Eu posso repetir (verbalizando) uma sentença inteira em árabe sem saber o significado, mas minha entonação provavelmente vai variar muito. É como tentar cantarolar uma música que nunca ouvi ou que ouvi pouco. Quando falo uma palavra ou cantarolo uma canção (o que dá na mesma) fora da entonação correta, estarei falhando na descrição do sentimento que ela representa. Por isso, em algumas linguagens escritas são usados acentos para ajudar, mas, ainda assim, não é suficiente. Em outras linguagens você TEM QUE saber onde colocar o acento no momento de falar.
Mas, por que em uma canção você aprende bem rápido onde colocar o acento? Talvez porque o sentimento representado pela canção seja bem mais forte que aquele representado pela palavra escrita ou falada.
Para a palavra escrita faltam muitos acessórios que fazem com que ela não se encaixe como esperado (por quem escreveu) nos sentimentos da pessoa que lê. Com a palavra falada isto fica mais fácil, porque ela vem com mais acessórios que a palavra escrita. Ainda assim é difícil conseguir um encaixe perfeito com o ouvinte. Com a palavra cantada fica bem melhor, mas ainda não é perfeito.
Com o que você associa a música que você assobia, ou, o que é associado ao assobio para que você fique “fluente” nesta linguagem? Tem como fazer uma associação entre essa “coisa” e a notação musical, de tal modo que você possa escrever a música?
Por que o ouvido reconhece qualquer som, a ponto de reproduzi-lo através de palavras (compreensíveis ou não)?
O ouvido é apenas um instrumento, como os olhos o são quando veem uma imagem. Será que música te diz algo da mesma maneira que Chinês te diz, apesar de você não compreender?
A palavra pura nada diz, a menos que você a compreenda (existe uma associação dela a um sentimento seu). Mas, mesmo que você não compreenda totalmente a palavra falada, você pode compreender a maior parte se ela vier acompanhada de entonação (música).
Mas, mesmo que você compreenda, será que quem está “dizendo” compreende o mesmo que você ouve? Por exemplo, a frase “...area for...” para um brasileiro significa um trecho de uma frase como “se a área for suficientemente grande....”, enquanto que para um inglês significa algo como “nós precisamos de uma área para...” (we need an area for...).
Apenas com a convivência será possível chegar a uma comunicação 90%. Chegar a 100% não é possível, pois dispensaria totalmente palavras, gestos e imagens.
Vamos tentar descobrir como é o processo de associação da palavra escrita com seu significado dentro de um contexto. Isso, certamente, independe da língua. Depois veremos se é possível um jeito de olhar para a notação musical e daí cantarolar a música e vice-versa (cantarolar uma música e escrevê-la). Se conseguirmos isso, estaremos aptos a falar qualquer linguagem. Note, porém, que falar é uma coisa; compreender e ser compreendido é bem outra.
A associação da palavra com o som é feita pelos fonemas ou representações de “sub-sons” que a formam. A palavra em si, pura, nada é se não for a representação de um som. Por outro lado, este som tem que ter um significado, representar um objeto ou um sentimento.
Por que é mais fácil associar o som de um instrumento com a canção ouvida antes do que associar com ela a notação escrita? Porque o instrumento musical reproduz a lembrança e essa lembrança é a gravação feita em forma de sentimento.
Você já deve ter encontrado e até interagido por meio de palavras com pessoas que não sabem ler ou mesmo escrever essas palavras. Elas conseguem interagir com você assim porque elas conseguem associar os sons das palavras que você fala a significados que elas conhecem. Assim elas conseguem retrucar e uma conversação é mantida. Do mesmo modo, você associa as palavras aos mesmos significados que a pessoa dá, senão, obviamente, não haveria conversação. Mas, você tem algo a mais que aquelas pessoas: você pode tanto escrever quanto ler o que elas falam e o que você diz. Para você é natural ler e escrever. Para aquele tipo de pessoa isso não é natural. Logo, NÃO É NATURAL, pois o que é natural afeta todas as pessoas igualmente.
Mas, será que ouvir e falar é natural? Sim, ouvir e falar é natural. Compreender não é natural. De qualquer maneira, como aquela pessoa aprendeu a ouvir e a falar, apesar de não escrever e nem ler? Ela aprendeu vivendo entre pessoas que já ouviam e falavam. Essas pessoas, modernas ou não, associaram sons a coisas, a gestos, etc. Com o passar do tempo você vai fazer as mesmas associações e, então, isso ficará automático, parecerá natural.
Uma pessoa só (o pai de todos) que se associou com outra (a mãe de todos) criaram uma linguagem comum. Assim nasce uma comunidade, uma sociedade.
Alguns membros se isolam e sua linguagem começa a diferir da linguagem de seus pais, de sua sociedade. Associações são refeitas, estendidas. Novas associações são feitas para novos sons. A linguagem escrita tenta acompanhar, mas corre muito atrás, não consegue reproduzir tudo.
É no meio de um grupo que uma criança aprende a falar, pois ela experimenta as associações, seja em relação a objetos e, principalmente, senão totalmente, em relação a sentimentos, pois, mesmo para um objeto, deve vir um sentimento antes.
Uma pessoa que vivesse isolada de outras, certamente criaria uma linguagem própria, com suas próprias associações. Ela não será entendida e nem entenderá outras pessoas. Ela poderá até criar uma escrita que a ajude a se lembrar de suas associações. E como em nossa linguagem cotidiana, nem sempre o que ela escrever corresponderá, em termos de som, ao que ela fala, mas as associações permanecem intactas, pois dependem mais do som do que da escrita.
Um modo de você aprender outra língua é estar imerso no meio de pessoas que só falam aquela língua. Você tem que estar imerso totalmente, de tal modo que todas as tuas necessidades dependam de falar aquela língua. Só assim você aprenderá as associações dos sons com as coisas que eles representam. Provavelmente você demorará mais tempo para aprender a escrever, pois os sons não podem ser fielmente reproduzidos pelas palavras escritas.
Se todas as tuas necessidades dependessem da linguagem musical, certamente você aprenderia e apreciaria mais (bem ou mal) a música. A música é a única linguagem que pode representar a maior parte das entonações (sons) humanas, porque ela trata exatamente disso: sons. Mas, ainda assim, ela não é capaz de representar todas as emoções, apesar de ser muito mais extensa, neste aspecto, do que a linguagem falada e esta muito mais que a escrita.
Existiria outra maneira de aprender uma linguagem? Não, é preciso experimentar os sentimentos das associações.
Fala-se muito em uma linguagem universal. Mas, o que tentam criar é uma linguagem escrita. Não vai ser possível. A linguagem universal já existe: é a emoção. O problema é que não há um meio de representá-la por sons ou caracteres.
E as linguagens escritas, dependem da linguagem falada? Não, pois os sons podem diferir. Escrevo da mesma maneira vinte sons diferentes. Porém, na música, a linguagem escrita depende da linguagem “falada”. A música que conhecemos é bem representada pela sua escrita. Escrevo de maneira única cada som.
E o inverso: a linguagem falada depende da linguagem escrita? De novo, só na música: cada som é escrito de uma única maneira. Falo de vinte maneiras diferentes uma palavra que está escrita. Pode haver música sem escrita, mas toda escrita tem música.
Uma frase falada e a mesma frase cantada podem ser duas músicas iguais ou diferentes; se podem ser diferentes, então a música muda, enquanto a frase permanece fixa.
Voltando à questão das necessidades, podemos perguntar: como aprendemos tão rapidamente a cantarolar uma canção? Existe uma necessidade atrás disso? Apesar da música depender de sua escrita e vice-versa, conseguimos cantarolar, mas não conseguimos escrever ou sentir. Quem escreve, sente e também cantarola. Cantarolar nem sempre é sentir. Pode até haver um sentimento, mas certamente não corresponderá ao sentimento original do autor da música. É como se falássemos corretamente tailandês sem nada entender, mas os nativos da Tailândia entenderiam muito bem. Existe uma grande diferença entre repetir uma frase (cantarolar, assobiar) e compreender o seu significado (na verdade, ser capaz de associar a frase ao significado correto – isso é falar uma língua).
Falta alguma coisa. O que é?
Qual é a diferença entre cantarolar e cantar a letra da música? Letra e música tem o mesmo significado para a mente, ou seja, causam as mesmas emoções? Trata-se da mesma questão entre a palavra escrita e a falada. Não, não causam as mesmas impressões. A música chega mais próximo de nós, da mesma maneira que a palavra falada. Na verdade, não existe uma letra que se encaixe perfeitamente a uma música. Cantarolar está muito mais próximo da música do que a letra está da música.
Letra de música é palavra escrita. Letra cantada é palavra falada. A música pura é o cantarolar: nã-nã-nã, lá-lá-la, e variações. É possível escrever isso precisamente na notação musical, mas não é possível fazê-lo com um único significado: tá-tá-tá pode ser uma batida de tambor ou o marido respondendo à esposa durante uma discussão doméstica.
Como aprender outra língua e escreve-la, seja música ou língua falada?
A música tem sintaxe e morfologia? Como a música pode expressar melhor os sentimentos se ela tem menos letras (só sete)?
Não são as letras que expressam as emoções, são os fonemas. É a junção das letras que formam sons representativos dos fonemas.
A música só tem sete sinais, mas vários acentos que os modificam, como as oitavas para cima, oitavas para baixo, combinado com os sustenidos e bemóis. No final das contas haverá muito mais que sete sinais. Da mesma maneira, a língua portuguesa tem bem mais que 26 sinais. Veja que apenas o sinal a tem cinco fonemas diferentes. Sem falar ainda nas formas NH e LH. Se tudo fosse letra, teríamos mais de 40 em nosso alfabeto.
Note que a gramática não depende da língua, ou seja, as regras básicas são as mesmas tanto para o Português, Inglês, etc. Mas, por outro lado, essas regras surgiram da expressão, ou do sentimento.
Substantivos, adjetivos, pronomes, preposições, verbos, advérbios, sujeito, predicado, objetos, tudo isso surge através da separação dos sentimentos em classes ou grupos para “facilitar” a passagem do conhecimento das “regras” da língua.
É compreensível que, sem essas regras, poderia haver problemas de comunicação. É possível que tenha sido a inexistência de regras no passado que levou a essa profusão de línguas atualmente existentes. Mesmo num conjunto “fechado” de regras, como na Língua Portuguesa, há “vazamentos”. Daí nascem as gírias e multisignificados, às vezes totalmente sem contextos ou em contextos particulares e não revelados, como uma criptografia.
Já que a música expressa melhor os sentimentos do que a escrita, há nela alguma destas classes?
Substantivo – Aquilo sobre/do qual expressamos nossos sentimentos.
Adjetivo – A própria expressão.
Pronome – Uma substantivação do adjetivo, uma substituição do substantivo por um apelido.
Verbo – A força da expressão.
Adverbio – Uma acentuação para mais ou para menos da expressão.
O substantivo na música seria o tema. Mas podemos criar música sem tema, como uma frase sem substantivo.
O adjetivo é mais difícil de definir, pois dependerá da reação de cada ouvinte. Pode soar como um xingamento ou um elogio.
O verbo na música se confunde com o adjetivo, pois é a reação do ouvinte que determinará o tipo da ação executada.
Então, a música se resume ao tema e ao que aquele tema expressa. É no que a linguagem comum se resume também, na verdade.
Então, para aprender uma linguagem bastar conhecer o tema e sua expressão?
Se te derem um tema, você deriva dele uma expressão (música ou frase)? Não, você deriva várias.
Se te derem uma expressão, você a associa a um tema? Com mais exatidão que no caso anterior.
Se te derem o tema “montanha” e pedirem para você assobiar algo sobre o tema, você vai conseguir? Provavelmente não assobiaria algo com algum sentido.
E falar ou contar algo sobre o tema? Bem mais fácil, não?
Isso parece uma contradição: a música expressa melhor as emoções, mas é a palavra que vai mais fundo.
Na verdade, a palavra falada é mais direcionada, enquanto que a música atinge vários pontos ao mesmo tempo, sendo menos contundente. A palavra falada procura arrancar uma única emoção, enquanto a música tenta arrancar uma (aquela do autor) atingindo muitas. Assim é que a música provoca emoções diferentes em pessoas diferentes e a palavra falada provoca a mesma emoção num grande grupo de pessoas.
Não há contradição. Há adição, na verdade. É por isso que a música cantada e a poesia nos tocam mais fundo.
Normalmente, ninguém assobia algo que lhe é desconhecido, ou seja, algo que não esteja associado a um tema. Seria como falar uma linguagem desconhecida. É necessário um tema, mesmo que ele seja um sentimento, tanto para falar, cantar ou assobiar.
Para aprender uma linguagem, eu preciso conhecer os temas (substantivos) e suas expressões (significados) e ser capaz de criar uma nova expressão comunicativa conforme o contexto psicológico e, às vezes, físico também.
Quando assobio uma canção como “Parabéns Pra Você”, o que eu estou fazendo na verdade? O que é preciso para eu fazer a mesma coisa usando um instrumento musical?
O que é preciso para eu escrevê-la num papel (música e letra) para que alguém consiga reproduzi-la (assobiando ou tocando)?
Quando falo a expressão “Bom Dia”, “Good Morning”, “Guten Tag”, o que eu estou fazendo na verdade?
Vejamos a expressão “alô”. Quando ela é falada eu ouço “a-lô”. São dois sons que internamente associo com dois fonemas (“a” e “lô”). Percebo um som baixo (primeiro fonema) e outro alto (segundo fonema). A expressão pode ser representada por caracteres alfabéticos (como em “alô”) ou musicais (dó-fá-, por exemplo). Se a expressão aparecer em caracteres musicais, como a expresso verbalmente? Para isso, tenho que aprender a associar o som ouvido a notas (e notas a sons – seus “fonemas”), assim como o associo a fonemas e estes a um conjunto de caracteres. Assim, como na palavra escrita, poderei ir dos caracteres para os sons e vice-versa.
Som Ouvido à Fonemas à Representação em Figuras
Representação em Figuras à Fonemas à Som Falado
O som ouvido é memorizado e reproduzido em seguida (assobiar/cantarolar) e/ou é associado a fonemas conhecidos (falo a língua) e estes a figuras (escrevo a língua) e associar conjuntos de fonemas a coisas (entendo a língua).
Assim como aquelas pessoas que sabem falar, mas não sabem ler e nem escrever, a maioria de nós se encontra na mesma situação em relação à música. Sabemos cantarolar e assobiar, mas não sabemos escrever e nem ler isso. Você pode cantarolar e assobiar a expressão “alô”. Claro que pessoas que estiverem fora do contexto não vão entender como “alô”. O mesmo já não acontece com uma canção, pois ela foi divulgada para todo mundo (criou um contexto). Então, se você assobiá-la, todos entenderão, desde que você não “desafine” muito.
Para isso, você segue um processo mais ou menos assim:
ouveàassobiaàouve o que assobiaàajustaàassobia o mesmo som/busca novo som...
A associação com o cantarolar ou mesmo cantar a letra (no fundo só vale o cantarolar, pois a letra pura não é música), utiliza esse mesmo processo.
A resposta emocional seria um “talk back”, que é o que você faz quando é fluente em uma língua.
Para aprender a escrever na notação musical, preciso, antes, “dar uma figura a cada som”. Entre aspas porque essa associação já existe e é padrão. O que tenho que fazer é decorar, da mesma maneira que decoro a associação de uma expressão em inglês ao seu significado e som. E repetir até que isso entre para a memória dinâmica permanente.
Também, ao olhar para sequência dó-fá, tenho que ser capaz de descrevê-la como “alô”, como se a estivesse cantarolando ou, até, cantando seguindo a letra original ou mesmo lendo um texto em uma língua em que sou fluente.
Como dito anteriormente, para a mesma música posso ter várias letras (lyrics), mas o cantarolar é único, pois ele é a expressão vocal ou instrumental da notação musical.
Partindo de uma notação musical, derivo um único cantarolar, diversas letras (lyrics) e ponto final. Partindo de uma notação linguística, derivo um único falar e ponto final, mas, dependendo do texto, ele pode ficar aberto a diversas interpretações. Então é a mesma coisa, e as interpretações são letras para a mesma “música”.
É possível escrever uma letra (lyrics) para uma frase em Português assim como posso escrever uma letra para uma frase musical? Sim, pois cada interpretação (o que o ouvinte entende) é uma “música” diferente da original. Não dizemos, às vezes, a alguém que se ofendeu com o que dissemos: “Não era bem isso que eu quis dizer”?
Como associar um assobio qualquer com uma nota? Como associar uma entonação com uma nota? Como associar uma frase com um conjunto de notas? Para os três casos, a resposta é uma só: através do ouvido.
O maior problema que encontramos para fazer essa associação é o que é chamado em música de timbre. Um assobio não tem o mesmo timbre de um saxofone, porém ambos podem emitir a mesma nota, tanto em frequência (a nota), altura e intensidade. É pelo timbre que você sabe se é um assobio ou um saxofone que emite tal nota. O timbre é gerado pela associação das frequências harmônicas (múltiplos e submúltiplos da frequência fundamental – a nota).
Quando conseguimos abstrair o timbre e perceber a igualdade, aí teremos conseguido a associação.
O mesmo se aplica a uma entonação vocativa. Removendo o timbre, será possível associar um som (ou conjunto de sons) a uma frase e, daí, escrevê-la na notação musical.
Veja que há uma grande diferença para uma linguagem falada. Você pode ouvir uma música e mesmo interpretá-la à sua maneira. Você pode, porém, ouvir uma frase inteira em Inglês, passá-la corretamente para a notação escrita, mas pode não interpretá-la corretamente, pois o significado é único e não é teu. Na verdade é de todos para todos.
É necessária uma associação extra. Uma associação com objetos, materiais ou não, objetos esses que não funcionam como um substituto para a frase, mas como objetos descritos por elas. Esses objetos são tanto entidades atômicas como relacionamentos entre essas entidades.
Objetos e seus relacionamentos independem da linguagem. Pode-se dizer que, neste aspecto, eles pertencem a uma linguagem única e universal, a qual todos conhecem. Para descrever uma série de objetos e seus relacionamentos em Inglês, portanto, o que você precisa saber é construir uma frase que faça essa descrição. Conhecer a estrutura da frase e a associação de cada elemento seu com cada objeto e cada relacionamento. Isso é o essencial. Então, não adianta compreender (a ponto de passar para o papel) e nem cantarolar (repetir fielmente). Isso, uma máquina pode fazer. Então, diferentemente da música, você não aprenderá uma língua apenas “cantando-a”. Não no sentido verdadeiro de aprender, de se tornar fluente naquela língua. Você tem que conhecer a estrutura da língua e saber aplicá-la, além de saber ouvi-la e cantá-la. E o único meio de fazer isso é memorizando. Memorizar é um exercício de associação que leva tempo, que necessita de constância. Não tem como ser de uma hora para a outra.
Então, não existe uma maneira fácil e rápida de aprender uma nova língua. É necessário trabalho. A associação tem que ser feita através do ouvido. O ouvido “vê” a música; os olhos só podem ver a letra.
Brasilio – Dez/2006.