O PROJETO JARI E AS “FÁBULAS” DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: IMPLICAÇÕES NO DISTRITO DE MONTE DOURADO

Por Carlos Allan Madureira Cruz | 23/09/2017 | Geografia

Cruz, Carlos A. M. (Graduando em Geografia UEPA). Belém, PA – carlosallanmc@hotmail.com

SILVA, Raimundo V. B. da. (Prof. Msc. UNAMA). Belém. PA – vicentebaia@yahoo.com.br

RODRIGUES, Roberto V. O. (Graduando em Geografia UNAMA). Belém, PA – robertao.vor@gmail.com

Resumo:

Objetiva-se com este trabalho, verificar o modelo de desenvolvimento na fase atual de operação do Projeto Jari, no distrito de Monte Dourado, situado no estado do Pará; analisar as ressonâncias negativas na economia local, em detrimento da crise financeira que o projeto atravessa, ocasionando dissonâncias na área social, como desemprego no distrito. Empregou-se o método dialético para a presente pesquisa através da abordagem qualitativa no bairro do Staff, em Monte Dourado, tomando como base para a discussão, o aporte teórico de Gonçalves (2001), que refuta veemente a implantação de grandes projetos na Amazônia como padrão de organização espacial, sugerindo como modelo mais adequado para a Amazônia o desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: desterritorialização, desenvolvimento, sustentável.

Introdução:

O processo de implementação de grandes projetos na Amazônia fez parte da ideologia imposta pelos militares, de desenvolver e integrar essa região ao resto do país. Em 1960 lança-se diversos projetos como: ALBRAS-ALUNORTE, FERRO-CARAJÁS, Projeto Jari, dentre outros. O discurso do vazio demográfico desta região fomentou consideravelmente o fluxo migratório, slogans como: “terra sem homens, para homens sem-terra”, eram propagados pelo governo federal.

Estes empreendimentos estruturantes transformaram a paisagem espacial da Amazônia; grandes objetos foram inseridos no contexto dos rios e da floresta gerando contradições na forma de organização espacial.

Propõe-se discutir o modelo de desenvolvimento em Monte Dourado, na atual conjuntura do megaprojeto.

A tônica dos principais debates, desde a década de 1960, no que tange aos grandes projetos na Amazônia, versou sobre os impactos ambientais e a desterritorialização das comunidades tradicionais, como ribeirinhos, quilombolas, entre outros.

A Amazônia possuía um padrão de ocupação denominado de Rio – Várzea - Floresta (Gonçalves, 2001), com a implantação dos grandes projetos, constitui-se um outro padrão de ocupação, denominado de Estrada - Terra-Firme – Subsolo (Gonçalves, 2001), como afirma Gonçalves:

[...] até a década de 1960 foi em torno dos rios que se organizou a vida das populações amazônicas. A partir de então, e por decisões tomadas fora da região, os interesses deslocam para o subsolo, para suas riquezas minerais, por uma decisão política de integrar o espaço amazônico ao resto do país, protagonizados pelos gestores territoriais civis e militares. (Gonçalves, 2001)

Neste contexto, surgiu o Projeto Jari em 1967, localizado entre os estados do Amapá e Pará, idealizado pelo norte-americano Daniel Keith Ludwig, e instalou-se a empresa Jari Celulose, com o objetivo de implantar um polo agroindustrial na Amazônia.

Ludwig construiu estradas, portos, pistas de pouso para aviões, hospitais, escolas, residências, um núcleo urbano equipado no meio da floresta.

Metodologia:

Utiliza-se como metodologia, o método dialético, por meio da pesquisa bibliográfica, através da abordagem qualitativa. O estudo foi realizado no bairro do Staff, considerado o mais nobre da cidade no período de 2000 à 2016.

Fundamentação Teórica:

As decisões deferidas para a Amazônia, em grande parte, foram traçadas “de fora para dentro”, “de cima para baixo”, do ponto de vista político.

O modelo de desenvolvimento proposto para a Amazônia, deu-se principalmente mediante a implantação dos grandes projetos financiados pelo governo federal.

Esse modelo de desenvolvimento para a região amazônica trouxe consigo inúmeras contradições, tais como: a desterritorialização das populações tradicionais e impactos ambientais e economia de enclave.

O Projeto Jari passa pela sua pior fase, desde a sua fundação, atualmente é controlado pelo empresário Sérgio Amoroso, do grupo ORSA.

A fábrica de celulose esteve quase dois anos parada, acarretando altos índices de desemprego, na região, colocando em “xeque” o modelo de desenvolvimento e ocupação proposto pelos militares e que ainda vigora até hoje, em algumas cidades amazônicas.

É perceptível que esse modelo de desenvolvimento não é o mais adequado para a região, a organização do espaço amazônico, por meio do rio e da floresta, é o mais adequado, pois as pesquisas sobre grandes projetos apontam que os benefícios às comunidades tradicionais e urbanas são menores do que os malefícios.

O modelo de desenvolvimento que o distrito de Monte Dourado precisa é o desenvolvimento sustentável, onde as ações de planejamento perpassam pela premissa de explorar os recursos naturais, com o menor impacto ambiental e socioeconômico possível, sem comprometer o uso destes recursos para as próximas gerações.

O modelo de desenvolvimento para a Amazônia, por intermédio de grandes projetos estruturantes, apresenta muitas contradições, mas a principal é não dialogar economicamente com a região em que está instalado, pois não traz dividendos de forma igualitária para a comunidade local, onde o lucro exorbitante das empresas que exploram o projeto fica demasiadamente concentrado nas mãos dos que implantaram o projeto.

Considerações Finais:

Os resultados preliminares do estudo realizado aponta para um alto índice de desemprego, violência e prostituição no distrito de Monte Dourado e cidades adjacentes.

A breve explanação realizada neste artigo permite compreender que o modelo de desenvolvimento proposto para a Amazônia, do qual fez parte o Projeto Jari, não viabilizou um desenvolvimento em bases sustentáveis.

Nesse contexto, o desenvolvimento proposto para a Amazônia continua seguindo um modelo que prioriza os interesses do capital, permitindo os avanços da fronteira econômica com bases em grandes empreendimentos em que pese a pressão internacional para garantir a proteção ambiental da floresta, pouco se tem feito para mudar a lógica de apropriação do espaço amazônico que vem sendo desenhada desde a década de 1960. O Projeto Jari é apenas uma fábula que continua sendo contada e reeditada em muitas cidades na Amazônia.

Referências Bibliográficas:

ARAÚJO, Marlon Aurélio Tapajós; BELO, Patrícia de Sales. Grandes Projetos Minerários e Comunidades Tradicionais na Amazônia: impactos e perspectivas. Rev. Pol. Públ. São Luís, v. 13, n. 2, p. 265-277 jul/dez. 2009.

CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Geografia: conceitos e temas 11ª ed. – Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2008. 352.

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Amazônia, Amazônias. São Paulo: Contexto, 2001.

LINS, Cristóvão. Jari – 70 anos de História. Data Forma. Rio de Janeiro – RJ, 2001.

MARTINS, José de Souza. A chegada do estranho. São Paulo: Hucitec, 1993.