O PROGRESSO NÃO PODE DEIXAR COMO MARCA A EXTINÇÃO DOS IPÊS NA SERRA DA JUREMA, GUARABIRA-PB

Por Carlos Belarmino | 07/01/2011 | Ambiental

O progresso chega às cidades que estão próximas as vilas, distritos e sítios, mas deixa a sua marca de degradação.
Lembro-me bem, como florescia os pau d?arco ou ipês em grandes quantidades nas serras que rodeiam a cidade de Guarabira-PB. A paisagem e o florescer dos ipês, trazia como uma molduras da natureza o encantamento e a magia do verde deslumbrante contrastando com o róseo, o roxo, o amarelo e o branco dos nossos ipês.
Não passou muito tempo para que o sítio São José, Mata Limpa, entre outros começassem a ser degradados com a chegada do progresso. A urbanização que substituiu as queimadas diminuíram a prática da cultura de subsistência. Naqueles idos começavam em macha lenta, o progresso que tomava conta das serra com a implantação de antenas para rádios e telefonia celular. Necessário se fez, a retirada da cobertura vegetal para que se instalasse a partir do Monte Virgo, a antena da rádio Constelação FM.
Mesmo assim, os imponentes pau d?arcos, com cores amarelo ouro e roxo, ainda chama atenção de todos que, de longe enxergam esse espetáculo maravilhoso.
Exemplares da espécie (Tabebuia chrysotricha Standl) família Bignoniaceae, toma a serra em grande extensão.
Ainda hoje a cultura de subsistência mesmo que menor escala inicia-se com a queima, para roçados e o amarelo transforma em acinzentado negro. Como se fosse pouco, a urbanização na área dá lugar a mansões, necessitando-se mais vezes de desflorestamento, para oferecer melhor qualidade de vida àqueles que detêm maiores poderes aquisitivos na região.
Com a queima o desaparecimento das nascentes será uma realidade, sem cobertura vegetal, poucos olhos d?água resistem e secam, deixando parte dos agricultores sem água. Os índices pluviométricos, vem caindo nestas áreas, mesmo que o ciclo hidrológico desempenham o seu papel de reposição, com a retirada da floresta, este perde um pouco do seu equilíbrio natural.
A serra sofre com a degradação perdendo fauna e flora e a sua biodiversidade fica frágil, a ponto de ver-se, exposto atualmente alguns afloramentos rochosos.
Antes do progresso chegar a Serra, com a Embratel implantada e estrada pavimentada, dar-se o inicio da degradação urbanística. A Serra da Jurema era uma grande produtora de frutas e de uma exuberante mata. Hoje sente-se falta de espécies da flora e fauna. É possível se conviver com sustentabilidade onde o homem use racionalmente o recurso natural. É necessário capacitar toda população ali residente para que conscientemente preserve a área.
Há pensamento de se transformar a Serra em área de preservação ambiental, visto as sucessivas degradações e denuncias, mesmo feita de maneira lenta.
No caso da concretização da APA, muitas pessoas terão que se adequar a uma nova realidade, contribuindo para regeneração do que pouco resta da mata atlântica. Quem sabe? poderão até serem indenizados? Para que isso não aconteça, é preciso que os nativos que ali residem, mudem de opinião e lutem pela preservação, pois muitos vivem em pequenos sítios e retiram de lá a sua sobrevivência.
Com a degradação, os impactos socioambientais irão acontecer, onde a perda da sua identidade, os costumes e a vivência, será uma realidade. Sem falar, nas retiradas destas famílias desta área para outra. Quem vive há muito tempo na serra, criou raízes, constituiu família e tenho certeza de que não querem sair do seu pedaço de chão. Se não se muda de comportamento e atitude, é bem possível que isto venha acontecer no futuro.
É verdade que nos últimos anos, as ideias e atitudes com relação à conservação e preservação vem mudando para incorporar termos como sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e conhecimento tradicional (BEGOSI, 2003)
Aponta pesquisadores da área que para que se use o conhecimento botânico tradicional, é necessário preservação para continuação das espécies. Pois quando isto acontece muita são dificuldades, que atualmente aponta para o uso sustentável dos ecossistemas talvez, o fator mais sério e complicante, seja falta de vontade política, aliada ao pobre conhecimento de nossos recursos. Podemos acrescentar outro dois fatores: a ausência de direcionamento dos estudos para áreas carentes, e as ideologias científicas que ainda reinam com respeito à conservação da biodiversidade. Ainda há tempo de se unir o saber científico, com os conhecimentos tradicionais das comunidades, mais é preciso esforço de ambas as partes em preservar a flora existente em nossa Serra da Jurema.
O verdadeiro laboratório que nos fornece as essências ativas, oriundas das espécies poderão um dia serem extintas. Para que os ipês continuem florescendo é necessário manejo florestal naquele ecossistema, além de mudanças de comportamento daqueles que lá residem, e do que exploram economicamente aquela área. As degradações vem abrindo os olhos das autoridades para este caminho, devemos lutar por dias melhores, mas tudo depende da conservação deste ambiente. Vamos a luta, não podemos perder para o progresso, é preciso eternizar o florescimento dos ipês, na Serra da Jurema, para que as gerações futuras presencie este grande espetáculo em cores amarelo ? ouro e roxo oferecido pela mãe-natureza.


REFERÊNCIAS


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BEGOCI; CARVALHO, P.E.R. Espécies arbóreas brasileiras. Colombo: Embrapa Florestas, 2003. V.1
LARINI, A. M. Ipê-amarelo. Disponível em: <http//www.florafauna.com/plantanesagostohtm>. Acesso em 26/12/2010.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. V. 2, 4 ed. São Paulo: Nova Odessa, 2002, 368p.

MACHADO, C. F. et al. Metodologia para a condução do teste de germinação em sementes de ipê-amarelo. Tabebuia serratifolia (Vahl) Nicholson. CERNE, v.8, n.2, 2002.

RIZZINI, C. T. Árvores e Madeiras úteis do Brasil. Manual de Dendrologia Brasileira. São Paulo: Editora Edgard Gomide Blucher, 1971.