O Profeta e o Sacerdote em Termos Sociológicos

Por george ferreira | 06/01/2009 | Filosofia

Pastor George Emanuel

O profeta é o intermediário e o anunciador das mudanças sociais (Bourdieu). O papel do profeta é atrair e mobilizar pelo poder do seu discurso um grupo de pessoas, para assim, canalizar a força deste grupo na estrutura social nova que ele deseja fornecer. O profeta traz o gênese de uma nova ética e uns profundos sensos cosmológicos decorrente da sua visão, que pretende sistematizar em regras de estrutura os seus interesses. O profeta na sua relação com os leigos é compreendida na força política que ele possui para satisfazer as necessidades dos grupos sociais de quem ele é o seu representante. Sendo ele um homem com a mensagem-salvação (Alexandre Carneiro), pode dispensar o aparato ritualístico do sacerdote e apenas pela sua palavra ser um construtor e portador dos bens de salvação. Todavia, é bom lembrar que para Weber, o profeta se envolver na política, mas apenas como um meio para se atingir um fim, isto é, o fundamento do poder do profeta reside em seu carisma não em uma delegação de interesses do grupo que ele representa.

O profeta constitui o exemplo típico-ideal de um agente social de inovação e mudança. O papel principal do profeta é sistematizar e ordenar todas as manifestações da vida, de coordenar todas as ações humanas através de um estilo de vida, no qual ele mesmo, é seu modelo ideal.

Uma vez tendo o profeta, estruturado doutrinamento seus pensamentos, aqueles grupos de adeptos leigos podem vir a se transformar em uma congregação, e devido às exigências cotidianas do grupo, o profeta acaba tendo que preparar um corpo de auxiliares seus, do seu círculo mais íntimo, para poder assim atender as demandas desta incorporação. A congregação formada pelo profeta que agora corre o risco de se transformar em sacerdote, lhe assiste com dinheiro, serviços, alimentação e etc... Em troca da esperança de salvação e de ter sempre ao seu dispor uma mensagem de revelação, proteção e garantias que sua conduta, segundo o profeta, esta em consonância com a vontade a vontade divina.

Max Weber na tentativa de estabelecer a ética econômica das religiões mundiais, principalmente àquelas que através de um profeta lograram agrupara em torno de uma idéia religiosa ou de uma moral religiosa uma massa de fiéis, ele discorreu sobre: o confucionismo, o hinduísmo, o budismo, o cristianismo e o islamismo. Acrescenta o judaísmo sempre como constituído da minoria, lembrando os judeus como os parias das nações. Embora esse trabalho de Weber não teve a possibilidade de ser acabado, principalmente a obra sobre o Islamismo, deixando apenas uma infinidade de notas sobre a questão, podemos pelo menos agradecer a Weber por traçar as linhas principais de abordagem em encadeamentos psicológicos e pragmáticos que exerceram o papel de motivações do aparecimento do profeta em seu contexto sócio-econômico. Weber não tencionou explicar a economia unicamente pela moral ou pela religião, nem a religião unicamente pela economia ou pela moral, mas sim compreender a interação dos diversos elementos da conduta humana, sem uma redução de todos os fatores a um dentre eles que se considere metafisicamente como determinante em última análise.

Donde se conclui que a pesquisa sociológica não se limita ao estudo apenas do fenômeno religioso e profético. A sociologia quer aprofundar seu interesse na mistagogia do profeta (guia / guru). A propósito do judaísmo antigo. Weber procede de maneira análoga. Depois de uma análise das condições geográficas e climatológicas, estuda as cidades, a situação dos camponeses, as instituições jurídicas, o culto, os sacrifícios, o problema dos levitas, etc. Analisa minuciosamente a situação anterior ao exílio e do exílio.

Depois do exílio, houve profundas transformações internas com o aparecimento de seitas, entre os quais a dos Fariseus e dos Essênios, e, sobretudo como a influência crescente dos rabinos, no quadro da diáspora. A característica do judaísmo foi sua hostilidade à magia e ao falso profetismo, que preparou o movimento racionalista dos séculos que se seguiram. Não há dúvida de que Weber teria estudado com tanta atenção o islamismo e seu profeta Maomé, se tivesse podido redigir sua obra que foi projetada e sonhada por ele.

Mesmo assim, o que nos interessa são as manifestações históricas que esses movimentos religiosos e proféticos produzem, é o "ethos" , como chamava Weber, que movimenta a conduta da vida. À medida que avança a análise sociológica do papel do profeta dentro dos fenômenos históricos, as camadas dominantes tendem a monopolizar não somente a utilidade social pelo carisma, mas também os bens espirituais, e, para consolidar seu poder, impõe aos outros certas declarações aparentemente divinas de conduta moral e de vida; mas que por trás dos bastidores são apenas uma sistematização burocrática da manipulação dos bens de salvação.

O sacerdote por sua vez é aquele que foi vocacionado ad hoc , e ele é um funcionário do culto, que por sua vez está destinado a honrar certa entidade ou varias entidades, dependendo do culto e de suas formas. O critério para diferenciar um sacerdote de um feiticeiro, por exemplo, fica relativizado em certas religiões, pois em alguns estágios de culto nas religiões mundiais, o sacerdote é também um praticante de magia. Já um sacerdote, por exemplo, um padre, é um funcionário distinto das demais religiões, pois ele pertence a uma empresa permanente, organizada regularmente, enquanto as atividades de certos sacerdotes são descontinua, como por exemplo, o sacerdote-feiticeiro. No caso dos sacerdotes protestantes, conhecidos como pastores, suas funções são particulares e eles exercem seus chamados em circunstancias singulares. Ou seja, independente de membros fixos em alguma denominação ou organização administrativa, ele é qualificado intelectualmente e espiritualmente através da doutrina elaborada pelas Escrituras, para representar o povo diante de Deus, e isso em qualquer instancia. Por isso, torna-se sine qua non ao serviço do sacerdote pessoas que estejam dispostas a se submeterem por livre e espontânea vontade ao culto. Não existe sacerdote sem culto, embora possa existe culto sem sacerdote. Todavia, nos casos de culto sem a presença do sacerdote ou nas religiões sem culto, onde reina, por exemplo, o feiticeiro, uma coisa geralmente falta: a racionalização das representações metafísicas e a ética religiosa específica. Por outro lado, sempre que nos falta um sacerdote, também não existe racionalização da vida religiosas.