O Processo Literário no Período da Ditadura Militar
Por Cintia Magalhães Corrêa | 02/10/2010 | ResumosAspectos históricos.
Existem razões políticas e econômicas que explicam o movimento militar de 64. As razões econômicas resultaram da deteriorização do quadro que se revelava numa inflação que chegou a quase 100% anuais. O descontrole do setor externo gerou uma situação para qual se tentou encontrar saída no fim do período democrático, mas que infelizmente, fracassou. Do ponto de vista político existia o propósito à convicção dos setores civis de que era preciso interromper o governo populista de João Goulart (1961-64), que estava levando o país a um regime sindicalista e ao comunismo ao implantar as reformas de base e da abertura às organizações sociais. Estudantes, organizações populares e trabalhadores ganharam espaço, causando preocupação às classes conservadoras como, por exemplo, os empresários, banqueiros, Igrejas Católicas, militares e classe média. Todos temiam uma guinada do Brasil para o lado socialista. É importante ressaltar, que neste período, o mundo vivia o auge da Guerra Fria.
Os militares que estavam no poder chegaram à conclusão de que não havia condições de se implementar uma reestruturação do país por via do congresso, então fizeram isso através do executivo, do poder que eles chamavam de constituinte da revolução. Isso era realizado através dos Atos Institucionais, que estabeleceram uma série de medidas; caçaram pessoas, mandatos de deputados, aposentaram funcionários públicos, extinguiram partidos políticos. Esses atos nasceram da autoridade do General presidente Castello Branco (1964-1967), que foi quem introduziu do regime militar.
Após a saída de Castelo Branco do governo, em março de 1967, o aumento dos protestos contra o regime militar abriu caminho para que os militares da chamada "linha dura" guiassem a vida política do país com o objetivo de desarticular as oposições. Dessa maneira, a candidatura de Arthur Costa e Silva ? expressivo líder dos setores mais repressivos ? ganhou força para que as liberdades democráticas fossem aniquiladas e o regime finalmente consolidado.
Foi no governo de Costa e Silva que o país conheceu o mais cruel de seus Atos Institucionais. Em 13 de dezembro de 1968, o ministro da Justiça, Gama e Silva, apresentou ao Conselho de Segurança Nacional o AI-5, que entregou o país às forças mais retrógradas e violentas de nossa História recente. O AI-5 formalizou a ditadura, ao decretar o fechamento do Congresso e dar aos militares poderes absolutos, inclusive para prender e julgar qualquer pessoa absoluta, mesmo sem provas contra o acusado.
Em 31 de agosto de 1969, Arthur da Costa e Silva afastou-se do cargo em virtude de uma trombose cerebral, sendo substituído por uma junta militar. Faleceu no Rio de Janeiro, em 17 de dezembro de 1969. Com o afastamento do presidente foi indicado pelo Alto Comando das Forças Armadas, o general gaúcho Emílio Garrastazu Médici, escolhido em 30 de outubro de 1969.
Com a posse do presidente Médici, entrava também em vigor a emenda constitucional nº 1, que se denominou "constituição da República Federativa do Brasil" e incorporavam-se as medidas de exceção previstas no ato institucional nº 5 (AI-5). O período foi marcado pelo aumento da repressão política, da censura aos meios de comunicação e pelas denúncias de tortura aos presos políticos. O AI-5 garantia liberdade aos militares para perseguir os opositores do regime, a censura tornou-se absoluta.
Dentre os vários ramos censurados da sociedade, destaca-se aqui a censura cultural. Certamente, todos os artistas envolvidos na chamada "arte engajada" sofreram perseguições, muitos foram presos, torturados e obrigados a sair do Brasil. A produção cultural foi sufocada ou enquadrada, o que significava que os artistas estavam produzindo somente o que os militares queriam.
A musica no período da Ditadura Militar no Brasil
Inicialmente, surgiu a Jovem Guarda, tendo como estilo o Rock. Tratava-se de um movimento musical declaradamente descompromissado com o rumo político do país. Os cantores Tony Campelo, Cely Campelo, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, foram os que mais caracterizavam o estilo, como uma "política de pão circo" a jovem guarda foi um grande fenômeno voltado para a massa popular constituindo indiretamente um meio de acorbertamento da realidade pela qual o pais passava.
A emotividade infantil presente nas letras das musicas serviram assim para distrair a população e encobrir as irregularidades do governo. A musica " Quero que tudo vá para o inferno" de Roberto Carlos E Erasmo Carlos era vista como o hino dos alienados.
Posteriormente, o Tropicalismo desponta o cenário musical como um movimento que trazia irreverência e informalidade rompendo serenidade da Bossa Nova (estilo que já estava presente no Brasil desde a Dec. 50)
O Tropicalismo é muito bem representado pelos cantores e compositores. Tom Zé, Gilberto Gil. Caetano Veloso. Torquato Neto entre outros. Suas musicas tinham como pano de fundo a implantação de tudo que foi considerado mal gosto e caracterizava um pouco da revolta com o que acontecia no poder do País.
Foi entretanto, a musica de Protesto que melhor descreveu o quadro político da época . assim como o Tropicalismo, os autores das musicas de protesto questionavam a situação pela qual o Brasil passava mais o faziam de uma maneira mais séria e intencionada , como não podiam colocar explicitamente nas letras e o que pensavam á respeito, eles sensibilizavam metáforas, ambigüidades ou mesmo inseriam palavras sem sentido com o resto da musica, ironizando quando teria ocorrido censura na composição. Na musica de protesto percebemos a presença de compositores e intelectuais de grande importância em nossa formação literária, tais como Chico Buarque, Geral Vandré, Elis Regina, a seguir temos a exposição de algumas musicas onde podemos verificar as características anteriormente expostas.
CÁLICE ? Chico Buarque & Milton Nascimento
Em seu titulo a musica já apresenta um caráter dual, como a censura imposta pelos militares não permitia contestações ao regime que governava o país, a ambigüidade e a metáfora foram figuras de linguagem muito utilizadas pelos compositores para alertar as pessoas à respeito da realidade vivida no país naquele momento .
A intenção real do autor com o titulo da música refere-se ao ato de calar, a sonoridade da palavra "cálice" nos leva claramente a esta conclusão. Observamos de inicio, portanto, a caracterização de uma música de protesto.
Quando Chico Buarque e Milton Nascimento escrevem" tanta mentira, tanta força bruta" fazem uma alusão á imagem que o partido do regime militar tentava fazer para os cidadãos e a forma como eles se utilizavam para que suas irregularidades permanecessem obscuras..
A musica trata da revolta de uma pessoa frente a obrigação de ter que calar-se diante de tantas injustiças . O monstro da Lagoa que pode emergir, surge na verdade da qualquer lugar, representado pelo DOI CODI, que ameaçava, humilhava, e se preciso matava qualquer um que estivesse na arquibancada e se opusesse às concepções do governo.
Se fizermos portanto, uma analise ultima dos versos da música percebemos a intenção social na informação a ser passada para a sociedade.
O BÊBADO E A EQUILIBRISTA - João Bosco
A comparação entre o cair da tarde e um viaduto logo no inicio da musica, faz uma alusão ao viaduto da Gameira em Belo Horizonte que desabou sobre carros e ônibus, matando muitas pessoas, sendo que nada foi noticiado e ninguém foi indenizado. Os artista, poetas e músicos são representados na música como o " bêbado trajando luto" , e a lua designa os políticos civis que se colocaram a favor do regime e afim de obter ganhos pessoais. Eles até apoiavam a propaganda que dizia que se um general declarasse que a lua era preta acreditar-se-ia visto como um verdade absoluta . Em determinadas épocas foram chamadas ? luas pretas,
O bordel, do qual a "lua" era dona,seria a câmara do Deputados e o Senado, tal metaforização surge uma vez que nestes lugares eram feitos negócios irregulares, imorais e incondigentes com sua função.
Outra metáfora presente é a implícita comparação que se faz entre as nuvens ( pois são intocáveis e inalcançáveis ) com os torturadores bem como o que se faz entre o 1mata- borrão e o DOI CODI , a temível policia política da época, as manchas torturadas seriam os "rebeldes" , que para o governo significavam a desordem e a indisciplina.
Henfil ( Henrique Filho) era um afiadíssimo cartunista político muito visado pelo regime, Maria era esposa do operário .............. , morto sob tortura nos porões do DOI CODI , e Clarice é a esposa do jornalista Wladimir Herzog, Morto no porão
1 mata ? borrão é um instrumento antiquado destinado a eliminar os erros, borrões da escrita
Algumas citações:
"Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina."
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
A nossa Pátria mãe tão distraída Sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações."
CHICO BUARQUE DE HOLLANDA
"Ou então cada paisano e cada capataz Com sua burrice fará jorrar sangue demais Nos pantanais, nas cidades, caatingas
E nos gerais"
CAETANO VELOSO