O preconceito na era da internet

Por Mirian Taila de Paula Almeida | 08/03/2016 | Direito

Após o advento da internet, as pessoas ganharam a oportunidade de emitirem suas opiniões a cerca de determinado assunto e serem realmente ouvidas. No ringue das redes sociais, tudo é motivo para discussão e, não raramente, tais brigas tomam o rumo do preconceito contra o outro, seja por sua origem, por sua aparência, ou por suas preferências.

O problema é que muitos enxergam na internet uma “terra sem leis”, onde discursos de ódio ultrapassam a linha da liberdade de expressão e tomam o campo do preconceito contra o que é diferente - o que não se pode entender por que a posição ocupada na sociedade é outra.

Tal preconceito existe desde que a própria sociedade criou conceitos do que é certo ou errado, feio ou belo, podendo definir isso como padrões a serem seguidos. Desse modo, é possível entender que sempre houve gente que pensava de modo díspar e que não seguia os padrões estéticos, por exemplo. Entretanto, em nenhum momento da história tantas pessoas puderam ter voz para propagar seus pensamentos mais negativos sobre o outro.

O ponto de maior expressividade dessas discussões virtuais acaloradas para os brasileiros aconteceu durante os grandes protestos de 2013 motivados pelos famosos vinte centavos a mais na passagem de ônibus, mas a culminação da intolerância aconteceu nas Eleições presidenciais de 2014. Apesar de haver grupos que debatiam questões controversas e importantes de forma saudável, o que mais se podia ver eram paixões pessoais interferindo no que deveriam ser discussões para definir o que seria melhor para o futuro do país.

De lá pra cá, vários tipos de violência podem ser vistos no âmbito virtual, basta procurar páginas no facebook que propagam ideologias diferentes daquelas consideradas corretas por outros. A questão é que a intolerância contra ideias diferentes não é aceitável para um país que vive em regime democrático, afinal gera violência e um clima quase de caos onde não se pode emitir uma ideia sem que outro não se sinta ofendido, afinal ideias devem ser respeitadas, desde que não estejam embasadas em preconceitos que firam a liberdade do outro de escolher o que melhor atende seus anseios pessoais.

Um dos casos que mais gerou repercussão no ano de 2015 foi o da modelo transexual Viviany Berleboni, a qual representou Jesus Cristo pregado na cruz no desfile da 19° Parada do Orgulho LGBT em São Paulo fazendo alusão a “crucificação simbólica” que sofrem durante o resto do ano devido à escolha de assumir sua sexualidade perante a sociedade.

Em vários meios de comunicação, a modelo “transex” foi duramente criticada, recebendo ameaças de morte por conta da intolerância religiosa inerente a grupos fundamentalistas claramente nocivos à sociedade devido ao perigo que representam a essas pessoas, visto que geralmente as ameaças são cumpridas. Por outro lado, Viviany recebeu apoio do Padre Fábio de Melo e de outros católicos, podendo ser possível notar que o preconceito depende apenas de ponto de vista.

Para que preconceitos como o citado acima cessem, portanto, é necessário que as pessas coloquem-se no lugar do outro, entendendo que suas escolhas – quando o preconceito é gerado por estas – são pessoais, só dizem respeito a si mesmas, e que a internet, além de ser onde debates saudáveis são bem vindos, é um ambiente onde tais escolhas devem ser respeitadas. Todavia, isso parece cada vez mais longe de acontecer, visto que o indivíduo nos tempos atuais toma um caminho constante e perigoso em direção ao egoísmo em relação ao outro.  

Dissertação apresentada a disciplina de Temas em Direitos Humanos do curso de Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) para obtenção parcial de nota.