O preço caro da competição
Por Sergio Sebold | 31/01/2013 | EconomiaNão há dúvidas que a competição entre empresas do mesmo ramo levam um benefício a toda sociedade. Alguns tempos atrás o preço era o que ditava esta vantagem. Mas agora entra também o fator qualidade. A tecnologia tem sido um grande redutor de custo pela produtividade oferecida. Mas também tem sido o vilão da redução da mão de obra nas suas linhas de produção. Aqui começa o problema do capitalismo.
O sindicalismo que seria a forma de proteger os operários está dia a dia perdendo sua força de coerção. A evolução do processo de produção pela hierarquização com a chamada terceirização tornou-se um desastre sobre a ótica do sindicalismo. A pulverização da mão de obra diluiu o poder de barganha dos sindicatos de classe.
Temos agora um novo ingrediente, na nossa complexa economia. A competição de mão de obra entre países, diante da crescente globalização da produção - onde a diferença cultural e de vida são enormes - está levando a pauperização dos salários em diversas partes do mundo. Países, atrasados e emergentes, estão ingressando agora no roldão da globalização oferecendo produtos, (inclusive em condições de qualidade) com preços baixos permitido pelo baixo salário que lá são praticados. Salienta-se a China e a Índia neste contesto. Os subsídios sociais pelos baixos salários destes países estão levando ao empobrecimento generalizado todos os países do planeta. Para complicar, muitos empreendimentos voaram para estes países, com capital das transnacionais para se tornarem mais competitivas pelo baixo custo de mão de obra do país hospedeiro. Esquecem que estão reduzindo o emprego nos seus países de origem. Por este viés, veremos a redução ou a perda de valor de todas as riquezas produzidas no mundo. Entre tantas explicações, esta é mais um fator para atual crise européia.
O padrão de vida que os europeus vinham desfrutando, com todas as benesses previdenciária do Estado, conquistados pela política da social democracia ao longo dos anos, está sendo dramaticamente reduzidos. Terminou la belle époque, os tempos hoje são outros. O que se vê é o desemprego generalizado por toda a Europa. Cada novo posto de trabalho (quando criado) está sendo oferecido com salários cada vez menores para redução dos custos no final da linha de produção. Por efeito obrigam os trabalhadores a redimensionar seus gastos, onde se destacam a alimentação e a saúde. Com a falta de rendimentos compatíveis com uma vida familiar condigna, leva à sua desestruturação, levando a difícil situação, cada vez maior de endividamento até perda da própria habitação. Existem países europeus, onde os trabalhadores têm salários tão baixos que necessitam ainda de suplementação do Estado para poderem sobreviver.
Diante deste cenário, surgem situações novas no âmbito trabalhista: não há mais possibilidade de escolher seu trabalho, são obrigados abraçarem o que estiver disponível; deslocamentos dentro e fora do país para sua alocação de trabalho; ter mais que uma ocupação para completar uma renda que não chega para viver; ficar ausente da sua família por longos períodos; endividarem-se até pescoço no desespero de manter seus padrões de vida; e finalmente aceitar de maneira servil o que lhe é imposto para não correr o risco de perder o emprego.
Ter emprego na Europa, já não é mais garantia de ausência de pobreza. O desemprego por sua vez, fruto da competição capitalista, “não é um mero número estatístico, mas uma tragédia social” (João Paulo II).
Sergio Sebold – Economista e Professor Independente