O POSITIVISMO SOB CRITICAS

Por Lhais Leite | 27/11/2017 | Educação

Resumo: O presente artigo traz um breve relato sobre algumas concepções do positivismo de Augusto Comte. A teoria positivista da Sociologia também foi muito criticada em alguns de seus apontamentos, e são estas criticas na qual se dará ênfase no artigo que se segue. Entre todas as criticas ao positivismo, a mais difundida foi a forma com que o positivismo se posicionou a respeito da neutralidade da ciência, e seu modelo de postura que o cientista deveria assumir.

Abstract:The present article gives a brief account of some conceptions of positivism of Auguste Comte. The positivist theory of Sociology was also heavily criticized in some of his notes, and these criticisms in which he will emphasize in the article that follows. Amongst all the criticism of positivism, the most widespread was the way that positivism is positioned about the neutrality of science, and its model of posture that the scientist should take.

POSITIVISMO

O positivismo é uma linha teórica da sociologia, esta tem como principal e mais conhecido fundador o francês Auguste Comte, que iniciou a atribuição de fatores humanos nas explicações dos diversos assuntos, contrariando o primado da razão, da teologia e da metafísica. Para o positivismo a sociologia é a naturalização das relações sociais. Para os positivistas é natural que haja pobres e ricos na sociedade, pois os ricos tiveram maior capacidade para alcançar o posto que estejam hoje, comparando também a sociedade como no funcionamento de um organismo vivo, como na biologia, onde assim o corpo possui partes mais importantes, como o cérebro, tal como a sociedade também.

Em um breve relato histórico do positivismo verifica-se que este não nasceu espontaneamente no século XIX, com Augusto Comte, suas raízes estão no empiricismo, desde a antiguidade, mas suas bases concretas e sistematizadas estão nos séculos XVI, XVII e XVIII, com Bacon, Hobbes e Hume, mais especificamente.

 O primeiro autor que se pode relacionar como o pai do positivismo é Condorcet, que conforme Löwy (2010), foi o primeiro a formular de maneira mais precisa a idéia de que a ciência da sociedade, nas suas variadas formas, devesse tomar o caráter de uma matemática social, ser objeto de estudo matemático, numérico, preciso e rigoroso. Para Condorcet só havia existido uma teoria da sociedade submetida aos preconceitos e aos interesses das classes poderosas, sendo este o primeiro pensador a avançar essa idéia de uma ciência natural da sociedade, objetiva e livre de preconceitos. Depois de Condorcet, temos Saint-Simon, que pretendeu formular uma ciência da sociedade segundo o modelo biológico, onde a ciência social deveria ter por modelo a fisiologia. Após de Saint-Simon veio Augusto Comte, que se considerava continuador de Condorcet e de Saint-Simon, porem, Comte os considerava demasiadamente crítico e negativos.

Augusto Comte começou a formular uma concepção de ciência natural, que chamou num primeiro momento de física social. Ele dizia que a física social é uma ciência que tem por objeto o estudo dos fenômenos sociais, considerados no mesmo espírito que os fenômenos sociais são submetidos a leis naturais invariáveis. Pode-se distinguir no pensamento de Comte três preocupações fundamentais: uma filosofia da história; uma fundamentação e classificação das ciências e a elaboração de uma disciplina para estudar os fatos sociais, a Sociologia.

Em sua obra Apelo aos conservadores (1855), Comte definiu a palavra "positivo" com sete acepções: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. A primeira dela designa o real em oposição a quimérico. Isto é significa que o espírito humano deve investigar sobre o que é possível conhecer, eliminando a busca das causas ultimas ou primeiras coisas. O positivismo é um estado sobre o útil ao invés do ocioso. A filosofia positiva deve guiar o ser humano pela certeza, distanciando-se da indecisão; deve elevá-lo ao preciso, eliminando o vago. A acepção do vocábulo positivo aparece como contrario ao negativo, a filosofia tem por objetivo não destruir, mas organizar.

O positivismo de Comte tem como idéia-chave a Lei dos Três Estados, de acordo com que homem estabelece suas concepções, isto é, na forma de conceber a realidade: estado teológico, estado metafísico e estado positivo. No estado teológico os fatos são explicados através dos deuses, cuja intervenção arbitrária explica todas as anomalias aparentes do universo. No estado metafísico, os agentes sobrenaturais são entidades inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para cada um uma entidade correspondente. Por fim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude.

 

CRITICAS AO POSITIVISMO

O positivismo clássico recebeu varias criticas ao longo do tempo, uma das principais e mais difundidas foi a critica a uma das maiores pretensões dessa corrente filosófica, a neutralidade cientifica. A ideia de que a ciência deve ser totalmente correta e imaculada, caminhando sempre em direção ao progresso e tem como principal função, responder a todas as necessidades humanas.

O positivismo marca o fim das teorias do conhecimento, em seu lugar foi introduzida uma teoria das ciências. O sentido do conhecimento recebe pouca importância, pois o positivismo afirma que se pode descrever a verdade sobre um fato, em nome de um conhecimento exato, este objetivismo permaneceu, como sinal indicativo de uma teoria da ciência imposta pelo positivismo de Comte.

A presunção da neutralidade cientifica deve-se, basicamente a presunção de que é possível compreender, a verdade em si de determinada coisa. Para o positivismo, o cientista através do método cientifico, tem a competência e aptidão de conquistar a verdade do objeto. No positivismo de Comte a filosofia é substituída pela ciência.

Sabe-se inicialmente que a ciência é uma obra humana, e como tal, movida por seus interesses e desejos, sempre marcada pela ideologia do pesquisador, dessa forma, segundo Hilton Japiassu, resulta em mito a pretensãoda neutralidade cientifica. Historicamente o uso e aplicação de resultados das pesquisas cientificas, vem mostrando que a eliminação da parcialidade esta fora de questão.

Considerando a ciência como uma atividade humana, tem de se reconhecer sua falibilidade e incerteza. A final o mundo cientifico não esta isolado do mundo cotidiano, não cientifico, portanto não esta livre te todos os conflitos que o perpassa.

Outra critica pertinente ao positivismo é o caráter heroico atribuído ao cientista, muitos veem nos cientistas os detentores da verdade, só eles estão habilitados a dizer o sentido e propor a verdade para todos, verdade essa considera absoluta e irrefutável.

“Os cientistas são vistos como se fossem os proprietários exclusivos do saber, devendo fechar todas as “cicatrizes do não-saber” e fornecer os bálsamos para as angústias individuais e sociais. Essa imagem mítica do cientista ignora que ele faz parte e depende de uma estrutura bem real do mundo que o cerca. O mundo cientifico nada tem de ideal, não é uma terra de inocência, livre de todo conflito e submetida apenas à lei da verdade universal, isto é, de uma verdade testável e verificável em toda parte, através do respeito aos procedimentos de rigor e aos protocolos da experimentação” (JAPIASSU, 1975. P. 116).

 

A vida humana é risco e insegurança. A primeira atitude de defesa do ser humano foi a personificação em divindades e a construção dos mitos. Após derrubar os mitos alegando que possuíam um caráter infantil e metafisico, o homem substituiu-ospor outras ideias que proporcionassem segurança, como o progresso universal, a racionalidade inerente ao ser humano, o universo regido por leis universais.

Desde os primórdios o homem busca essa segurança do universal, da essência. Transformando elementos da realidade em realidade totalizada, de modo que tudo que não se adequa ao seu sistema de imutabilidade é confinado na aparência. São aparentemente esquemas que refutam a irracionalidade e desordem. Entretanto, a existência permanece, de qualquer modo, cheia de incertezas. O objetivo do positivismo pode ter sido, também, se proteger das inseguranças e incertezas que estão intrínsecas a existência humana.A verdade pode não ser estática e definitiva, absoluta ou eterna, e essas possibilidades geram insegurança e receio.

O saber especializado desperta a admiração temerosa por parte daqueles que o ignoram. Há todo um respeito admirativo em relação à linguagem científica. [...] O poder de dominar a matéria de fazer coisas, da ciência, acarreta, nos não-iniciados, uma atitude de submissão. É por isso que ela exerce sobre muitos um poder quase mágico, um “poder dogmático”. [...]. Como se o cientista pudesse ser o detentor de uma verdade que, uma vez formulada em sua coerência, estaria isenta da discussão; e como se ela pudesse guardar para sempre a imagem de um indivíduo sempre íntegro e rigoroso, jamais sujeito à incoerência das paixões. (JAPIASSU, 1975. p. 116)

 

            Portanto, uma vez que é impossível a total neutralidade, assume-se, por mínima que seja, a parcialidade presente na ciência como em tudo que é feito por mãos humanas. O ser humano busca se firmar em alguma certeza, e vê no surgimento da ciência uma possibilidade para encontrar tal certeza.

 

REFERENCIAS

Comte, Augusto. Apelo aos Conservadores; 1 volume, Paris 1855, 2.Auguste

Comte. Curso de Filosofia Positiva, Col. Os pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1973.

JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica. Rio de Janeiro: ImagoEditora, 1975.

LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. 19. Ed. – São Paulo: Cortez, 2010.