O "... poeticamente o homem habita..." hölderlin-heideggeriano

Por Roberto Amaral | 11/12/2009 | Literatura

Data dos anos de 1930, o início dos seminários de Martin Heidegger sobre a poesia de Friedrich Hölderlin. No entanto, o filósofo alemão esclarece que a importância da poética hölderliniana está para além de ser tomada como um mero estudo literário para fins especificamente críticos e/ou acadêmicos. Na verdade, segundo Heidegger, Hölderlin aponta, através de sua obra, para a possibilidade do estabelecimento de um espírito irruptivo como alternativa aos ditames do racionalismo, cuja indigência provém sempre de um entendimento unilateral e enviesado (Hölderlin, 1994). Dando voz ao testemunho de Heidegger acerca da poesia de Hölderlin, ele diz:

 

O meu pensamento mantém uma relação incontornável com a poesia de Hölderlin. Hölderlin não era para mim um poeta qualquer, cuja obra se resume como tantas outras, a um objecto de estudo para historiadores da literatura. Hölderlin é o poeta que indica o futuro, que espera o deus e que por isso não deve permanecer um simples objecto de estudos holderlinianos, preso a representações da história da literatura (1996:18).

 

 

II

 

 

Heidegger começa por recomendar que, para “ouvir com inteireza as palavras ‘... poeticamente o homem habita...’, é preciso devolvê-las cuidadosamente para o poema” (2002:165). Quer ele dizer com isso que é necessário que pensemos acerca dessas palavras com o fito de libertá-las de possíveis contra-sensos e incongruências que as mesmas possam suscitar. E quando Heidegger assim o propõe é porque quer estabelecer uma trajetória interpretativa que nos conduza a uma compreensão acerca do sentido e do valor que são atribuídos a elas, para, num segundo momento, buscar alcançar-lhes a essência.

Importante esclarecer que quando Heidegger propõe devolver as palavras para o poema para que possamos ouvi-las, não está sugerindo que nós realizemos uma interpretação à maneira estruturalista, cujo fundamento está na “morte do autor” e, em decorrência, no desaparecimento da intencionalidade autoral, quando, como afirma Compagnon, “O autor cede, pois, o lugar principal à escritura, ao texto, ou ainda ao ‘escriptor’, que não é jamais senão um ‘sujeito’ no sentido gramatical ou lingüístico, um ser de papel, não uma ‘pessoa’” (2003:50). Dessa forma, para os estruturalistas, se ainda prevalecer alguma intenção na interpretação de um texto essa será atribuída ao leitor e nunca ao autor. Já a interpretação heideggeriana está assentada nos fundamentos reinterpretados da fenomenologia em estreita ligação com a hermenêutica. A partir dessa fenomenologia reinterpretada por Heidegger, segundo Nunes, “(...) a intencionalidade não é mais, como foi para Husserl, a propriedade fundamental da consciência, mas a direção para o ser compreendido, isto é, para o ser redescoberto, de que a consciência é o ponto de abertura” (2002:11). Entretanto, ainda que prevaleça uma pré-compreensão de nossa parte na interpretação de um texto, posto que, como leitores, somos consciência intencional interpretante ou o Dasein, no dizer heideggeriano, avaliamos que é inconcebível não pensar na intencionalidade posta no texto, por parte daquele que o escreveu, apesar do tempo e/ou espaço que possam nos separar. Na realidade, cremos que o caráter de atemporalidade de uma obra literária está justamente na capacidade que esta tem de perdurar enquanto obra aberta a interpretações ad infinitum, no entanto, em qualquer quadrante em que se sentencie a morte da intencionalidade autoral do texto, ainda permanecerá a controvérsia de seu “sentido intencional”. Dessa forma, o convite que Heidegger nos faz para “ouvir” as palavras a partir da devolução destas ao poema tem muito a ver com o que o poeta-autor quer nos dizer.

 

 

III

 

 

Uma primeira questão que Heidegger põe em discussão é que no verso “... poeticamente o homem habita...” não é forçoso supor que os poetas é que habitam poeticamente, já que eles é que lidam com o fazer poético e, nesse sentido, a matéria de seu trabalho seria o lugar em que eles habitariam. Mas... e, nós, os seres humanos em geral? Em que termos poderíamos impunemente afirmar que poeticamente habitamos? No estado de coisas em que se encontra o mundo em que vivemos, dizer que habitamos poeticamente faz parecer que padecemos de um romantismo enfermo. Porém, se estivermos pensando o sentido de “habitar poeticamente” dessa forma, segundo Heidegger, é porque ainda estamos pensando esses termos na perspectiva sensocomunizada do que seja “habitar” (moradia) e do que seja “poético” (fuga da realidade), sendo necessário dar um passo adiante desses pontos de vista.

Para Heidegger, o que ocorreu com a perda do sentido essencial da palavra habitar foi um processo pelo qual o conhecimento e a linguagem no ocidente como um todo também passou: o abandono da questão do Ser. Em sua obra maior Ser e Tempo (1927), Heidegger levanta uma discussão que, segundo ele, se confunde com a história do próprio pensamento ocidental, qual seja, o esquecimento do Ser.

Por que Heidegger busca trazer à tona uma discussão tão antiga quanto à própria filosofia como é a questão do Ser? Porque, para ele, essa é uma pergunta que ainda não está respondida. Em outras palavras, o pensamento ocidental ao estabelecer a questão do Ser como uma questão evidente, se desobrigou em retomá-la. Dessa forma, para Heidegger, ao se afastar do problema do Ser, o pensamento ocidental também se distanciou de sua própria fundamentação. Pois o nascimento do pensar especulativo do ocidente, ocorrido na Grécia Antiga, deu-se, justamente, pela pergunta pelo Ser como o fundamento primevo. Assim é que, para os pré-socráticos e para os filósofos clássicos gregos, a questão do Ser não estava posta como uma obviedade, portanto, como uma questão já solucionada, mas como uma temática encoberta e, nesse sentido, provocadora, perscrutante.

Ao retomar a questão do Ser, Heidegger não tencionava com isso encontrar-lhe a definição, mas o seu sentido. Ou, como ele mesmo declara,

 

(...) o ser não somente não pode ser definido, como também nunca se deixa determinar em seu sentido por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser determinado a partir de seu sentido como ele mesmo. Também não pode ser comparado como algo que tivesse condições de determiná-lo positivamente em seu sentido. O ser é algo derradeiro e último que subsiste por seu sentido, é algo autônomo e independente que se dá em seu sentido (2002:13).

 

 

 Uma ilustração providencial para o esquecimento do Ser heideggeriano, no âmbito da linguagem literária, encontramos na obra Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez. Dentre as várias incríveis histórias narradas por esse escritor colombiano, uma em particular nos chama a atenção: a que conta a chegada da “doença” da insônia na pequena cidade de Macondo, que além de causar a privação do sono, também provocava, aos que por ela eram contaminados, com o passar das incontáveis noites não dormidas, o esquecimento dos nomes dos objetos e coisas e de suas respectivas utilidades e sentidos. Vamos acompanhar alguns momentos dessa narrativa surpreendente:

 

Haviam contraído, na verdade, a doença da insônia. (...). No princípio, ninguém se alarmou. Pelo contrário, alegraram-se de não dormir, porque havia então tanto o que fazer em Macondo que o tempo mal chegava. (...). Foi Aureliano que concebeu a fórmula que havia de defendê-los, durante vários meses, das evasões da memória. Descobriu-a por acaso. (...). Um dia, estava procurando a pequena bigorna que utilizava para laminar metais, e não se lembrou do seu nome. Seu pai lhe disse: “tás”. Aureliano escreveu o nome num papel que pregou com cola na base da bigorninha: tás. Assim, ficou certo de não esquecê-lo no futuro. Não lhe ocorreu que fosse aquela a primeira manifestação do esquecimento, porque o objeto tinha um nome difícil de lembrar. Mas poucos dias depois, descobriu que tinha dificuldade de se lembrar de quase todas as coisas do laboratório. Então, marcou-as com o nome respectivo, de modo que bastava ler a inscrição para identificá-las. Quando o seu pai lhe comunicou o seu pavor por ter-se esquecido até dos fatos mais impressionantes da sua infância, Aureliano lhe explicou o seu método, e José Arcádio Buendía o pôs em prática para toda a casa e mais tarde o impôs a todo o povoado. Com um pincel cheio de tinta, marcou cada coisa com seu nome: mesa, cadeira, relógio, porta, parede, cama, panela. Foi ao curral e marcou os animais e as plantas: vaca, cabrito, porco, galinha, aipim, taioba, bananeira. Pouco a pouco, estudando as infinitas possibilidades do esquecimento, percebeu que podia chegar um dia em que se reconhecessem as coisas pelas suas inscrições, mas não recordasse a sua utilidade. Então foi mais explícito. O letreiro que pendurou no cachaço da vaca era uma amostra exemplar pela qual os habitantes de Macondo estavam dispostos a lutar contra o esquecimento: Esta é a vaca, tem-se que ordenhá-la a todas as manhãs para que produza o leite e o leite é preciso ferver para misturá-lo com o café e fazer café com leite. Assim continuaram vivendo numa realidade escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras, mas que haveriam de fugir sem remédio quando esquecessem os valores da letra escrita (1994:48-51).

 

O evento de Macondo se assemelha ao processo de “inscrição” por que passou o sentido da palavra “habitar”. A “insônia” e o “esquecimento” históricos que acometeram o mundo ocidental moderno, provocados pelo processo de racionalização e cientifização, fizeram com que a linguagem ficasse aprisionada a uma taxinomia, a uma classificação, a uma lógica normativa, a uma uniformidade redutora da complexidade e pluridimensionalidade da palavra. O sentido de “habitar”, nessa perspectiva, “está sufocado pela crise habitacional. E mesmo que isso fosse diferente, o que hoje se entende por habitar está açulado pelo trabalho, revolvido pela caça de vantagens e sucesso, enfeitiçado pelo lazer e descanso organizados” (Heidegger, 2002:165). O desafio a que Heidegger nos impulsiona aqui é àquele apresentado pelos habitantes de Macondo: estamos dispostos a lutar contra o esquecimento?

Se o sentido de habitar fica assim reduzido ao seu aspecto domiciliar e residencial, portanto, no âmbito da moradia, que espaço e tempo sobrariam então para o sentido do que é poético nos dias de hoje?  Ou, tomando a questão pelo começo: que modo é esse que poeticamente o ser humano habita na contemporaneidade?

Para Heidegger, tal modo se consubstancia na atualidade, na melhor das hipóteses, “quando nos ocupamos das letras do belo espiritual, veiculado em publicações ou por outros meios comunicacionais” (2002:165). Em outras palavras, para o filósofo alemão, o poético está obnubilado pelos processos transmissores da produção poética, ou seja, a poesia está acessível a quem dela quiser dispor: comprando-a, tomando-a emprestada, vendendo-a, doando-a. Trata-se de um poético alienado, ofertado como mero objeto de fruição e de entretenimento. Como algo de que posso dispor para um prazer momentâneo para logo depois me livrar em troca de algo mais sério e digno de atenção. Essa redução do poético coloca-o numa posição adversária ou antagônica em relação ao real, posto que, a poesia passa a ser considerada como uma viagem a um passado longínquo e irrepetível; como um mergulho na irrealidade ou como uma evasiva idílica ou onírica. Ou como mencionado na citação de Márquez, o poético fica reduzido a uma “(...) realidade escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras (...)”.

 

 

IV

 

 

A esta altura, Heidegger nos reivindica cautela para “(...) atentar com sobriedade às palavras do poeta” (2002:166). (“Atentar às palavras do poeta”, eis a intencionalidade do autor manifesta). Cautela para que percebamos que Hölderlin não fala do habitar do homem no sentido de moradia; também não faz uma exposição da situação do homem na atualidade, e, muito menos, afirma que o poético se reduz a especulações fantasiosas acerca do real. O que Hölderlin nos exorta com seu “... poeticamente o homem habita...”, para Heidegger, é que devemos impor a nós mesmos a tarefa de pensar o “habitar” e o “poético” a partir de seu “vigor essencial”, qual seja, a partir da perspectiva da existência humana.

O poético não pode ser considerado, segundo Heidegger, como um ornamento ou uma extensão do “habitar” em nossa existência, mas como a única possibilidade do habitar ser um habitar, compreendido como presença humana, em outras palavras, o poético é o deixar-habitar do ser humano. Nesse sentido, o “poético” e o “habitar” não estão dispostos numa hierarquia em que um tem mais importância que o outro, ou que este deva vir antes que aquele. Na realidade, estas duas palavras estão em constante relação, posto que, se “poeticamente o homem habita”, o poético é o habitar do homem em sua própria existência. No entanto, o habitar poeticamente do homem não está consubstanciado desde o princípio, mas é um habitar que precisa ser poeticamente construído, já que o “lugar” dessa construção é a própria existência humana. Nas palavras de Heidegger: “Mas como encontramos habitação? Mediante um construir. Entendida como deixar habitar, poesia é um construir” (2002:167). Somente tomando como tarefa a busca da compreensão do que seja a existência humana e da poética como o deixar-habitar dessa mesma existência é que poderemos nos acercar da essência do que seja o habitar hölderlin-heideggeriano.

Sobre essa indissociabilidade entre o poético e o habitar, compreendidos como o sentido e a razão de ser da existência humana, Guimarães Rosa faz a seguinte declaração:

 

(...) quero ainda ressaltar que credo e poética são uma mesma coisa. Não deve haver nenhuma diferença entre homens e escritores; esta é apenas uma maldita invenção dos cientistas, que querem fazer deles duas pessoas totalmente distintas. (...). A vida deve fazer justiça à obra, e a obra à vida. Um escritor que não se atém a esta regra não vale nada, nem como homem nem como escritor. Ele está face a face com o infinito e é responsável perante o homem e perante si mesmo. (...). Outras regras que não sejam este credo, esta poética e este compromisso, não existem para mim, não os reconheço (in: Lorenz, 1973:330).

 

 

V

 

 

Neste ponto alcançamos o cerne da questão em que se estabelece a discussão heideggeriana acerca do habitar poeticamente de Hölderlin. Poderíamos afirmar que aqui repousa o âmbito da realidade da interpretação que Heidegger busca efetuar. Ele começa por perguntar: “Mas aonde nós, os humanos, podemos nos informar sobre a essência do habitar e da poesia? Aonde o homem assume a exigência de adentrar a essência de alguma coisa?” e ele mesmo responde: “O homem só pode assumir essa exigência a partir de onde ele a recebe. Ele a recebe no apelo da linguagem” (2002:167). Julgamos necessário, aqui, nos demorarmos um pouco mais nessa questão. O que seria esse “apelo da linguagem” do qual Heidegger nos fala? Esse apelo deve ser compreendido como a invocação, o chamamento, o convite, a sugestão que a linguagem nos faz quando nós damos a devida atenção à sua essência, renunciando aos pré-conceitos, pré-noções e pré-julgamentos presentes em nosso modo de pensar acerca da e sobre a mesma.

Ouvir, então, o “apelo da linguagem” heideggeriano é desobstruir hábitos arcaicos do pensamento, abrindo trilhas para novos horizontes de autocompreensão e compreensão do mundo. Como o escritor João Guimarães Rosa ensina, “(...) além dos estados líquidos e sólidos, porque não tentar trabalhar a língua em estado gasoso?!” (apud Wilma Guimarães Rosa, 1999:378). Dar a devida atenção ao que a essência da linguagem quer nos dizer é estabelecer uma caminhada no sentido de desautomatizar o nosso pensamento, é despertar do torpor que a realidade alienada e alienante provoca em nossa existência. Segundo Heidegger (2002), o nosso cotidiano nos impõe uma dominação encantatória que obnubila nossa visão para o essencial da vida e, que, para tanto, é necessário que despertemos. Como diria Rosa em outra passagem:

 

Vivemos de modo incorrigível distraídos das coisas mais importantes. (...). A gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto. As pessoas e as coisas não são de verdade! E de que é que, a miúde, a gente adverte incertas saudades? (2001:100).

 

No entanto, devemos reconhecer que não é fácil o ser humano desencantar-se de sua mediocridade e elevar a sua existência para o que realmente a engrandeça e justifique. Para lograr essa possibilidade, o ser humano precisa soerguer-se de sua inércia existencial e travar o bom combate de sua realização, que se consubstancia no retorno ao sentido poético do mundo, das coisas e das pessoas, donde, o “... poeticamente o homem habita...” hölderliniano.

É justamente na linguagem que Heidegger vê os grilhões do entorpecimento existencial do ser humano se efetivar, através da repetibilidade e da automatização da mesma. O que ele vai buscar, a partir da poética de Hölderlin, é desenraizar a linguagem de seu cotidiano domesticante e devolver-lhe o seu caráter irascível e indócil, restaurando o esplendor de seus inesgotáveis sentidos. Como diria Guimarães Rosa, ao fazer revelações sobre seu processo de criação literária, “Primeiro, há meu método que implica na utilização de cada palavra como se ela estivesse acabado de nascer, para limpá-la das impurezas da linguagem cotidiana e reduzi-la ao seu sentido original” (In: Lorenz, 1973:338).

Não é, porém, através de um ouvir racionalizante que, segundo Heidegger, alcançaremos, pelo “apelo da linguagem”, a essência da mesma. Não se trata aqui do estabelecimento de uma imposição de segunda ordem, estipulada pelos conceitos e pelas análises científicas, mas uma relação de primeira ordem, de ida ao encontro da linguagem e de seu irruptivo apelo. Rosa coloca essa questão nos seguintes termos,

 

Todo fim é exato. O que a gente tem de aprender é, a cada instante, afinar-se com uma linhazinha, para caber de passar no furo da agulha, que cada momento exige. Mas não pode ser analiticamente. Como nas histórias de fadas, temos de achar e conservar o contato com o gênio que fez tudo isso para a gente (apud Vilma Guimarães Rosa, 1999:365).

 

É acerca disso que fala o “apelo da linguagem” heideggeriano. De uma linguagem que nos impulsiona para uma percepção da realidade que está para além daquele encanto que nos entorpece e paralisa. Uma linguagem que nos revigora e anima a humanidade. Uma linguagem que nos desautomatiza do pendor cotidiano, mas também do racionalizante e do cientificista e nos sinaliza a abertura para o adentramento da habitação poética da existência, já que, como afirma Rosa “(...) a linguagem e a vida são uma coisa só” (In: Lorenz, 1973:339). Ou como diria Heidegger:

 

De todos os apelos que nós, os humanos, devemos conduzir, a partir de nós mesmos, para um dizer, a linguagem é ela mesma o apelo mais elevado e, por toda a parte, o apelo primordial. (...) . O co-responder, em que o homem escuta propriamente o apelo da linguagem, é a saga que fala no elemento da poesia. Quanto mais poético um poeta, mais livre, ou seja, mais aberto e preparado para acolher o inesperado é o seu dizer; com maior pureza ele entrega o que diz ao parecer daquele que o escuta com dedicação (...) (2002: 167-168).

 

 

VI

 

 

Devolvendo novamente as palavras ao poema para melhor ouvi-las, Heidegger amplia o alcance de sua interpretação dos versos “... poeticamente o homem habita...”, de Hölderlin, completando-os com os versos que lhes são anteriores “cheio de méritos, mas...” e posteriores, “esta terra”. Pode parecer, a princípio, que com a complementação desse verso, nada de novo seja acrescentado ao que já discutimos anteriormente. Ledo engano, com a inteireza do verso, Heidegger encontra oportunidade de aprofundar e possibilitar uma maior compreensão de sua interpretação. Senão vejamos.

Com a complementação imediatamente anterior “cheio de méritos, mas...”, Heidegger explora o aspecto da meritocracia humana, ou seja, todas as conquistas alcançadas pelo esforço despendido na construção de obras, na realização de projetos, na consumação de desejos. Desse esforço advém o mérito, ou seja, o merecimento da premiação pelo trabalho feito que se consubstancia em edificações de toda ordem e na utilização das mesmas. Apesar da aparente realização meritória humana estabelecido pelo termo “cheio de méritos”, esta é relativizada pela preposição condicionante “mas” e, mais que isso, pelo advérbio “poeticamente”. No que isso implica? Na certeza de que a realização humana não se consuma tão somente nessa construção de coisas, objetos e edificações ou no semear, no plantar e no colher. O mérito advindo de todo esse trabalho não abastece o ser humano em todas as carências e necessidades de seu habitar existencial, ou, como diria Heidegger,

 

(...) os méritos dessas múltiplas construções nunca conseguem preencher a essência do habitar. Ao contrário: elas chegam mesmo a vedar para o habitar a sua essência, tão logo sejam perseguidas e conquistadas somente com vistas a elas mesmas. São os méritos que, em virtude de sua abundância, comprimem por toda a parte o habitar (...) (2002:169).

 

Daí que “cheio de méritos” “mas” “poeticamente” o homem habita. O que se percebe aqui é que o habitar poeticamente é o que dá sentido à existência humana, pois ele é a condição mesma da realização ou não do ser humano na construção de seu habitar neste mundo. O poético da existência humana diz respeito à busca incessante do sentido do existir após alcançados os louros do mérito. O que restará? O ser humano ainda lacunar em busca do preenchimento de seu ser. Tal preenchimento não é encontrável nos objetos construídos, nas edificações suntuosas, no comer, no beber, no vestir, no saber, mas se oculta em mistérios para além da apreensão de uma lógica linear, previsível, tangível, e sim, talvez, se revele através de uma linguagem inefável, que apenas sugere, convida, irrompe. Nesse sentido, quem sabe não seria melhor falar em fome, sede, nudez, ignorância, para melhor nos aproximarmos de uma habitação poética, ou, no dizer de Heidegger, “O homem (...) só consegue habitar após ter construído num outro modo e quando constrói e continua a construir na compenetração de um sentido” (2002:169).  Observemos que o sentido de habitar sugerido por Heidegger não implica numa chegada definitiva a uma terra prometida, já que não se trata de uma realização espacial, que, portanto, uma vez conquistada, a caminhada terminaria. O habitar heideggeriano “nesta terra” tem a ver com a busca da realização da nossa existência, portanto, resguarda uma perspectiva temporal, ou seja, um construir constante na busca de uma penetração profunda no sentido da vida.  Na obra Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa, através de seu personagem Riobaldo, traduz essa questão da seguinte forma:

 

Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais baixo, bem diverso do que em primeiro se pensou. Viver não é muito perigoso?” (2001:51).

 

 

VII

 

 

Com a complementação “esta terra”, posterior ao verso “... poeticamente o homem habita...”, Heidegger tem a oportunidade de refutar de forma veemente e criativa as acusações de o poético ser uma evasão do mundo real, portanto, de um convite a que nos retiremos deste mundo em que vivemos. Contra essa fuga da realidade, Hölderlin, segundo Heidegger, exorta a que busquemos o habitar poeticamente, não em outro tempo e espaço, mas nesta terra em que nós existimos. Nesta mesma terra em que extraímos o “vigor essencial” que justifica o poeticamente habitar. Como afirma Heidegger, “A poesia não sobrevoa nem se eleva sobre a terra a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a poesia que traz o homem para a terra, para ela, e assim o traz para um habitar” (2002:169).

Pode, a princípio, parecer que esta última citação ainda não convença a todos que a lerem, posto que, a realidade apresentada pela sociedade em que vivemos não dá mostras de que isso seja possível, já que as relações humanas estão sendo mediadas por valores monetários e meritocráticos, que, em vez de nos re-unir como pessoas, nos separa como indivíduos. Dessa forma, o habitar e o poético não seriam mais que mercadorias das quais poderíamos dispor como suportes e adornos para tornar a vida nessa terra habitável.

Não, para Heidegger e Hölderlin, o sentido profundo do ser humano habitar poeticamente esta terra, é uma re-tomada da poesia como medida e como resistência. Ou seja, para que não esqueçamos que, nós, seres humanos, habitamos esta terra tendo como arché e télos o cuidar de nosso mundo e de nós mesmos, ao ponto de causar inveja aos deuses e de fazer com que eles sintam o desejo de, ao nosso lado, habitar também esta mesma terra.

Fernando Pessoa diria isso da seguinte maneira:

 

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,

Porque Deus quis que o não conhecêssemos,

Por isso se nos não mostrou...

 

Sejamos simples e calmos,

Como os regatos e as árvores,

E Deus amar-nos-á fazendo de nós

Belos como as árvores e os regatos,

E dar-nos-á verdor na sua primavera,

E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

(1994:141).

 

 

EPÍLOGO

 

 

À guisa de conclusão dessa discussão sobre o “... poeticamente o homem habita...” hölderlin-heideggeriano, suscitaremos alguns aspectos das possibilidades da literatura se consubstanciar como uma re-aprendizagem do ser humano.

 Tencionamos, neste derradeiro tópico, problematizar um certo ceticismo de Heidegger acerca de como a literatura se manifesta na modernidade, ou seja, de como a literatura tem se afastado de uma confirmação de nossa humanidade e se aproximado de uma alienação de nosso ser humano. Esse ceticismo literário heideggeriano revela-se em algumas afirmações suas, que aqui reproduziremos: “O atual, por sua vez, é produzido e dirigido pelos órgãos dedicados a formar a opinião pública civilizada. Um de seus funcionários, isto é, um dos promotores e promovidos pela atualidade é a promoção da literatura” (2002:165).

Em outro momento, ele diz: “A literatura de hoje é, por exemplo, largamente destrutiva” (2004:13) e, finalmente, “Gostaria que a literatura que me refiro não fosse niilista no sentido em que entendo esse conceito” (2004:13).

Não há como negar que, em nossa sociedade hodierna, em que quase todos os valores simbólicos, artísticos e culturais foram transformados ou tendem a ser transformados em valores venais e monetários, a literatura não conseguiria manter-se incólume das garras desse “leviatã” moderno, manifestado por um desejo desenfreado de desenvolvimento e de evolução material e cada vez mais eqüidistaciado da ascese ética, estética, intelectual e espiritual do ser humano. Daí que, e nisso concordamos inteiramente com Heidegger, há uma certa produção literária servil, dedicada exclusivamente a uma (de)formação das pessoas e, nesse sentido, ela é altamente destrutiva, já que seu niilismo encaminha para um esvaziamento de sentido da linguagem e, portanto, da própria existência humana. Com esse tipo de literatura a vida passa a ser lida em sua literalidade e linearidade, perdendo, então, o que há nela de complexo, de criativo, de contraditório, de beleza, de verdade, já que o literal desse tipo de literatura nos apresenta um rol de certezas. Esse tipo de literatura mata em nós a curiosidade, a imaginação, a rebeldia, a dúvida, a incerteza, a irrupção, a sensibilidade, a fé, a esperança, a utopia, e nos lança ao mundo do interessante, do passatempo, do entretenimento, da languidez.

No entanto, e por acreditar justamente na complexidade, na criatividade e na contradição da existência humana é que nos posicionamos ao lado, outra vez, da esperança e da utopia, posto que acreditamos que exista uma outra literatura que navega, a duras penas, contra essa corrente de destruição, de nadificação do ser dos seres humanos, de mesmo valor, força e integridade, talvez, que aquela poética hölderliniana que imprimiu a irrupção no espírito de Heidegger. Garcia Márquez, Rosa e Pessoa foram aqui apresentados como alguns parceiros dessa navegação, mas há muito mais de onde esses saíram.

Por causa desses autores e de suas poderosas obras é que acalentamos a idéia de a literatura ser uma profícua fonte de conhecimento e de cultura para qualquer língua no que tange às possibilidades sugeridas e comunicadas pela mesma acerca do ideal de formação humana. Acreditamos, também, que a literatura é uma fonte de exercício de inquietude, de suscitação de irreverência, de estranhamento e de perplexidade, tanto para quem se posiciona como escritor como para quem se apresenta como leitor. A literatura, nesse sentido, pode se nos oferecer como objeto de estudo, mas também como recurso abrangente para a formação do ser humano quando a mesma se nos apresenta como elemento de interrogação, de dúvida e de pesquisa.

Se a literatura traz consigo todas essas possibilidades, podemos intuir que ela resguarda em si mesma um certo conhecimento, um certo saber.

Duas questões poderiam ser colocadas então: que conhecimento a literatura pode nos trazer acerca do mundo? Ou: qual mundo que a literatura se nos revela através de suas metáforas?

Esboçando uma primeira tentativa de resposta, poderíamos dizer que a literatura se nos apresenta como um conhecimento de sintonia fina sobre o mundo. Um conhecimento, porém, que não se atém a mensurar, a circunscrever as coisas, os seres e os entes do mundo, mas a ocultar/revelar os seus relevos e profundidades, as suas existências, os seus extravios, suas paixões, sua beleza, os seus sentidos.

Acreditamos também que a literatura não nos ensina o que é o mundo, a vitalidade da mesma reside em nos impulsionar a buscar o conhecimento sobre o mundo, em dar-lhe sentido e razão de ser. O escritor ao dar sentido ao mundo, através de sua obra, devolve-nos o mundo em forma de metáforas para que nós mesmos, indo ao seu encontro, o desvelemos: o mundo com sentido renovado.

Isso se dá porque a literatura narra e descreve, através de metáforas, nada mais, nada menos, do que a realidade do mundo já conhecida por nós. A literatura apresenta a realidade mundana transfigurada esteticamente através de palavras.  Porque a literatura parte e se volta para esse mesmo mundo que a cria e é recriado por ela é que se estabelece a antinomia fundante do saber literário: o reconhecimento de pertença ao mundo é o que lhe garante a autonomia do estranhamento e oposição ao mesmo. A literatura, nesse sentido, se posiciona para além ou para aquém de qualquer outra lógica que a queira enquadrar. A literatura possui sua própria lógica labiríntica, feita de luzes e sombras, de fronteiras visíveis e invisíveis, que a tocha – às vezes intensa, às vezes bruxuleante – da interpretação – ora orientada, ora extraviada – busca iluminar.

Para um mundo em que o ser humano não logra acercar-se, a literatura, através da criatividade imaginativa, revela-se como uma alternativa para o preenchimento das brechas metafísicas e existenciais deixadas pelo racionalismo e pelo cientificismo.

Dessa forma, a literatura não se apresenta como uma dimensão cognitiva e cultural que tem como objetivo separar o verdadeiro e o falso, a verdade e a mentira, o real e a ideologia. Daí o conhecimento literário não poder ser confundido com o conhecimento racional ou científico. O saber literário é fruto de uma tessitura que envolve estética, sentimento e percepção, portanto, uma sutileza que não ousa conceituar, mas sugerir, indicar, dispor, comunicar.

A literatura consubstancia-se, assim, numa outra realidade construída a partir da realidade vivida, que nos provoca e reclama atitudes, gestos e respostas sempre que a lemos e relemos. Em outras palavras, a literatura introduz em nossa vida um outro cenário que se sobrepõe ao nosso dia-a-dia, mas não faz dele uma instância alienada, posto que é do mesmo que ela extrai as suas temáticas. A imaginação literária não parte de outro lugar a não ser deste em que o ser humano trava as suas lutas, constrói os seus sonhos e anseia por suas utopias; em que busca o sentido para si, para os outros, para o mundo em que vive. E é dessa forma também que a literatura, ao não se reduzir a um discurso racionalista e cientificista, alcança a abrangência do humano demasiado humano.

A importância do saber literário encontra a sua razão de ser através da analogia evocada pela trama apresentada pela leitura da obra literária e os nossos dilemas sociais, existenciais e históricos. A relação entre as nossas circunstâncias, ao mesmo tempo, locais e universais, como a dor, a solidão, a luta, o medo, a busca, e a trama literária, possibilita uma abertura de busca de novos horizontes, de rompimento com uma condição humana agrilhoada pelos ditames da padronização e da mediocridade.

Ao gestar um ambiente de mistério e de perplexidade, a literatura nos instabiliza para uma dimensão interrogativa, para uma atitude de rebelião. Já não queremos ser apenas leitores, o impulso provocado por ela é no sentido de sermos autores da escrita de nossa própria existência, reconhecendo aí, os condicionantes objetivos e subjetivos para a realização dessa tarefa. É nesse sentido que a literatura sem a pretensão óbvia de querer nos ensinar algo, termina por nos comunicar muito mais. A literatura não se arvora a ser portadora da verdade absoluta e, no entanto, não abre mão de reverberar as várias visões de mundo que dizem respeito ao imaginário estético, social e cultural do ser humano.

Eis a sabedoria da literatura: se revelar através da inumerável riqueza da compreensão da realidade humana e não da tacanhez de conceitos ou definições fechados em si mesmos. Os sentidos que advém das interpretações da obra literária permanecem em suspenso, plurívocos, irredutíveis, dependentes de uma complexa teia de relações que se busca apreender e compreender.

Posto isso, podemos afirmar que a literatura, enquanto saber, não é um mero repositório de sobras e fragmentos de conhecimento do e sobre o mundo, depois de passado o trator do racionalismo e do cientificismo. Através de suas metáforas, a literatura faz convergir e ressoar conhecimentos do e sobre o mundo; suscita inquietações, dúvidas, questionamentos e reflexões sobre a realidade vigente; exorta à superação da medianidade e à rebelião contra os gabaritos da existência. Ou, como assevera Gonçalves Filho, a literatura “(...) não tem a pretensão de ser a ciência do mundo (...), mas não se liberta de dar as suas ‘lições’” (2000:102).

Julgamos, então, que, buscar habitar poeticamente este mundo tem na arte literária uma possibilidade, posto que ela abre uma clareira para o re-encontro com relembramento do ser, morador críptico de sua linguagem.

Nas palavras de Heidegger,

 

O poeta, quando é poeta, não descreve o mero aparecer do céu e da terra. Na fisonomia do céu, o poeta faz apelo àquilo que no desocultamento se deixa mostrar precisamente como o que se encobre e, na verdade, como o que se encobre. Em tudo o que aparece e se mostra familiar, o poeta faz apelo ao estranho enquanto aquilo a que se destina o que é desconhecido de maneira a continuar sendo o que é – desconhecido (2002:177).

 

 

Referências

 

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